É sempre gratificante encontrar nos festivais obras criativas que apostam no inusitado para expandir nosso campo de reflexões. Selecionado para a Mostra Competitiva de Curtas-Metragens do Festival Cinemato, o curta Cabeça de Boi nos conduz por uma narrativa bem-humorada e debochada, inspirada em uma sequência de fatos curiosos que se desenrolam a partir de uma curiosa lenda sobre um terreno amaldiçoado em uma cidade remota do país.
Escrito e dirigido por Lucas
Zacarias, o filme costura elementos da cultura e da arte por meio de uma
fabulação conduzida pela voz de um forasteiro — cuja visão é marcada por
constantes desencontros com a realidade. Com um discurso preciso, a narrativa
articula três temas centrais que se conectam simbolicamente à figura da cabeça
de boi, construindo um imaginário potente que dá forma a críticas sociais
relevantes.
Dentro dos vestígios simbólicos que compõem a criativa
construção narrativa, as contradições de uma cidade tendo o espiritismo como
força, um lugar de descobertas paleontológicas e um espaço de referência ao
gado, nos levam até surpreendentes constatações no híbrido entre documentário e
ficção.
Essa jornada se mostra fascinante, elementos como a dança e
até o inventivo uso de inteligência artificial na composição de um personagem
narrador preenchem com força as mensagens. Críticas sobre o poder e a riqueza
logo se mostram presentes dentro de um peculiar contraponto ligado as raízes
culturais da tal cidade, logo alcançando reflexões variadas.
Tendo sua primeira exibição no circuito de festivais
brasileiro no Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – Cinemato – o filme também
fora selecionado para o Festival de Gramado deste ano.