02/12/2023

Crítica do filme: 'Questão de Honra'


Os deslizes da moral. 31 anos atrás chegava aos cinemas de todo o planeta um projeto que mostraria uma intensa batalha jurídica militar que gira em torno de condutas duvidosas em uma ação que resultou em morte. Caminhando nas estradas turbulentas do mundo militar, o longa-metragem dirigido por Rob Reiner, com roteiro baseado em uma peça teatral chamada A Few Good Men, escrita por Aaron Sorkin, possui uma narrativa repleta de detalhes que geram reflexões sobre os pontos de vistas que reúnem os conjuntos de valores que se chegam no certo ou errado em uma questão. Indicado para quatro Oscars, incluindo Melhor Filme, Questão de Honra não poderia ter um título mais certeiro.


Na trama, conhecemos Daniel Kaffee (Tom Cruise), um jovem tenente e advogado da marinha, formado em Harvard, sem muita experiência em casos de homicídios. Com menos de um ano no cargo é designado para um caso cheio de variáveis suspeitas, um cabo e um soldado acusados de assassinato de um outro militar que iria denunciar uma prática ilegal onde eles serviam como fuzileiros navais, em Guantánamo, a base militar norte-americana em solo cubano. Contando com a ajuda do assistente jurídico do caso, Sam (Kevin Pollak) e principalmente da tenente da corregedoria militar Joanne Galloway (Demi Moore), Daniel precisará descobrir o que esconde o responsável pela base militar, o enigmático coronel Nathan R. Jessep (Jack Nicholson) um condecorado militar que está prestes a assumir um alto cargo no conselho de segurança nacional.


A honra, o que seria? Um dos pontos principais dessa obra é conseguir destrinchar para os espectadores o universo sempre complicado de entender sobre o mundo militar. Partindo do tal ‘Código Vermelho’, algo como uma punição para o militar que não vem cumprindo com total eficiência seu ‘dever’, chegamos em temas como o machismo, o autoritarismo, além de uma ampla reflexão sobre a reunião de valores que determinam o que seria o certo ou o errado em determinada situação. Isso tudo é revelado em uma batalha jurídica (dentro das regras do tribunal militar) onde a sociedade reflete sobre inúmeras questões na visão do protagonista, um homem em dúvida sobre o caminho que percorre na linha tênue entre o que entende como direito dentro da lógica militar.


O filme foi baseado na peça teatral A Few Good Men escrita pelo hoje conhecido Aaron Sorkin. Contratado para transformar o teatro em cinema, esse foi o seu primeiro roteiro escrito para um longa-metragem. Essa peça que viraria um enorme sucesso foi escrita nos tempos em que ele era bartender de shows na Broadway, ele usava guardanapos, entre uma folga e outra, para ir escrevendo as cenas. A peça foi baseada em relatos de um fato que aconteceu na vida real na Baía de Guantánamo, exatamente um ‘Código Vermelho’ com um sumiço de um corpo que nesse caso não teve solução até hoje.


O elenco é fabuloso. Além de Cruise, Moore e Nicholson, outros grandes artistas dão suas contribuições em cena: Cuba Gooding Jr, Kevin Bacon, Kiefer Sutherland, Kevin Pollak.  Uma curiosidade é que Jack Nicholson recebeu cerca de 5 Milhões de dólares por apenas 10 dias de trabalho, inclusive sendo indicado ao Oscar pelo papel. Demi Moore recebeu nem a metade desse valor, sendo sua personagem uma figura muito presente em todo o filme.


Com uma longa carreira como ator e como diretor dentro do cenário hollywoodiano, o nova iorquino Rob Reiner, diretor também dos ótimos Conta Comigo e Louca Obsessão, consegue com grande maestria nos transportar para dentro de muitas questões passando pelo tabuleiro de forças de leis militares chegando até os reflexos disso para a sociedade.