O que fazer para ser forte e sobreviver numa utopia? Trazendo ao epicentro dos conflitos personificações filosóficas e correntes que se cruzam em busca do novo, o novo trabalho do vencedor do Oscar Ron Howard volta até o início dos anos 1930, apresentando uma história - inspirada em relatos reais de quem sobreviveu – na qual as virtudes e os deslizes andam lado a lado, se entrelaçando as razões da existência.
Entre as estações do ano, a narrativa, bem construída e com
poucas pontas soltas, apresenta uma legenda inicial suficiente para entendermos
todo o contexto que se destrincha no recorte existencial. Vai da selvageria, nada
distante da moral, à esperança - um choque entre o ideal e a realidade que se
apresenta nua e crua, com respingos da crueldade humana.
Com a primeira guerra mundial destruindo economias em toda
Europa, o casal Heinz (Daniel Brühl)
e Marget (Sydney Sweeney) resolve abandonar
tudo e se mudar para uma ilha distante no arquipélago de Galápagos, um lugar quase
inabitável. Eles chegaram até ali a partir de relatos e ideias do médico Ritter
(Jude Law), que vive no local com a
esposa Dore (Vanessa Kirby). Ao
longo dos meses, passarão por situações alarmantes, nas quais o respeito e a
interpessoalidade são dribladas pelos instintos e seus propósitos (essência
humana corrompida), principalmente após a chegada de uma baronesa (Ana de Armas), que deseja construir um
hotel no lugar.
Há muitos pontos interessantes para analisar nesta obra. Da
filosofia radical à reflexão da humanidade e seus propósitos - dentro de um contexto sobre a essência humana
corrompida – caminhamos por um olhar sociológico sobre a interpersonalidade.
Princípios criados e corrompidos, inseridos em um ideal distante que sugere a
possível harmonia e pureza de um novo Eden, constituem a força de um roteiro
que bate na tecla do valor e significado da vida.
A maldade, a ingenuidade, o ser humano e o egoísmo, são quatro
elementos que se juntam em perspectivas divididas entre personagens que, de
alguma forma, representam um ideal. Independentemente do olhar com que
observamos, o outro se transforma em uma incógnita, guiado pelo espírito de
sobrevivência na iminência das ações, e ambos chegam ao mesmo desfecho: uma
dita ‘democracia’ com as mãos sujas de sangue – nada muito diferente do mundo
que os protagonistas buscavam fugir.
Com ótimas atuações de um elenco estelar, Eden traz diversas reflexões sobre o
ser humano em um cenário inusitado, que foi o palco real de uma história
comovente.
