O estado de ser num mundo de reinvenções do próprio pertencimento. Em uma trama bem bolada, que aborda a palavra 'identidade' em muitas facetas, o curta-metragem gaúcho Final 99, escrito e dirigido por Frederico Ruas, nos leva até um drama existencial - com flerte no suspense – em que, a partir da perda de um objeto, um possível encontro desperta reflexões sobre questões contemporâneas e existenciais. O filme foi selecionado para a Première Brasil de Curtas do Festival do Rio 2025.
Um segurança noturno (Bruno
Fernandes) de um lugar cercado de tecnologia, mas também de um silêncio
ensurdecedor, perde sua identidade - possivelmente vítima de algum furto. O
documento é encontrado por uma imigrante estrangeira (Mbyá Guarani Luicina Duarte), que propõe um encontro.
Rodado logo após o caótico estado de emergência que atingiu
o Rio Grande do Sul recentemente, o projeto apresenta rapidamente sua trama
conseguindo alcançar camadas dentro do discurso proposto - um mérito de uma
obra que não alonga e, ainda assim, preenche nosso refletir com suposições.
Interpretativo em alguns momentos, usa da casualidade e até mesmo
uma indecifrável distopia para explorar a nossa capacidade de autoexistência - o
nosso lugar em um mundo de oportunidades, mas também solidão. Estar em um lugar
que não sente como seu, os desvios da solitude e o instante que a ficha cai - a
partir dos acontecimentos acompanhamos a jornada melancólica de um protagonista
que vai decifrando seu próprio estado de ser.
Em 14 minutos, percebemos um uso afiado da linguagem - de
forma criativa e que prende a atenção, aliado a uma direção de arte chamativa e
uma direção competente, em uma tentativa inabalável de explorar caminhos para
uma comunicação com o espectador. Do concreto do tempo aos simbolismos do
existir, elementos saltam aos olhos, compondo uma parábola (no sentido
figurativo) cheia de lições que entrelaça o pertencimento com um olhar empático
voltado à imigração.