15/09/2024

Crítica do filme: 'Rebel Ridge'


Um dos melhores filmes de ação lançados na Netflix em 2024. Envolvendo o público com uma profunda trama que gira em torno da corrupção policial, Rebel Ridge não é só tiro, porrada e bomba. Escrito e dirigido pelo excelente cineasta Jeremy Saulnier, que já tinha nos brindado com o ótimo Sala Verde, o longa-metragem com intensos conflitos possui um ritmo dinâmico, insinuante, não foge do discurso e ainda recarrega camadas ao longo das mais de duas horas de projeção. No papel principal, o ótimo ator britânico Aaron Pierre que substituiu John Boyega quando o mesmo deixou o projeto no meio das filmagens.

Na trama, conhecemos Terry (Aaron Pierre), um ex-fuzileiro naval que chega até uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos com o objetivo de pagar a fiança de um primo que está sendo transferido para uma penitenciária. Quando chega no lugar, tem o dinheiro da fiança roubado por policiais corruptos. Tendo que improvisar com novas soluções para seu objetivo após uma tragédia, sem nada a perder, acaba travando um explosivo duelo com a gangue da maior autoridade do local, o chefe de polícia Sandy Burnne (Don Johnson).

Muito bem conduzido por Saulnier e com uma trilha sonora que já apresenta um clássico do Iron Maiden na abertura, Rebel Ridge reúne uma série de pontos positivos. Aos mais atentos há até algumas semelhanças com Rambo! Nesse interessantíssimo filme de ação, repleto de críticas sobre os malabarismos maquiavélicos de alguns que chegam ao poder, sem esquecer de um olhar reflexivo sobre as segundas chances, caminhamos pela terceira Lei de Newton  - toda a ação, tem uma reação – adaptada aqui para as possibilidades do desequilíbrio emocional.

Há uma análise interessante que podemos fazer sobre o personagem principal, nossos olhos durante todo o desenrolar da narrativa. Como a maioria das personificações do herói e suas jornadas, o protagonista beira ao indestrutível, encontra o convencional mas apresenta suas fraquezas e bate de frente com as inconsequências o que engrandece sua trajetória. Nesse ponto, brilha Aaron Pierre com uma baita atuação!

Rebel Ridge e sua essência explosiva, como qualquer obra do gênero ação, se consolida como um filme que consegue fugir da bolha de mesmices de outras obras que podem soar parecidas. Carrega consigo o trunfo de atingir camadas importantes ligadas à emoção e construção dos personagens que vão muito além da superfície. Grande acerto da Netflix!

 

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12/09/2024

Crítica do filme: 'Às Vezes quero Sumir'


As descobertas rumo ao desabrochar. Contemplando um estado de solidão, dando sentido ao mesmo através do olhar sensível e imaginativo de uma intrigante protagonista, Às Vezes Quero Sumir, novo trabalho da cineasta Rachel Lambert, se joga com muita inteligência no abatimento de uma visão triste do mundo reunindo peças para se chegar em uma autodescoberta de curtos passos. Um filme reflexivo, com ótima direção e uma brilhante atuação de sua protagonista.

Na trama, conhecemos Fran (Daisy Ridley), uma jovem introspectiva que trabalha em um escritório numa cidadezinha norte-americana. Seu cotidiano é pacato, prefiro ficar sozinha na maior parte do tempo, presa em pensamentos quase indecifráveis mas que dizem muito sobre seu estado de espírito. Certo dia, com a chegada do novo funcionário Robert (Dave Merheje), algo desperta nela e começa a perceber que as peças para se encaixarem para algum tipo de final feliz é preciso dedicação e um querer sobrepondo medos e receios.

Costurando interessantes metáforas que nos levam ao inconsciente de uma pessoa nitidamente em conflito com si mesma, somos convidados para um passeio rumo ao passo atrás de um possível ponto de virada de vida. Através da variável nova em sua bolha involuntária, Fran, peça fundamental de uma narrativa lenta, que preza pelos detalhes e pausas para reflexões, se constrói dentro de um silêncio que de alguma forma ilustra seu pensar, seu agir, num profundo mix de emoções.

As diversas interpretações que o filme pode causar só enriquecem o brilhante roteiro. A manipulação do abstrato em imagens marcantes ganham reais sentidos fazendo a curiosidade saltar aos olhos do público. A ebulição dos pensamentos, das emoções de uma introspecção aparente mas que desabrocha com um movimento de um acordar, muitas vezes em diálogos maravilhosos, chegam como contraponto de uma personagem que personifica a realidade de muitos no observar os detalhes do dia a dia com a frieza de um alguém sem esperanças. Para alguns, pode ser fácil se conectar.

Rodado todo na cidade de Astoria, no Estado de Oregon, Às Vezes Quero Sumir se camufla na simplicidade para nos apresentar complexidades de um mundo que cada vez mais nos mostra os conflitos em relação as necessidades de interação e as interpretações dos lados da moeda que podem surgir através de alguns dilemas.


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03/09/2024

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Pausa para uma série: 'Bastidores do Pop: O Esquema das Boy Bands'


Backstreet Boys, N’Sync
... Você já ouviu falar dessas bandas né? Quem viveu intensamente os anos 90 deve se lembrar do boom que foi na indústria fonográfica a chegada das boy bands nas paradas de sucesso. Entretanto, o que pouca gente sabia era o que acontecia atrás das cortinas. Através dos malabarismos duvidosos de um polêmico empresário que conseguiu uma rápida subida na sua posição, muitas verdades foram expostas aos poucos e aqui explicadas com alguns detalhes numa nova série no maior dos streamings.

Tendo como elemento central Lou Pearlman, considerado por muitos o guru das boybands, Bastidores do Pop: O Esquema das Boy Bands, minissérie documental de três episódios disponível na Netflix, nos leva até os bastidores de um ramo do Pop music, do anonimato ao estrelato, expondo questões por trás do sucesso que ganha aos poucos o alcance mundial e tendo como passagem as descobertas de fenômenos como Backstreet Boys e N’Sync e outras bandas com relevância dentro do mesmo segmento.

De uma empresa de dirigíveis até as descobertas que mudariam a cultura pop de uma geração, vamos entendendo um pouco a mente de um empresário que se escondia no glamour, fazendo os outros de fantoche, uma reta sem paradas rumo ao egoísmo e egocentrismo. Utilizando uma técnica de dublagem para seu protagonista, através de contextos da obra onde a minissérie se baseia em grande parte, ‘Bands, Brands and Billions: My Top Ten Rules for Success in Any Business’, o projeto nos leva das descobertas até investigações colocando em dúvida a ética por trás de um rentável negócio.

Mesmo carecendo de detalhes sobre algumas questões, ao longo dos três episódios que compõe a obra, o foco parece ser jogar um monte de pulguinhas atrás da orelha sobre determinadas situações, além de mostrar ao público verdades da indústria fonográfica dos anos 90. Por meio de depoimentos de alguns dos astros das bandas descobertas, amigos, jornalistas e envolvidos nas investigações Bastidores do Pop: O Esquema das Boy Bands busca traçar um raio-x de um homem e suas polêmicas raspando nos contextos de uma época marcante na cultura pop mundial.


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Crítica do filme: 'A Hipnose'


Uma sátira mais que certeira sobre a hipocrisia alheia. Buscando fora da caixa sair das mesmices de outros melodramas com pitadas satíricas e ácidas, o longa-metragem sueco A Hipnose caminha pela desconstrução de uma protagonista que estava em crise e nem sabia. Através de linhas de um roteiro ácido, debochado, que diz verdades pelas entrelinhas, somos levados até as verdades de um relacionamento que também esbarra nas hipocrisias culturais de um mundo que busca o real sentido de algo impossível: a normalidade.

Na trama, conhecemos os sócios e namorados Vera (Asta Kamma August) e André (Herbert Nordrum) que estão prestes a conseguir alavancar um importante investimento para o aplicativo que criaram, focado na saúde das mulheres. Em paralelo, buscando parar de fumar, Vera resolve ir até uma hipnoterapeuta, fato esse que mudará sua maneira de enxergar a bolha em que vive e também suas relação sociais, se tornando o estopim para situações em meio a uma viagem de negócios. 

Os deslizes da moral são vistos aos montes, aqui muitas vezes camuflados por atitudes e ações fora do padrão estabelecido por uma cultura que preza pelo capitalismo e esquece das simplicidades das relações humanas. Esse enorme experimento social, entre seus muitos méritos, possui uma trilha sonora bem encaixada complementar a uma narrativa envolvente que de forma certeira e contundente prende a atenção dos espectadores.

Escrito e dirigido por Ernst De Geer, A Hipnose nos faz pensar sobre um mundo que corre num paralelo onde muitas vezes não o enxergamos. A partir de dois personagens em conflitos que se sucedem, dentro da relação estabelecida de namorados e sócios, acompanhamos com muita atenção e curiosidade uma disputa com tons cômicos, guiado pelo constrangimento onde logo se chega as novas maneiras de pensar e agir. Esse mar de desconstruções é o ponto alto desse longa-metragem disponível na Mubi.


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Crítica do filme: 'Todo o Silêncio'


Daqueles filmes que precisam serem descobertos. Dirigido por Diego del Rio, o longa-metragem Todo o Silêncio explora com maestria a angústia e as camadas que se juntam a partir desse sentimento, tendo como força motora um recurso muito bem utilizado, o silêncio, fato esse que ganha inúmeras possibilidades dentro do contemplar e refletir através das infinidades da linguagem.

Na trama, conhecemos Miriam (Adriana Llabres), filha de pais surdos que trabalha como professora de libras em uma escola. Ela vive uma vida feliz ao lado da namorada Lola (Ludwika Paleta) e investe tempo e dedicação na carreira teatral. Às vésperas de interpretar uma personagem de uma peça de Tchekhov, após uma consulta médica, descobre estar ficando totalmente surda, fato esse que mudará para sempre sua trajetória e sonhos.

Nosso foco é a protagonista e seus dramas, próxima da surdez desde a infância parece se camuflar entre dois mundos com o impacto da notícia que mudará mais uma vez a forma de enxergar tudo ao seu redor. As artes e seus complementos ganham forma poética, com uma ebulição de sentimentos chegando ao mesmo tempo, em uma narrativa imersiva as dores e nos guiando lentamente para uma desconstrução que flerta a todo instante com o renascer.

Entre amores e amizade, antes prestes a realizar sonhos, somos testemunhas de uma rebobinada na vida, onde acompanhamos uma prisão da amargura e desespero tomando conta de cada olhar para fora. Del Rio com bastante delicadeza apresenta essa história com inúmeras pausas para nosso refletir, uma mistura de belas imagens que personificam as raízes dos problemas chegando até uma exposição da emoção muitas vezes difícil de encaixar na tela. Belíssimo filme mexicano!


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Pausa para uma série: 'Depois do Acidente'


Quando a dor vira obsessão. Vou te contar agora de um seriado que chegou ao Top 1 da Netflix rapidamente e nos mostra as consequências de um acidente inusitado, com um pula pula, fato esse que escancara as verdades de muitos envolvidos. Dividido em 10 episódios, Depois do Acidente, seriado mexicano disponível na Netflix possui um discurso que segue para seus desenrolares entre o ódio e a culpa jogando num tabuleiro de traições, ganância, poder e inconsequências personagens com o emocional em desequilíbrio onde o certo e o errado se tornam pontos com várias interpretações.

Na trama, conhecemos algumas famílias de classe alta que se reúnem para o aniversário do filho de um deles. A principal delas, é formado por Dani (Ana Claudia Talancón) e Emiliano (Sebastián Martínez), uma policial e um empresário/advogado prestes a ficar milionário por conta de um investimento valoroso. Durante o evento, um terrível acidente com um pula pula mal instalado acaba deixando mortos e feridos. Após o ocorrido, o personagens embarcam em busca dos culpados o que desencadeia uma série de consequências com outras subtramas que correm em paralelo.

Escrita pelo jornalista venezuelano Leonardo Padrón, autor de algumas novelas de sucesso, Depois do Acidente joga na tela hipocrisias sociais ao mesmo tempo que caminha pelo luto e as camadas da imoralidade. Sem muitos ganchos entre um capítulo e outro, parte da agonia de seus muitos personagens apresentando uma trama ampla com muitas variáveis que algumas vezes se embola. É aquela questão de querer apresentar muitos fatos e suas profundidades mas alguns ficam apenas na superfície, o que acaba esbarra em personagens engolidos por outros.

Entre bons e medianos episódios, nessa primeira temporada vemos, com um ar novelesco, subtramas dominando o contexto principal, fato esse que se torna uma ponte importante para conhecermos melhor alguns intrigantes personagens e seu caráter duvidoso. De um lado a turma do ódio, guiados totalmente e muitas vezes de forma inconsequente por esse sentimento que não e desgruda. Do outro, a turma da culpa, representados na maior parte do tempo pelo personagem principal Emiliano (Sebastián Martínez). Não deixa de ser uma fórmula de bolo que acaba dando certo.

Depois do Acidente é um drama com pitadas de suspense mas sem muitos mistérios, aposta suas fichas no jogo de interesses entre os envolvidos para prender a atenção do público. Aponta seus holofotes um monte de situações enroladas que vão desde os deslizes da imprensa atrás do sensacionalismo, a maldade personificada por um clássico vilão, até as derrapadas do caráter e da honra aliada a uma ganância viciosa.  


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30/08/2024

Crítica do filme: 'Príncipes Perigosos'


Os longas-metragens mexicanos vem ganhando a atenção dos cinéfilos a partir da chegada dos streamings com toda força nos nossos lares, títulos que nem imaginávamos chegar por aqui agora estão constantemente disponíveis. Esse é o caso do forte e pretencioso Príncipes Perigosos, novo filme disponível na Netflix. Longe de ser um filme fácil, há algumas camadas, seu discurso se mantém numa busca constante por destrinchar um cenário distante de muitos que gira em torno de uma certa investigação sobre a psiquê humana aliada a um confuso conflito de classes. O projeto dirigido por Humberto Hinojosa Ozcariz nada de braçada, junto a uma narrativa nada atrativa, para imposições de pontos de vistas deixando distante as reflexões que aparecem sem destaque. 

A trama gira em torno de quatro jovens que tem a riqueza sempre rondando suas vidas. Envoltos em uma bolha onde tudo é possível e constantemente mimados, quando não tem absolutamente nada pra fazer se jogam em ações perigosas e violentas onde o dinheiro acaba sendo uma variável importante (por incrível que pareça!). Assim, entre sequestros armados, brincadeiras sem noção, traições, e passando por cima de quem aparece, a tal da consequência aparece através de outros olhares atingidos. 

O chocar ganhar força, se torna uma peça de impulso superlativa. Violento, sangrento, com cenas que beiram ao impactante, o roteiro busca soluções para não ficar refém de fragmentos de histórias que envolvem jovens em uma bolha privilegiada. Mas aí que mora o calcanhar de aquiles mais evidente, quando pensamos num contexto mais amplo, entre esquemas bem distantes de dilemas. A trama se perde num jogo desleal ditado por quem tem mais poder de manipulação e acesso a recursos, se tornando inclusive redundante em muitos momentos. 

A corrupção e a impunidade, pares complementares da falta de caráter ,são alguns dos elementos na montagem de peças emocionais que se juntam a própria condição social que os protagonistas estão imersos. A trama fica em segundo plano, o foco são os personagens que se desenvolvem rumo as instabilidades emocionais. Mas será isso o suficiente pra prender a nossa atenção? Com ações de uns e consequências para outros, que se perde pela obviedade, a narrativa se desenvolve em campos sombrios buscando mostrar uma andança desgovernada pela corda bamba entre a ganância e a não resposta pelos próprios atos.



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17/08/2024

Crítica do filme: 'Tipos de Gentileza (Kinds of Kindness)


Críticas sociais profundas camufladas pelo Nonsense. Dividido em três pequenas histórias chocantes, girando em torno de um personagem coadjuvante, com pouquíssimo tempo de tela, quase imperceptível, mas que aos mais atentos logo vira um pivô de tudo que acompanhamos, Tipos de Gentileza, novo trabalho do aclamado cineasta grego Yorgos Lanthimos explora o descontrole na desconstrução. Caminhando em cima de um muro, onde de um lado está o controle e o outro a falta dele, o longa-metragem joga na tela hipocrisias de uma sociedade doente com uma lupa para jogos de imoralidades e a adição de um conceito difícil de definir: a prisão no algoritmo humano.

Com destacadas atuações, com protagonistas interpretando mais de um personagem, não podemos deixar de mencionar a vencedora do Oscar Emma Stone, já no seu quarto filme de Lanthimos, além do também indicado a famosa estatueta do cinema, Jesse Plemons. Ambos fabulosos. O segundo, inclusive, vencedor do prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes desse ano por esse papel. Completando o elenco principal, a ótima Margaret Qualley (do elogiado seriado da Netflix, Maid) e o experiente ator norte-americano Willem Dafoe.

Na trama, conhecemos três história. Na primeira, um homem praticamente vivendo uma vida dada pelo chefe resolve romper essa parceria de anos após um pedido absurdo e se vê perdido com o fim desse laço. Na segunda, um policial entra numa espiral de loucura e desconfiança quando sua esposa, sobrevivente de um acidente, volta pra casa. Na terceira, uma mulher, em busca de alguém com habilidades espirituais, que largou a família por conta de uma seita se vê em dúvidas quando é expulsa desse grupo.

Até onde você está disposto a ir quando se vê em dúvidas ou desprotegido da vida que leva? Levantando essa e outras perguntas, além de utilizar elementos na narrativa que logo nos fazem entrar em um clima de tensão, principalmente uma trilha sonora incisiva (assinada pelo britânico Jerskin Fendrix), tendo as linhas do absurdo como sustentação, ao longo de quase três horas de duração, Lanthimos convida o público para refletir sobre indivíduos congelados no desejo de um outro que culminam num show de loucuras com possíveis várias leituras.

A prisão do algoritmo humano, mencionada no primeiro parágrafo, que diz respeito a pessoas completamente influenciáveis que se acomodam em bolhas imersas numa vida onde são marionetes de um alguém ou um sistema, aqui tem representações que vão desde a paranoia até camadas do luto, com o chocar e estradas de humilhações apresentando as consequências. Essa é a tentativa de Lanthimos de mais uma vez impor a reflexão através de um já conhecido  ar de loucura mas que são completamente adaptáveis a realidades por aí.

 

 

 

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12/08/2024

Crítica do filme: 'Emma e as Cores da Vida'


As novas maneiras de enxergar a vida. Vamos falar agora de um longa-metragem italiano, que está escondido no catálogo da Prime Video, Emma e as Cores da Vida. Camuflado de filme romântico, o intenso drama e suas muitas possibilidades de leituras logo se tornam variáveis dentro de um contexto sobre responsabilidades, avançando no olhar de um protagonista cheio de traumas não resolvidos no seu passado que precisa lidar com a chegada do verdadeiro amor. Pode parecer um conto de fadas mas há a tentativa de trazer as reflexões ao mundo real. A acessibilidade, assunto muito importante, ganha espaço através de uma ótima personagem e sua rotina.

Na trama, conhecemos Téo (Adriano Giannini), um publicitário, sedutor, mulherengo, que vive sua vida amorosa sem compromissos com verdades e se relacionando com algumas mulheres ao mesmo tempo e com a mentira fazendo parte de seu cotidiano. Quando conhece a osteopata Emma (Valéria Golino), uma mulher cega que logo o atrai, Téo passará por reflexões sobre a própria vida e questões do seu passado que sempre foram lacunas sem respostas.

Dirigido por Silvio Soldini, o projeto apresenta a desconstrução de um machista, e seus novos olhares. Aqui pode haver um problema nas linhas interpretativas e o espectador segue por alguma das duas estradas, ou embarcamos nas reais mudanças através de um passado sutilmente apresentado ou ficamos presos nos achismos de uma fantasia. Intenso, profundo, reflexivo, a obra contorna as ações e consequências o que afasta qualquer tipo de pretensão.

A acessibilidade ganha os holofotes através de Emma e todo o contorno de sua deficiência visual. Suas batalhas do dia a dia entram em choque através de uma outra personagem, Nadia (Laura Adriani) uma jovem que não aceita sua condição, além das incertezas de um relacionamento com o complicado Téo. Há poesia para demonstrar os conflitos emocionais mas sem esquecer as verdades mundanas. Um dos méritos de Emma e as Cores da Vida é seguir na linha ‘pés no chão’ para tratar sobre o assunto.  

Dando sentido à um flerte com a melancolia, a narrativa se desenvolve de forma dinâmica. Valéria Golino, em grande atuação, é um dos pontos altos do longa-metragem que reproduz crises existenciais, algumas ligadas à falta de compromisso, que se coloca à disposição como oportunidade de mudanças.


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09/08/2024

Crítica do filme: 'Mais Pesado é o Céu'


O abraço nada distante dos sonhos e do pesadelo. A partir de uma jornada visceral com paralelos contemplativos do ser humano e suas dificuldades inseridas aqui num sertão nordestino que abre o leque de nossas observações, o novo longa-metragem do cineasta Petrus Cariry aponta suas janelas de reflexões através de realidades difíceis, abandonadas, em um Brasil onde o sonho e o pesadelo andam de mãos dadas. Mais Pesado é o Céu, e seu visual deslumbrante, filmado de forma impecável, nos mostra elos de correntes que vão desde a brutalidade da violência até a necessidade, dentro de um contexto às margens da sobrevivência. Esse não é um filme fácil, porém extremamente necessário!

Na trama, conhecemos Teresa (Ana Luiza Rios) e Antonio (Matheus Nachtergaele), dois personagens distantes, sozinhos no mundo, que acabam se conhecendo por acaso, ambos em busca de uma nova vida numa outra cidade. A partir desse encontro, e acolhendo uma criança abandonada, os personagens buscarão encontrar soluções para precariedade que flerta com suas rotinas, dependendo de quando a sorte voltará a sorrir. Mas o que será o suficiente para um é o mesmo que para o outro?

Um dos méritos do roteiro é atravessar muitos olhares para uma mesma obra. Pelas estradas da vida, através de nômades atrás de sonhos distantes, o longa-metragem abre suas reflexões em um leque angustiante onde o final feliz se torna cada vez mais longe em um túnel de angústia e desespero. Assim, percorrendo o presente dos protagonistas, e com uma narrativa afiada onde as imagens dizem muito pelas entrelinhas, chegamos em escolhas complexas, num olhar frio mas também acolhedor sobre a maternidade, nas várias formas de agonia, no machismo sempre presente, no lidar com as esferas de um desespero que insiste em não dar descanso.

A construção de um relacionamento familiar, um núcleo que aqui chega de uma forma ao acaso, acaba sendo um dos pilares para o desenrolar das ações e consequências que se mostram nítidas e viscerais principalmente quando pensamos sobre a necessidade de recursos para ao menos sobreviver. Nos desabafos, em ótimos diálogos, os protagonistas ganham contornos de contrapontos mesmo inseridos na mesma realidade. Assim, as saudades de outrora se misturam com um presente perdido onde as desilusões se tornam um zumbido diário incessante abrindo também camadas emocionais pelas maneiras de enxergar realidades com soluções intricadas.

Exibido em muitos festivais no Brasil e pelo mundo, Mais Pesado é o Céu diz muitas verdades através da infinidade criativa que uma obra audiovisual proporciona, um filme com assuntos universais que aqui ganham moldes de realidades nuas e cruas não se desprendendo de crises que despejam desencantos em vários cantos.

 

 

 

 

 

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