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03/09/2023

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Crítica do filme: 'Carandiru'


A melhor coisa na cadeira é sair dela. Um dos filmes mais aclamados do cinema brasileiro das últimas duas décadas tendo como foco histórias de um lugar onde não se sabe onde a verdade está e impossível de prever como será o amanhã. Carandiru, dirigido por Héctor Babenco caminha por conflitos violentos, mentes perturbadas, ações impulsivas, dilemas, dentro do mais famoso presídio do país, o grande protagonista, que fechou as portas 21 anos atrás. Baseado no livro Estação Carandiru, de Drauzio Varella, o projeto traça um raio-x da cadeia dentro da cadeia.


Na trama, conhecemos um médico (Luiz Carlos Vasconcelos) que embarca em uma jornada repleta de conflitos indo para ações em um presídio com o foco em um trabalho de prevenção à Aids entre a população carcerária. Nesse lugar, escutando histórias e mais histórias, vemos muitas vezes esse personagem, também o narrador, em conflito interno, debruçado no dilema se deve esquecer ou voltar.


Aqui o ambiente, o lugar, é o grande protagonista. O maior presídio da américa latina, até então com 7.000 presos encarcerados em celas pequenas, com uma nítida superlotação, que reúne todo tipo de criminosos. Tem contrabandistas de carros, assaltantes, assassinos, traficantes, pessoas que acabam passando por transformações de um sistema carcerário precário que isolam qualquer tipo de reabilitação social. Na prisão, viram os barra pesadas, os que viram religiosos, os apaziguadores mas sempre com segundas intenções, os inconsequentes, os contrabandistas, adjetivos que se adicionam como complemento de seus caminhos errados fora dali.


A jornada do médico, uma clara referência à Drauzio Varella, percorre como elemento propulsor da narrativa, corre em paralelo a tudo que assistimos. Há crítica por todos os lados, principalmente aos tratamentos dos que necessitam ajuda naquele lugar. Sarna, Aids, Tuberculose, as condições precárias de tratamentos são mostrados aos montes, entre tragédias e relatos surpreendentes.


Com um grande orçamento para produções na época, que girou em torno de 12 milhões de reais, em filmagens que levaram um pouco mais de quatro meses para serem feitas na verdadeira prisão de Carandiru, o projeto conta com grandes nomes do cinema brasileiro: Wagner Moura, Caio Blat, Lázaro Ramos, Aílton Graça, Milton Nascimento, Luiz Carlos Vasconcelos, Rodrigo Santoro, Milhem Cortaz, Gero Camilo, entre outros.


Carandiru é uma daquelas obras do nosso cinema que jamais vão sair de temas de debates, um filme atemporal que mostra verdades de uma sociedade em eternos conflitos.



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18/08/2023

Crítica do filme: 'Hoje Falaremos sobre Aquele Dia'


O amor é mais significativo quando você luta por ele. Baseado na obra da escritora de apenas 33 anos Marchella F.P. e dirigido pelo cineasta indonésio Angga Dwimas Sasongko, que se especializou em ciência política na faculdade, Hoje Falaremos sobre Aquele Dia apresenta em duas linhas temporais uma narrativa que joga seus holofotes em um olhar para o cotidiano de distantes classes sociais. Conflitos familiares, amores proibidos, como lidamos com as feridas da vida, os assuntos são amplos e nos mostram os caminhos e o tempo que leva no reencontrar quando se perde.


Na trama, que busca um equilíbrio entre a melancolia e as passagens entre o sobreviver ao prosperar, acompanhamos duas histórias de alguma forma interligadas, tendo como ambiente Jacarta, na década de 80 e uma outra situação no final de 2023. Num primeiro momento, depois de uma tragédia que atinge um jovem Humilde, que entrou para a faculdade para cursar engenharia com a ajuda do irmão, surge uma união, primeiro a amizade, depois o amor e a luta para se manter contra pensamentos contrários familiares. Num segundo momento, as reflexões sobre o legado, a educação, lições sobre a vida, sobre relacionamentos (aqui com foco em problemas no casamento), corações em conflitos, tempestades que parecem nunca terem fim.


De Bali à Jacarta, a narrativa, mesmo estacionando na fórmula de bolo de um novelão mexicano e derrapando na quase desenfreada melancolia, emociona e faz refletir. Longe de uma lineariedade, com um habilidoso e nada complicado transporte temporal assuntos dos mais variados são colocados na frente de personagens que estão em busca de uma fuga para fortes crises existenciais. Assim, chegamos em conflitos familiares, amores proibidos, como lidamos com as feridas da vida, as distâncias sociais, o caótico cotidiano de quem tem como objetivo principal sobreviver mas sem esquecer do prosperar em todos os campos da vida.


Disponível no catálogo da Netflix, o projeto não deixa também de marcar fortes críticas sociais, principalmente ligado a área da saúde, como assistimos logo no primeiro ato e as dificuldades de famílias de baixa renda quando há uma perda. Inclusive, recentemente, Jacarta foi considerada a cidade mais poluída do mundo com forte poluição do ar. Hoje Falaremos sobre Aquele Dia se torna atemporal, uma obra que joga muitos olhares para onde quer que observamos.





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12/08/2023

Crítica do filme: 'Agente Stone'


Amigos, amigos, negócios à parte? Se apoiando no determinismo para mostrar um recorte dentro de um elo da importância das relações interpessoais com o profissionalismo, Agente Stone, novo filme protagonizado pela Gal Gadot é um divertido longa-metragem, com suas mentirinhas, que busca sua base no universo quase sempre criativo da espionagem. Dirigido pelo cineasta britânico Tom Harper, com roteiro assinado pela dupla Greg Rucka e Allison Schroeder, o projeto conta com a participação especial de Glenn Close além de ser o primeiro filme em Hollywood da atriz indiana Alia Bhatt.


Na trama, conhecemos Stone (Gal Gadot), uma agente secreta infiltrada em uma equipe do MI6. Já mais de um ano nesse time, ela foi criando laços carinhosos com todos os outros três integrantes, só que ela responde a uma organização chamada ‘A Carta’, que consiste em ex-agentes secretos que não respondem à países, nem ninguém e entram em complicadas situações para resolver crises diplomáticas, políticas, sociais, à sua maneira sem interferência de nações. Essa organização utiliza um programa tecnologicamente avançado chamado ‘coração’, que traça estratégias, porcentagens de êxito em determinadas ações além de hackear tudo e todos em qualquer lugar do planeta. Quando uma missão dá errado, seu caminho cruza com o de Keya (Alia Bhatt), uma poderosa hacker que tem lá seus objetivos contra ‘A Carta’.


Será esse projeto o início de mais uma franquia de filmes de ação? Unindo o campo da probabilidade, da estatística, refletindo sobre o determinismo, Agente Stone consegue aliar em sua narrativa fugas eletrizantes, empolgantes cenas de ação, além de reviravoltas que percorrem também o caminho da reparação de ofensas no epicentro do sentido de vingança. O ritmo é intenso, a trama passa por países como: Itália, Portugal, Senegal, Inglaterra e consegue encontrar um norte na desconstrução dos personagens dentro da causa e consequência que acabam sendo bem desenvolvidos por aqui. Ao longo de duas horas de projeção, o filme acaba perdendo um pouco do fôlego no seu último ato, após o início alucinante e cheio de surpresas, quando as peças já estão apresentadas nesse tabuleiro com estopins pra todo lado. Mas nada que tire as qualidades apresentadas até ali.


Agente Stone está em cartaz na Netflix e se consolida como o possível primeiro filme de uma franquia que pode dar muito certo.




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04/08/2023

Crítica do filme: 'Projeto Extração'


O mais do mesmo com tiro, porrada e bomba. Buscando uma rasa contextualização dentro de uma famosa zona conturbada mas que abriga uma das maiores reservas de petróleo no mundo, o novo filme de ação Projeto Extração, que reúne dois astros de duas gerações dos filmes de ação, Jackie Chan e John Cera, é um festival de cenas de ação e diálogos puxados para o tragicômico onde a trama fica em segundo plano, deixando pouco espaço para mais profundidade nas subtramas. Além de tudo, o filme é aquele famoso projeto onde deduzimos rapidamente seu meio e fim, se tornando um dos títulos mais previsíveis lançados pela Netflix em 2023.


Na trama, conhecemos Luo feng (Jackie Chan), o líder de um grupo de segurança que é chamado para uma missão complexa que compreende retirar trabalhadores de uma refinaria chinesa no Iraque que está sendo alvo de mercenários. Entre os trabalhadores está a filha engenheira do protagonista que tem um relacionamento frio e distante com o pai. Quando precisam atravessar a temida zona chamada ‘rodovia da morte’, são atacados (com direito até a motores à jato que criam tempestades de areia) e logo se descobre um plano do roubo de todo aquele petróleo da região. Para ajudar Luo Feng a combater os inimigos, ele contará com a ajuda do ex-militar norte-americano Chris (John Cena), que virou casaca quando seu irmão sofre as consequências de suas escolhas.


O deserto como mina de ouro. Falado em dois idiomas, essa co-produção China/Estados Unidos busca seu contexto na ganância e toda a problemática pela luta por petróleo em um mundo cada vez mais dependente desse poderoso recurso natural. E nada mais lógico do que ambientar um roteiro em uma zona de conhecidos conflitos já bem conhecida. Partindo desse princípio, a narrativa se desenvolve através do olhar de dois homens de guerra. Um experiente agente de segurança que está buscando uma melhor relação com a filha após um passado de magoas (que não é muito bem explicado), e um ex-fuzileiro naval que largou sua terra e vive no meio do deserto ajudando no desenvolvimento de uma região bastante carente. Mesmo tendo essas duas perspectivas o discurso conflituoso da narrativa não se desenvolve, o contexto se fecha sem maiores explicações metendo o pé no acelerador em alucinantes cenas de ação pouco empolgantes.


Dirigido por Scott Waugh com roteiro assinado por Arash Amel, com locações em um deserto chinês, rodado em meados de 2018 e só lançado em 2023 na Netflix, Projeto Extração pode até ser um entretenimento pra quem curte filmes de ação mas um grande sonífero para quem curte refletir com profundidade sobre os paralelos com a realidade, aqui, conflitos ligados as disputas (que percorrem anos) por um dos mais desejados recursos naturais do planeta.



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29/07/2023

Crítica do filme: 'Paraíso' (2023)


Você já imaginou se pudesse vender ou receber tempo de vida? Navegando por uma engenhosa distopia até mesmo um criativo contexto geopolítico a nova produção alemã da Netflix Paraíso nos leva de encontro a uma realidade onde a variável tempo não necessariamente está ligada à idade já que as pessoas que vão decidir até onde vão. Com uma tripla direção, um caso bem raro, assinam: Boris Kunz, Tomas Jonsgården e Indre Juskute, o empolgante projeto entrega críticas sociais por todos os lados, os sinais de atenção aos avanços tecnológicos nas mãos erradas, além de paralelos com a realidade como o problema dos refugiados e imigrantes que estão ilegais, tudo isso ligado à força do instinto materno que se torna uma ferramenta que percorre toda a narrativa, um ponto central das ações dos personagens.


Na trama, conhecemos Viktor (Numan Acar) um jovem bem sucedido que mora em um bairro rico na capital alemã ao lado da esposa que é médica. O protagonista trabalha como gerente de doação de tempo no conglomerado farmacêutico AEON que possui a expertise de conseguir vender tempo de vida através de um polêmico programa de transferência. Viktor, sempre se beneficiou do sistema mas começa a repensar a ideia quando perde o luxuoso apartamento em um incêndio, sem direito ao seguro, já que o laudo atesta negligência. Só que na época do financiamento com um grande banco, a esposa deu como garantia seu tempo de vida em relação ao total do apartamento: 2,5 milhões de euros o que equivale a 40 anos de vida! Buscando uma solução para não ver a esposa envelhecendo antes do tempo, ele começa a percorrer pelos mais mirabolantes obstáculos em busca de alguma saída.


Rodado todo na Lituânia, num ciclo atemporal, capitalista, onde o dinheiro fala mais alto (nada diferente dos dias atuais!) o longa-metragem de quase duas horas de duração consegue prender a atenção do público do início ao fim pois o discurso da distopia é bem detalhado, os paralelos com a realidade são bem propostos. Há a questão também da moralidade, um conceito explorado de forma ampla. Aqui o protagonista em conflito não é herói de nada, parece sair da sua bolha acomodada a partir de um trauma onde invoca para si um sentido de heroísmo mas seu passado o condena. Em paralelo, vemos a dona de todo o experiente de transferência de tempo, uma CEO arrogante, egoísta, de Empresa com sua matriz instalada em uma Berlim num futuro não longe de nossos tempos, que personifica como alguns lidam com o poder que tem sobre os outros.


A relação entre marido e mulher, o casamento, os sonhos de terem filhos e construírem uma família juntos acaba sendo um importante trunfo da narrativa, tudo passa por isso. Ainda há tempo de uma construção criativa sobre o olhar pelo mundo: alguns países bálticos fora da união europeia, uma grande potência que não permite que o programa de doação de tempo seja feito em seu território, a vida virando mercadoria nas mãos de pessoas influentes, a situação dos refugiados, grupos de protestos, a questão da justiça com penas criminais trocadas por transferência de tempos de vida, o submundo, a ilegalidade.


Paraíso chega com o pé na porta, com um discurso afiado, abrindo nossos olhos para um refletir sobre a sociedade, fazendo perguntas que podem parecer meio distantes da realidade que estamos... mas nem tanto assim.



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28/07/2023

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Crítica do filme: 'O Lobo Atrás da Porta' *Revisão*


Do que o ser humano é capaz? Com um excelente roteiro, inspirado num caso que chocou o Brasil, conhecido como Fera da Penha, O Lobo Atrás da Porta completa 10 anos em 2023 sendo considerado por muitos um dos grandes filmes brasileiros da última década. Nos mostrando o sumiço de uma criança, um tenso interrogatório com versões de uma mesma história, o filme passa um raio-x na obsessão, impulsividade, na violência. Quem está mentindo? Qual a verdade? Ao longo dos 101 minutos de projeção detalhes de um chocante crime vão sendo revelados dentro de um alto clima de tensão.


Na trama, conhecemos Bernardo (Milhem Cortaz), um fiscal de uma empresa de ônibus, casado com Sylvia (Fabiula Nascimento) com quem tem uma filha. Quando a garota desaparece misteriosamente após ser pega por alguém na creche em que estava, Bernardo e Sylvia vão até a polícia onde um tenso interrogatório acontece. O delegado de plantão (Juliano Cazarré) começa a desconfiar de algumas versões da história e logo se descobre que Bernardo tem uma amante chamada Rosa (Leandra Leal) que também é convocada para prestar depoimento. O tempo passa e as verdades começam a aparecer.


Exibido em muitos festivais de cinema, inclusive no Festival de Toronto (onde estreou) e também no Festival do Rio (onde levou dois prêmios), O Lobo Atrás da Porta tem uma narrativa brilhante, tudo funciona para não deixar o clima de tensão escapar, onde o vai e vém nas histórias dos envolvidos acabam trazendo enormes surpresas. A traição é um ponto central, onde tudo começa, se desenvolve e termina, há um olhar minucioso para conflitos nos relacionamentos, onde o lado psicológico chama a atenção em relação as ações e consequências nas portas que são abertas para esses conflituosos personagens.


Rosa é a mais intrigante personagem, sonsa, obsessiva, dissimulada, se mostra capaz de qualquer coisa para não sair da sua bolha de carência que é repensada com a chegada de um novo amor, mesmo esse sendo casado e a usando como objeto de desejo. As reflexões sobre nossa sociedade e as formas de enxergar a violência, a vingança, se colocam sob as ações dessa chocante personagem. Brilha em cena Leandra Leal, uma das melhores atrizes em atividade no nosso cinema.


Escrito e dirigido pelo ótimo cineasta Fernando Coimbra, em seu primeiro longa-metragem, o filme teve orçamento abaixo dos 2 milhões de reais, muito abaixo de outras produções nacionais. O projeto nas bilheterias brasileiras alcançou nem 30.000 espectadores. O que gera várias perguntas: Por que as pessoas não foram assistir? Será que ainda existia/existe algum pré-conceito ou mesmo preconceito com as produções brasileiras no nosso próprio país? Quantas salas de cinema colocaram o filme? Será que as salas de cinema que não colocaram o filme em cartaz estavam repletas de produções internacionais? Para se pensar!


Para quem se interessou em conferir, o filme está disponível na Star Plus, na Netflix e na HBO Max.



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10/07/2023

Crítica do filme: ' Meus Sogros tão pro Crime'


A sonolenta falta de criatividade de querer fazer rir o tempo todo. Produzido por Adam Sandler e dirigido por Tyler Spindel essa nova comédia disponível no catálogo da Netflix tem a pretensão de querer fazer rir o tempo todo se tornando uma fórmula de exageros, piadas nada engraçadas, situações constrangedoras totalmente fora da realidade, transformando a narrativa, que busca seu alicerce em conflitos familiares oriundos de uma suspeita, em uma desenfreada estrada rumo ao absurdo.  Meus Sogros tão pro Crime é o suprassumo da falta de criatividade.


Na trama, conhecemos Owen (Adam Devine), um gerente de banco que está em um momento de vida maravilhoso prestes a se casar com a professora de Yoga Parker (Nina Dobrev). Mas uma coisa sempre o incomodou, o fato de nunca ter conhecido os sogros. Perto do dia do casamento, a chance chega e aparecem na vida do casal Billy (Pierce Brosnan) e Ellen (Ellen Barkin), os pais da noiva. Tentando se entender com os sogros, certo dia o banco em que trabalha sofre um terrível assalto e Owen passa a desconfiar que quem cometeu o crime foram Billy e Ellen que podem ser os famosos ‘Bandidos Fantasmas’, criminosos com registro de mais de 100 assaltos à banco ao longo dos anos de atividade. Tentando confirmar sua teoria, acaba se metendo em diversas situações esquisitas.


As subtramas são esquecidas, passam de forma tão superficial que logo esquecemos. Um policial obcecado em pegar os bandidos, a família conservadora de Owen, os objetivos de carreira de um protagonista que parece viver numa bolha. Nada é aproveitado de forma mais profunda. Por aqui as reflexões são pausadas por uma maioria de diálogos toscos que flertam com o contrassenso. Inclusive a personagem Parker é completamente esquecida na trama, uma variável aleatória que as vezes esquecemos que está no roteiro. Em falar em roteiro, aqui tem aquela fórmula de bolo de algumas comédias, repletas de clichês e que buscam chamar a atenção pelo absurdo.


Não será nenhuma surpresa se Adam Devine aparecer na próxima premiação do Framboesa de Ouro, seu personagem é uma confusão, o que reflete em tudo que vemos. A busca pelo riso fácil acaba sendo um grave problema, tornando maçante assistir 95 minutos de um filme que não tem nada a dizer. Previsível até sua última linha, Meus Sogros tão pro Crime é um entretenimento bobo que escolhe a estrada do tédio se escondendo do senso crítico a todo instante.



 

 

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Crítica do filme: 'O Retorno da Lenda'


Quando as surpresas mexem nas páginas famosas de uma história. Exibido no Festival de Cinema de Veneza em 2021, o faroeste O Retorno da Lenda, que entrou recentemente no catálogo da Netflix, é uma surpreendente jornada de escolhas e segredos que tem seu epicentro girando em torno de um misterioso homem que é encontrado por pai e filho em uma remota região no leste de Oklahoma, no início do século XX. O roteiro apresenta surpresas e seguem na linha de uma teoria sobre um marcante personagem da história americana. O projeto é o quinto filme de faroeste da carreira do ótimo Tim Blake Nelson.


Na trama, conhecemos Henry (Tim Blake Nelson) um pacato agricultor viúvo perto dos 50 anos que mora com seu único filho, o adolescente Wyatt (Gavin Lewis), em uma casa isolada, instalada entre duas colinas, distante dos agitados dias fora dali. Eles levam uma vida simples e de muito trabalho até que um dia a rotina deles sobre um enorme abalo quando resolvem ajudar um estranho homem que foi alvejado perto dali e levava consigo uma bolsa repleta de dinheiro. Quando um grupo de homens aparece para procurar o homem que eles ajudaram, Henry precisará entender o quebra-cabeça e saber em quem confiar, ao mesmo tempo que segredos do seu passado começam a serem revelados.


Escrito e dirigido pelo cineasta norte-americano Potsy Ponciroli, o roteiro busca sua força num primeiro momento mostrando a importância da relação entre pai e filho na visão de Henry e Wyatt, isso acaba sendo fundamental para entendermos as ações que são tomadas mais pra frente. Henry é um solitário homem, de poucas palavras que parece ter sofrido abalos no passado nem tão recente e que encontrou um novo sentido para a vida através do amor de sua falecida esposa. Ele lida com o filho de forma dura, as vezes até ríspida, uma disciplina que ele acha ser importante para dias como aqueles. Wyatt, é um jovem curioso que talvez se enxergue limitado dentro da monotonia de sua vida, sem entender os porquês de morarem tão isolados. Esse embate que aparece mais nas entrelinhas é uma peça importante para todo o clima de tensão que se estabelece quando escolhas sobre em quem confiar aparecem na frente dos personagens.


Ambientado, mais ou menos, duas décadas depois da época do famoso Billy The Kid e do famoso embate entre comerciantes e fazendeiros também conhecido como Guerra do Condado de Lincoln, O Retorno da Lenda mostra sua força no recorte de uma época, trazendo um frescor para o gênero faroeste, onde a lei e os foras da lei se entrelaçavam, onde as mentiras tomavam conta de objetivos, um espaço de tempo em que a sobrevivência virava uma necessidade básica na vida de todos.  



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12/06/2023

Crítica do filme: 'Sangue e Ouro'


Em mais um recorte sobre a segunda guerra mundial disponível na Netflix, essa produção alemã foca no período de quase fim da batalha onde em um vilarejo com fortes marcas da guerra uma luta por um tesouro judeu coloca em conflito um desertor, uma fazendeira, nazistas e moradores do local. Bastante sangrento e bem objetivo, o roteiro apresenta os vários lados de uma batalha que envolve ganância, desespero, vingança e oportunidade. A direção é assinada pelo cineasta Peter Thorwarth.


Na trama, ambientada na primavera de 1945, conhecemos Heinrich (Robert Maaser), um soldado alemão que acabara de desertar e logo é sentenciado à morte. Só que o destino lhe ajuda e coloca em seu caminho a humilde fazendeira Elsa (Marie Hacke) que o salva e cuida do seus ferimentos na casa onde mora com o irmão. Os nazistas que sentenciaram Heinrich estão na cidade em busca de ouro deixado para trás por judeus em fuga, fato que todos ali naquela região parecem conhecer. Logo, uma imensa batalha é vista, com vários lados em busca de seus objetivos.


É importante a situação da Segunda Guerra Mundial aqui nesse cenário. Com os franceses cruzando o Rio Reno, região que atravessa a Europa do sul ao norte e os norte-americanos se aproximando, os nazistas se veem cada vez mais encurralados. Nesse ponto começa a história desse longa-metragem que gira em torno de uma palavra: desespero. Seja na visão do desertor, em busca de sua filha, ou na da fazendeira que em certo momento não tem mais nada a perder. Quem possui os mesmos objetivos acaba criando alianças e a partir daí conflitos e mais conflitos são vistos pelos olhos também da ganância ou mesmo da vingança.


O projeto parece um pouco corrido em alguns momentos. Como escrito acima, é importante entender o contexto (final da guerra) do maior dos conflitos que o mundo já viu até ali. As cenas de ação são ótimas. A sobrevivência é outro encaixe que vemos nas escolhas dos personagens, até mesmo num já pensamento de pós guerra, aquele ouro tão desejado vira uma luta pela futura existência pois todos os lados não sabem o que vai acontecer com o futuro deles ao fim da guerra.  


Pra quem curte filmes de ação, principalmente de guerra, esse longa-metragem de pouco menos de 100 minutos de projeção é mais um projeto para você refletir sobre o tema.



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Crítica do filme: 'Mixed by Erry'


A malandragem nos primórdios da pirataria. Nos tempos das fitas k7, bem distante da globalização intensa dos dias atuais, um negócio lucrativo, e completamente ilegal, era criado de maneira despretensiosa por três irmãos italianos em meados da década de 70, fato que mudou a maneira como a Europa passou a combater os que infringiam os direitos autorais de diversos músicos. Dirigido pelo cineasta italiano Sydney Sibilia, Mixed by Erry consegue encontrar sua fórmula de sucesso com personagens carismáticos e uma trama empolgante, puxada para a comédia, mas sem esquecer de mostrar a profundidade das ações e consequências.


Na trama, conhecemos Enrico 'Erry' Frattasio (Luigi D'Oriano), um jovem tímido morador da região de Forcella, parte da grande Nápoles, que passou a infância tendo como referência o pai trambiqueiro, um falsificador de famosas bebidas destiladas. Erry sempre amou o universo musical, e tornando um grande conhecedor das novidades pela planeta e quando chega próximo da maioridade tem o sonho de ser DJ. Como todas suas tentativas não dão muito certo, ao lado de um dos irmãos Peppe (Giuseppe Arena) resolvem criar um negócio onde playlists de músicas nacionais e internacionais eram colocadas em uma fita k7 e vendidas por toda a região onde moravam. O negócio acaba sendo uma avalanche de sucesso, e com a chegada do irmão caçula ao negócio, Angelo (Emanuele Palumbo), o trio monta um verdadeiro império da pirataria se tornando um enorme alvo para as ações da polícia federal italiana.


Dinâmico, empolgante, o roteiro não foge em nenhum momento de sua trama principal, o que se torna fundamental para cada detalhe brilhar na construção da narrativa. Baseado em inacreditáveis fatos reais, as estradas da ilegalidade de um popular produto pirata da época são contextualizadas de forma que entendemos as razões, e até mesmo, emoções por trás de cada avanço da organização, uma das pioneiras nessa ação. Essa largada na frente no mercado ilegal, que infelizmente dura até hoje no mundo, mesmo com todo o avanço tecnológico, transformou também as investigações das autoridades, no filme é apresentado um olhar sobre as operações da polícia federal italiana que a cada movimento novo ganhavam os holofotes da imprensa.


A produção italiana busca seu aprofundamento em passagens rápidas no início da trajetória do grande protagonista dessa produção, um jovem que só queria ser DJ. Como através da perseguição desse sonho, que logo vira desilusão, a pirataria alcança essa família disfuncional? A explicação é até simples, o pai trambiqueiro e adorado pelos três filhos homens transforma a mais simples falcatrua em normalidade. Esse ‘exemplo’ de alguma forma guia seus herdeiros para um mar de inconsequências. Para vocês terem uma ideia, no auge da organização criminosa de pirataria criada pelos irmãos forma mais de 180 milhões de fitas pirateadas, além de que muitas das playslists criadas tinham músicas de um famoso festival de música chamado Sanremo durante o próprio festival (lembre-se, em uma época ainda sem internet!).


Mixed by Erry está disponível lá na Netflix e contorna os caminhos do crime de uma família que se distancia da ingenuidade conforme se perdem nas desilusões do sonhos.



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06/06/2023

Crítica do filme: 'Fiéis'


A consciência social é algum tipo de mecanismo de defesa do mentiroso? Chegou em 2023 no catálogo da Netflix, uma produção holandesa que não deixa de ser um recorte sobre a mente humana. Com um pontapé inicial em cima de curiosa história de duas amigas que resolvem viver vidas paralelas longe do cotidiano maçante com seus respectivos maridos, Fiéis é um filme sobre mentiras premeditadas que abre espaços para reviravoltas acoplando ao drama um misterioso assassinato. Dirigido por André van Duren, o projeto se desenvolve na reflexão sobre moralidade, o cardápio que acompanham as ações e as inconsequências.


Na trama, conhecemos Bodil (Bracha van Doesburgh), uma experiente juíza holandesa que leva uma vida feliz com o marido, o médico Milan (Nasrdin Dchar). Sua melhor amiga, Isabel (Elise Schaap) é uma mulher que passa por uma crise no casamento. As duas, em determinadas épocas do mês fazem uma viagem onde vivem outras vidas, com calientes romances, um plano que dá sempre certo pois uma é cúmplice da outra. Quando um assassinato acontece e misteriosamente Isabel desaparece, Bodil se vê em um labirinto onde achar verdades em meio a tantas mentiras é uma tarefa complexa. Tudo se complica mais ainda quando Luuk (Gijs Naber), marido de Isabel resolve se juntar na busca pela esposa.


As verdades insuportáveis que se atolam nas mentiras. Tem muitos caminhos que o espectador pode seguir e refletir sobre alguns dos temas propostos pra debate. As fraquezas humanas, o buscar despertar para uma vida que nunca pode ser a principal, os segredos entre quatro paredes, as fantasias, as emoções conflitantes que surgem quando entendemos melhor as quatro peças desse tabuleiro repleto de traições, mentiras, voyeurismo, testemunhos falsos. Distinguir o certo do errado pode ter interpretações diversas nessa narrativa que busca seu clímax nos momentos de tensão, num confuso desaparecimento e um assassinato que pode ter mais de um motivo.


A questão da moralidade é algo que acaba sendo um ponto de interseção entre os personagens. As intenções, as decisões, andam em uma linha tênue onde o egoísmo se mostra presente quase sempre, arrancando qualquer tipo de certeza no que é certo ou errado. Essa transformação que passam esses casais acaba os fazendo ter uma nova visão sobre os próprios casamentos. Ainda sobre isso, Bodil se vê indo na contramão do sua própria profissão, burlando uma investigação para manter a sua mentira, o que não deixa de ser um enorme conflito não só no campo pessoal.


Infiéis e suas inúmeras interpretações está disponível lá no catálogo da Netflix. Um filme para assistir com bastante atenção, principalmente quando abre brechas para um olhar instigante sobre o buraco da fechadura de relacionamentos.



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25/05/2023

Crítica do filme: 'Dois Corações'


Um encontro não que não estava previsto, ou estava! O cineasta mexicano Lance Holl, que lá atrás, há quase 40 anos, comandou a ação em Braddock 2: O Início da Missão, com o lendário Chuck Norris, chega para seu quarto longa-metragem como diretor dessa vez para apresentar uma história baseada em fatos reais que nos apresentam as surpresas emocionantes de duas histórias que correm em paralelo pelas estradas sempre conflitantes dos sentimentos ligados à perda e ao amor. Esse é um filme para assistir com um lencinho do lado!


Na trama, conhecemos Chris (Jacob Elordi) um jovem universitário, que está em busca do que quer fazer de sua vida. Ele possui problemas de relacionamento com o exigente pai e vê sua rotina e destino mudar quando conhece a jovem Sam (Tiera Skovbye) por quem logo se apaixona. Em paralelo a essa história que rumava para uma romance como algum outro qualquer, conhecemos o cubano Jorge (Adam Canto), de família rica que levantou um império de Rum. Desde criança, Jorge possui graves problemas no pulmão mas isso não o impediu de seguir em frente e até encontrar o amor no relacionamento com a aeromoça Leslie (Radha Mitchell). Essas duas estradas, que aparentemente nunca se cruzariam, vão levar uma flechada do destino onde dilemas, dor, amor e perda vão se encontrar em um determinado momentos de suas trajetórias. Como fator de curiosidade, o longa-metragem, conforma já dito, é baseado em fatos reais. O personagem Jorge é inspirado em Jorge Bacardi, um dos herdeiros da famosa marca de bebidas destilada.


A narrativa, em busca do iminente plot twist complica o que deveria ser fácil: explicar com importantes detalhes as duas histórias, que em muitos momentos andam por uma linha previsível e confusa. Quando chegam os dilemas, a trama ganha força insistindo na mensagem que está presente em todas as linhas do roteiro: valorizar os momentos. Acompanhar essa história pelo ponto de vista de Jorge é um caminho mais amplo e cheio de reflexões, até mesmo de forma geopolítica quando detalhes da chegada do governo de Fidel Castro em Cuba fez a sua família se mudar para a Flórida em busca de manter seus empreendimentos. Pelo lado do jovem universitário, vemos um quase adulto sem pretensões na vida preso num eterna problemática na relação com o pai.


Dois Corações aborda um importante tema, que nunca deixou de ser polêmico: a doação de órgãos. Os Estados Unidos, até pouco tempo atrás, tinha o dobro de transplantes de órgãos em comparação a outros países, inclusive o Brasil. Mas isso não deixa de tirar méritos de nosso país no quesito, já que ocupamos a segunda posição no ranking mundial, a diferença para a maior potência do mundo são os investimentos nessa área. Tomara que o filme, com o sucesso de sua entrada na Netflix gere cada vez mais reflexões sobre esse tema tão importante ligado à salvar vidas.



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17/05/2023

Crítica do filme: 'Já era Hora'


O tempo é o senhor do destino. Com uma proposta interessante de navegar nos caminhos indecifráveis que podem se abrir no destino, o longa-metragem italiano Já era Hora, disponível na Netflix, através de um ótimo protagonista, nos conta uma história cheia de altos e baixos na vida de um advogado atrapalhado, consumido pelo trabalho que vê seu mundo virar de cabeça pra baixo quando percebe estar saltando de forma aleatória para o ano seguinte. Remake da produção australiana Long Story Short, escrito e dirigido por Alessandro Aronadio (Renato Sannio também assina o roteiro), Já era Hora provoca uma vasta reflexão existencial.


Na trama, conhecemos o advogado Dante (Edoardo Leo) que após uma peculiar situação, que tinha tudo para ser constrangedora, acaba conhecendo uma delicada e romântica ilustradora chamada Alice (Barbara Ronchi). Eles logo começam a namorar e a morar juntos. Cheios de planos e aos trancos e barrancos mantendo acesa a paixão no casamento, o casal sofre com a falta de tempo de Dante, um workholic consumido pelas quase inacabáveis horas que se dedica ao trabalho. Certo dia, Dante se vê preso em uma situação angustiante, começa a perceber que está pulando de forma aleatória para o futuro, de ano a ano, o fazendo viver alegrias e tristezas como se fosse um espelho do que, daquela forma que vive o presente, seria seu futuro.


Como fazer o tempo passar devagar? O protagonista embarca em descobertas, dentro de uma espécie de paradigma sobre suas próprias convicções pessoais, Dante se vê com a possibilidade de olhar à frente mas tendo que consertar o que era no seu antigo presente através das situações que se apresentam nesse futuro que chega do nada na sua rotina. Embarcando no faz de conta, o espectador tem a chance de refletir sobre temas que podem envolver um casamento: os conflitos, as crises, a terapia de casal, a gravidez, a traição, as escolhas difíceis, a separação, a paternidade.


Já era Hora com seu ritmo eletrizante, aposta no meio, com seu desfecho indefinido, com seu início baseado no absurdo mundo da hipótese. É um projeto para se fazer pensar sobre a vida, principalmente para pessoas de meia idade, onde as crises nesse momento chave de nossa trajetória nos levam a pensar adiante, em como serão as coisas no futuro a partir das ações no presente.  



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Crítica do filme: 'A Mãe'


As escolhas de uma mãe. Dirigido pela cineasta neo zelandesa Niki Caro, chegou na plataforma da Netflix nesse primeiro semestre de 2023 um filme que aborda as várias camadas emocionais de uma mãe que desde sempre soube que seria algo quase impossível estar perto de sua única filha. Abordando os caminhos tumultuados das escolhas difíceis dentro de uma proposta onde a ação vem em primeiro lugar, A Mãe foge da melancolia com uma forte protagonista que se vê perdida na bolha que criou para se proteger. Pena que a narrativa derrapa quando o drama, um afluente da ação, busca encontrar respostas em uma trama mal explicada ligada ao passado da personagem principal.


Na trama, conhecemos uma ex-militar (Jennifer Lopez), exímia atiradora, que se meteu em várias enrascadas através de conhecidos, se tornando uma impiedosa assassina, vivendo como nômade, fugindo de serviço em serviço. Um dia ela descobre estar grávida e após um acordo com o FBI, resolve se distanciar da filha ainda bebê. O tempo passa, e sua filha Zoe (Lucy Paez), agora uma adolescente vivendo com os pais adotivos, corre perigo de vida, situação que a faz estar novamente no radar de impiedosos bandidos.  


O significado de ser mãe, essa parece ser a grande busca da protagonista, uma mulher que não tem o nome revelado, talvez um simbolismo para refletirmos durante toda a projeção sobre a situação maternal que se encontra. Objetiva, cheia de cartas na manga, parece estar preparada, mais forte, no momento em que se encontra sozinha, distante, como se o envolvimento emocional a deixasse sem norte, com escolhas cada vez mais difíceis para se fazer. Esse conflito contorna o roteiro.


A ação, que acaba sendo o foco das pouco menos de duas horas de duração, chega com força como se o sentido de sobrevivência se juntasse ao objetivo de proteção a alguém que a gente ama. Esse sentimento está na ponta da bola de cada atitude desenfreada, e muitas vezes inconsequente, de uma personagem que não consegue se desprender do seu passado violento, o único mundo em que ela viveu até ali.


A Mãe é um filme violento, em muitos sentidos. Seja nas impiedosas ações da protagonista, seja no sentido de ruptura e busca de reconciliação do sentimento mais forte do universo, o amor de uma mãe.



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10/05/2023

Crítica do filme: 'O Quinto Set'


As dores das oportunidades perdidas. Abordando os dilemas profissionais e pessoais de um esportista em busca de qualquer tipo de redenção em uma carreira com muitos baixos mais que altos, O Quinto Set se estrutura também como um forte drama familiar. Escrito e dirigido por Quentin Reynaud, o longa-metragem francês constrói um impactante retrato de um homem e um momento de desequilíbrio nas suas dores existenciais.


Na trama, conhecemos Thomas Edison (Alex Lutz), um tenista perto dos 40 anos em fim de carreira, decadente na profissão, que sofre pelas oportunidades perdidas, de não ter conseguido o sucesso esperado na carreira. Com 18 anos como profissional, completa a renda mensal de sua família dando aulas particulares no clube de sua mãe Judith (Kristin Scott Thomas). Certo dia consegue a última oportunidade da carreira, disputar as classificatórias para o único Grand Slam jogado no saibro, o torneio francês Roland Garros. Ao mesmo tempo que vai avançando nesse pré-torneio, chegam em sua frente conflitos com a mãe e a esposa, a ex-tenista Eve (Ana Girardot).


Disponível no catálogo da Netflix, esse interessante drama nos apresenta um olhar para outras possibilidades na vida de um homem em conflito, que não consegue se desprender de traumas em momentos chaves da sua trajetória profissional. Com dores constantes no joelho e críticas públicas da própria mãe, pra completar uma trinca de problemas a história se estende para os dramas com a esposa, que abandonou o esporte para cuidar do filho do casal e que se vê em segundo plano. A maneira como ele reage a esse turbilhão de situações se entrelaçam na chama acesa de seus sonhos. Ele se nega a desistir, mas qual o limite? Vale a pena colocar muita coisa a perder?


Lançado em 2021 nos cinemas franceses e desembarcando recentemente no catálogo da Netflix aqui no Brasil, O Quinto Set se consolida como um interessante retrato de uma vida dedicada ao esporte e todas as dores e conflitos provocados pelas insatisfações, de não conseguir dar aquele passo rumo ao sucesso.



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01/05/2023

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Pausa para uma série: 'A Diplomata'


Os caminhos para o centro do poder. Criada pela norte-americana Debora Cahn, o novo seriado que desembarcou na Netflix nesse primeiro semestre de 2023 aborda as intrigas, os jogos políticos, os conflituosos momentos de um casamento em crise, tudo isso na visão de uma mulher, especialista em situações de risco, que vê no centro dos bastidores do poder ao aceitar ser embaixadora norte-americana em uma grande nação europeia. O roteiro funciona de forma maravilhosa, desfilando críticas de formas diretas e outras de formas sutis e fazendo refletir sobre todos esses conflitos que a protagonista enfrenta pelo caminho. Na pele dessa protagonista, a maravilhosa atriz Keri Russell que mais uma vez nos brinda com seu talento na arte de interpretar.


Na trama, conhecemos Kate Wyler (Keri Russell), uma diplomata que as véspera de viajar para o oriente médio recebe o convite para ser a nova embaixadora dos Estados Unidos na Inglaterra, logo após um incidente com um navio britânico ser foco de tensões geopolíticas. Pega de surpresa, ela logo aceita o convite e junto com ela embarca para a terra da rainha seu marido Hal (Rufus Sewell), um famoso diplomata que dessa vez precisa ficar nos bastidores mesmo seu ego não deixando muitas vezes isso acontecer. Além de tudo, o casamento entre os dois está no pico de uma crise praticamente irreversível. Assim, tendo que lidar com um jogo político ardiloso e cheio de variáveis, Kate se vê em enormes conflitos pois ainda por cima precisa resolver sua situação com o marido.


O liquidificador de conflitos por aqui é muito bem explorado na narrativa. As subtramas, além de caminharem de forma que encostam na trama principal, nos levam a campos de visões diferentes sobre uma mesma situação, fruto dos ótimos personagens que percorrem os oito intensos episódios dessa primeira temporada. O bla bla blá político aqui é substituído por inteligentes diálogos que não deixam a trama ficar maçante. O ritmo é intenso, são muitas informações a todo instante. Praticamente percorremos o novo cotidiano da protagonista, uma mulher inteligente, que precisa se adequar as cerimônias mas sem deixar de perder sua forte personalidade.


Um dos pontos que mais se tornam interessantes é o fato do casamento em crise, algo escondido mas que logo se revela. A partir da apresentação dos ótimos personagens vamos entendendo alguns porquês, torcemos para que eles fiquem juntos mas isso pode mudar na próxima cena. As reviravoltas por aqui são impressionantes. Com um final super aberto, com uma chocante revelação nos últimos minutos do último episódio, A Diplomata já ganhou uma segunda temporada. Vale a pena conferir!



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29/04/2023

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Pausa para uma série: 'Treta'


A raiva é um estado transitório da consciência? Uma das gratas surpresas no universo das séries que chegaram aos streamings em 2023, sem dúvidas, é o projeto criado pelo sul-coreano Lee Sung Jin, Treta. Com uma trama sólida e com camadas e mais camadas que giram em torno da história principal, o seriado reflete sobre por duas pessoas ligadas por uma inusitada situação que se veem presos numa crise existencial onde o limite para ações e consequências extrapolam qualquer normalidade. O projeto tem uma curiosidade bem legal, alguns dos chamativos títulos de episódios são citações de mentes famosas, como uma do escritor tcheco Franz Kafka e outra da poeta norte-americana Sylvia Plath.


Na trama, conhecemos Danny (Steven Yeun), um empreiteiro, com problemas, que vem de uma decepção com um empreendimento familiar passando por um presente confuso, desiludido, com pensamentos ruins. Também conhecemos uma empresária chamada Amy (Ali Wong), dona de uma marca que foi ficando poderosa ao longo do tempo, ligado à plantas. Parece ter uma vida perfeita, de sucesso no campo pessoal e profissional, mas nem tudo é o que aparenta ser, vive seus dias em um enorme stress. Certo dia, o destino desses dois personagens se cruzam de maneira peculiar, após uma briga de trânsito, o que desencadeia uma série de situações surpreendentes.  


Um acúmulo dentro de si e uma explosão de uma só vez é o estopim dessa história, assim vamos acompanhando os pontos de vistas do dois protagonistas. Viciada no seu telefone, Amy vive resolvendo problemas em grande parte do seu dia, seja no campo profissional com uma enorme oportunidade de venda do negócio, ou mesmo no campo pessoal, com o acomodado marido que se dedica à sua arte que não traz dinheiro para dentro de casa, além de ter que lidar com a sogra jararaca. Já Danny, mora com o irmão mais novo em um pequeno apartamento e parece nunca acertar o seu rumo, vendo o tempo passar, amigos próximos progredindo na vida, não conseguindo sair de uma situação de dependência com a óbvia má companhia de um primo que acabara de sair da prisão. Essas duas almas viram o estopim um do outro trazendo nas bagagens um cansaço do mundo que gira ao redor deles.


De maneira inusitada somos testemunhas do encontro de certos propósitos na vida, já que quando nenhum lugar parece um lar, você começa a olhar a si mesmo. As ações e consequências tem um papel importante nesse criativo roteiro onde os protagonistas são colocados em sinuca por eles mesmo mas sem deixar de levar outros para dentro do caos que criaram. Buscando encontrar respostas na fé, na psicologia, até mesmo na terapia, os personagens se veem perdidos constantemente como se um curativo fosse colocado em todas suas dores mas logo percebem que nunca encontram soluções para resolver o problema.


Com uma trilha sonora empolgante e a real possibilidade de ter uma continuação, seguindo formatos de antologia ou não, Treta não perde o ritmo um instante se tornando uma fonte de reflexões sobre o vazio existencial.



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16/04/2023

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Pausa para uma série: 'Desejo Obsessivo'


O estopim oriundo da obsessão e do desejo. Minissérie caliente que busca uma reflexão no campo emocional de um absurdo e obsessivo relacionamento em paralelo ao rompimento da linha tênue entre o controle e o descontrole, Desejo Obsessivo navega a um passo da tragédia.  Reunindo um protagonista com uma vida perfeita que encontra uma singular mulher, o roteiro levanta questões sobre desejo, a obsessão, onde os deslizes se tornam iminentes e a irrelevância de qualquer outro vira algo frequente. Esse embarque no desequilíbrio é o ponto de interseção que costura o roteiro para as ações e consequências dos personagens.  


Na trama, conhecemos William (Richard Armitage), um cirurgião brilhante, de fala mansa, casado com uma advogada, com dois filhos que o idolatram, que vive seus dias com um enorme recente sucesso na carreira, fato que o leva a uma provável carreira política. Tudo ia na mais perfeita harmonia e equilíbrio na sua vida até que se vê envolvido, encantado, seduzido, obcecado, pela futura noiva do próprio filho, a enigmática Anna (Charlie Murphy). A partir do momento que ele se deixa levar por essa história, a vida apresentará duros golpes em seu caminho.


A verdade tem mil faces. A relação que se estabelece é por onde buscamos decifrar os momentos dos personagens. A dominação, controle psicológico, o proibido, a necessidade da submissão do outro nos jogos sexuais impostos, são alguns dos elementos que se tornam pólvoras para inconsequências. O controle e a submissão, aqui ligados ao desejo, moldam os calientes momentos como se a cada novo encontro um tijolo fosse colocado na bolha criada nesse tabuleiro de sedução. Será algum tipo de amor? Será a necessidade de preenchimento de um vazio ligado a desejos? Percorrendo milhas e milhas distante da linha que divide razão e a inconsequência somos testemunhas de atos impensáveis, onde há a troca do equilíbrio (razão) pelo descontrole (emoção).


A subtrama da família e toda exposição perante à situação não consegue ser tão profunda, ficando em total segundo plano. Esse poderia ser um elemento mais bem aproveitado. A deslealdade na relação com filho é o que deixa marcas no desequilíbrio do protagonista, mesmo esse dominado pela obsessão onde qualquer um que não seja Anna sejam jogados para escanteio. Na construção para a estrada da obsessão aqui nesse projeto, logo percebemos ser uma rua de mão dupla, onde um personagem se joga nesse oceano de inconsequências e o outro busca soluções para sair dessa bolha angustiante que já lhe trouxe tragédias no passado.


Mas afinal, quem tem mais culpa no cartório? Nessa minissérie de 4 capítulos disponível na Netflix, o lidar com a consequência dos próprios atos é a reta final de uma trama que busca ser envolvente e caliente, explorando os caminhos interpretativos do desequilíbrio.  


   

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15/04/2023

Crítica do filme: 'Fome de Sucesso'


Quando a oportunidade bate à sua porta. Oferecendo para o público um forte olhar para os extremos sociais, e suas desigualdades, do vigésimo país mais populoso do mundo, Fome de Sucesso explora os detalhes, deixa pistas sobre seu foco nas entrelinhas, usando do choque de algumas cenas para reter a atenção e gerar o refletir sobre diversas questões que vão desde o rompimento de qualquer linha tênue entre exigência e assédio moral até a questões existenciais ligadas ao equilíbrio emocional. Dirigido por Sitisiri Mongkolsiri, com roteiro assinado por Kongdej Jaturanrasamee o projeto ainda conta com uma desconstrução profunda de sua protagonista que se vê em constantes dilemas dentro do exigente universo gastronômico. Pra quem curte sociologia esse filme é um prato cheio!


Na trama, rodada toda na capital tailandesa, Bangkok, conhecemos Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying), uma jovem que é o coração de um humilde restaurante pertencente à sua família situado em um bairro humilde na capital tailandesa. Especialista em Pad See Ews (um tipo de macarrão frito), ela abdicou dos estudos para se dedicar integralmente ao empreendimento se vendo em muitos momentos sem grandes perspectivas na vida. Certo dia, recebe um convite para uma grande oportunidade na equipe do renomado e exigente Chef Paul (Nopachai Chaiyanam), um especialista em alta gastronomia, famoso por todo país. A partir disso, rompe com sua antiga vida e parte para a descoberta de um novo olhar sobre tudo aquilo que achava que conhecia.


O instigante roteiro de Jaturanrasamee nos leva para uma jornada por um dos novos países que compõe os novos tigres asiáticos, a Tailândia. Por isso é importante mencionar que esse país é um dos que, por meio de um processo constante de industrialização, mais cresceram economicamente a partir da década de 90 naquela região. Fato que provocou um abismo social pois os ricos fora ficando cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. De uma ponta a outra, as duas faces do extremo da pirâmide social são pontos de reflexão constante na obra e fazem parte da construção dos ótimos personagens. Diferenças no padrão de vida, nas condições de acesso à direitos, com tempo para criticar até mesmo a caça ilegal de animais, a narrativa não abdica do seu poder de chocar para refletir.


Usando de forma habilidosa o universo gastronômico como paralelo para enxergar fatos sociais, o filme navega no embate de valores e caráter entre uma jovem aprendiz e um sumo sacerdote da alta gastronomia. Em busca do corte perfeito, do controle do fogo, encostando na inveja, no ego, na pressão, na perfeição, nas experiências exclusivas de milionários e jovens mimados, nos detalhes, rompendo todas as linhas do assédio moral, o mentor causa o choque de realidade na protagonista que entra em uma intensa e exaustiva busca para expressar sua identidade e aqui o filme deixa a pergunta: pra chegar à perfeição é preciso se desnudar dos valores que construiu até ali? Nesse ponto, já dentro de reflexo de tudo aquilo que abomina, no parapeito de sua pior versão, há uma forte desconstrução da protagonista associada também à solidão de quando se chega ao topo.


Jogando um forte olhar crítico para um país que vem passando por enormes transformações pelo menos a uns 30 anos, o filme acerta no seu objetivo que é o de trazer para debate um problema universal: a busca pelo equilíbrio em um mundo desigual que pode corromper valores.



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05/04/2023

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Pausa para uma série: 'Marinheiro de Guerra'


Um lugar onde ninguém queria estar. Em mais uma produção que traz recortes sobre o caos do maior dos conflitos da humanidade, o projeto norueguês Marinheiro de Guerra mostra a visão de participantes involuntários da Segunda Guerra Mundial, homens e mulheres que foram obrigados a estarem no conflito quando navios mercantes ficaram sob o comando da coroa norueguesa, servindo aos aliados nas frentes de batalhas. Escrito pelo norueguês Gunnar Vikene, Marinheiro de Guerra também abre espaço para a visão em terra das famílias e tudo que precisaram passar, com muita dificuldade, sem dinheiro e sem notícias dos parentes. Esse projeto marca mais uma página nos horrores da grande guerra.


Lá fora lançado como filme de quase três horas, aqui no Brasil virou uma minissérie com três capítulos, inclusive foi o indicado da Noruega ao último Oscar, Marinheiro de Guerra segue a trajetória de Alfred (Kristoffer Joner) um homem trabalhador que mora com a esposa e os três filhos na cidade de Bergen, na Noruega. Com dificuldades de conseguir emprego em terra, e contando com a ajuda do melhor amigo Sigbjørn (Pål Sverre Hagen), resolve embarcar em um navio mercante, onde fica responsável pela cozinha, mesmo com receio de ir par ao mar pois o conflito da Segunda Guerra Mundial já está em pleno vapor por mais que seu país, até aquele momento, não estivesse em guerra. Só que, alguns meses após seu embarque, quando Alfred e seus novos amigos estão no meio do oceano atlântico, a Alemanha invade a Noruega. Nesse cenário, eles são obrigados a estarem em embarcações que vão para frentes de batalhas e presenciam mais fortemente dias nebulosos além de viverem traumas inesquecíveis. Em terra, a esposa de Alfred, sem notícias dele, busca seguir em frente.


A coragem de fugir do medo. A contextualização de uma época de conflitos intensos na Europa é muito bem feita em todos os três episódios. Mesmo sem explicar a fundo o porquê da invasão alemã ao território norueguês (que foi pelo minério de ferro, fato explicado bem melhor em outra produção da Netflix, Narvik) seguimos a história pela visão desses participantes involuntários. Vemos diversos dilemas que vão desde salvar ou não um alguém no meio de um conflito, os pensamentos de deserção e suas consequências, a agonia de estarem expostos e sem treinamento militar o que os torna um alvo certo dos perigosos submarinos alemães, a saudade da família. Passando por Liverpool, Malta, Nova Iorque, Canadá, e a cada novo porto que conseguiam chegar, o protagonista e seus companheiros  refletem sobre o que fazer e se voltariam para seus lares como as mesmas pessoas de quando embarcaram, drama que milhares de pessoas passaram nessa época de caos e desespero.


O projeto abre um espaço também para a visão da guerra por quem ficou em Terra, aqui na visão da família de Alfred. Sua esposa Cecilia (Ine Marie Wilmann) cuida dos três filhos, já com a Alemanha em território Norueguês, sofre com as incertezas, o aluguel atrasado e terrores de bombardeios constantes ainda na cidade natal deles, Bergen. Com o tempo que passa, essa parte da família de Alfred ganha novos holofotes quando Sigbjørn involuntariamente se torna um vértice de um improvável triângulo amoroso. Nesse surpreendente ponto, o projeto encosta em um forte dilema, visto em alguns filmes, como no longa-metragem Brothers da cineasta dinamarquesa Susanne Bier.


Marinheiro de Guerra está no catálogo da Netflix, se você curte recortes sobre a Segunda Guerra Mundial, esse projeto tem muito a oferecer ao seu refletir.



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