23/01/2024

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Crítica do filme: 'Eu Também não Gozei'


Um dos sete filmes selecionados para a Mostra Aurora, dedicada à novos diretores, dentro da 27a Mostra de Cinema de Tiradentes, o documentário paulista Eu Também não Gozei foca suas reflexões na maternidade, ampliando olhares sobre a questão através de uma busca pela história do próprio filho recém nascido. O projeto, que demorou seis anos para ser feito, utiliza em sua narrativa um vai e vem na linha temporal, ação que encontra um dinamismo, além de um leque de situações que passa a protagonista em busca de sua própria forma de enxergar esse momento marcante da vida.


Os olhos são guiados para Letícia, uma jovem artista moradora da cidade de São Paulo que está grávida do primeiro filho. Sem saber quem é o pai da criança, passa por um intenso processo de mudanças em sua rotina, na espera de alguma resposta sobre essa questão. A partir da ausência desse desconhecido pai, começa a entender sua importância no papel de mãe mesmo envolta de uma solidão persistente. O antes e o depois nos mostram os pontos de equilíbrio alcançados nessa profunda e emocionante história sobre as mudanças que chegam através da pulsação de uma nova vida.


Dirigido por Ana Carolina Marinho, o documentário de pouco mais de 90 minutos parte da ausência, da negação, para construir sua vitrine de emoções onde o medo ligado à incerteza é uma variável presente a todo tempo. Com filmagens realizadas pela diretora e pela própria protagonista, percebemos que as dúvidas sobre o futuro ajudam a abrir os olhares para situações que envolvem a maternidade chegando inclusive a uma jornada de reflexões sobre a própria história da personagem principal.


Reunindo diversas situações que Letícia passa durante esse processo, um fato marcante é na hora do registro da criança e logo depois as questões jurídicas de uma inacreditável não aceitação de teste de paternidade. Esse último ponto chega para se refletir sobre as leis e um direito criado por homens para homens que se distancia de questões morais e que não reflete sobre o que passam as mulheres.


Para certas situações na vida, não existe preparo, nem ensaio. Eu também não Gozei utiliza o cinema e sua linguagem como um porta-voz de uma história que podem ser igual ou parecida de muitas outras mulheres.