O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Heitor Lopes é estudante de cinema e
audiovisual da UNILA (Universidade Federal de Integração Latino Americana).
Estuda cinema a mais ou menos uns 6 anos e hoje tem uma página chamada Odisseia Visual, no Instagram (@odisseiavisual), em que posta suas críticas
cinematográficas e fala sobre teoria e história do cinema mundial.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Tem uma sala na cidade ao lado da minha, em Campinas/ SP no
shopping galeria, gosto dela pois ela não é tão grande, são poucos ligares e
ela ficava reservada normalmente para pequenos lançamentos.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
O filme que me despertou um interesse mais profundo por
cinema foi O Psicopata Americano
(2000). Foi uma experiência diferente da que eu estava acostumada e me motivou
a sair de uma zona de conforto e procurar diferentes obras.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Jean Luc Godard,
para mim o maior dominador da linguagem cinematográfica, um cineasta que faz
filmes a mais de 60 anos e sempre encontra maneiras de se desafiara e se
reinventar. Tenho um conflito na hora de escolher meu favorito dele, fico entre
o Acossado (1960) e O Desprezo (1963).
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Meu filme favorito é Terra
em Transe (1967), dirigido por Glauber
Rocha. É uma obra que não só funciona dentro do contexto em que foi
inserida, como um manifesto critico, mas também articula a linguagem de uma
maneira alegórica e dramática, combinando a poesia e o caos em um transe
cinematográfico quase lúdico.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
São pessoas que gostam de cinema e se relacionam de forma
mais intima com essa arte, é uma relação saudável e bem rica quando bem
equilibrada.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Se você se refere as salas de cinema aí acho que não
necessariamente. A maioria vai seguir uma norma de distribuição de que mais
lucro, o que é limitador para o público, mas compreensivo por parte de quem
faz, já que eles precisam do dinheiro também. A melhor saída seria algum tipo
regulamentação que impeça que 90% das salas estejam passando Vingadores, por exemplo, porque aí já
se torna um abuso mercadológico, ao meu ver.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Acredito que não, porque, para muitos, aquele espaço
funciona como um santuário, uma cerimônia à arte, um modelo que vive desde a
Grécia antiga com o teatro. Talvez no futuro ela perca espaço para um outro
modelo, mas desaparecer acho difícil.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Era uma vez em Tóquio
(1953), dirigido por Yasujiro Ozu, é
uma obra muito sutil e sensível, para mim, o melhor trabalho do cineasta
japonês, tratando de temas como família, solidão, abrigo e paz.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Pelo o que vi até agora, o sistema que muitos cinemas estão
adotando é bem profissional e aparentemente seguro. Já que tudo está abrindo,
teoricamente as salas de cinema também poderiam, contanto que tenham todas as
normas de regulamento sendo cumpridas. Pessoalmente eu não tenho intenção de
voltar ao cinema antes da vacina.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Não acho que está em seu melhor período, longe disso até.
Muitas obras ótimas estão sendo feitas, mas acho que o maior problema está no
acesso a elas, na distribuição e em uma educação cinematográfica brasileira
para o povo. Acredito que a questão não seja que a população brasileira não
goste ou valorize seu cinema, o problema é que ela nem conhece, o que não é
culpa delas, mas sim de um sistema que não as oferece a oportunidade de
conhecer. Talvez se o contato entre a arte e o povo fosse mais próximo,
poderíamos ter uma produção cinematográfica ainda mais rica.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Infelizmente ele já morreu, mas era Glauber Rocha, meu artista e pensador brasileiro favorito, estou
sempre buscando trabalhos e projetos dele para ver, e a cada vista gosto mais
de sua visão sobre o cinema e a arte.
12) Defina cinema com
uma frase:
Essa é complicada, falei recentemente com meus seguidores
que para mim a arte, cinema incluso, é um diálogo, que parte do/ da artista com
a sua criação e depois desta com o mundo em que é inserida. Sendo assim a arte
vive de formas diferentes e se comunica de maneiras diferentes com cada um,
enquanto ela for admirada ela vive. Assim, eu diria que arte e cinema são: uma
conversa silenciosa e eterna.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Não me lembro de nada absurdo, somente uma vez que fui em
uma sala de cinema bem precária e durante a exibição do filme a energia caiu e
o filme foi interrompido, aparentemente não haviam pagado a conta de luz e
fiquei sem terminar o filme ali.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Nunca vi.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Se eles dirigem filmes eles provavelmente gostam de cinema,
então são cinéfilos, mesmo que não vejam tantos filmes. Mas acredito que não
seja preciso tem uma bagagem gigante de filme assistidos para se fazer cinema,
a criação flui de seu contato com o mundo, sua sensibilidade artística e o
conhecimento da linguagem cinematográfica.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Cada um tem a Gêmea
que <erece (2011), odeio demais esse filme.
17) Qual seu
documentário preferido?
Notícias de Casa
(1977), dirigido pela Chantal Akerman,
é uma obra muito intima mais reveladora, que mapeia a cidade de nova York ao
mesmo tempo que derrama a memória e os sentimentos sobre o espaço urbano. Um
dos meus filmes favoritos da vida.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Não fisicamente, mas na mentalmente mesmo.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
O Selvagem da Motocicleta
(1983), ele não é o protagonista, mas é o meu filme favorito com ele no elenco.
Contando o Cage como ator principal eu diria que é Adaptação (2002).