15/12/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #214 - Heitor Lopes


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Heitor Lopes é estudante de cinema e audiovisual da UNILA (Universidade Federal de Integração Latino Americana). Estuda cinema a mais ou menos uns 6 anos e hoje tem uma página chamada Odisseia Visual, no Instagram (@odisseiavisual), em que posta suas críticas cinematográficas e fala sobre teoria e história do cinema mundial.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Tem uma sala na cidade ao lado da minha, em Campinas/ SP no shopping galeria, gosto dela pois ela não é tão grande, são poucos ligares e ela ficava reservada normalmente para pequenos lançamentos.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O filme que me despertou um interesse mais profundo por cinema foi O Psicopata Americano (2000). Foi uma experiência diferente da que eu estava acostumada e me motivou a sair de uma zona de conforto e procurar diferentes obras.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Jean Luc Godard, para mim o maior dominador da linguagem cinematográfica, um cineasta que faz filmes a mais de 60 anos e sempre encontra maneiras de se desafiara e se reinventar. Tenho um conflito na hora de escolher meu favorito dele, fico entre o Acossado (1960) e O Desprezo (1963).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Meu filme favorito é Terra em Transe (1967), dirigido por Glauber Rocha. É uma obra que não só funciona dentro do contexto em que foi inserida, como um manifesto critico, mas também articula a linguagem de uma maneira alegórica e dramática, combinando a poesia e o caos em um transe cinematográfico quase lúdico.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

São pessoas que gostam de cinema e se relacionam de forma mais intima com essa arte, é uma relação saudável e bem rica quando bem equilibrada.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Se você se refere as salas de cinema aí acho que não necessariamente. A maioria vai seguir uma norma de distribuição de que mais lucro, o que é limitador para o público, mas compreensivo por parte de quem faz, já que eles precisam do dinheiro também. A melhor saída seria algum tipo regulamentação que impeça que 90% das salas estejam passando Vingadores, por exemplo, porque aí já se torna um abuso mercadológico, ao meu ver.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não, porque, para muitos, aquele espaço funciona como um santuário, uma cerimônia à arte, um modelo que vive desde a Grécia antiga com o teatro. Talvez no futuro ela perca espaço para um outro modelo, mas desaparecer acho difícil.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Era uma vez em Tóquio (1953), dirigido por Yasujiro Ozu, é uma obra muito sutil e sensível, para mim, o melhor trabalho do cineasta japonês, tratando de temas como família, solidão, abrigo e paz.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Pelo o que vi até agora, o sistema que muitos cinemas estão adotando é bem profissional e aparentemente seguro. Já que tudo está abrindo, teoricamente as salas de cinema também poderiam, contanto que tenham todas as normas de regulamento sendo cumpridas. Pessoalmente eu não tenho intenção de voltar ao cinema antes da vacina.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Não acho que está em seu melhor período, longe disso até. Muitas obras ótimas estão sendo feitas, mas acho que o maior problema está no acesso a elas, na distribuição e em uma educação cinematográfica brasileira para o povo. Acredito que a questão não seja que a população brasileira não goste ou valorize seu cinema, o problema é que ela nem conhece, o que não é culpa delas, mas sim de um sistema que não as oferece a oportunidade de conhecer. Talvez se o contato entre a arte e o povo fosse mais próximo, poderíamos ter uma produção cinematográfica ainda mais rica.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Infelizmente ele já morreu, mas era Glauber Rocha, meu artista e pensador brasileiro favorito, estou sempre buscando trabalhos e projetos dele para ver, e a cada vista gosto mais de sua visão sobre o cinema e a arte.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Essa é complicada, falei recentemente com meus seguidores que para mim a arte, cinema incluso, é um diálogo, que parte do/ da artista com a sua criação e depois desta com o mundo em que é inserida. Sendo assim a arte vive de formas diferentes e se comunica de maneiras diferentes com cada um, enquanto ela for admirada ela vive. Assim, eu diria que arte e cinema são: uma conversa silenciosa e eterna.

               

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não me lembro de nada absurdo, somente uma vez que fui em uma sala de cinema bem precária e durante a exibição do filme a energia caiu e o filme foi interrompido, aparentemente não haviam pagado a conta de luz e fiquei sem terminar o filme ali.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca vi.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Se eles dirigem filmes eles provavelmente gostam de cinema, então são cinéfilos, mesmo que não vejam tantos filmes. Mas acredito que não seja preciso tem uma bagagem gigante de filme assistidos para se fazer cinema, a criação flui de seu contato com o mundo, sua sensibilidade artística e o conhecimento da linguagem cinematográfica.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Cada um tem a Gêmea que <erece (2011), odeio demais esse filme.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Notícias de Casa (1977), dirigido pela Chantal Akerman, é uma obra muito intima mais reveladora, que mapeia a cidade de nova York ao mesmo tempo que derrama a memória e os sentimentos sobre o espaço urbano. Um dos meus filmes favoritos da vida.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Não fisicamente, mas na mentalmente mesmo.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O Selvagem da Motocicleta (1983), ele não é o protagonista, mas é o meu filme favorito com ele no elenco. Contando o Cage como ator principal eu diria que é Adaptação (2002).