07/10/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #119 - Eduardo Gomes




O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Petrolina. Eduardo Gomes tem 31 anos, é formado em Comunicação Social – Jornalismo em Multimeios pela UNEB, e tem pós em Comunicação em Midia Digital pela Estácio de Sá. Servidor público da justiça do trabalho, não exerce atividades ligadas à sua formação. Entusiasta do cinema, aprendeu um pouco na faculdade, já lia livros, fazia cursos, mas ainda não se especializava de fato, talvez no futuro, depois que terminar toda sua lista de filmes pendentes para assistir. Tem manias que as pessoas não entendem: 1) de ir a um cinema local por onde ele viaja. 2) Assistir a filmes, se possível, apenas uma vez. Gosta de se apegar à sensação única que teve ao ver a obra pela primeira vez. É o criador do instagram @cinechato.

 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O único cinema de Petrolina prioriza blockbusters (dublados). Do outro lado da ponte, Juazeiro-BA, temos a Cinemark que tem uma programação muito parecida. Tirando esse circuito comercial, temos o Espaço Cultural Janela 353, que é um espaço para o cineclube, para peças de teatro e debates. A programação desse espaço é a minha favorita, pois prioriza o cinema nacional,  independentes, clássicos ou até populares com maior foco em temáticas sociais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Minha experiência a filmes é muito ligada à infância com meu pai em videolocadoras, essa fase que foi a que definiu meu amor pelos filmes. Depois disso, a primeira experiência de peso que me recordo foi Matrix. Quando vi 200 pessoas reagindo ao mesmo tempo às cenas de Neo, veio a epifania de que também amava aquela experiência, a qual me permitia o sentimento de comunidade e imersão.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Martin Scorsese. Taxi Driver.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Cidade de Deus, sem piscar. Primeiro por ser uma obra que eu revisitei pelo menos umas 3 vezes durante minha vida e em cada uma delas tive uma percepção diferente e em escala crescente de admiração. A primeira viagem foi apenas da história, fiquei empolgado do início ao fim. A segunda visita à obra, anos depois, já foi possível perceber o trabalho de direção, fotografia e montagem impecáveis. A terceira vez foi marcada por perceber como ela foi importante para o cinema nacional e como bebeu de referências de outras obras importantes do cinema.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É amar filmes (ou séries, porque não?). Eu não posso dizer que é quem ama o cinema ou quem estuda a 7ª arte. Ser cinéfilo para mim é mais simples. Meu pai já era cinéfilo antes de pisar no cinema pela primeira vez e eu já era cinéfilo antes de saber o que era um travelling. Ser cinéfilo está mais ligado à paixão pelas obras e sua relação pessoal com elas do que qualquer outra coisa.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A maior parte das salas de cinema estão inseridas num circuito comercial, portanto as pessoas que as administram devem entender de estratégia de vendas, mas isso não as impedem de entenderem de cinema, mas acredito não ser uma regra. Existem as salas de cinema que priorizam um viés mais cultural, mas não posso dizer que eles entendem mais ou menos de cinema.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito, no máximo uma reformulação. Estamos passando com o cinema em paralelo a mesma crise que o rádio teve com a chegada da televisão. Quem vai ouvir rádio, podendo ver as pessoas numa tela? Quem vai pagar 60 reais para ver 1 filme, podendo assinar a Netflix por R$ 21,90 e ver um catálogo inteiro num só mês? As experiências são distintas em ambas as situações.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Dans La Maison, um filme de 2012 de François Ozon.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

É o último lugar de todos que deveria reabrir junto com as academias ou qualquer outro lugar que necessariamente precise estar com muitas pessoas e fechado para funcionar.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Em processo de evolução, como em todo lugar. O cinema brasileiro é diversificado e também não é uma curva ascendente. Aquarius, Bacurau, Democracia em Vertigem e A Vida Invisível  revelam que estamos em excelente forma, mas ainda faltam investimentos e incentivos na área, tanto do governo, como da iniciativa privada.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Wagner Moura.

 

12) Defina cinema com uma frase:

É a imersão coletiva numa jornada que nos aproxima do outro.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Certa vez fui com meu pai ao cinema assistir a algum filme de ação. Umas 3 fileiras para baixo havia uma dupla de amigos jovens que já havia assistido ao filme e estavam comentando sobre o que ia acontecer antes da cena aparecer na tela. Meu pai, um senhor que nunca se estressa, me pediu para segurar a pipoca, ele se levantou e foi lá reclamar com esses adolescentes porque estavam estragando a experiência dele. Desde então dou mais valor à palavra Spoilers.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Capacidade indescritível de se produzir lixo não reciclável.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Como disse acima, ser cinéfilo está mais ligado à paixão. Diretor de cinema é um emprego, nem sempre trabalhamos com o que amamos, mas isso não impede de ser extremamente bons no que fazemos.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Jack e Jill (Cada Um Tem a Gêmea Que Merece).

 

17) Qual seu documentário preferido?

13ª emenda.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Diversas vezes. Parasita foi o último.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O Senhor das Armas.