06/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #9 - João Daniel Tikhomiroff

Não existe caminho para o cinema, o cinema é o caminho. Buscando curiosidades e respondendo a perguntas sobre o universo cinematográfico do Brasil e do mundo, essa humilde coluna desse jovem cinéfilo busca encontrar outros cinéfilos para juntos falarmos sobre uma das coisas que mais amamos nesse planeta que vivemos: cinema.

Nosso entrevistado de hoje tem mais de quarenta anos de experiência no mercado audiovisual brasileiro. Sócio da Mixer Films, e com 41 leões (nome do prêmio) conquistados no Festival Internacional de Publicidade de Cannes, João Daniel Tikhomiroff tornou-se referência na produção publicitária. O cinema sempre foi a paixão desse mente criativa do audiovisual, debutou como cineasta em Besouro no ano de 2009, depois dirigiu mais dois filmes: Didi e o segredo dos anjos (2014) e Os saltimbancos trapalhões rumo à Hollywood (2017).

E como a internet é tão boa para encontrarmos almas cinéfilas que talvez nunca encontraríamos na realidade, João sempre está pelo Facebook comentando sobre a sétima arte e tenho a honra de tê-lo como amigo por lá, sempre com ótimas dicas.  

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Cine Belas Artes. Permanente cuidado na qualidade de programação, com diversidade e inteligência. Filmes que não passam no grande circuito ou que não voltarão a passar (no caso de “cult movie”).

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Os Pássaros, de Alfred Hitchcock. Assisti na cabine da Universal Pictures, onde meu pai era diretor, e o projecionista começava a me mostrar algumas produções que chegavam ao Brasil, antes de exibição ao público. Eu tinha 9 anos de idade. Ali tive uma certeza: eu queria ser diretor de cinema.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Tenho vários... de várias fases e motivações. Mas pra escolher apenas um, será o mais completo de todos: Stanley Kubrick. E meu favorito dele será o filme que é uma aula completa de cinema: 2001: uma Odisseia no Espaço.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tenho vários: Macunaíma, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe, São Paulo S.A. , Azyllo Muito Louco, ... mas para escolher apenas um, fico com Vidas Secas. Nelson Pereira dos Santos fez um filme incrível, tristíssimo, onde nos coloca nas vísceras da miséria nordestina, com uma condução precisa e talentosa. Filme inesquecível.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É você ter o cinema como a grande paixão da sua vida. Ser a prioridade.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

 

Não. Definitivamente não.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito. Apesar do Covid 19, e outros vírus que deverão surgir, a magia de uma sala de cinema é insubstituível. Uma experiência que movimenta as emoções. Ninguém chora ou ri tão forte quanto ao “contágio” de uma sala de cinema cheia. Assim como o teatro não morreu, que os shows ao vivo não morreram... ao contrário, os jovens sempre buscarão essas experiências. 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Toby Demmit, de Frederico Fellini. Brilhante. Um dos três episódios que compõe o filme Histórias Extraordinárias, baseado em contos do Edgar Alan Poe. Apenas o episódio feito pelo Fellini é excelente. Até hoje, surpreende.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Difícil dar uma opinião no meio de uma pandemia. Um vírus que os médicos e a ciência estão tentando entender e controlar. Não arrisco minha opinião.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

No mesmo nível do cinema mundial: ruim. Mas sempre encontramos algum bom, em ambos.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Nem brasileiro, nem estrangeiro. Não perco um filme bom, ou promissor. Não importa quem sejam os atores. Mas tem atores que me fazem fugir da sala de cinema... Nicolas Cage, por exemplo. Perdeu o critério de escolha de papel...

 

12) Defina cinema com uma frase:

Viver uma magia, intensamente.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

No meio de uma sessão normal do filme Sacco & Vanzetti, um sujeito se levantou comovido e gritou: “eu não aguento, pô! Muito revoltante. Não venho ao cinema pra sofrer!”... e foi embora. Aliás, recomendo muito assistir esse incrível filme, dirigido pelo Giuliano Montaldo, e trilha musical do gênio Ennio Morricone (e participa Joan Baez).

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Hahahahahaha...

 

15) Você é um dos sócios da Mixer Films. Desde o tempo em que você começou até hoje, qual a dificuldade de um jovem sonhador querer trabalhar com audiovisual no Brasil?

As dificuldades são imensas. Sempre foram, mas agora está ainda mais difícil. Não existe uma mentalidade nem cultural nem investidora no audiovisual do Brasil. Por isso é uma batalha movida à paixão. Não é aberto à pessoas “normais”...

As plataformas de streaming estão mudando o cenário. As séries ganharam relevância e ousadia, muitas vezes mais que o cinema hoje. Desde Twin Peaks, de David Lynch, à antológica Família Soprano, passando por Breaking Bad, The Handmaid’s Tale, Black Mirror... e mesmo o infanto-juvenil Stranger Things, tem trazido frescor à dramaturgia audiovisual.

Fizemos na Mixer, algumas séries que nos trouxeram prêmios e muito sucesso internacional como Julie e os Fantasmas, O Negócio, a infantil Escola de Gênios, entre outras. Mas claro que cinema é cinema, e sempre será.

 

16) Você é cinéfilo mas sabemos que nem todos os cineastas brasileiros são. É importante ser cinéfilo para um diretor de cinema?

Acho que sim. Para fazer cinema você precisa ser um apaixonado pelo ofício. Mas sempre vai existir exceção à regra, brasileiro ou não. Mas desconfio de cineasta que não seja um cinéfilo...

 

17) Qual o pior filme que você viu na vida?

Alguns vão querer me matar... mas diria que foi um ganhador de Oscar :  Coração Valente (Braveheart), de Mel Gibson. Dos raros filmes que me levantei da cadeira e fui embora do cinema, no meio do filme.

 

18) Como cineasta, como você lida com as críticas dos jornalistas sobre seus filmes quando elas são negativas?

Sempre procuro não me impregnar, nem com as ruins nem com as boas. Críticos são feitos pra criticar. Assim deve ser. Mas se você se influenciar com essas opiniões, pode perder o foco. Para o bem ou para o mal. Muitos cineastas adotam essa postura: evitam ler. Elogios ou críticas negativas. Não importam.

Mas sempre respeito. Mesmo evitando ler. Mas confesso que uma crítica super elogiosa de meu filme, que chegou às minhas mãos, vinda do Hollywood Report durante o Festival de Berlim, eu não resisti e li. Hahahaha...!

 

19) Se algum jovem quisesse começar hoje a ser cinéfilo, qual filme você indicaria para ser o primeiro dele começar a ver?

Playtime, de Jacques Tati.


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #8 - Sandra Maya

O cinema é uma força que emociona e nos faz querer sempre a assistir o próximo filme. Seguindo na nossa série de entrevistas com queridos cinéfilos espalhados pelo Brasil que nos contam um pouquinho, por meio de determinadas perguntinhas, um pouco de toda sua paixão e amor pela sétima arte.

Hoje, que vamos entrevistar é uma das mentes mais cinéfilas que existem no Rio de Janeiro. Carioca, cinéfila, psicoterapeuta holística formada pelo Instituto Antonio Vieira, Sandra Maya é gerente e produtora da Cavideo, a fantástica locadora de filmes ainda ativa no Rio de Janeiro, mais especificamente no bairro do Humaitá. É impressionante a memória da nossa convidada, esse que vos escreve já foi várias vezes na Cavideo e Sandra, sempre simpática, já deu várias dicas de filmes sempre com uma simpatia contagiante. Muito ativa nas redes sociais, sempre falando sobre cinema em sua página pessoal do Facebook.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Unibanco Artplex. Conforto das poltronas, ar condicionado perfeito, boa livraria, perto de casa.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Ben-Hur quando era criança pela beleza e pela história (imitava as cenas em casa), e, adolescente, Gritos e Sussurros do Bergman, pela densidade dos personagens, o ambiente, a dor. Era muito jovem para avaliar os filmes tecnicamente, mas sabia que amava isso e queria fazer parte desse universo.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Essa é difícil. Depende muito da obra, sou assim. Mas considerando o conjunto, Quentin Tarantino. Ele é um arquivo vivo dos anos 70/80. O melhor, Pulp Fiction, mas ele sempre inova seus filmes de maneira absurda.  E, apesar de tantos diretores maravilhosos, tenho outro que vale mencionar, Frank Darabont. Ele conseguiu fazer três filmes do Stephen King virarem obras primas. Adoro King, mas eles esculacham seus livros em cinema.       

                              

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Adoro documentários, já produzi um e vejo diariamente algum. Amo Edifício Master do Eduardo Coutinho. Ele era um mestre no que fazia.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Aquela pessoa que não poder passar um dia sem ver pelo menos um filme, procura notícias sobre o que vai ser lançado, sobre técnicas de filmagem, pesquisa o trabalho dos diretores, dos atores, lê tudo, não deixa escapar nada, não importa o período, respira cinema, vive essa arte maravilhosa diariamente.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Sim, acho que abrir uma sala de cinema é uma grande responsabilidade e você precisa oferecer um pouco de cada coisa que o público quer ver. Se você tem um negócio desses é para se realizar e passar o que você ama para frente, não pode ser só comercio, tem que ter sua alma envolvida. É uma possessão e você precisa de seguidores.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não posso acreditar nisso, acho que não. A sensação de sentar em uma poltrona de cinema e assistir um filme é algo inexplicável. Aquilo te envolve, te leva para outro mundo. Eu sou assim, quero devorar cada detalhe, saio de mim e vou para lá. As vezes o filme acaba e preciso de um tempinho para voltar daquele universo. Fui criada assim, criei meu filho assim e pretendo influenciar meu neto. Você precisa respirar isso para entender. Se acabar, ficarei sem uma parte de mim.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo:

Parente é Serpente do Mario Monicelli. Recomendo esse porque não sou fã de comédias, mas esse filme é sensível, uma comédia gostosa de ver, tem um drama comovente por toda história e acho todos tem alguém na família parecido com alguém daquela família. Monicelli é um gênio da comedia.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, infelizmente ainda penaremos um pouco.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho que ele é de picos. Era ótimo, caiu muito, voltou a se reerguer com ótimas produções, mas agora está fraco de novo, muito comercial. Não que não deva ser comercial, é o que dá dinheiro, mas podemos fazer bom cinema sem ter o formato de tv.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Hoje?  Selton Mello.

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema é a arte de nos fazer viver e conhecer outras realidades, outras vidas, sem deixar a nossa para trás.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

O lançamento de Star Wars no Unibanco Artplex. Todos foram a caráter. Achei sensacional. Eu gosto de ver essas coisas, não considero fanatismo, considero paixão mesmo. E foi muito legal ver o filme no meio de seus personagens.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Vixe, virou cult mas nunca vi.

 

15) Você faz parte da equipe de uma das maiores locadoras de cinema ainda em atividade na América Latina, a Cavideo, no Humaitá, Rio de Janeiro. Como é trabalhar numa locadora em 2020? Os bate papos sobre cinema continuam fantásticos?

Os bate papos sempre serão fantásticos, principalmente porque quem vai agora é realmente cinéfilo. Mas o movimento foi bem afetado pelo streaming, pena. Eu sinto medo de um dia isso acabar porque hoje considero a Cavideo memória viva DO CINEMA. Tem tudo que você não vai ver em lugar nenhum, talvez nunca mais, pois não estão em streaming, nem em tv paga. Você leva um filme para casa a um custo mínimo, vê a hora que quer e tem sempre outro para ver. Principalmente o cinema nacional antigo, que foi esquecido pelos distribuidores, ainda temos muito para oferecer sobre ele. Acabar com as locadoras hoje, quando temos tanta tecnologia para vermos quase em telão em casa é cortar as pernas da 7ª arte.

 

16) Diga uma curiosidade sobre algum artista que alugou um filme na Cavideo.

Quando Matheus Nachtergale esteve na loja, antes da pandemia, procurando um filme que ele tinha feito, ele ficou encantado. Quando ele começou a ver os vários filmes que tínhamos dele falou: - “Meu Deus, vocês tem tudo que eu fiz, nem eu tenho tudo isso.” Ficou tão emocionado que quase chorou. Aquilo foi uma grande emoção para ambos.

 

 


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #7 - Alê Shcolnik

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Continuando nossa série de entrevistas com cinéfilos espalhados pelo Brasil, hoje é a vez da jornalista, publicitária, fotógrafa, crítica de cinema, fundadora do site Rota Cult (http://rotacult.com.br) e membra da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, Alê Shcolnik. Inteligente e com presença marcante nos eventos de cinema que acontecem na capital carioca, é mais uma cinéfila amante das artes.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha. Cinemark e Grupo Estação.

No Cinemark encontro conforto e qualidade nas exibições de filmes de grandes porte como Dunkirk, além de blockbusters, já no Estação encontro filmes, que jamais entrariam no circuito.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Carne Trêmula, de Pedro Almodóvar.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Impossível citar apenas um. Woody Allen e Almodóvar são incríveis. Sofia Coppola tem um olhar peculiar sobre o mundo. Filmes de máfia não seriam o mesmo sem Scorsese e por aí vai.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Cidade de Deus, por retratar uma realidade cruel e devastadora, porém muito real.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Amar o cinema acima de tudo! E claro, estudar cada vez mais sobre o seu universo. É necessário conhecer todo o processo, desde a criação à pós produção para poder opinar sobre o assunto.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A programação dos cinemas é feita exclusivamente para vender ingresso. As grandes redes exibidoras quase não abrem espaço para filmes autorais.

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não. A experiência de estar ali dentro imerso é única.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O cinema bollywoodiano em geral.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Definitivamente, não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Muito boa! Diria que excepcional!

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Selton Mello, Rodrigo Santoro, Fernanda Montenegro, são muitos ...

 

12) Defina cinema com uma frase:

“O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho”. Orson Welles

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema

O fato de avisarem na bilheteria que os primeiros minutos de Ninfomaníaca são parados, vamos dizer assim.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

 Humor involuntário, misturado a vergonha alheia.


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05/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #6 - Alysson Oliveira

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Mestre e doutorando em Letras pela FFLCH-USP, o jornalista e crítico de cinema Alysson Oliveira, uma das pessoas mais gentis e educadas desse universo do audiovisual brasileiro, é o convidado de hoje da nossa coluna sobre cinéfilos. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e sempre recheando a timeline dos sortudos ‘facebookanos’ que o seguem no site criado pelo Zuckerberg, com dicas sobre filmes e livros, Alysson tem um impressionante texto sobre filmes, que lemos sempre no Cineweb, site no qual escreve desde os anos 2000.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Minha sala preferida é o Itaú da Augusta, porque foi o primeiro “cinema de arte” a que fui (nem tinha esse nome, era Espaço Unibanco), e também por sua programação variada concentrando-se em filmes independentes e afins, também pela localização.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O Leopardo, na escola, no final dos anos de 1990. Foi uma descoberta de “filme antigo”, que ia muito além do que via até então – basicamente Hollywood. E se tornou um dos meus filmes favoritos.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

São vários, mas escolho, então, Stanley Kubrick e seu Barry Lyndon, que depois de ver várias vezes na tela da televisão, pude ver no cinema, na Mostra de 2013 – e, depois disso, nunca mais tive coragem de ver novamente na tela da televisão.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

S. Bernardo, pela sua austeridade formal, e a maneira como Leon Hirszman colocou na tela a prosa de Graciliano Ramos, dando vida a um mundo decadente e de disputa de poder e propriedade.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Não sei muito bem, talvez alguém cujo senso crítico tenha sido desenvolvido a partir de ver filmes quase que indiscriminadamente.

 

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A maioria não  - levando em conta que conheço vários Cinemarks, Kinoplex, e afins – mas os que frequento, como os Itaús, Cinesesc, Belas Artes e Reserva Cultural, sim. Esses são cinemas claramente programados por pessoas que entendem do assunto.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não, e também não deverão se render a modismos, como exibição de shows etc. Acredito que uma parte das salas se adaptarão, mas continuarão sendo cinema, exibindo filmes.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Morvern Callar, da escocesa Lynne Ramsay. É um filme sobre uma crise existencial, sobre uma mulher que precisa descobrir a si mesma, e cai no mundo para isso. Tem algo de Antonioni.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, de forma alguma. É um risco de contágio enorme não apenas para frequentadores, mas, principalmente, funcionários que deverão se deslocar até o trabalho, a maioria, em transporte público.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

A produção brasileira vinha bastante boa, até que, nos últimos meses, diminuíram os investimentos e incentivos. Não sabemos o que vai acontecer daqui pra frente. Vamos torcer que não seja algo como na Era Collor, quando se fazia, com sorte, um filme por ano. Não creio que hoje chegue a esse limite, mas, desconfio que, infelizmente, a produção nacional sofrerá um baque.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Beto Brant. Acho-o um dos maiores diretores brasileiros de todos os tempos. Seus filmes são perspicazes na figuração do Brasil e de uma subjetividade brasileira – especialmente da classe média – no século XXI.


12) Defina cinema com uma frase:

É onde a realidade fica escancarada, mesmo que possa parecer o contrário.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Minha primeira ida ao cinema. Devia ter uns 3 anos, e fui ver ET. Tinha medo do escuro, e cheguei com o filme já começado, com aquele monstro assustador na tela, gigantesco. Chorei de medo o filme inteiro. Fiquei mais de dez anos sem ter coragem de ir ao cinema. Só na adolescência que fui novamente.


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #5 - Zeca Seabra

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) desde 2013 e crítico do site Almanaque Virtual, o cinéfilo Zeca Seabra é visto constantemente em mesas de bate papo sobre cinema ou entre uma sessão e outra nos cinemas de Copacabana, no Rio de Janeiro. Formado pela PUC-RJ em Comunicação Social na década de 80, Zeca é um dos mais queridos críticos de cinema da capital carioca. Conversar com ele sobre cinema é sempre enriquecedor e o papo dura horas e horas! Com tanta história para contar sobre esse universo mágico audiovisual, convidamos o jornalista para responder nossas perguntas.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Tenho uma ligação muito profunda com Copacabana (bairro que morei 1/3 de minha vida). Frequento o Roxy desde adolescente por ser um dos cinemas de rua mais imponentes da cidade (1.600 lugares) e pela facilidade de acesso. Depois da reforma nos anos 90, continuei frequentando as 3 salas que, para minha surpresa, mantém uma programação variada e eclética. O Roxy faz parte do Festival do Rio e todo ano dou preferência à sua programação.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu tinha 10 anos quando fui no Metro Copacabana assistir 2001 - Uma Odisséia no Espaço com meu pai e fiquei extasiado com a ópera futurista de Kubrick. Foi quando caiu a ficha que o cinema era algo mais que uma simples diversão.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Kubrick - 2001 e Barry Lyndon

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tenho profundo respeito por Central do Brasil, que foi um filme com uma tremenda identidade brasileira mas com características universais. A história da jornada de dois seres diferentes que desbravam um país gigantesco para encontrar suas raízes, me toca profundamente.  Além disso, temos o reconhecimento internacional da primeira e única indicação de uma atriz brasileira ao Oscar.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo não é ter uma atitude passiva e sentar numa poltrona e dizer para a tela: Me divirta. É participar e manter um diálogo frequente com a arte e reconhecer que em cada filme existe uma referência e um tema que não estão visíveis.  

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Eu diria que a menor parte faz isso. Em cidades como RJ e São Paulo, o leque é bem mais amplo e tem profissionais que realmente entendem de cinema, mas basta ir um pouco para as periferias e verificar a péssima qualidade da programação que entopem as salas com os mesmos blockbusters em horários alterados.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não. E falo isso com receio, pois vejo uma nova geração preguiçosa viciada em cultura rápida e cômoda que não frequenta cinema porque em poucas semanas terão os filmes na palma da mão.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Uma Vida Oculta (A Hidden Life) do Terrence Malick. Passou em circuito pouco antes da pandemia explodir. É um belo trabalho do Malick baseado numa história real de um camponês austríaco que se recusou a lutar pelo nazistas transformando-se num mártir da 2º Guerra. Planos de tirar o fôlego.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não saberia responder esta pergunta com alguma certeza. Por um lado, acho que muitas salas não irão resistir até a descoberta de uma vacina em ampla escala, o que é uma pena. Por outro, acho arriscado confinar um grupo de pessoas em ambiente fechado por quase 2 horas. É uma questão muito complicada.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O grande problema do nosso cinema é a distribuição comercial. O grande público só tem acesso às comédias populares, deixando de assistir filmes com mais conteúdo crítico. No entanto muitos cineastas brasileiros estão mais preocupados com o reconhecimento internacional que seu filme terá em festivais e mostras abrindo mão de uma linguagem mais acessível. Alguns excelentes filmes nem entram em circuito nacional e essa briga não é saudável pois gera uma enorme necessidade de insumos, patrocínios e suportes para o cinema sobreviver. O cinema tem que ir até o público e não ao contrário.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Marcélia Cartaxo. Desde A Hora da Estrela de 1985, sigo o trabalho desta fantástica atriz nordestina. Seu último trabalho, Pacarrete, infelizmente não chegou ao circuito comercial pelas razões citadas acima, o que é uma pena.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é sonhar de olhos bem abertos

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

No meio de uma sessão no Itaú Unibanco em Botafogo, um gato pulou no meu colo me dando um susto tremendo. O animal entrou pela porta dos fundos do cinema e se escondeu numa das salas, aparecendo no meio da sessão. Ficou no meu colo até o fim da sessão e depois fugiu.


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04/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #4 - Rodrigo Fonseca

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Nosso convidado de hoje é o que podemos chamar de bíblia cinéfila. Carioca de Bonsucesso, do Morro do Adeus, formado pela UFRJ, Rodrigo Fonseca completa 20 anos como crítico de cinema em 2020. Roteirista da TV Globo, escreveu o programa dos Trapalhões e o Encontro da Fátima Bernardes, além de ter sido pesquisador das séries Segunda Chamada e Sob Pressão. É autor do Blog P de Pop do Estadão e escreve críticas pro site C7nema. 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Espaço Itaú e UCI Norte Shopping. Ambas são pautadas pela diversidade e pela qualidade da projeção. O mesmo vale pro Cine Joia.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Os Trapalhões no Reino da Fantasia, em 1985, em Olaria.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Paul Thomas Anderson, Sofia Coppola e Christopher Nolan são a minha trinca favorita, seguidos por Fatih Akin e Beto Brant. Meus xodós: O Mestre, Encontros e Desencontros e Dunkirk, seguidos por Do Outro Lado e Ação Entre Amigos.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Bar Esperança, O Último Que Fecha, do Hugo Carvana, pois nunca uma estética foi tão política quanto a amizade.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É imergir na imagem, sonhar com ela e usar o espaço de transcendência das telas como lugar de revolução.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Nem de longe. Raras são as salas que tem uma programação com curadoria, seja numa linha de risco, seja numa onda mais comercial. O Estação Botafogo e o Espaço Itaú são belas exceções de excelência.

 

7)  Algum dia as salas de cinemas vão acabar?

Jamais, pois a cultura da cinefilia é autorregenerativa. A necessidade da troca, o sentimento do coletivo... Isso é maior do que qualquer aposta na acomodação caseira. Vamos ter um boom da streamingosfera. Mas os espetáculos fílmicos à lá Bohemia Rhapsody sempre vão mobilizar a massa.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo:

O Príncipe, de Ugo Giorgetti, e Coisas Para Se Fazer Em Denver Quando Você Estiver Morto, do Gary Fleder.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Desde que haja um sistema de segurança que respeite os protocolos. Tenho muito orgulho da cultura do drive in que voltou à baila. Foi uma reação vívida de sociabilização. Espero que as grandes estreias estejam nesse rodízio também. Mas tomara que as salas se regulem logo com normas de segurança adequada. O respeito aos protocolos é uma essencialidade. Saúde, saúde, saúde.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Um país que gera um Bacurau, que toma a Berlinale de assunto com um bonde de longas, que tem uma cineasta da ousadia da Sabrina Fidalgo quebrando paradigmas e que tem documentaristas como Susanna Lira, Petra Costa, Emília Silveira e Joel Zito Araújo desafiando as convenções do Real só pode se sentir honrado de existir. De quebra existe um poeta do desenho como Marão fazendo seu primeiro longa. É nóis.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Vou responder essa citando um filme... o filme brasileiro mais dilacerante e provocador que vi em muito tempo: M8: Quando a Morte Socorre a Vida, do Jeferson De. O que a Mariana Nunes faz ali é de lavar a alma. 

 

12) Defina cinema com uma frase:

"O Bem vence o Mal,/ Espanta o temporal,/ O azul, o amarelo,/ Tudo é muito belo".

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Estive na sessão de Cruising (Parceiros na Noite) em Cannes e ouvia uma risada compulsiva atrás de mim, de alguém que ia a júbilo com o filme. Era o Tarantino, de mãozinha dada com a namorada.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Laroiê!!


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03/08/2020

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Pausa para uma série: #11 - The Umbrella Academy - 2a Temproada

Não importa em que tempo estivermos, nunca deixaremos de tentar unir nossa família, seja como for. Após um destacado sucesso na sua primeira temporada, a história dos irmãos super-heróis repleto de problemas interpessoais retorna de maneira apoteótica inserindo novas conceitos, novas subtramas e abrindo caminhos para no mínimo mais umas três temporadas. The Umbrella Academy, baseada na história em quadrinho do vocalista do My Chemical Romance e o ilustrador brasileiro Gabriel Bá virou um fenômeno pop da Netflix. Usando e abusando de conceitos sobre o tempo, uma tendência em seriados de sucesso recentes, essa 2ª temporada é a comprovação que o seriado está no caminho certo.

Daqui pra baixo: contém spoilers.

Nessa segunda temporada, recheada de gratas surpresas, acompanhamos os desfechos de mais uma saga dos irmãos Hargreeves após terem pulado para trás no tempo (para fugir do apocalipse) no final da primeira temporada. Cada irmão foi para um passado na década de 60 e anos subsequentes, e presos por lá, acabaram desenvolvendo uma vida: uma casa, o outro vira guru de sucesso, um fica preso no manicômio etc. Tentando reunir todos novamente, o gênio e comandante da equipe, Cinco (Aidan Gallagher, novamente brilhante no papel), enxerga um novo fim do mundo e a equipe precisa se reunir para tentar salvar a todos e voltarem juntos para a sua verdadeira linha temporal.

Os conceitos de viagem no tempo são ampliados nessa segunda temporada. Os poderes de todos os irmãos estão mais entendidos pelos personagens, os tornando mais habilidosos. Mas também a chegada de novos vilões, como os irmãos suecos e o retorno de The Handler (Kate Walsh) com uma surpresa, sua filha Lila (Ritu Arya), colocam sempre em cheque as conclusões positivas dos carismáticos super-heróis.

A trajetória dessa temporada gira em torno de como os irmãos podem se despedir com dignidade de um tempo que não era um deles mas que reflete demais nos tempos atuais, como a questão racial, o amor homossexual, tabus que no passado sobreviviam em meio a uma sociedade dura e sem habilidades para entender que a felicidade pode ser encontrada em todo lugar e por qualquer pessoa que está viva. Essas crítica sociais só elevam a qualidade dessa segunda temporada que deve agradar mais ainda que curtiu a primeira. Que venha a terceira temporada!


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #3 - Clarissa Kuschnir

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Nessa semana, convidamos Clarissa Kuschnir, jornalista especializada em cinema que começou sua carreira no audiovisual em algumas revistas como Ver video e Preview. Além dessas publicações citadas, a nossa convidada já trabalhou em diversas áreas da indústria cinematográfica brasileira: já foi repórter, crítica, assessora de imprensa, júri em festivais de cinema, curadora e produtora. Fatores que contribuíram para ser cada vez mais cinéfila, se tornando inclusive uma grande colecionadora de filmes. Nas redes sociais, Clarissa sempre comenta com bastante argumentação sobre os mais diversos assuntos ligados a essa arte que amamos.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Em relação a programação mais independente fico com o CineSesc, que durante o ano inteiro promove mostras de diferentes diretores mundiais. Nos últimos meses, antes da quarentena, eu vinha frequentando bastante também a Cinemateca. Me bate uma tristeza de saber o que estão fazendo, como esse nosso patrimônio. Quanto ao circuito comercial, eu gosto muito das salas do Cinépolis, principalmente as do complexo JK Iguatemi. 

 

2) Qual o primeiro filme que você  lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

São tantas lembranças da infância. Frequento salas de cinema, desde muito pequena. E eu ia muito aos cinemas de rua da Avenida Santo Amaro, aqui em São Paulo (entregando a idade rs). Minha mãe me lembrou outro dia, que eu fiquei encantada com a animação Bernardo e Bianca, da Disney. Mas dois filmes que mexeram muito comigo foram: Os Saltibancos Trapalhões (nunca esqueço minha emoção ao final do filme) e E.T, que eu tive a oportunidade de assistir naquelas salas enormes do centro de São Paulo (os meus tios avós me levaram). E eu lembro que eu tive que ficar sentada no chão, pois o cinema estava lotado.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Sergio Leone, e claro, Era Uma Vez na América.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Poxa, difícil de responder, pois sou muito ligada ao nosso cinema. Mas vamos lá. Depois que assisti A História da Eternidade, do pernambucano Camilo Cavalcante, ele se tornou meu filme número 1 da lista. Acho que A História da Eternidade é tão universal. Ele é pura poesia, retrata um Brasil que muitos desconhecem mas de forma muito sutil, encantadora e muito emocional. Sem contar as belezas do sertão sendo retratadas ali, com uma das mais belas fotografias que eu já vi, no cinema nacional.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Eu acho que o cinema me traz tantos aprendizados, além de entreter claro. Sem contar que ele já me levou para tantos lugares, tantos festivais e me fez conhecer tantas pessoas bacanas. Mesmo nos momento mais difíceis, não tem como um bom filme, não nos fazer bem. A prova disso é pelo momento mundial que estamos passando e os filmes, além da arte são um bálsamo para nós. Sem contar que esse é o meu trabalho. Foi o que sempre quis fazer.  E Já fiz tantas coisas dentro desse universo. Agora só falta dirigir...

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece  possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Eu acho que cada cinema tem seu público especifico. Então, para cada tipo de complexo, há um tipo de programação. O que eu penso é que alguns programadores poderiam olhar melhor para o cinema independente autoral  e,  para cinema nacional. E sou defensora de que se possa trazer de voltas os curtas, para as salas de cinema. Mas para isso acontecer é preciso ir atrás, aprender e até entender melhor o que acontece fora dos grandes circuitos comerciais.  

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Isso eu nunca achei. Mesmo na época do boom do mercado de vídeo (e olha que minha formação cinéfila, se deve muito a esse mercado) eu achei que os cinemas fossem acabar. A experiência de se assistir a um filme em sala de cinema é única. É uma imersão de algumas horas ali sem o contato com o mundo, que traz as mais diferentes emoções.  

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Eu vou citar aqui o ótimo e divertido filme uruguaio Whisky do diretor Juan Pablo Rebella (falecido em 2006) e Pablo Stoll, que eu acho que muitas pessoas não viram. Se puderem vejam!!!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

 

Outra pergunta complexa para nós cinéfilos, pois mesmo com todos os protocolos de segurança, acho muito complicado (pelo menos para mim) entrar em uma sala de cinema, nos próximos meses. O problema é que no Brasil, as pessoas não respeitam as regras. Se na ruas, muitas pessoas não estão respeitando nem o uso de máscaras, imagine em um lugar fechado (mesmo com a obrigação do uso). Como será esse controle? Tanto de limpeza quanto de controle de público.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

 Sou suspeita para falar. Acompanho há muito anos, afinal de contas, cresci vendo o cinema dos Trapalhões. E, desde a retomada, em meados dos anos 90 e com a criação do Ancine nos anos 2000, além de leis de incentivo, nosso cinema tem se diversificado e muito. Sem contar, os cineastas que fazem cinema na guerrilha. Temos muita coisa de qualidade, mas que muitas vezes, esses filmes não têm uma boa distribuição e não chegam ao grande público. Sem contar que a cada ano, o número de curtas metragens tem aumentado em quantidade e qualidade. Temos muito festivais independentes acontecendo (principalmente no interior). O nosso maior problema agora é a nossa atual política que ameaça toda uma cadeia que levou tantos anos para se consolidar.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Irandhir Santos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Quanto mais cinema melhor.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Eu frequentava muito o Cine Mam (que não tem mais), aqui em São Paulo. Aí uma vez eu estava assistindo ao filme Tokyo-Ga em uma Mostra do Wim Wenders. Estava tudo silencioso, até que um maluco começou a mexer em um saco plástico. Mesmo com as pessoas chamando a atenção dele, ele não parava. Ele ficou praticamente o filme inteiro, mexendo naquele saco. Pode uma coisas dessas???

 


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01/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #2 - Juan Zapata

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Para iniciar uma das colunas dessa semana, que vai ter espaço semanal nesse espaço cinéfilo, entrevisto abaixo um cineasta colombiano que ama o Brasil, Juan Zapata. Um apaixonado pela sétima arte, sempre com seu portunhol afiado e bem informado sobre o mercado audiovisual da América Latina, o artista, que já foi diretor do Instituto Estadual de Cinema do RS (Iecine), estudou cinema na Universidade Jorge Tadeo Lozano, em Bogotá, e na Escola Internacional de Cinema e Televisão de Cuba, em Havana. Uma figura inteligente e bastante querida, longos papos sobre cinema com Zapata é sempre uma grande aula para qualquer cinéfilo.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim, Cine Bancarios, Capitolio, Espaço Itau e Guion.  Pela sua qualidade de programação e diversidade.

Los Angeles: O cinema de Tarantino em West Hollywood. É a mais eclética programação que já vi na minha vida e um dos meus cinemas favoritos no mundo.

Medellin: Procinal Las Americas, Centro Colombo Americano, Odeon 80, La America y Capri: foram minha escola e refúgio na minha cidade natal. Aí sonhei fazer cinema e aprendi amar esta arte.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

E.T.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Muitos, difícil escolha. Desde Paul Thomas Anderson, Richard Lindaker, Alejandro Amenabar, Woody Allen, Almodovar, Agnes Varda, Coutinho, Kurosawa, Kusturica, Campanella e tantos, mas valorizo muito a Eliseo Subiela e o impacto que teve El Lado Oscuro del Corazón na minha vida e na minha escolha por fazer cinema (sempre é polêmico quando confesso isto).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Edifício Master e Jogo de Cena. Desculpa, mas é difícil e injusto escolher só um.

Acho que Coutinho estava sempre passos à frente de todos. Baita cineasta e ser humano. Quanta saudade o cinema brasileiro sente por alguém como ele.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É encontrar no cinema as respostas da vida. É amar e entender esse poder do cinema e fluir, surfar nele. É refúgio, abrigo, colo, um bom filme é como um cafuné na alma!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Vou a todo tipo de cinema, em diferentes partes do mundo.  É meu vício.  E devo te dizer que nas minhas favoritas sim, entendem e muito, mas constato cada vez mais que redes de cinema e algumas salas tem como prioridade muitas outras coisas e não o entender o cinema e seu cliente. Vivemos num universo de imposição de programação por interesses econômicos das 'Maiors", por isso valorizar as salas rebeldes e corajosas que dão alternativas.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não imagino o mundo sem cinemas.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Vou indicar alguns que estão em plataformas, dois colombianos que admiro muito, Jardin de Amapolas e Perro come Perro.

Tem um filme que curto muito chamado El Espanto (Argentino) e Matar un Muerto (Paraguaio)

Cinéfilo sempre quer compartilhar pérolas, e amo cinema Latino.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Espanha abriu com nível de ocupação de 10% por exemplo. Sou a favor do Livre arbítrio, na consciência social.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro é melhor do que ele mesmo acha que é. Só precisa dialogar mais com o mercado internacional, inclusive para sua legitimidade nacional, como vem sendo nos últimos anos. Sou fã deste cinema e acredito no seu potencial.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

É ampla esta pergunta. Qualquer filme com Fernanda Montenegro. Admiro e desejo algum dia trabalhar com ela.

Enquanto a diretores... posso me encrencar nesta resposta, mas gosto muito de Karim, Beto Brand, Bodanski, Furtado, Nascimento, Padilha, sinto muita falta do cinema do Meirelles, são tantos e tão diversos. 

 

12) Defina cinema com uma frase:

Plenitude.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Na minha adolescência ia sempre a filmes e sessões em horários onde normalmente estava sozinho. É meu barato, primeira sessão e o cinema para mim. Mas no cinema já vi desmaios ( Cisne Negro)... sim... isso foi notícia nacional e estava aí. Já vi todo o cinema chorar ao ponto de não conseguir escutar o filme (Titanic), já vi sair gritando (La Mosca), já gritei e participei do filme (Jumanji, primeira versão), vi dormir e roncar a vários (Samsara... filme que eu curto muito). Mas principalmente no cinema tenho visto sorrir, se divertir e emocionar tantas vezes ao meu filho junto que acho que é essa a melhor que tenho experimentado.

 

O próximo trabalho no cinema de Zapata será como diretor do filme Uma Vez em Veneza, todo rodado na Itália, o longa-metragem fala sobre dois estrangeiros com visões distintas sobre o amor. O lançamento comercial está previsto para o início de 2021.


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31/07/2020

Crítica do filme: 'Magnatas do Crime'

No final do jogo, ganha que é o mais esperto. Escrito e dirigido pelo ótimo cineasta britânico Guy Ritchie, The Gentlemen, no original, é um filme de ação com sátiras ao planeta, às organizações administrativas e podemos fisgar também uma singela homenagem aos saudosos filmes de gângsters de décadas passadas. Contando através de uma cronologia louca seu desenrolar, o projeto vai caindo no gosto cinéfilo aos poucos chegando a um desfecho para lá de convincente. O elenco está ótimo, com destaques para: Matthew McConaughey, Charlie Hunnam, High Grant e Michelle Dockery.

Orçado em um pouco mais de 20 milhões de dólares, o filme conta a história de Michael Pearson (Matthew McConaughey) um engenhoso plantador e traficante de maconha milionário que resolve se aposentar dos negócios e deseja vender todo o império que construiu. Para isso faz uma oferta para um outro bandido, Matthew (Jeremy Strong). Só que a chegada de um outro personagem que está interessado no império de Michael mudará os rumos dessas história.

Sob a ótica de Fletcher (personagem caricato e ótimo de Hugh Grant) enxergamos a visão da malandragem, da espionagem quase amadora mas que acaba sendo peça importante para toda a trama pois conseguimos navegar nas razões e consequências dos personagens. Falando nisso, esse é um filme de personagens fortes. O hilário Coach, interpretado por Colin Farrell tem ótimas tiradas. Ray (Charlie Hunnam), o fiel guarda-costas e braço direito de Michael é uma mistura de vários homens de confiança de filmes de outrora.

O vai e vem do roteiro balança mais não cai, deixa o filme redondinho nos instantes finais das conclusões sendo bom destaque. Talvez se o filme fosse contado de outra forma, não seria tão divertido.


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30/07/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #1 - Hsu Chien

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi, eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Para iniciar essa coluna que vai ter espaço semanal nesse espaço cinéfilo, entrevisto abaixo um dos mais cinéfilos cariocas, Hsu Chien. O mais taiwanês dos brasileiros, formado em uma das melhores faculdades de Cinema do Brasil, a UFF de Niterói, é um dos mais requisitados assistentes de direção do mercado audiovisual brasileiro (tem ficha extensa no IMDB), ramo esse que atua desde a década de 90, tendo no currículo cerca de 50 filmes de longa-metragem, fora os excelentes curtas que realizou. Ele respira cinema como poucos. Figurinha carimbada no Festival do RJ e seguido por uma legião de cinéfilos desde os tempos distantes do Orkut, Hsu tem mais de meio século de histórias nesse mundo mágico do cinema.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Vario entre o circuito Estação e o Itaú, ambos em Botafogo, berços da cinefilia carioca. Ambos têm programação que mescla filmes de arte com filmes de circuito, são bem localizados, perto de metrô, com bom atendimento e promoção durante o início da semana. E também porque é point certo para encontrar amigos cinéfilos, além de terem livraria para passar o tempo e esperar o filme começar.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Os Saltimbancos trapalhões. O filme fala sobre magia, lúdico, sonhos e ambições para se tornar um artista. Fala sobre cinema, Hollywood, ou seja, para mim que sempre quis trabalhar com cinema, o filme foi o ideal para alimentar esse desejo por querer ver e contar histórias para o público.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Woody Allen. "Manhattan"

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Céu de Suely. O filme é um assombro de bom: primeira vez que vi Hermila Guedes, essa atriz extraordinária, dominar as telas em um filme baseado em história real sobre uma personagem que busca sua felicidade, mesmo não sabendo aonde encontrá-la. Um filme que fala sobre amor, desamor, frustração, sonhos roubados, com lindas cenas de sexo e um drama visceral. Jamais esqueci o embate entre Suely e sua avó, que bate nela para valer. A fotografia de Walter Carvalho e a trilha sonora são inesquecíveis.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É estar vivo. Não consigo passar um dia sem ver um filme, é o que me alimenta. Sou Cinéfilo que assiste de tudo, de A a Z, sem restrições, sem preconceitos.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Depende do que você chama de "entender de cinema". O cinema atinge qualquer classe social, qualquer faixa etária, qualquer escolaridade. Cada um tem os seus gêneros preferidos, mas a função social do cinema, a principal, é entreter. E isso sim, atinge.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nunca, jamais. É o segundo lar de todos os cinéfilos raiz.  O ritual de ir ao cinema, estar na sala escura e compartilhar emoção com outras pessoas, é insubstituível.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Rei de King Island. Um filme para rir, se emocionar, chorar e conhecer o trabalho desse ator jovem fenomenal, Peter Davidson.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Essa pergunta é pegadinha. Para mim que não vivo sem uma sala de cinema e não vejo a hora de estar em uma, sim, quero ir, nem que seja com máscara, luvas, o que for. Sei que existem pessoas de grupo de risco que infelizmente não podem, mas eu moro sozinho então sou eu comigo mesmo.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Brilhante, tem filme para todos os gostos e gêneros com perfeição técnica. O que tem que parar, são os chatos de plantão que insistem em detonar o filme popular. Tem que aceitar que o filme popular tem público, então esse filme não é para você. Parem de reclamar e agradeçam que o filme rendeu trabalho para centenas de profissionais e faz muita gente se divertir. Parem de elitizar a arte, achando que tudo tem que ser para um público seleto e distinto.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Karin Ainouz.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Duas horas para esquecer que o mundo lá fora tá chato demais.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema

Uma vez, durante uma sessão lotada do Festival do Rio, eu segurei a cadeira ao lado da minha com minha mochila enquanto minha amiga Kathia Pompeu estava no banheiro. Chegou uma pessoa, parou do meu lado, pegou minha mochila e jogou longe, gritando que não podia segurar lugar. Fiquei tão pasmo que nem reagi.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Tenho o Dvd e o Vhs. Não preciso dizer mais nada.

 

Um dos próximos trabalhos que Hsu Chien participou, Veneza (de Miguel Falabella), no qual foi co-diretor, deve estrear logo após o reestabelecimento completo das salas de cinema, muito provavelmente no ano que vem.


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Crítica do filme: 'Deus é mulher e seu nome é Petúnia'

A força de uma mulher. Dirigido pela cineasta Teona Strugar Mitevska e exibido no Festival de Berlim do ano passado, Deus é mulher e seu nome é Petúnia é uma peculiar história de uma jovem um pouco perdida no que vai fazer de sua vida profissional que acaba, no impulso, sendo jogada em um grande debate sobre tradições e machismo na comunidade onde vive. O filme, que desembarcou no Brasil no final do ano passado, é um bom retrato sobre a cultura que pouco conhecemos, ainda de pensamentos antigos, da Macedônia (mais precisamente a do Norte), além de validar a força feminina para quebrar preconceitos que já nunca deveriam existir.  

Na trama, acompanhamos a história de Petunia (Zorica Nusheva), uma jovem perto de trinta e poucos anos que do dia pra noite vira notícia na cidadezinha que mora. Formada em história mas atualmente desempregada, a personagem principal, possui uma relação bastante conturbada com a mãe mas um apoio incondicional do pai. Todo ano, em uma cerimônia religiosa liderada pelo padre local, esse mesmo joga uma cruz num rio para que homens busquem por ela pois ela dará sorte pro ano todo. Dessa vez, Petúnia entra na água quase imperceptível e consegue ser a primeira a encontra a cruz. Mas os participantes e o padre local não aceitam sua vitória e assim se inicia um conflito que mexe com a polícia da cidade, uma jornalista e tradições machistas.

Na sala de interrogatório, onde parte do clímax do filme se passa, vemos toda uma exposição de constrangimento perante a jovem do comandante da polícia que não sabe o que fazer com a situação pois além de saber que Petúnia não fez nada, não quer ficar mal com a ‘autoridade da igreja’. Há uma exposição do machismo constante em grandes parte das linhas do roteiro assinado por Elma Tataragić. Que não só se mostra no epicentro da trama, mas já na entrevista constrangedora de emprego que a protagonista vai, sendo praticamente humilhada por um homem sem caráter nenhum que a denigre com violência verbal e física.

O papel da imprensa é colocado de maneira meio espalhafatosa na ambígua personagem Slavica (Labina Mitevska), nunca sabemos se ela quer a polêmica para dar audiência ou se realmente ela quer ajudar Petúnia com os absurdos que passa. Gospod postoi, imeto i' e Petrunija, no original, busca também falar muito sobre o desemprego mas a profundidade não é desenvolvida.


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