Inspirado em uma história real relatada no livro Nadie nos vio partir, de Tamara Trottner – uma das personagens da obra –, a nova série da Netflix, Ninguém nos Viu Partir, que alcançou o Top 1 da plataforma, é um projeto mexicano que relata um sequestro parental e, a partir de camadas, chega nos conflitos emocionais que atingem uma mulher em uma época marcada pelo preconceito, pelas tradições e pela desigualdade de gênero.
Ambientado na década de 1960, em Ninguém nos Viu Partir, conhecemos Valeria (Tessa Ia), uma jovem que largou o mestrado e foi obrigada a se
casar com o arquiteto Leo (Emiliano
Zurita), em um acordo entre as famílias judias que residem no México. O
casal tem dois filhos. O tempo passa e Valeria se apaixona pelo cunhado do
marido, Carlos (Gustavo Bassani).
Após descobrir a traição, Leo, com a ajuda do pai, Samuel (Juan Manuel Bernal), sequestra as crianças e foge para a Europa.
Durante muitos meses, Valeria se vê em uma busca cheia de reviravoltas, movida
pelo sonho de voltar a ver as crianças.
Direto para sua premissa, em um primeiro episódio que
apresenta seu ponto de partida através de um homem impulsivo e facilmente
influenciável pelo pai – um poderoso empresário judeu – que, em um ato desumano
e criminoso, sequestra os filhos para longe da esposa. Passo a passo, vamos entendendo melhor essa
história por meio de flashbacks que mostram alguns dos motivos para tal ato de
crueldade, além dos conflitos ao redor da família, ampliando o contexto.
A narrativa utiliza o ‘antes e depois’ para nos situar nos
acontecimentos, não encostando no suspense, seguindo sua estrada pelo forte
drama vivido pela protagonista. O que é sugerido logo é mostrado, compondo
cinco episódios sem perder o ritmo, com a carga dramática aumentando
gradativamente, além de ótimas atuações.
O mais interessante desse projeto é que ele aborda a
imaturidade em algumas vertentes, sendo a principal deles os olhares não óbvios
que chegam através de uma traição. Parece algo meio contraditório, mas, se
formos analisar com uma lupa percebemos o desenvolvimento emocional dos
personagens – até mesmo sua desconstrução - nessa linha tênue entre a moral e a
aceitação.
