27/12/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #227 - Matheus Siqueira


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Matheus Siqueira tem 25 anos, maranhense nascido na Paraíba e morando em São Paulo desde 2007. É formado em publicidade e trabalha com Marketing, mas tem como grande paixão e hobby o cinema, ama ver filmes e escrever críticas e artigos sobre no seu Instagram @cine.kito, onde produz conteúdo. Além disso, ama uma boa história em quadrinho de heróis.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu acabo indo com mais frequência nas salas de cinema de shopping (Cinemark e Cinépolis da vida) quando vou com minha mãe ou amigos, mas o meu preferido que tem uma ligação de fato especial é o Petra Belas Artes, apesar de ir menos do que eu gostaria é lá onde eu costumo ir sozinho para passar um tempo comigo mesmo fazendo o que eu mais gosto de fazer: ir ao cinema e ver filmes. O cinema oferece as mais variadas opções de lançamentos de todo mundo fora dos eixos mais comerciais e hollywoodianos. Vira e mexe também traz uma programação que conta com amostras e especiais como por exemplo: agora em dezembro teve um Especial de Cinema Coreano, até com os lançamentos como Península e The Man Standing Next, mas infelizmente não deu para ir por conta da pandemia.

 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro filme que eu lembro de ter assistido e me impressionado foi Jurassic Park por todo cuidado e realismo que eles buscaram dar para a construção daquele Universo, então eu ficava maravilhado com os humanos contracenando com seres separados a mais milhões de anos (aquela cena deles em cima da árvore tocando e interagindo com o braquiossauro, o pescoçudo, me impacta até hoje). E foi aí que eu percebi a magia do cinema de nos contar uma história e nos transportar para outro lugar.

 

Outro filme que vale a menção honrosa é Harry Potter e a Pedra Filosofal, apesar de não ser o meu favorito da saga do bruxo ele marcou a primeira vez que eu fui ao cinema ver um filme com 5/6 anos de idade, num cinema de rua chamado Cine Colossal em São Luís do Maranhão, sendo o marco inicial de um relacionamento longínquo com o hábito de "ir ao cinema" e todo o ritual que cerca essa experiência da fila da pipoca aos comentários ao final durante os créditos.

 

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Quentin Tarantino e o meu filme preferido dele é Kill Bill, de longe. Para mim, esse filme é a síntese de como a mente maluca e cinéfila dele funciona.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Pergunta muito difícil. O Auto da Compadecida, O Som ao Redor e Cinemas, Aspirinas e Urubus, por muito tempo brigaram lá no topo da minha lista de filmes. No entanto, acho que hoje esse título cobiçado por muitos e conquistado por poucos (rs) é inteiro de Bacurau, por ser um filme sobre a resistência nordestina e de ser nordestino no Brasil, sendo uma alegoria sobre xenofobia e de uma visão sobre o futuro do país após-2018.

 

O que me faz amar ainda mais Bacurau é o fato de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles irem muito afundo nas referências. Temos desde elementos que vão do folk horror ao spaghetti western, da comédia nordestina de Guel Arraes a ficção científica distópica e existencial. E o melhor de tudo é que tem muita personalidade, sem medo de ser violento e tampouco moderado nas críticas a turistas europeus, americanos e brasileiros. Bacurau é daqueles filmes que daqui a 10/20 anos vai continuar sendo debatido e relevante, um verdadeiro clássico.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Eu acho que o termo "cinéfilo" vai além do gostar ou amar o cinema. É você não só assistir filmes, como buscar entendimento, ir atrás de símbolos, o que o diretor ou roteirista quiseram dizer com tal passagem e ir atrás de questões que ajudem a levantar e valorizar a obra. O famoso pós-cinema de estender o filme para além de sua duração.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Os cinemas de rede acredito que não, porque são filmes negociados diretamente com grandes players da indústria e é o que a audiência "quer" assistir. Mas os cinemas de rua como o Petra acredito 100% que os responsáveis entendem e muito de cinema com programações precisas que antecipam filmes premiadíssimos, a exemplo de Parasita que passou primeiro lá e em outros cinemas de rua do que nas grandes redes.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não. Mas o meu grande medo é que o "ir ao cinema" se torne uma experiência elitista (muito mais do que já é), destinada a poucos. Essa reflexão me veio quando a Warner divulgou que os seus filmes serão lançados no streaming e nas salas de cinema simultaneamente. Não sabe até que ponto isso seja apenas uma medida para fazer com que as pessoas assinem o HBO MAX e se outros estúdios também adotaram, mas com certeza se isso virar moda vai encarecer o preço das salas.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Uma História de Amor e Fúria, animação brasileira maravilhosa sobre a história do Brasil a partir da ótica de um homem imortal vivo a 600 anos.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim, mas é importante ter cautela. Estamos passando por um momento bastante delicado e o cinema por ser um lugar fechado com ar condicionado é um local de risco, mas seguindo as devidas diretrizes de distanciamento e limpeza acredito que dá sim para serem reabertas aos poucos (se os bares estão em pleno funcionamento, por que as salas não poderiam).

Minha experiência no cinema assim que reabriu foi extremamente segura, pessoas completamente distanciadas, todas de máscara e um protocolo de limpeza rigoroso antes e depois da sessão (eu vi acontecendo).

 

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho maravilhoso, mas pouco valorizado. Existem filmes lindíssimos que se perdem por falta de acessibilidade e conhecimento dos mesmos, então é necessário tirar um tempinho sempre para pesquisar filmes brasileiros mais antigos e os lançamentos. Cinema brasileiro é especial do Porta dos Fundos, De Pernas pro Ar e Minha Mãe é uma Peça, mas não é só isso.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Irandhir Santos e Kleber Mendonça Filho. O primeiro entrega um personagem marcante em O Animal Cordial dando todo o tom social do filme (mesmo sem ser o protagonista), e o segundo eu amo como ele abraça as heranças nordestinas em suas produções, além de gostar de todos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Escape da realidade através do vislumbre.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Cara, não me veio à cabeça nenhuma história inusitada assim. Apenas na época que não existiam demarcação de lugares antes das sessões então nos grandes lançamentos e estreias era uma corrida de cada um por si e Deus por todos para pegar lugar para todo mundo ficar sentado junto. Nessas corridas já vi discussão, gente caindo, pipoca voando e empurra-empurra. Caos, literalmente.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

O surto cult-thrash do Brasil brasileiro.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acredito que não, mas é gritante a diferença da qualidade de uma obra para um diretor que é cinéfilo que capta referências e as utiliza em suas produções, propondo um diálogo entre ele e a audiência. Um dos motivos pelo fato do Tarantino ser o meu diretor preferido.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Jason X, que coisa horrorosa. Miraram no Alien: O Oitavo Passageiro e acertaram num Barbarella mal feito.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Elena e Revelação.

 

 

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Vingadores: Ultimato e Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte II hehehehe.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Mandy.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Omelete acompanho desde criança, tanto que eles me influenciaram a criar um blog sobre cinema lá em 2008/2009 onde escrevia sobre filme thrash hahaha (ainda tá por aí nos anais da Internet).