27/10/2025

Crítica do filme: 'Um Fantasma na Batalha'


Inspirado em fatos reais ocorridos na Europa, mais precisamente entre a Espanha e a França, a partir das ações terroristas de um grupo separatista que logo chegou à luta armada cometendo atentados em diversos lugares, o longa-metragem Um Fantasma na Batalha, recém-adicionado à Netflix, é um thriller político com pitadas generosas de espionagem, que joga nossos olhares para o lado sombrio do ser humano, onde a inconsequência é rompida.

Escrito e dirigido por Agustín Díaz Yanes – vencedor do Goya de direção e roteiro em 1996, pelo filme Ninguém Falará de Nós Quando Estivermos Mortos – a obra retrata o caótico momento político de um período onde o medo podia estar em qualquer esquina, em uma Europa turbulenta. Para entendermos melhor o contexto, algo apresentando apenas brevemente pelo filme com inserções via legendas no início, é preciso algum conhecimento sobre o ETA.

Nascido nos tempos de ditadura e o regime autoritário e centralizador de Francisco Franco, o ETA (sigla traduzida para ‘Pátria Basca e Liberdade’) buscava, nos seus primórdios, a independência para o País Basco – iniciada no final de 1950, a partir de um movimento estudantil. Ao longo do tempo, células desse grupo tornaram as ações mais violentas e atentados se tornaram constantes, resultando em um banho de sangue que marcou as páginas europeias. Um Fantasma na Batalha é situada já na fase de declínio do ETA.

Ambientado em meados da década de 1990, acompanhamos a história de Amaia (Susana Abaitua), uma jovem oficial da guarda civil espanhola que se infiltra em uma célula do grupo separatista ETA, com o objetivo de localizar alvos e prevenir futuros atos terroristas praticados pelo grupo. Durante quase uma década, ela se vê em vários dilemas, descartando a vida pessoal e se jogando numa estrada marcada por tensão e violência.

Com imagens da época e reportagens sobre alguns dos atentados mostrados, inseridas em uma narrativa ficcional que atinge a tensão durante boa parte da projeção, este longa-metragem consegue apresentar um amplo recorte de um panorama político de uma época, ao mesmo tempo que chega em camadas através do desenvolvimento de seus personagens - guiados para dilemas morais a partir de uma protagonista sob constante atenção.

Um Fantasma na Batalha é uma produção muito bem feita, com ótimas atuações e uma direção de arte coerente, capaz de alcançar a atmosfera de tensão e conflituosas emoções. Esse clima pesado que o filme apresenta é exatamente o sentimento daquela época. Mesmo o sugerido prevalecendo sobre o descritivo – algo que atinge a compreensão de um contexto mais amplo – esse é um filme interessante que merece reflexões e debates.