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02/12/2023

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Crítica do filme: 'Quando eu me Encontrar'


Sobre as curvas que se cruzam em plena contramão. Exibido no segundo dia de exibições na Mostra de Cinema de Gostoso 2023, o longa-metragem cearense Quando eu me Encontrar consegue por meio de uma narrativa eficiente explorar com eficácia as riquezas das interseções de seu principal conflito, esbarrando em laços abruptamente desfeitos, chegando aos poucos em questões existenciais acopladas a uma pergunta que segue constante: Qual o sentido no se jogar na vida? Dirigido por Amanda Pontes e Michelline Helena, Quando eu me Encontrar é aquele filme que vai te conquistando aos poucos e quando termina queremos saber mais.


Na trama, somos apresentados a uma curiosa história de uma jovem chamada Dayane que do dia pra noite resolve partir da vida que levava, abandonando mãe, irmã e o namorado de longa data. E exatamente esses três personagens e seus entendimentos sobre essa situação é quem viram os protagonistas. Assim, conhecemos Marluce, a mãe de Dayane, uma mãe esforçada, com dois empregos que está lutando contra a surpresa do abandono da filha. Mariana, é a irmã mais nova da jovem que sumiu, uma adolescente que passa a enfrentar algumas questões no colégio, no qual é bolsista. E por fim, Antonio, o apaixonado ex-namorado de Dayane que segue ladeira abaixo sem entender direito porque foi abandonado.


O abandono de tudo e todos refletindo sobre outras histórias. A simplicidade é o melhor remédio para contar as verdades que estão lá fora. Essa é uma verdade absoluta e que vira uma marca dessa produção que surpreende o público apresentando um alguém que nunca aparece mas insiste em estar presente na vida de três pessoas que estão passando por momentos de turbulências em suas vidas. Ambientada em uma Fortaleza da atualidade, o longa-metragem também abre brechas para abordar o cotidiano, aproximando mais ainda seus refletires aos espectadores.


Qual o sentido no se jogar na vida? Tem paralelos com quem consegue driblar os medos? Somos testemunhas de uma curiosa e instigante investigação sobre uma crise existencial, dentro do contexto desse marcante abandono, acaba fazendo surgir novos caminhos na vida de pessoas que olhavam apenas em uma direção. A casa vazia, os conflitos maternais, a narrativa caminha por estradas de completas redescobertas nos levando para um desfecho de reflexões.


O filme é produzido pela Marrevolto Filmes, um grupo nascido na cidade de Fortaleza cerca de sete anos atrás formado por profissionais do audiovisual brasileiro que já estão nessa indústria faz mais de uma década. A data de estreia nos cinemas deve ser para 2024.



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01/12/2023

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A décima edição de um dos festivais de cinema mais legais do Brasil: a Mostra de Cinema de Gostoso!




Imaginem um lugar paradisíaco, com praias lindas, pousadas maravilhosas, onde todos da região respiram simpatia e recebem bem aos que chegam de visita. Agora imaginem esse lugar com uma tela de cinema enorme, no meio da praia, onde, de forma gratuita, todas as pessoas podem assistir a um filmaço confortavelmente em uma espreguiçadeira tendo a luz da lua como cenário. Esse lugar existe e estivemos lá!


De 24 a 28 de novembro aconteceu na cidade de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, a décima edição de um dos festivais de cinema mais legais do Brasil: a Mostra de Cinema de Gostoso. Com direção geral e curadoria de Eugenio Puppo e Matheus Sundfeld, e tendo literalmente o mais espetacular cinema a céu aberto do país, a edição desse ano reuniu excelentes curtas e longas-metragens brasileiros, alguns desses com passagens de enorme sucesso em festivais pelo Brasil e no mundo. 


A estrutura montada nas areias da Praia do Maceió, badalado point turístico do nordeste brasileiro, contou com a estreia de mais uma sala de exibição, a Sala Petrobrás, um espaço em formato geodésico, totalmente climatizada, onde foram exibidos quatro longas e sete curtas. A programação de filmes, a mostra ainda teve debates sobre as produções exibidas com seus representantes, além de seminários sobre distribuição, filmes e públicos no Brasil e Europa, até de roteiro e direção.


A curadoria é fabulosa, conseguindo entre nove longas-metragens e 17 curtas-metragens mostrar recortes importantes além de trazer para reflexões ótimos temas. Os vencedores, que foram premiados com o Troféu Cascudo, foram os seguintes filmes:

 

Troféu da Crítica:

Melhor Longa-metragem: Saudade fez Morada aqui Dentro de Haroldo Borges.

Melhor Curta-metragem: A Edição do Nordeste de Pedro Fiuza.

 

Troféu Voto Popular:

Melhor Longa-metragem: O Dia que te Conheci de André Novais Oliveira.

Melhor Curta-metragem: As Marias de Dannon Lacerda.

 

Menção Honrosa:

Estranho Caminho de Guto Parente.

 

Uma das inúmeras questões que impressionam, além de uma produção e estruturas impecáveis, é como a cidade de São Miguel do Gostoso abraçou o Festival. As sessões estavam quase sempre lotadas, emocionando o público a cada noite. Estivemos presentes lá durante todos os dias e podemos afirmar que esse é o festival mais gostoso do Brasil! Ano que vem voltamos, se Deus quiser!

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13/10/2023

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Crítica do filme: 'Estranho Caminho'


Pai, você foi meu herói...pelo menos no meu sonhar. Detalhar cinematograficamente uma conturbada relação entre pais e filhos não é algo muito raro de se encontrar nas centenas de filmes que chegam nas prateleiras invisíveis dos streamings ou mesmo na sala de cinema. Mas, caro leitor, tem filmes que mostram essa temática de maneira tão bonita que durante um quase óbvio devaneio nos sentimos lutando para que as verdades sejam ditas. Esse é o caso de Estranho Caminho, premiado filme do diretor cearense Guto Parente, que teve sua estreia nacional durante o Festival do Rio 2023, que ainda encaixa em sua poesia em forma de narrativa os tempos de incerteza na mais recente pandemia que abalou o planeta.


Na trama, conhecemos um jovem (Lucas Limeira) cineasta que após longos anos volta para o lugar onde nasceu e morou para apresentar o seu mais recente trabalho em um Festival de Cinema. Com a pandemia da Covid batendo na porta, ele busca se encontrar com seu pai (Carlos Francisco) com quem não fala faz mais de uma década. Após uma tentativa quase frustrada, já que o pai se tornou uma pessoa cada vez mais reclusa, algumas situações peculiares começam a atingir seu caminho.


Exibido no Festival de Tribeca e selecionado também para o Festival de San Sebastián, ambos em 2023, vencedor de um prêmio no primeiro, Estranho Caminho é objetivo, poético, busca em seus brilhantes 83 minutos mostrar sentimentos perdidos, até mesmo escondidos, com um estopim que chega como flecha na vida de um jovem que não sabia muitas coisas que queria na relação sempre muito distante com o pai. A relação entre pai e filho é o alicerce de um roteiro que navega sempre com uma belíssima fotografia, que vai muito além do contorno das emoções, nos levando para curiosas surpresas com o andamento dessa história.


Sem esquecer de um contexto importante que o mundo viveu curtos anos atrás, a problemática da Covid e seus desenrolares, situações nos mostram o caos e o desespero dos atendimentos de uma doença que mudaram rumos de muitos. De uma relação familiar, passando por um surpreendente devaneio, em seu oitavo longa-metragem, Guto Parente busca resgatar a essência de uma relação destruída pela distância, brinca com o imaginário trazendo elementos do cinema experimental, associando o estranho ao desejo de se encontrar. Não tenham dúvidas, a magia do cinema está contida em todos os cantos desse brilhante filme brasileiro.



 

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12/10/2023

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Crítica do filme: 'O Dia que te Conheci'


Os caminhos inesperados do conhecer um novo alguém. Produzido pela Filmes de Plástico, produtora mineira que vem trazendo lindos filmes para o público desde 2009, O Dia que te Conheci é uma espécie de crônica cotidiana que de forma simples, simpática e objetiva nos faz refletir sobre questões da sociedade, da classe trabalhadora, dos encontros e desencontros que o destino apronta. Dirigido por André Novais Oliveira, esse projeto se torna uma caixinha de surpresas transformando um drama em um romance que atinge nossos corações.


Na trama, ambientada em uma Minas Gerais na atualidade, conhecemos Zeca (Renato Novaes), um simpático homem, imaturo, por muitas vezes inocente, descompromissado com o que pode vir no futuro, que trabalha na biblioteca de uma escola pública localizado longos quilômetros longe de sua casa. Um dia, por conta de seus constantes atrasos por um presente ligado à crises de sono intensas, é demitido de seu trabalho. No mesmo dia, pega uma carona com Luísa (Grace Passô) e entre desabafos e papos sobre diversos assuntos aos poucos um vai abrindo o coração para o outro.


Diálogos que nos transportam para a realidade de muitos trabalhadores brasileiros com um forte olhar para o cotidiano, as angústias, as aflições, os desencontros, as segundas chances, são vistos ao longo de singelos 71 minutos de projeção. Mas tudo isso é envolvido, conectado, por um ponto em comum entre os personagens, uma curiosa problemática com os remédios. Aqui, nosso campo de reflexão se torna mais amplo, profundo, as agonias de um mundo cada vez mais concorrido no campo profissional, as dores, os traumas, emoções conflitantes que levam ao caos emocional estão implicitamente ligadas ao uso desses medicamentos. Essa é uma questão importante para refletirmos.


A virada para uma história de amor, ou pelo menos o início de uma, é uma consequência de duas almas que se conectam, que observam e tentam entender o outro. É muito bonito a forma como essa construção é feita, não há malabarismos quando o discurso vai na raiz das emoções em cima dos caminhos inesperados do conhecer um novo alguém. As produções da Filmes de Plástico retratam como poucos o cotidiano, O Dia que te Conheci é mais um filme que na sua simplicidade tem muito a dizer.

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Crítica do filme: 'Pedágio'


Pare, olhe, escute. Um embate familiar que se choca com a realidade de uma vida difícil, com o preconceito, com verdades impostas, com a absurda oferta de uma ‘cura gay’ se tornam os primeiros elementos de um longa-metragem exibido nos festivais de San Sebastian e Toronto, que contorna as duras camadas de momentos conflitantes com inteligência, com uma fotografia que escancara as emoções. Segundo longa-metragem da carreira de Carolina Markowicz, uma grande contadora de histórias com imagens em movimento (já tínhamos visto isso no excelente Carvão), Pedágio não é um filme fácil, necessita de atenção, há reflexões por todos os lados. Um dos melhores longas-metragens exibidos no Festival do Rio 2023.


Na trama, acompanhamos Suellen (Maeve Jinkings, em grande atuação) uma mulher batalhadora que trabalha como cobradora de um pedágio em Cubatão, São Paulo. Ela tem um filho, Tiquinho (Kauan Alvarenga), perto de completar 18 anos, que adora fazer vídeos e imitar divas da música. Ao longo do tempo, Suellen passou a se incomodar com algumas situações envolvendo o filho e de maneira inconsequente resolve ser parte de uma pequena gangue que rouba relógios, tudo isso para financiar a ida de seu filho à uma cura gay organizada por um pastor gringo.


Os protagonistas, mãe e filho não chegam a ser antagonistas, há sentimentos conflitantes mas não falta amor. Essa relação repleta de altos e baixos, acaba se transformando em mais um personagem que segue como uma sombra para todas as ações e consequências que se chocam no destino dos protagonistas. Suellen vive num presente perdida em um relacionamento abusivo repleto de falsas promessas em choque com a carência, com a solidão e parece despejar todas suas frustrações no único filho. Tiquinho sofre com as agressões por sua orientação sexual mas não deixa de seguir seu caminho driblando a bolha conservadora que sua mãe está estacionada.


Como percorrer uma distância entre dois pontos? Tem artistas que adotam o discurso reto e direto outros buscam as trajetórias mais difíceis por meio de profundas camadas dramáticas para trazer ao centro do palco (ou melhor, da telona) uma série de críticas sociais importantes para serem debatidas. Um relacionamento entre mãe e filho marcado pelo preconceito é o primeiro passo de um brilhante roteiro que detalha a vida como ela é, uma versão nua e crua de recortes de uma sociedade que algumas vezes buscam os caminhos mais difíceis em busca de algum sentido para verdades impostas. A narrativa é cirúrgica também ao relatar e se fazer refletir sobre a opressão sofrida pela comunidade LGBTQIA+.


Um dos seis filmes pré-selecionados para uma vaga no Oscar 2024 (acabou sendo escolhido Retratos Fantasmas), Pedágio estreia dia 30 de novembro. Um filme que marca mais uma vez o talento de Carolina Markowicz.



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07/10/2023

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Crítica do filme: 'Sem Coração' (Festival do Rio 2023)


Tempo bom, tempo ruim, nas duas situações se aprende. Com passagem pelo prestigiado Festival de Veneza em 2023, o longa-metragem brasileiro Sem Coração desembarcou no Festival do Rio 2023 para sua première nacional. O projeto ambientado em uma Alagoas dos anos 90 aborda a descoberta da sexualidade na visão de uma jovem adolescente com o destino traçado longe do lugar onde foi criada. Escrito e dirigido por Nara Normande e Tião, o filme reforça o discurso das fases conturbadas da adolescência por meio de uma narrativa com altos e baixos.


Na trama, conhecemos Tamara (Maya de Vicq), uma jovem alegre e repleta de amigos que vive seus últimos momentos numa cidade no litoral de Alagoas, onde nasceu e foi criada. Certo dia, ela escuta falar de uma outra jovem, conhecida como ‘sem coração’ (Eduarda Samara), uma menina solitária que ajuda o pai pescador nos trabalhos profissionais. Aos poucos Tamara começa a desenvolver uma atração por essa jovem.


O imaginar, o sonhar e a realidade entram em choque, numa zona de conflito que busca ser o combustível da narrativa, por vezes confusa, outras alcançando o refletir com certo brilhantismo. O projeto caminha sobre a descoberta da sexualidade por alguns pontos de vistas, não só da protagonista, reforçando o discurso das fases conturbadas da adolescência. A amizade se torna uma força dentro do roteiro, nesse olhar social de interação a troca de experiências abrem margens para longos debates sobre a vida. Nesse último ponto, brilham jovens atores, rostos ainda desconhecidos do cinema brasileiro mas que estarão em breve em outras produções.


Pais e filhos, amizade, dúvidas, a violência, o preconceito, a desigualdade social, o roteiro abre seu leque para personagens e seus conflitos. Oriundo de um curta-metragem premiado no Festival de Cannes, uma extensão dessa história, Sem Coração, mesmo sem alcançar um clímax, se perdendo muitas vezes nas constantes subtramas que o envolvem, o filme consegue chegar ao objetivo de refletir sobre a vida na visão imatura de uma fase repleta de medos e incertezas sobre o futuro.



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