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16/07/2025

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Crítica do filme: 'Concerto de Quintal' [Festival Cinemato]


Menos é mais. Traçando sua narrativa rumo a um interessante recorte sobre a cena musical na cidade de Porto Velho, em Rondônia, tendo os diversos sons como elementos marcantes, o longa-metragem Concerto de Quintal usa o impulso de uma certa nostalgia para debater a identidade cultural de uma região. De histórias dos Beatles da beira da estrada, passando pelo rapper da floresta, uma série de relatos costura um panorama diverso.

O pontapé desse pot-pourri sonoro se dá a partir das memórias de uma família, de um músico e do vínculo afetivo com o pai, preservado em antigas fitas cassete. A partir daí, o filme se abre como um leque, revelando uma mistura de ritmos que ajudam a compor a identidade musical da cidade. De quintal em quintal, o discurso vai ganhando camadas, preenchendo lacunas aqui e ali. No entanto, a falta de aprofundamento em alguns momentos gera uma certa desordem na harmonia narrativa, o que acaba impactando o ritmo do filme.

Nessa trajetória que oscila entre momentos imersivos e outros mais superficiais, o filme também provoca reflexões — e até constatações — sobre o cenário musical local, algo intimamente ligado ao recente processo de formação da cidade (Porto Velho completou 110 anos em 2025). Músicos e compositores transformam o abstrato do som em sentidos concretos, com suas histórias abrindo caminhos que atravessam o social, o ambiental e o político.

É uma pena que o projeto siga uma linha reta, sem grandes clímax. Comedido, não chega a explodir. Faltou aquele grande momento para marcar! Ainda assim, mesmo rompendo a bolha do inusitado de maneira quase ingênua — mas eficaz —, o filme lança ao mundo uma rica expressão da cultura local, ramificando-se entre o legado, as curiosidades e até os desabafos sobre políticas públicas que, simplesmente, não alcançam a cidade.

Selecionado para a Mostra de Longas-Metragens do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – Cinemato –, Concerto de Quintal , dirigido por Juraci Junior, constrói um vasto retrato de uma região marcada pelo clima tropical superúmido e por sons que ecoam de todas as formas. Aos poucos, esses elementos se entrelaçam, compondo um capítulo vibrante das curiosidades históricas e culturais do nosso país.


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Crítica do filme: 'Benção' [Festival Cinemato]


Histórias que envolvem o elo entre netos e avós — figuras maternas em dobro — sempre carregam uma força especial, ainda mais quando exploradas com sensibilidade no audiovisual. Esse é exatamente o caso do curta-metragem baiano Benção, selecionado para a Mostra de Curtas-metragens do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – Cinemato.

Dirigido por Mamirawá e Tainã Pacheco, este singelo e poderoso curta de 11 minutos nos conduz ao reencontro de um jovem com suas raízes. Após ter saído ainda cedo da comunidade onde foi criado, ele retorna já adulto, em uma espera silenciosa para rever sua maior referência de vida: a avó. Nesse retorno, mais do que reencontrar uma pessoa, ele se reconecta com sua identidade e ancestralidade — marcas profundas que o tempo jamais conseguiu apagar.

O sentimento puro em relação aos avós é apenas o primeiro passo de um filme que ultrapassa as fronteiras de sua primeira camada fazendo uma reconexão com a terra, com a família, com ancestrais. Inspirada em uma história real, a narrativa preenche seu minutos com a força de imagens que dizem no olhar, nas entrelinhas pulsantes de sentimentos que parecem em conflito mas na verdade estão voltando a se alinhar.

Sem espaço para um aprofundamento mais amplo da relação, o projeto segue por uma estrada em linha reta rumo à própria história e raízes, deixando lacunas intencionais sobre o antes e o depois. Essas ausências, longe de afastar, acabam aproximando ainda mais o público da jornada apresentada. Fica uma vontade danada de mergulhar mais fundo e conhecer tudo o que há por trás dessa história.

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Crítica do filme: 'Dandara' [Festival Cinemato 2025]


Com uma criativa apresentação dos créditos que já prende a atenção nos primeiros segundos, o filme goiano Dandara, selecionado para a Mostra Competitiva de Curtas-Metragens do Festival Cinemato 2025, mergulha em reflexões potentes sobre o bullying e o racismo. A produção entrega um retrato sensível e carregado de emoção, equilibrando o peso da realidade com a potência transformadora da imaginação na forma de enxergar o mundo.

Dandara é uma jovem negra, super alegre, que certo dia começa a sofrer bullying na escola onde estuda. Tentando entender os porquês dessa ação, passa por um processo de entendimento da situação onde num primeiro momento se questiona sobre várias questões, inclusive sua identidade. Quando a mãe dela fica sabendo, a volta da alegria vira uma questão de tempo, embalada inclusive por ancestrais.

Com simplicidade e objetividade, a narrativa nos conduz por uma estrada de emoções intensas, onde aflição, medo, tristeza e insegurança ganham contornos comoventes na vivência da infância. Enxergamos o mundo pelos olhos de Dandara, uma criança negra que se depara com o preconceito justamente no espaço onde antes se sentia segura e feliz: a escola. Nesse momento, a figura da professora surge como um elo essencial, um abrigo sensível — mas é na reação da mãe que reside o entendimento mais profundo da situação. Entre idas e vindas emocionais, o filme se revela no aprendizado delicado, construído no tempo certo para tocar o público.

Trabalho de conclusão de curso da cineasta Raquel Rosa, Dandara é mais do que um exercício acadêmico — é um recorte sensível sobre como compreendemos e questionamos as relações humanas em sociedade. Com uma abordagem atual e elementos que dialogam diretamente com o presente, o filme preserva o olhar genuíno de uma criança diante de suas primeiras aflições. Em apenas 14 minutos, emociona e preenche a tela com delicadeza.


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Crítica do filme: 'Mãe' (2025) [Festival Cinemato 2025]


Exibido na Mostra Competitiva de Curtas-Metragens do Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – o Cinemato –, o curta gaúcho Mãe aborda um tema potente e raramente retratado nas telas: a maternidade de uma mulher trans. Dirigido por João Monteiro – que também atua no filme – e roteirizado por ele ao lado de Julia Katharine e Homero Mendes, o projeto, com apenas 20 minutos de duração, rompe barreiras e amplia horizontes ao tocar em questões profundas como o racismo, a transfobia e os desafios sociais, tudo isso com sensibilidade e força narrativa.

Maria (Valéria Barcellos) é uma mulher trans que vive feliz ao lado do seu carinhoso marido Dário (João Monteiro). Certo dia, o jovem Zezinho é deixado pela mãe biológica na casa deles. O tempo passa e uma relação de afeto e amor é estabelecida pela família mas as barreiras sociais ainda se tornam um quebra-molas que gera insegurança.

Com profundidade e delicadeza, a narrativa prende a atenção desde os primeiros instantes, mergulhando em um recorte intimista e familiar sobre amor, reconhecimento e pertencimento. São poucos minutos, mas repletos de significado — deixam no ar o desejo por mais. O preconceito, embora presente em cenas marcantes, jamais se sobrepõe à força do afeto. O roteiro constrói, com sensibilidade, uma jornada de resistência e ternura, onde o amor não apenas sobrevive, mas triunfa.

A maternidade de uma mulher trans é o fio condutor que ilumina toda a narrativa, atravessando cada cena com a potência de uma personagem inesquecível, vivida com brilho e sensibilidade por Valéria Barcellos. Com representatividade pulsante, o filme confronta o preconceito de frente e reafirma, com firmeza e delicadeza, que o amor é capaz de transformar realidades.

Mãe deve circular por outros festivais, se você tiver a oportunidade de assistir, tenho certeza que não irá se arrepender.

 

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