10/08/2014

Crítica do filme: 'A Case of You'



Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura. Ah, amor! Sempre ele envolvendo histórias no mundo do cinema. Será que há espaço e criatividade para escrever um roteiro um pouco diferente de tudo que já vimos? Buscando inovações na maneira de contar uma inusitada história de amor, o norte-americano Justin Long (que você já deve ter visto em muitos filmes) roteiriza, produz e atua no interessante A Case of You. Dirigido pela belíssima Kat Coiro, o filme é uma jornada de incertezas em busca do amor perfeito.

Na trama, conhecemos o escritor Sam (Justin Long). Um homem de meia idade, desiludido com seu trabalho, com poucos amigos, sem muitas pretensões na vida. Certo dia, resolve ir atrás de uma moça chamada Birdie (Evan Rachel Wood), por quem sempre teve uma queda, que trabalha em um café que ele sempre frequenta. Quando a mesma é demitida e ele perde contato, consegue com a ajuda de amigos descobrir o perfil dela no Facebook e assim, descobrir por onde ela anda e seus gostos e costumes. Sam então, embarca em uma viagem rumo ao amor. 

Os personagens ditam o ritmo do filme a todo instante. Isso é uma tática arriscada, as vezes parece que falta história mas no final tudo fica bem interessante. A história gira totalmente em torno de Sam. Parece a Apollo 13, do desastre ao triunfo. Consegue fazer tudo errado ao mesmo tempo e mesmo assim, por conta da sorte, é bem sucedido em muitas atitudes ao longo do filme. O personagem é bem problemático, isso fica bem claro para o espectador. Justin Long desempenha com eficácia esse papel que consegue com um carisma tímido conquistar o público. 

Birdie é uma daquelas personagens que somente Evan Rachel Wood consegue interpretar. Tinha tudo para ser sem graça e amarga mas com muita sutileza e charme, a Srta. Wood mais uma vez consegue elevar a qualidade de um filme que trabalha. Que baita atriz essa! A história funciona exatamente porquê há química entre esses dois personagens.

 A direção é apenas mediana, chega a ser preguiçosa. Poderia ajudar muito mais e elevar a qualidade da história. O filme luta a todo instante fugir dos clichês. Mesmo assim, por conta de seus atores principais e um monte de nomes ótimos como coadjuvantes, como Sienna Miller, Sam Rockwell e Peter Dinklage, A Case of You consegue agradar.
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Crítica do filme: 'Locke'



O amor é um conflito entre nossos reflexos e nossas reflexões. Um carro, diversos diálogos intrigantes, uma estrada que nunca termina e um homem no volante. Filme chato? Nada disso! O novo trabalho do cineasta inglês Steven Knight (que dirigiu o interessante filme Redenção) é um suspense com alta carga dramática, fruto da espetacular atuação de um dos melhores atores em atividade no mundo do cinema, Tom Hardy. Esse é um daqueles filmes que farão um sucesso tremendo se tiver a chance de chegar aos nossos cinemas.

No inteligente roteiro, somos o ‘carona’ do engenheiro de construção Ivan Locke. Após receber um telefonema, entra em seu carro correndo e dirige até o hospital onde uma mulher está tendo um filho seu. A questão é que não é a esposa dele! Durante o trajeto até o hospital, Locke precisa contar a verdade para sua esposa, lutar para não ser demitido e encarar da melhor maneira possível as consequências de um ato infiel do passado.

Quando lemos a sinopse curta deste filme, pensamos: esse filme deve ser um porre! Mas inacreditavelmente se torna um dos grandes filmes do ano até agora. O longa foi filmado em tempo real. Isso realmente é um diferencial. A adrenalina fica mais nítida na tela. A direção de Knight é competente mas deixa praticamente o trabalho todo para Tom Hardy. Ainda bem que esse, é um dos grandes atores do momento, um verdadeiro camaleão cinematográfico e consegue a todo tempo prender a atenção do público. 

Há uma desconstrução profunda do personagem ao longo dos 90 minutos de projeção. Encarando tantos problemas ao mesmo tempo, Locke busca uma redenção entre suas convicções. As fraquezas do personagem são expostas naturalmente a cada novo diálogo. Ao longo dessa trajetória eletrizante, sentimos pena, o culpamos e tentamos descobrir qual será o desfecho dessa história que beira ao espetacular. Não perca! Bravo!  
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05/08/2014

Crítica do filme: 'Tudo Acontece em Nova York'



Se sonhar um pouco é perigoso, a solução não é sonhar menos é sonhar mais. Lembram do filme, sucesso de público e crítica aqui no Brasil e no mundo, Pequena Miss Sunshine? Então, agora somem a uma história incrível como aquela, mais personagens carismáticos e uma direção primorosa da dupla Ruben Amar, Lola Bessis. Tudo Acontece em NY, ou para quem preferir o simpático título original Swim Little Fish Swim é uma comédia dramática que possui um paralelo com a realidade da sociedade sonhadora que impressiona. Há uma forte e profunda relação de afeto e carinho nos pontos de interseções de cada personagem.  Esse é um daqueles filmes que conquistam logo de cara nossos corações.

Na trama, conhecemos Lilas (interpretada pela diretora do longa, Lola Bessis) uma jovem estudante, artista, que para sair da aba da influência de sua mãe famosa, se joga nas oportunidades da cidade de Nova Iorque. Certo dia, conhece o frustrado músico Leeward (Dustin Guy Defa), pai da fofíssima Rainbow, que possui uma rebeldia contra o sistema e vive fugindo das responsabilidades de um clássico pai de família. Assim, com suas maneiras de verem o mundo, ambos irão influenciar o cotidiano e o destino de diversos personagens.  

O filme poderia cair na mesmice de diversos outros títulos que sugerem crônicas de Nova Iorque mas não conseguem chegar a fundo nos debates que surgem. Tudo Acontece em NY faz o caminho mais trivial possível para trazer à luz discussões profundas sobre a sociedade moderna. Se prende nas figuras emblemáticas das famílias e dão uma leitura diferente mas que você pode encontrar em qualquer esquina do mundo. O pai de família Leeward é o epicentro da trama, é nele que conseguimos enxergar uma humanidade louvável que fazem todos se deliciar com cada ação desse rico personagem.

A Nova Iorque do filme, não é muito diferente da realidade. Na verdade, é igualzinha. Uma terra de oportunidades, repleta de jovens estrangeiros sonhadores (hoje em dia 36% da população da terceira maior cidade da América é gringa), todos correndo atrás de suas realizações. Muito por encontrar vários traços comuns com a realidade, por mais que leves clichês contornem esse trabalho, Tudo Acontece em NY se torna aos poucos um filme tão delicioso que ao término da fita sentimos aquela emoção gostosa, respiramos fundo e pensamos: vimos uma pequena obra-prima!
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30/07/2014

Crítica do filme: 'Instinto Materno'



A força do amor de uma mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no planeta. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho. O ganhador do Urso de Prata, no concorrido Festival de Berlim do ano de 2013, Instinto Materno é um daqueles filmes impactantes, inteligentes, nu e cru, que deixarão os cinéfilos instigados do início ao fim. Partindo em uma jornada sentimental profunda, de uma relação nada prazerosa entre mãe e filho, o cineasta Calin Peter Netzer dirige com brilhantismo todas as cenas deste magnífico retrato familiar protagonizado por uma das melhores atrizes do mundo atualmente, Luminita Gheorghiu.

Na trama, acompanhamos a relação alvorotada entre Cornelia Keneres (Luminita Gheorghiu) e Barbu (Bogdan Dumitrache), mãe e filho que há tempos não se entendem. A rejeição profunda que Barbu tem pela sua mãe fica à prova quando esse é acusado pela morte de um jovem em um acidente de carro. Assim, Cornelia busca evitar a todo custo que ele seja indiciado por homicídio usando sua posição social e suas profundas relações com a alta sociedade romena.

Quem disse que as relações entre mãe e filho são que nem na maioria dos filmes blockbusters norte-americanos onde tudo são flores e os finais felizes se tornam eminentes? O trabalho de Calin Peter Netzer chega maneira avassaladora para mostrar outras verdades por trás desse relacionamento. O ponto principal dessa trama é exatamente o desdém que o filho tem pela sua mãe superprotetora que tenta a todo instante mandar nas ações e escolhas dele. Os árduos diálogos entre os dois, que aparecem constantemente no filme, são tensos e o público se vê envolvido do início ao fim por essa história. Talvez, por mostrar a realidade de muitas famílias e bater duro nas hipocrisias da sociedade, o filme absurdamente quase não teve espaço no minúsculo circuito carioca de cinema.

Pra quem não conhece o cinema romeno, corram para as locadoras urgentemente e aluguem 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias de Cristian Mungiu e A Morte do Sr. Lazarescu de Cristi Puiu. Ambos com participação de Luminita Gheorghiu. Essa, com mais essa espetacular atuação, se torna uma das grandes atrizes de sua geração. A mais Meryl Streep europeia, impressiona como domina cada sequência deste excepcional trabalho. Bravo!
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Crítica do filme: 'Sem Evidências'



Indicado ao Oscar pelo maravilhoso trabalho no sensacional O Doce Amanhã (1997), o cineasta egípcio Atom Egoyan, bastante conhecido pelos cinéfilos, volta aos cinemas com o misterioso filme de tribunal Sem Evidências. Reunindo dois rostos famosos, ganhadores de Oscar, Colin Firth e Reese Whiterspoon, o drama é baseado em uma história real que aconteceu em 1993 nos Estados Unidos. Por mais que seja um filme com muitas cenas no tribunal, Egoyan consegue com muita habilidade não deixar o longa-metragem maçante. Todos os elementos dessa conturbada história são expostos na tela, deixando o espectador dar seu veredito final. 

Na trama, voltamos ao ano de 1993, onde os jovens Damien Echols (James Hamrick), Jason Baldwin (Seth Meriwether) e Jessie Misskelley Jr.( Kristopher Higgins) foram acusados de assassinar três crianças. Durante o julgamento, os advogados de defesa contam com a ajuda de um investigador criminal chamado Lon Rax (Colin Firth) que, totalmente contrário a sentença de morte, começa a juntar peças soltas deste complicado quebra-cabeça. 

O grande divisor de águas deste trabalho é a maneira como Egoyan apresenta os fatos, não focando exclusivamente em um possível filme sobre tribunal. O olhar e desconfiança da mãe de uma das vítimas (muito bem interpretada por Reese Whiterspoon), os argumentos inteligentes do investigador criminal, toda a problemática politicagem em torno das ações da polícia neste caso, preenchem lacunas e/ou nos fazem pensar que muitas peças deste famoso caso não se encaixam. 

Baseado no livro Devils Knot: The True Story of the West Memphis Three de Mara Leveritt, Sem Evidências teve um modesto lançamento no circuito nacional, principalmente no Rio de Janeiro. Uma grande pena, é um trabalho que, sem dúvidas, merece ser conferido pelos cinéfilos. Egoyan mais uma vez mostra que sabe, como poucos cineastas, retratar com muita verdade os dramas de nossa sociedade.  
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