Muito bem amarrada em episódios bem distribuídos, dentro de uma narrativa repleta de inquietações e provocações, chegou sem muito alarde à Netflix uma série que caminha a passos largos pela mente da polícia e criminosos em um confronto pelas perdas emocionais. A produção dinamarquesa A Agente é muito mais que uma obra que rompe camadas para apresentar um iminente confronto - dilacera os dilemas sobre o certo e o errado de forma contundente, deixando reflexões por todos os lados.
Tea (Clara Dessau)
é uma jovem solitária que, após um passado cheio de questões, resolve ingressar
na academia de polícia. Pouco tempo depois, é chamada para um operação secreta em
que precisa se infiltrar na rotina do líder criminoso Miran (Afshin Firouzi) através da esposa dele,
Ashley (Maria Cordsen). Correndo
contra o tempo em busca de informações, aos poucos vai encontrando dilemas pelo
caminho.
O enredo, com seu clima emocional sem excessos, busca o
sentimento predominante de tensão através de histórias que se interligam em
dois lados apostos da lei. Do drama ao suspense, essa costura em forma de
narrativa é sustentada por uma série de personagens com intenções incertas, e
suas dificuldades de se firmar valores morais. Tudo isso é mostrado de forma
equilibrada dentro das ações e consequências - mérito de um roteiro que sugere
muitos olhares para reflexões.
Nessa montanha-russa de emoções, as oscilações de
sentimentos acabam sendo um elo que interliga os personagens, formando um
triângulo de diferentes pontos de vistas. Um criminoso, ao ver o cerco se
fechar, justifica somente para si suas ações até ali, num egoísmo que resvala
na família que construiu. Sua esposa, descompromissada com as verdades que
rondam sua rotina. passa por uma processo de desconstrução em tudo que
acredita. Já a policial protagonista enxerga além da justiça, colocando nas
justificativas de suas ações um caráter ético-filosófico, avaliando a culpa de
forma proporcional.
Em seis episódios, essa minissérie – que, a princípio, tem
começo, meio e fim mas quem abe não ganha uma segunda temporada - fica longe
das pontas soltas e apresenta alguns olhares para uma situação que envolve
família, escolhas e culpabilidade. A partir do foco na protagonista, acessamos
camadas familiares por meio de uma esposa que se vê perdida entre os laços
familiares e um novo despertar para sua vida até aquele ponto. Esse é um
projeto que utiliza de forma eficiente o Cliffhanger, despertando o desejo de
uma maratona ininterrupta como a escolha certa do público.
