19/07/2020

Crítica do filme: 'Os Mortos Não Morrem'


As loucuras de um roteiro descontrolado. Três anos depois de realizar uma de suas obras-primas no cinema, o fantástico Paterson, o cineasta norte-americano Jim Jarmusch volta as telonas escrevendo e dirigindo um filme sem pé nem cabeça que tenta falar metaforicamente sobre zumbis mas acaba sendo uma sequência de cenas bizarras sem qualquer equilíbrio com uma história interessante. Reunindo um elenco conhecido, como: Bill Murray, Adam Driver, Chloë Sevigny, Steve Buscemi, Danny Glover, Caleb Landry Jones e Tilda Swinton, Os Mortos não Morrem passa longe de ser brilhante como outras obras do famoso diretor. Uma grande decepção.

Na trama, conhecemos uma pacata cidadezinha no interior dos Estados Unidos que começa a apresentar situações estranhas beirando o bizarro e assim, os policiais Cliff (Bill Murray) e Ronald (Adam Driver) começam a se preparar para o inusitado: uma invasão zumbi. Tentando bolar algum tipo de plano para se protegerem e aos outros, a dupla de policiais conta com a ajuda de policial Mindy (Chloë Sevigny) e da curiosa personagem Zelda (Tilda Swinton). Ao longo do estranhíssimo roteiro vamos vendo situações para lá de loucas com os personagens.

Sinceramente não dá pra entender o que Jarmusch quis dizer com esse filme. Completamente alucinante e pirado do início ao fim não se encontra sentido em nenhuma linha do roteiro. É como se ligassem a câmera e os atores tentassem interpretar personagens que não sabem nada sobre e nem entendem o sentido daquela história. Buscando sempre o inusitado, o famoso diretor acaba se perdendo na sua própria excentricidade, levando os cinéfilos a perderem quase duas horas de seu precioso tempo.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Os Mortos Não Morrem'

17/07/2020

,

Pausa para uma peça de teatro filmada (Pro-Shot): #1 – Hamilton


E se ganharmos nossa independência? Ampliando a criatividade de levar ao público de todo o mundo uma das peças de teatro da Broadway mais badaladas dos últimos anos, a Disney, no seu streaming Disney+ lançou o Pro-shot (em curta explicação, seriam gravações de números teatrais compondo um filme) do badalado musical Hamilton. Ao longo de quase três horas de duração, vamos por meio de textos cantados em forma de rap conhecendo a história de Alexander Hamilton, um dos criadores dos Estados Unidos e que inclusive dá rosto à cédula de dez dólares. No papel principal, o grande criador do espetáculo (baseado na obra do historiador Ron Chernow), o Hors concours das mentes criativas atuais quando pensamos em musicais, Lin-Manuel Miranda. Pulsante, inovador e beirando ao extraordinário, Hamilton, do primeiro ao último minuto, mostra ao que veio. Não desperdiçou sua chance, chance.

Nessa história cheia de situações políticas e decisões que colocaram um novo rumo, desde a independência norte americana até os primeiros governantes dessa hoje potência mundial, acompanhamos a trajetória pouco comentada de Alexander Hamilton (Lin-Manuel Miranda), um órfão que veio de navio de uma das ilhas do caribe para se tornar em pouco tempo figurinha carimbada nas rodadas políticas de independência e depois dos bastidores das escolhas dos primeiros que assumiram o poder. Repleto de escolhas, de uma traição dolorida, duelos de armas, inveja, amizades, lealdades somos testemunhas de uma grande história de um dos pais fundadores dos Estados Unidos.

Musical raiz, daqueles onde todas as linhas do roteiro são cantadas pelos artistas em cena, Hamilton estreou anos atrás no off-broadway, com as rápidas críticas positivas de crítica e público passou a ser apresentado na galeria principal das ruas da broadway se tornando um fenômeno artístico poucas vezes visto nos últimos anos. Sua mistura de história antiga, com raps, misturas equilibradas de palavras em contextos antes complexos de explicações por todo o blá blá blá político, além de um elenco inspirador e extremamente competente transformam essa saga de Hamilton em uma experiência única.

Em uma época de pandemia inesperada, um pro-shot simbólico, de um dos maiores sucessos da história da Broadway, pode ser o caminho para muitas outras ótimas peças de teatro, musicais ou não, conseguirem chegar até o público através das plataformas de streamings.

Continue lendo... Pausa para uma peça de teatro filmada (Pro-Shot): #1 – Hamilton

16/07/2020

Pausa para uma série: #9 - Doze Jurados


Um ninho de estratagema em busca da moral da história. Dos showrunners Sanne Nuyens e Bert Van Dael está disponível no vasto catálogo da Netflix brasileira o intrigante seriado belga Doze Jurados (De Twaalf no original). Diferente de alguns outros dramas que envolvem júris, acusações e assassinatos misteriosos, nesse projeto vemos o foco máximo na vida detalhada da maior parte dos jurados que compõe um júri popular de um caso com grande repercussão nacional. O que impressiona é a qualidade do roteiro mesmo colocando seu assunto principal em plano de fundo na maioria dos episódios, consegue prender a atenção mesmo assim. Ao longo dos apurados doze episódios, vemos problemas de todo tipo nesse júri: relacionamento psicologicamente abusado de marido para esposa, um solitário senhor que não consegue entender as novas realidades que o cercam após o falecimento da esposa, um dono de construtora envolvido em um caso fatal de um trabalhador do seu staff ilegal, um pai rigoroso que não entende sua filha adolescente, entre outros. É uma série que muitos podem achar arrastada pela sua riqueza de detalhes e talvez até lenta demais em alguns momentos mas a curiosidade pelos desfechos serão de muita importância para você se convencer a seguir em frente e a maratonar. 

Na trama, acompanhamos, em alguns idas e vindas no roteiro que usa flashbacks como ajuda a determinadas questões mal explicadas, a composição de um júri de doze jurados mais dois suplentes que foram escolhidos via sorteio para integrarem o elenco dos cidadãos que definirão o destino de Frie Palmers (Maaike Cafmeyer), um funcionária de uma escola que é acusada de matar seu filho pequeno e a melhor amiga de adolescência. Ao longo dos episódios, vamos descobrindo aos poucos os segredos desse caso e também muito sobre a vida conturbada de alguns dos que integram esse júri.
Com episódios que giram em torno de 45 minutos, todos falados (no áudio original) em flamengo, vamos conhecendo as cartas desse tabuleiro com bastante espaços para especulações e onde a tendência acaba sendo que a decisão sai, em meio a muitas dúvidas, sob o aspecto particular de vida de cada um dos jurados, como eles pensam vivem ou vieram definirá o destino da acusada. O caminho buscado a todo tempo pelo roteiro em contornar a trama principal com as ótimas subtramas dos jurados é uma boa escolha mesmo que trave um pouco o seriado em alguns episódios medianos. O ritmo se acelera nos últimos três episódios eletrizantes, onde descobrimos as verdades e as punições para as consequências.

Para quem curte uma trama jurídica, recheada de pontos sem nós onde o espectador é guiado através de ótimos personagens rumo às explicações e seus porquês, Doze Jurados pode ser uma ótima diversão.

Continue lendo... Pausa para uma série: #9 - Doze Jurados

14/07/2020

Pausa para uma série: #8 - Little Fires Everywhere (1a Temporada)


Os obstáculos da vida que são usados para construção do que acreditamos ser o certo para nossa vida. Produzida pelo streaming Hulu mas agora já disponível no Amazon Prime, a primeira temporada de Little Fires Everywhere é intensa, impactante, com atuações que chamam a atenção além de um sólido roteiro que esconde seus segredos muito bem ao longo dos pujantes oito episódios. Falando sobre o papel da mãe de diversas maneiras, preconceitos, primeiro amor, aborto, as escolhas profissionais e os dramas que devemos enfrentar, nos lados opostos dessa engenhosa trama, duas atrizes fantásticas brindam os amantes das series com atuações inesquecíveis: Reese Whiterspoon e Kerry Washington. Little Fires Everywhere é um dos seriados que você não pode deixar de assistir. Um retrato apodíctico sobre nossa sociedade.

Na trama, que estreou na segunda metade de março desse ano nos Estados Unidos e logo depois desembarcou no Brasil, acompanhamos a chegada de Mia (Kerry Washington) e Pearl (Lexi Underwood), mãe e filha, que chegam a cidade de Shaker Heights em Ohio em um carro antigo e com a vida toda delas na mala. Após buscarem um lugar para morar na cidade, acabam conhecendo a jornalista e mãe de quatro filhos Elena (Reese Witherspoon), uma mulher de uma família prestigiada na região que acaba alugando para Mia e Pearl uma casa que é de sua família. Aos poucos a relação entre Mia e Elena passa de uma quase amizade para um total jogo misterioso onde os segredos que ambas escondem dos seus próximos acabam levando ambas a um conflito profundo e com muitas consequências.   

Seguir ou não as ‘regras da vida’? É difícil imaginar o desenho completo do roteiro desse seriado se não o assistir. As subtramas são excelentes e no final percebemos como as conexões acabam se encaixando como uma luva, levando o espectador a fugir dos rótulos de vilão ou mocinho pois os erros de todos são vistos com bastante clareza tendo como background as hipocrisias da sociedade do lado de cá da telona, os preconceitos e situações que vivemos ou já ouvimos falar. Há complexidade em tudo quando imaginamos os enormes conflitos dos personagens, principalmente as duas mães mas também os filhos que fazem parte dos mais dolorosos conflitos e dilemas. Little Fires Everywhere é imperdível.

Continue lendo... Pausa para uma série: #8 - Little Fires Everywhere (1a Temporada)

Pausa para uma série: #7 - The Umbrella Academy (1ª Temporada)


Nenhuma família precisa se entender por completo para lutarem pelo que é o certo. Pouco comentada e passando quase desapercebida no catálogo da Netflix, The Umbrella Academy se baseia em uma fórmula interessante de misturas equilibradas de gêneros narrativos, vai do drama à ação em segundos com muita competência. Tudo isso aliado a um visual com tons pesados que refletem com ênfase sobre as características bastante complicadas de cada um dos intrigantes personagens: uma família de super heróis desajustada e pouco unida que precisa estar junta para combater o fim dos tempos. Excelente em sua narrativa (que já ganhou uma segunda temporada) The Umbrella Academy é baseada na história em quadrinhos homônima escrita pelo músico e vocalista da conhecida banda My Chemical Romance, Gerard Way, com ilustrações feitas pelo brasileiro Gabriel Bá.  

Na trama, acompanhamos a história de uma família de crianças com dons adotadas pelo milionário Sir Reginald Hargreeve. Das 7 crianças, uma parece não ter dons a princípio e sempre fica deslocada, Vanya (Ellen Page). Após uma infância muito conturbada lutando contra vilões e perdendo um pouco do lado construtivo das relações familiares, anos se passam e cada irmão foi para um lado e o que acaba os unindo novamente é uma situação com o pai deles aliada ao inusitado retorno do ‘número 5’ (Aidan Gallagher, em atuação destacada) que ficou preso em um loop temporal anos atrás e que consegue voltar para os dias atuais dizendo que todos eles precisam estar juntos pois um apocalipse está chegando. Assim, para impedir que o mundo termine, e enfrentando vilões para lá de loucos, Luther (Tom Hopper), Diego (David Castañeda), Alisson (Emmy Raver-Lampman), Klaus (Robert Sheehan), Ben (Justin H. Min) e os outros dois mencionados acima precisarão estar mais unidos do que nunca.

Original mas sem deixar de ser excêntrica, o seriado arrisca-se ao tentar traduzir sentimentos em imagens e ações, quando parte para o terreno denso, acaba deixando alguns episódios arrastados mas que sempre são salvos por alguma tirada sensacional de algum dos ótimos personagens. E para que todos os super heróis se sobressaiam em tela, óbvio que vilões intrigantes precisam aparecer e esse é exatamente o caso Cha Cha (Mary J. Blige) e Hazel (Cameron Britton) que possui subtramas que adicionam demais a narrativa.

Repleta de mistérios que provavelmente foram deixados sem respostas no aguardo de próximas temporadas, The Umbrella Academy é uma ótima diversão que vai surpreender a muitos. No aguardo da segunda temporada.

Continue lendo... Pausa para uma série: #7 - The Umbrella Academy (1ª Temporada)

Crítica do filme: 'A Jornada'


A saudade é o que nos fazem viajar para fora do planeta e faz nosso tempo parar. Escrito e dirigido pela cineasta francesa Alice Winocour, A Jornada é um tocante recorte sobre a relação mães x filhos e todo o entorno, muito bem detalhado no projeto, das dinâmicas e complexas divisões entre os compromissos de trabalho e a saudade/atenção aos filhos. Destaque para a ótima atuação de Eva Green, no papel principal, nos emocionamos em muitos momentos com sua personagem, a forte, brilhante, corajosa e batalhadora astronauta Sarah Loreau.

Na trama, conhecemos a astronauta francesa Sarah Loreau (Eva Green) que consegue a chance que tanto queria: fará parte da equipe que viajará para a estação espacial (ao lado de um norte americano e um russo) para um dos últimos projetos antes da ida à Marte. Para tal, precisará ficar 1 ano no espaço e longe de sua filha única. O longa mostra assim os últimos dias de Sarah e os primeiros movimentos de saudade que ambas precisarão enfrentar por conta do compromisso profissional (e dos seus sonhos) da astronauta francesa.

Profundo e sensível, Proxima (no original) é uma extensa jornada na ótica da maternidade. Os desafios e obstáculos vividos por mulheres em busca do topo profissional, sem deixarem de serem dedicadas mães, contornam os backgrounds das situações que acompanhamos ao longo dos ótimos 107 minutos de projeção. A força feminina está em cada linha do ótimo roteiro e não deixa de ser bastante motivador para jovens mulheres que assistam a esse belo trabalho que conta com a já mencionada e destacada atuação de uma das melhores atrizes francesas de sua geração, Eva Green. Belo filme, vale a pena conferirem.

Continue lendo... Crítica do filme: 'A Jornada'

08/07/2020

,

Pausa para uma série: #6 - Dark (1ª,2ª e 3ª Temporadas)


Sem Spoilers.

O tempo sendo associado ao ato de amar em tempos em que o esquecimento é o grande vilão da nossa realidade. Criado pelo cineasta suíço Baran bo Odar e pela cineasta alemã Jantje Friese, Dark chegou ao catálogo do poderoso streaming Netflix sem muito ‘oba oba’, bastou os espectadores irem aos poucos terminando a temporada para o burburinho positivo começar. Muito bem amarrada, com começo meio e fim estrategicamente bem desenvolvidos, com uma produção de arte belíssima, fotografia ótima, trilha impecável e uma montagem de elenco espetacular a produção alemã se tornou um fenômeno cult em pouco tempo, culminando no desfecho da última temporada dentro do período pandêmico que o mundo vive em 2020. Muito bem ranqueado em diversas listas dos principais sensores de cinema/séries do mundo, Dark é uma série difícil de esquecermos.

Como já vi as três temporadas e qualquer descuido é um grande spoiler, podemos apenas contar que a série mostra a rotina, conflitos e descobertas sobre habitantes de quatro famílias de Winden, na Alemanha. Quando um grupo de jovens descobre uma situação suspeitas vinda dentro de uma caverna na floresta da região, um deles some, dando início a uma saga que explora os sentimentos de perda ao limite, passando também pelo inusitado caso do tempo, fator importante e que vamos descobrimento melhor sobre ao longo dos intensos 26 episódios divididos em três temporadas absolutamente arrepiantes.  

Como um tabuleiro bem jogado de rpg, vamos descobrindo as grandes variações de peças nesse jogo de controle por algumas variáveis que descobrimos aos poucos. Não há totalmente heróis, não há totalmente vilões, cada peça se move conforme pensa e acredita que pode manter ou descontruir a variável tempo de alguma forma. Com muitas lições físicas e paradoxos complicados de explicar, a série caminha dentro de uma, até certo ponto, lógica original definindo desde seu princípio as explicações que se baseiam. Longe de ser interativa, mas com um necessidade gigante de complemento a algumas explicações, de tão complicada, organogramas viram ferramentas para o público entender melhor quem é quem nesse embaralhado trajeto até as descobertas finais dos porquês. Um seriado genial, que prende o espectador até o último minuto. Bravo!

Continue lendo... Pausa para uma série: #6 - Dark (1ª,2ª e 3ª Temporadas)

Pausa para uma série: #5 - The Sinner (1ª Temporada)


Nas profundezas da mente humana sempre há espaço para surpresas para os que enxergam de fora. Em 2017, chegava ao público a 1ª temporada de The Sinner. Disponível, hoje já na sua 3ª temporada na Netflix, a trama de suspense guiada pelos olhos do complicado detetive Harry Ambrose (Bill Pullman em atuação destacada) mostrava um fato impactante já no seu piloto e as surpresas do desenrolar dos porquês transformaram esse seriado, baseado na obra homônima da escritora Petra Hammesfahr, em um dos mais brilhantes do gênero suspense.

Dirigido em sua primeira temporada quase toda pelo cineasta Antonio Campos, nessa primeira jornada de Ambrose aos misteriosos assassinatos que o rondam, acompanhamos a história de Cora (Jessica Biel, que inclusive foi indicado por esse papel ao prêmio Globo de Ouro de Melhor Atriz em Série Dramática) uma mulher feliz no casamento que após uma ida à praia com seu marido e seu filho, acaba por impulsão esfaqueando um homem na frente de todos. Presa, ela a princípio se coloca como culpada, mas o detetive Harry Ambrose (Bill Pullman) desconfia que há algo a mais nesse assassinato a sangue frio.

As costuras entre os pontos de ligação do suspense são excelentes, como uma ampola consegue ir do drama ao mistério de maneira muito profunda, cheia de detalhes e com surpresas. Mesmo que o roteiro de vez em quando prega uma peça ou outra, alguns detalhes não esclarecidos sobre ligações durante a trama, a série como um todo, ao longo dos seus oito episódios prende a atenção do público. O detetive interpretado por Pullman é excêntrico, masoquista que vive um casamento conturbado e possui um desejo intenso por sua amante. Mesmo com todos esses problemas para lidar, Ambrose é obstinado em saber as verdades sobre o caso, mesmo que muitas vezes sendo desacreditado por outros profissionais do seu departamento.

Cora é um retrato do desespero de alguém que faz algo e não sabe o porquê. Muito bem interpretada por Jessica Biel, a personagem se desconstrói e renasce ao longo dos episódios. Há uma interação as vezes na superfície entre Cora e seu marido, algo que poderia ter sido mais profundo e esclarecedor. O papel dos sogros dela também ficam como plano de fundo, sumindo após detalhes sobre a rotina cansativa de morar em frente a eles, mostrado no episódio piloto. Já que o universo a ser explorado é o da protagonista, faltaram algumas arestas para serem melhor detalhadas. Mesmo assim, nada que atrapalhe o andamento da história.

Com ótimas atuações e um roteiro bom para ótimo, The Sinner é um dos seriados mais interessantes que estão disponíveis pelos inúmeros streamings por aí.

Continue lendo... Pausa para uma série: #5 - The Sinner (1ª Temporada)

06/07/2020

Crítica do filme: 'Ninguém Sabe que Estou Aqui'


Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente. Mas às vezes é necessário. Há alguns dias atrás, sem muitos alardes, estreou na poderosa do streaming Netflix o primeiro longa-metragem do cineasta Gaspar Antillo, Ninguém Sabe que Estou Aqui. O filme é um poderoso drama, envolvente com uma atuação marcante do Jorge Garcia (conhecido por muitos por seu importante papel no seriado Lost). Falar sobre sentimentos profundos é sempre muito complicado quando pensamos em cinema, as linhas tênues entre o exagero e a superfície estão a cada linha do roteiro e por nossa sorte, nesse caso, os contornos entre os arcos são belíssimos levando a um desfecho satisfatório e impactante.

Na trama, conhecemos o introspectivo e solitário Memo (Jorge Garcia), um homem já adulto que vive distante do grande centro em uma ilha com seu tio Braulio (Luis Gnecco). Aos poucos vamos conhecendo mais a fundo a peculiar personalidade dessa alma amargurada que na infância foi descoberto por ter uma voz maravilhosa mas que a ganância dos outros fraudaram seus sonhos o levando a uma depressão e distância de tudo aquilo que pensara que iria acontecer com sua vida. Mas, a chegada de Marta (Millaray Lobos), fará Memo ter uma nova chance de mostrar ao mundo quem ele realmente é.

De maneira objetiva, ao longo dos curtos 91 minutos de projeção somos levados aos sentimentos do protagonista através de pensamentos, dança, sonhos e arte. É uma imersão que o espectador precisa estar querendo fazer para que a experiência seja algo que toque o coração de todos. Um homem de poucas palavras e com o coração machucado, Memo é um personagem intrigante, um dos mais interessantes desse início de segundo semestre nesse ano pandêmico que vivemos.  O filme por si só já vale por ele. Ao redor do protagonista, vemos a ganância e a fraude que foi vítima na infância, o distanciamento do complicado pai, a relação paternal com o tio, um sentimento vivo dentro dele de viver algo feliz em sua bolha triste. A chegada de Marta na história enche a tela de cores e força, você percebe uma enchida de combustível no coração de Memo e essa válvula de esperança culmina em um desfecho emblemático e bastante merecido para esse belo trabalho.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Ninguém Sabe que Estou Aqui'

Crítica do filme: 'Force of Nature'


O Beabá de uma trama desinteressante. Tendo o veterano Mel Gibson como coadjuvante de luxo, o longa-metragem dirigido pelo cineasta californiano Michael Polish é uma tentativa de mistura explosiva ao estilo The Raid (2011) com os piores roteiros de ação dos últimos tempos. O resultado é um projeto pouco criativo, previsível e com clichês que deixam o público distante de uma interação com o que acontece na tela. Force of Nature é candidato a um dos piores filmes de ação desse peculiar ano que vivemos.
Na trama, conhecemos o Cardillo (Emile Hirsch) que após um grande trauma no passado se isola como policial de baixa patente na polícia de Porto Rico. Certo dia, em busca de resgatar a população de um prédio da tempestade que está chegando, acaba envolvido em uma linha de tiro com bandidos comandados por John (David Zayas) que está atrás de um idoso que possui em seu apartamento obras milionárias. Contando com a ajuda de um ex-policial doente chamado Ray (Mel Gibson), a filha desse, a médica Troy (Kate Bosworth), e sua nova parceira Jess (Stephanie Cayo), Cardillo precisará ter sangue nos olhos para enfrentar as tempestades que o esperam.
A confusão de idiomas nas falas dos personagens que vivem em Porto Rico já indicava a complicada experiência de entender essa história que se nutre por cenas de ação mal dirigidas dentro de um roteiro com baixa inventividade. Esteriotipado até o último suspiro, os personagens não são nada marcantes e correm de andar em andar do prédio flutuando nas mesmices dos clichês mais usados no mundo do cinema. A falta de um forte protagonista também ajuda ao péssimo andamento dos arcos. Emile Hirsch (Na Natureza Selvagem) tem em Force of Nature uma de suas piores atuações da carreira assim como a talentosa Kate Bosworth.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Force of Nature'

29/06/2020

Crítica do filme: 'Caçada Mortal'


Para determinados assuntos, somente alguns conseguem ter êxito. Baseado na obra do escritor nova iorquino Lawrence Block, A Walk Among the Tombstones, Caçada Mortal, lançado no já distante ano de 2014 é um drama com pegada forte policial que une o submundo da lei e das ilegalidades em prol de uma vingança após um brutal assassinato. No papel principal, o astro Liam Neeson entrega mais uma vez um competente personagem, intrigante e com camadas profundas de problemas emocionais. Destaque para a boa direção de Scott Frank (um dos roteiristas de Logan e Marley e Eu).

Na trama, ambientada em uma nova Iorque nos anos 90, conhecemos o solitário ex-policial e agora um detetive sem licenças chamado Matt Scudder (Liam Neeson) que passa seus dias lutando contra terríveis traumas de seu passado como homem da lei. Certo dia, é procurado por um viciado dizendo que seu irmão, um traficante de alto escalão da região, precisa da ajuda dele pois sua esposa foi brutalmente assassinada. Assim, Scudder acaba entrando em uma guerra entre lunáticos serial killers e o submundo da ilegalidade do mundo das drogas.

Um dos pontos a se analisar que consegue ser bastante interessante é que fica bem definido que não há heróis ou mocinhos nesse filme, há uma luta entre a margem da lei e serial killers. Completamente destroçado pelo trauma de ter ferido uma inocente anos atrás, o protagonista embarca em uma jornada onde o medo acaba não existindo tendo apenas forças na sua maneira de pensar o que é o correto, e também, por conta da entrada em seu cotidiano de um jovem sem teto que precisa de uma referência.

O tom sombrio e as cenas de ação são muito bem construídas, mesmo o roteiro beirando ao confuso em algumas partes dos arcos, os personagens e seus mistérios levam bem essa jornada rumo a vingança.  

Continue lendo... Crítica do filme: 'Caçada Mortal'

Pausa para uma série - #4 Upload (1ª Temporada)


As razões do ser e entender em conjuntura com a dificuldade em dizer adeus. Criado por Greg Daniel, Upload, que está disponível na Amazon Prime é uma sátira séria sobre aonde vamos quando morremos. Repleto de conceitos e paradigma para lá de interessantes, a comédia de ficção científica preenche suas lacunas complicadas com pitadas generosas de comédia trivial impulsionando inclusive um romance ente consciência e pessoa real. Tem uma pegada meio Ela mas acaba sendo muito mais profundo por conta do tempo que consegue para explorar suas ramificações criativas/futurísticas.

Na trama, conhecemos Nathan Brown (Robbie Amell) um criativo programador de computadores que está no auge de seu grande futuro sucesso quando de repente, em um acidente muito duvidoso acaba morrendo. Sua namorada, a patricinha Ingrid (Allegra Edwards) parte para incluí-lo em um lugar onde a consciente ganha renovação de vida no pós morte, um lugar onde ele ainda pode se conectar com os que ainda estão vivos. Nesse lugar projetado, paradisíaco, ele conhece sua ‘anja’ Nora (Andy Allo), a responsável pelo seu bem estar nesse novo lugar.  Assim o protagonista, com novas variáveis, vai conseguir entender melhorar toda sua vida.

Com leves críticas aos produtos capitalistas oriundos de uma inovação tecnológica desenfreada e sem limites, Upload é uma inteligente série disfarçada por muitos tons cômicos muitas vezes bobos que acabam mascarando sua ótima evolução nos curtos dez episódios da primeira temporada.  O elenco é ótimo, sempre em grande sintonia. A subtrama de Nathan e o amor diferente com sua anja é muito bem desenvolvido sendo start para várias reviravoltas dentro do que entendemos ser o plano principal da história. Um interessante, cheio de ramificações com potencial de desenvolvimento nas próximas temporadas, projeto que vale a conferida.

Continue lendo... Pausa para uma série - #4 Upload (1ª Temporada)

28/06/2020

Crítica do filme: 'Little Joe'


Indicado a dois prêmios no festival de Cannes do ano passado (inclusive, vencendo na categoria de melhor atriz) Little Joe é um filme que busca sua originalidade no universo dos sentidos e os contornos de um gap entre o inusitado e o subconsciente. O roteiro se aproxima um pouco das loucuras criativas de novos modos de pensar que encontramos nos estranhos cantos de roteiros de alguns episódios de Black Mirror. A cineasta austríaca Jessica Hausner assina a direção, bastante competência na maneira de contar essa história.
Na trama, conhecemos a viciada em trabalho Alice (Emily Beecham), uma bióloga que trabalha em uma clínica de engenharia genética que lida com diversas experiências com plantas. Um dos mais prolíferos, Little Joe, é uma planta vermelha que busca mudar sensações de humor. Tudo ia bem até que algumas reações inusitadas com todos que se aproximam dessa planta acontece, deixando a protagonista em uma curiosa linha tênue entre o acreditar ou não no poder de sua criação.
Por conta da ênfase no inusitado, numa tentativa com êxito na maior parte do tempo de tentar passar aos olhos do espectador um frescor de originalidade, o projeto adota um ritmo bastante lento, cheio de detalhes e cores que se solidificam marcando um plano muito bonito composto por uma pega da de criatividade necessárias num universo cinematográfico dos últimos anos cheio de mais do mesmo. A profundidade chega forte com as sessões de terapia da protagonista, no seu labirinto de emoções e pensamentos, o que pode ser real ou não, transforma a jornada de Alice em uma tarefa cheia de obstáculos mas que acabam de certa forma deixando ela entender melhor seus desejos e como leva sua vida.
Exibido no último Festival do Rio, Little Joe é um filme para os que curtem detalhes. Uma mescla argumentativa entre o subconsciente e a nossa necessidade de preencher todas as lacunas de nossa vida.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Little Joe'

26/06/2020

Crítica do filme: 'Até que você me Ame'


Acreditar ou não? Com simples elementos, força na fotografia e uma objetividade perspicaz, o longa-metragem de estreia do cineasta e roteirista Edward A. Palmer, Hippopotamus no original, é um thriller, uma espécie de suspense cheio de camadas onde o espectador enxerga o jogo mental criado pelos olhos de uma frágil personagem com sérios problemas de memórias. Na fronteira entre média e longa, em pouco menos de 80 minutos de projeção, assistimos a essa ‘peça filmada’ com muita atenção aos detalhes que vão aparecendo a cada novo avanço da protagonista.

Na trama, conhecemos Ruby (Ingvild Deila), uma jovem que acorda em um cativeiro com poucos elementos dentro dele, somente uma cadeira, duas imagens desenhadas e sua bolsa com os pertences. Suas pernas estão imobilizadas e sem poderem se mexer. Quando tentamos entender o que acontece surge Tom (Stuart Mortimer) e um jogo psicológico é instaurado onde acreditar ou não será uma tarefa árdua para Ruby.

A construção dos simples arcos nos levam a um desfecho cheio de reviravoltas e com muita tensão. Os méritos do diretor vem exatamente nesse ponto: o do clima da tensão. Nos sentimos aflitos a todo instante buscando respostas sobre o que seria aquela inusitada situação vivida por uma perdida personagem que aos poucos começa a se desenvolver de maneira impactante na telona.

Exibido em alguns festivais online desse ano, como o Brasilia International Film Festival que ocorreu em abril, esse projeto britânico vai surpreender a muita gente que conseguir assistí-lo.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Até que você me Ame'

21/06/2020

,

Pausa para uma série! - #3 - Em Defesa de Jacob (Defending Jacob)


Os mistérios de um mente e os segredos a quatro paredes. Quase desapercebia, estreou no dia 24 de abril (dia do meu aniversario inclusive J ) na ainda pouco conhecida Apple Tv (streaming que já tem no Brasil mas somente para algumas tvs samsungs e dispositivos apple) a minissérie Em Defesa de Jacob, Defending Jacob no original, o projeto é baseado numa obra de sucesso escrita pelo escritor William Landay. Durante os intensos oito episódios vamos conhecendo uma família perfeita norte-americana que se vê envolvida em um crime bárbaro mudando para sempre a rotina dentro e fora dessa casa. Viciante, impactante e com reviravoltas eletrizantes. Além disso, atuações impecáveis de Chris Evans, Jaeden Martell, da ótima atriz britânica Michelle Dockery e da veterana Cherry Jones. Do primeiro inclusive, podemos afirmar que é a grande atuação de sua carreira.

Na trama, conhecemos a família Barber: Andy (Chris Evans), o pai, principal promotor da cidadezinha onde vivem e bastante querido pela comunidade; Laurie (Michelle Dockery) um profissional exemplar e super mãezona; Jacob (Jaeden Martell), o único filho do casal que possui uma personalidade introspectiva e não tem muitos amigos. Tudo desmorona em pouco tempo para essa família quando Jacob é acusado de assassinato de um colega do colégio. O pai, no início, promotor titular do caso, é dispensado e praticamente usa todo seu tempo e conhecimento para tentar inocentar o filho. A mãe, desmorona aos poucos e a cada episódio que passa, desconfiando mais do filho.  Assim, a série vai caminhando para uma decisão no tribunal que deixará marcas em todos. A minissérie conta com a participação de um brasileiro, o ator goiano Guilherme Vieira que atua como um ‘paralegal’ e repórter.

Uma minissérie viciante, impactante e com reviravoltas eletrizantes. Não só sendo um drama de tribunal, conhecemos a fundo os problemas e segredos da família Barber. Claro que numa série com a premissa inicial envolvida no tema se Jacob matou ou não o amigo, queremos descobrir o que houve. Porém, por incrível que pareça a minissérie toma rumos tão profundos sobre a família que o julgamento até certo ponto fica em segundo plano, pois, há uma lógica conclusiva de que não importa o resultado do julgamento, muita coisa caminhou para estradas sem voltas e as dúvidas sempre vão permanecer através dos fatores que impulsionaram as acusações sobre Jacob.

Confissão ou fantasia? Como todo bom advogado, o pai, (interpretação de gala do ex-Capitão América Chris Evans) usa de todos os argumentos possíveis para se fazer acreditar na inocência de seu único filho. Mas percebemos que há um sério conflito nessa questão. Toda a família é culpada? Dna Assassino? O drama caminha por diferentes estradas para nos apresentar a visão e pensamentos dos pais sobre o ocorrido. É como se Jacob já fosse culpado ou inocente na visão de cada um deles.
Com nota de 8.1 no Imdb (até o momento e merecidamente) e aclamada pela crítica, com todos os méritos, Defending Jacob é um dos melhores projetos que lançaram nesse difícil ano para a indústria cinematográfica e televisiva do mundo.

Continue lendo... Pausa para uma série! - #3 - Em Defesa de Jacob (Defending Jacob)