Você sabia que, há quase 40 anos atrás, mais precisamente na cidade de Londrina, ocorreu um dos maiores assaltos a banco da história do Brasil? Jogando luz para alguns curiosos desenrolares desse evento, o novo longa-metragem do experiente cineasta José Eduardo Belmonte, Assalto à Brasileira, recria essa ação com toques certeiros de comédia, sob o ponto de vista de uma peça importante: um jornalista recém-demitido que acabou sendo um elo entre criminosos e a polícia.
Exibido no último dia de programação do CineBH 2025, o filme
mergulha nos detalhes que compuseram as intermináveis horas de tensão, mas
chega de forma leve para o público pelo foco nas trapalhadas e inexperiências
dos personagens envolvidos. Há sempre um risco ao compor sugestões desse tipo: no
fim das contas, os ladrões acabam despertando uma torcida – algo que, de fato, ocorreu
com boa parte da população na época. Aqui, porém, é completamente justificável
esse espírito de ‘Justiça Social’, já que o embate entre sistema e população
abalada por instabilidade financeira provocava reações desse tipo, bem
retratadas pelo projeto.
Paulo (Murilo Benício)
é um jornalista renomado que atravessa um momento turbulento em sua vida:
recém-demitido, vai até a agência do Banco do Estado do Paraná (Banestado) para
pegar seus trocados da rescisão. Chegando no local, acaba presenciando um
inusitado assalto. Enxergando na situação uma oportunidade de reportagem - e
percebendo, aos poucos, que os bandidos são completos amadores -, Paulo acaba
sendo peça-chave na comunicação entre polícia e os assaltantes.
O ritmo do filme é fundamental para que os olhos do público
não se desgrudem da tela- e aqui isso se mostra um fator de grande importância.
Com um início promissor, a ótima trilha sonora, com canções que servem para
marcar época aos acontecimentos, ajuda a começar com o pé direito. Há uma busca
a todo instante por um equilíbrio na narrativa, que encosta nos exageros, mas sem
se tornar redundante – o que poderia deixar maçante o contar essa história.
Outro ponto importante é a contextualização, apresentada já
na introdução do filme e que segue ao longo dos diálogos, uma manobra
complementar que ajuda ao entendimento de certos porquês. Imagine o cenário:
você compra um pão de manhã por um preço e, na mesma tarde, o valor é outro. Em
1987, ano desse acontecimento retratado na obra, o Brasil passava pelos
primeiros passos da redemocratização, mas ainda carregava uma herança dos
tempos de ditadura – uma inflação próxima de 400% ao ano –, realidade que
deixou muitas pessoas à beira do desespero.
Mas o grande acerto do projeto é ilustrar eventos que muitas
vezes parecem surreais com a força da essência cômica. Ótimos artistas - destaque
para Christian Malheiros e Murilo Benício – dão vida à personagens
que, em pequenas participações ou grande presença em tela, conquistam espaço na
trama. Essa leveza acaba convencendo o público, que provavelmente vai interagir
bastante com os acontecimentos quando o filme estrear no circuito exibidor.
Vencedor de três prêmios na última edição do Festival de
Brasília, Assalto à Brasileira apresenta
mais uma página curiosa de nosso Brasil de forma consistente e que vai levar o
público ao riso mas sem deixar de sugeri reflexões sociais.
