É tão bom assistir a uma produção audiovisual brasileira com tanta qualidade! Esta, em especial, provoca reflexão atrás de reflexão! Baseada no livro homônimo do escritor paraense Edyr Augusto, a nova série da Netflix – Pssica – empolga do primeiro ao último episódio, conduzindo o público por um mosaico de violência, cujas peças se encaixam com certa precisão, ao apresentar uma tonelada de temas importantes. Somam-se a esse retrato, que escancara as feridas de uma sociedade dominada pela criminalidade, atuações viscerais de um elenco coeso.
Já vá se preparando: esta é uma daquelas séries que merecem
uma maratona! Do drama à ação, embarcamos em histórias que correm em paralelo,
com dinâmicas conturbadas entre pais e filhos atravessando toda o discurso. Personagens
muito bem desenvolvidos, são levados ao extremo de qualquer limite moral, em um
lugar dominado pela corrupção, por crimes violentos - um paraíso consumido pelo
crime.
Tudo começa quando Janalice (Domithila Cattete), após uma situação que leva seus pais a deixá-la
na casa da tia (Fátima Macedo), em
Belém, é sequestrada por um grupo criminoso ligado ao tráfico de mulheres. Paralelamente,
conhecemos outros personagens: um ex-policial em busca da afilhada; Preá (Lucas Galvino), um bandido que se
apaixona e vê sua bolha ligada à crimes desmoronar; e Mariangel (Marleyda Soto), uma ex-militar
colombiana que vê sua família despedaçar e parte em busca de vingança. Ao longo
da trama, esses caminhos se cruzam, nos conduzindo a um desfecho imprevisível.
Com ritmo eletrizante, desde seu piloto brilhante, vamos percebendo
que a complexidade do texto de Edyr
Augusto é muito bem diluído em quatro episódios com cenas fortes que vão
nos levando até um mar de inconsequências. As protagonistas são nossos maiores
guias nessa história. Uma adolescente sequestrada e vivendo horrores, busca
encontrar soluções para a situação em que está. A outra, uma heroína
sul-americana, com marcas no presente e no passado, que embarca numa sede de
vingança.
A narrativa busca seu caminho por meio das infinidades que o
cinema pode provocar – inclusive com um achado que se soma ao desenvolvimento:
a ilustração de trechos do livro, que volta e meia ganham espaço entre as
cenas. A trilha sonora marcante e cenas, muito bem dirigidas pelo diretor Quico
Meirelles, conduzem o espectador por paisagens empolgantes na fronteira
amazônica, escancarando de forma intensa os diferentes tipos de corrupção que
corroem o senso de humanidade.
Pssica, em seus
quatro episódios já disponíveis na Netflix – nos apresenta o contraste de um
pedaço do nosso país, do paraíso ao inferno. Uma minissérie provocante, que nos
faz refletir bastante sobre nossa sociedade.