18/03/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #321 - Rafael Mendes


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Campinas (São Paulo). Rafael Mendes tem 31 anos, é criador da página @cinemainerente no Instagram.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Kinoplex sala 7 (Parque Dom Pedro shopping).

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O Rei Leão em 1994 (por incrível que pareça dormi nos trailer e só acordei nas cenas pós crédito) não me perdoo desde então.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Gosto de Kubrick.... Mas vou de Peter Jackson em Senhor dos anéis o retorno do rei.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Vou de O Auto da Compadecida pelos personagens pelo que repele da cultura brasileira.. E pelo drama e comédia que carrega (central do Brasil e ótimo mas já está bem batido).

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinéfilo é atravessar a linha atemporal em cada frame... Cena ou época que cada filme nos leva... Relembra a primeira vez que viu algo inédito com alguém querido ao lado ou se motivou algo em você que se não fosse um filme você provavelmente não faria ou não teria o senso de atitude de despertar.. Cinéfilo é ver... Ser e rever.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que não. Não tive este pensamento antes. Mas é mais por bilheteria... O que o filme se vende antes alavanca mais salas para tal Oferta e demanda apenas.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

As salas de cinema só vão acabar quando pessoas não quiserem mais se entrosar com pessoas do seu mesmo gosto de hobbie...

Ajudaria se os custos de pipoca e entrada não se auto glamuras em tanto. Cinema é fruto do meio.. E nós (a maioria proletariada do país) somos o meio.

Nosso entretenimento mor é TV... Futebol, cerveja, cinema e música.

Tirar um deles ou o cinema em questão é deixar a nossa mente e percepção de raciocínio no retrocesso.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A Escolha de Sofia... Demorei tanto pra assistir.. Que papel favorável a Streep.. E Piaf- Um Hino ao amor com Marion Cotillard. Sensacional e verossímil.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

As igrejas abrirem e as salas de cinema não é algo realmente descomunal. Entendo que a religião é um pilar forte e já enraizado na sociedade. Mas o cinema é muito mais organizado que a outra. Mas para não pesar pra um e outro, deveriam abrir após a luz no fim do túnel com vacinas distribuídas e a neura social já anulada.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Cinema nacional e ótimo. Se você garimpar bem vai encontrar bastante títulos bons no main stream. O cinema nacional na maioria das vezes é derivado da TV nacional. TV nacional dificilmente tem algo atrativo. Então....

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Matheus Nachtergaele...(ja viu tapete vermelho??).. esse cara é muito bom.. Pode ser até caricato em alguns filmes mas ele deixa sua persona em cada personagem.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Agora, mais do que nunca precisamos de falar uns aos outros, para ouvir uns aos outros e entender como vemos o mundo, e cinema é o melhor meio para fazer isso. Scorsese

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Tínhamos uma mania quando jovem de ver filmes gratuitos no cinema (eu tinha 15 anos... Não era igual mas anti ético kkk). Assistia os filmes (até 3 se eu fosse um mestre na arte do golpe) e ainda por cima resgatava os valores de volta, e um truque milenar kkk se quiserem saber mais vão tem que seguir minha página e comentar.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Um Marco... um filme meramente importante para denominar o que é filme e o que é trash freak.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Tarantino é um dos maiores cinéfilos existente nesse mundo. É necessário mas não é essencial. Se o cara domina a técnica e nos expressa a mestria em qualquer longa é digno.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

A viagem é O Vingador do Futuro com Colin Farrell... Nesse dia eu saí da sala do cinema em 15 min (se saísse antes aproveitaria a promoção do Bobs).

 

17) Qual seu documentário preferido?

Adoro documentários. Jim e Andy é visceral e melancólico a ponto de você ver e analisar a grandiosidade de Jim Carrey como um ator em si. Robbie Williams também em contra partida e outro documentário para todo cinéfilo enaltecer ambos legados.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Recentemente em Coringa e Era uma vez em Hollywood.. Ahh e Rocketman. Em Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei também foi apoteótico. Me dá orgulho em pagar um ingresso pro cinema (mesmo que custe uma parcela do celta kkk).

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

60 segundos. Os outros são o Nicolas Cage como memes (zangado... Com fome.... Feliz... Lunático).

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Adoro Cinema. Mas para ver resenhas tenho dois caras que acho excelentes:

1 Thiago do meus dois centavos... A forma expressiva é olhar dele como crítica em. Partes holísticas (noção técnica.. Moral.. Psico... e assim vai) e show de bola.

2 Raphael Santos. Arretado na maneira como expressa em tom poético sua visão ao cinema e atual quando fala de cultura pop.

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17/03/2021

11ª edição da Mostra Audiovisual de Petrópolis - de 19 a 28 de março


Entre os dias 19 a 28 de março, acontece a 11ª edição da Mostra Audiovisual de Petrópolis, realizada pelo Ensino Médio Integrado em Audiovisual do Colégio Dom Pedro II, Biruta Educação Audiovisual e a Reprodutora. A programação acontece de forma online e totalmente gratuita, por conta das restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus. A programação vai contar com mais de 40 atividades, entre oficinas, masterclasses, exibições de filmes nacionais e internacionais, produções juvenis e rodas de debate.


A programação será aberta com o filme Atravessa a Vida de João Jardim, que está disponível apenas pelo Globo Play e que na mostra estará disponível gratuitamente para todo Brasil, a partir das 12h do dia 19, no site da mostra.  De 15h às 17h acontece a segunda edição do fórum de educação e cinema, cujas inscrições serão abertas na próxima semana. Já às 19h30, o cineasta responsável pela produção que dá início ao evento, realiza uma roda de debate com alunos do EMI-AV.

Para informações sobre toda a programação, sinopses dos filmes e mais, acessem: https://mostrapetropolis.com.br/

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Crítica do filme: 'Palm Springs'


Uma grande e ilimitada sessão de terapia. Indicado a dois globos de ouro nesse ano, Palm Springs, dirigido pelo cineasta Max Barbakow e com roteiro assinado por Andy Siara, é uma comédia disfarçada, há um abalo emocional reflexivo para os personagens em constante loop. Melancólico até certo ponto, caminha nessa linha que flerta com o desesperante só que de maneira inteligente, com questões da ciência envolvida pela física, e com carismáticos personagens. A dupla Andy Samberg e Cristin Milioti mostra grande sintonia em cena. Grata surpresa.


Na trama, conhecemos Nyles (Andy Samberg) um convidado distante de uma festa de casamento em um lugar isolado que após entrar em uma caverna misteriosa, durante o casamento, acaba acordando no mesmo dia do casamento infinitamente. O filme começa já com ele desiludido e meio que desistindo de tentar algo pra mudar isso, mas tudo muda quando num desses cenários repetitivos ele acaba puxando Sarah (Cristin Milioti), a irmã da noiva, para o mesmo loop.


Aceitar o fato? Procurar sentido nas coisas? Há um choque entre os sentimentos dos dois personagens, muito porque Nyles já está acomodado naquela situação faz bastante tempo e Sarah, por conta de uma situação que vendo o filme vocês saberão, quer correr desse loop o mais rápido possível, lutando bravamente contra esse ‘poder’ inusitado. O interessante é que o ponto de interseção acaba sendo dois, dependendo do ponto de vista: a eterna arte de fugir da solidão e um intenso amor que surge entre os dois. Acompanhando o filme de qualquer uma dessas óticas, você vai se divertir.


O que você faria se pudesse fazer o que quiser sem consequências, pois, o dia seguinte seria o mesmo que hoje? Uma premissa maravilhosa para mentes criativas e Siara consegue com suas linhas de roteiro nos fazer rir, refletir sobre a vida e torcer constantemente para os personagens encontrem uma saída mas sem esquecer de um duelo quase vital nesse jogo do loop que se torna a batalha da ética interpessoal misturada com a índole, isso, contra a inconsequência.


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #320 - Jéssica Frazão


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Blumenau (Santa Catarina). Jéssica Frazão tem 31 anos é doutoranda em cinema pela ECA-USP, onde desenvolve pesquisa sobre o teórico alemão Siegfried Kracauer. Seu interesse pelo cinema começou em 2013, e desde então vem trabalhando com produção de curtas-metragens, crítica cinematográfica, debates, oficinas, palestras, e formações em cinema e audiovisual, em universidades e instituições culturais. É integrante do Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema (Elviras) e colunista cinematográfica no jornal da sua cidade, O Município Blumenau. É também idealizadora do projeto Das Kino (@daskinobrasil), página no Instagram voltada para divulgação cultural, formação de público e críticas de cinema.

 

1)Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

 

Na cidade que eu moro, Blumenau, infelizmente só temos cinemas comerciais em shoppings. O que é uma pena, visto que historicamente, Blumenau foi uma das primeiras cidades do país a promover exibições cinematográficas. Havia vários cinemas de rua e cine-clubes por aqui, que há tempos foram fechados. Hoje, as alternativas são o Cine Sesc, em parceria com a universidade, e o CineArte, vinculado à Secretaria de Cultura, ambos com ótima programação, ainda que funcionem em salas pequenas e tenham horários pouco chamativos para muitas pessoas.

 

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

 

Titanic! Eu tenho uma lembrança muito nítida de ter ido assistir Titanic no cinema várias vezes com a minha família, eu tinha 8 anos. Lembro das filas gigantescas para as sessões, das pessoas se emocionando. O filme gerou em mim sensações muito fortes. Naquele momento, eu descobri o que o cinema é capaz.

 

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

 

Werner Herzog. Fitzcarraldo.

 

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

 

O Pagador de Promessas. Esse filme fala tanto de Brasil, fala de hipocrisia e intolerância religiosa de uma maneira tão realista, e ali tudo funciona muito bem, atuação, roteiro, montagem, direção. Outro que poderia citar é Iracema - uma transa amazônica, esse também me marcou muito.

 

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

 

Percebo que o termo "cinéfilo" é utilizado hoje em dia de forma muito aleatória. Muita gente acha que para ser cinéfilo, basta gostar de assistir filmes, e se fosse simples assim, a maioria das pessoas seriam cinéfilas. A Netflix tá aí para provar como as pessoas gostam de assistir filmes. A meu ver, a cinefilia é muito mais que isso. A pessoa cinéfila tem uma forte e sensível conexão com o cinema. Ela não se contenta apenas em ver os filmes, ela precisa rever, reviver um diálogo, ler críticas, entrevistas, artigos, conhecer o contexto, revisitar um momento, descobrir conexões, ampliar o olhar, buscar por referências para além do mainstream, o(a) cinéfilo(a) é uma pessoa ativa, sempre se coloca diante do filme na sua experiência fílmica. Ou seja, você simplesmente quer assistir e conhecer bons filmes porque você ama o cinema. O cinema é o seu mundo e sobre o mundo.

 

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

 

Não saberia te afirmar se a programação é pensada por quem entende ou não de cinema. O que me parece claro é que, no geral, o lucro vem em primeiro lugar para os donos dos cinemas comerciais, pouco importando a qualidade e diversidade do que é exibido.

 

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

 

Não vão. As crises no cinema não é uma novidade. O streaming e a pandemia são só mais uma questão que as salas de cinema estão tendo que lidar. Quando tivemos o advento do som sincronizado, no final da década de 1920, houve crise. “O som aniquila a grande beleza do silêncio”, dizia Charles Chaplin, bastante relutante à novidade. Quando surgiu a TV aberta, houve crise. Então as salas seguiram firmes e as salas vão continuar, mas estarão sempre se reinventando, se adaptando. Pra quem tiver interesse, escrevi sobre isso na coluna que tenho no jornal:https://omunicipioblumenau.com.br/das-kino-filmes-lancados-diretamente-em-streaming-pandemia-decretou-o-fim-cinema/ .

 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

 

Indico não só um filme mas a trilogia inteira do diretor da Ceilândia Adirley Queirós: A cidade é uma só? (2011), Branco sai, preto fica (2014) e Era uma vez Brasília (2017).

 

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

 

Não deveriam. Ainda que eu entenda como é complicada essa questão, porque envolve o salário de várias pessoas, um local fechado, sem janelas, com ar-condicionado de forma alguma é um local seguro. Caberia ao governo cuidar dos trabalhadores, para que consigam ficar em casa enquanto não houver vacina para todos.

 

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

 

Infelizmente, muita gente acha, ainda hoje, que cinema brasileiro se resume a sexo, violência e comédias de mau gosto. Um desamor que tem inclusive explicações históricas. Quem pensa isso, não conhece cinema brasileiro. O cinema brasileiro é amplamente reconhecido e admirado, e os brasileiros deveriam parar com o vira-latismo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

 

Não perco de muitos, como Affonso Uchoa, Lúcia Murat, Anna muylaert, Adirley Queirós, Kleber Mendonça Filho, Juliana Rojas, Karim Aïnouz.

 

 

12) Defina cinema com uma frase:

 

Alimento para a alma.

 

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

 

Eu fui assistir A Vida Invisível, do Karim Aïnouz, e a energia do shopping ACABOU no meio do filme. Não entendi bem o motivo, sei que os shoppings costumam ter geradores, mas eu fui felizarda de ver isso acontecer comigo. Ficamos todos da sala papeando sobre o que tínhamos assistido até ali, até a energia voltar. Eu não ia embora sem terminar de ver o filme hahaha.

 

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

 

Ainda não vi.

 

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

 

Não acho que precise, mas praticar a cinefilia pode ajudar a compreender o próprio cinema que se quer fazer, é maravilhoso aprender com bons filmes.

 

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

 

Vários com o Adam Sandler.

 

 

17) Qual seu documentário preferido?

 

Edifício Master, do Eduardo Coutinho.

 

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

 

Já fiz isso algumas vezes. A última vez foi para Bacurau.

 

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

 

Adaptação.

 

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

 

Geralmente acompanho a Zagaia em Revista, a Cinética e o Feito por Elas, mas o próprio Letterboxd é um ótimo site para ler críticas que utilizo.

 

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #319 - Julio Alfradique


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Niterói (Rio de Janeiro). Julio Alfradique tem 50 anos, possui a formação em Comunicação e Arte Cênicas. O gosto pelo cinema já nasceu com ele, só foi ampliando com a idade.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

A sala do Cinema no Centro de Artes UFF.  A programação é diversificada, democrática e te faz pensar.  Niterói já foi uma cidade com cinemas maravilhosos, mas infelizmente só restaram a UFF o Reserva Cultural Niterói que também tem uma programação interessante.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Foi o Superman de 1978. RsRsRs. Eu pensei: caramba!!! Tudo isso numa tela gigante!!

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não tenho um diretor favorito, gosto de vários e de épocas diferentes. Clint Eastwood, Tarantino, Polanski, Aronofsky, Kleber Mendonça, Kurosawa, Zhang Yimou, Spike Lee, Hitchcock.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Vou citar o último que assisti. Sertânia de Geraldo Sarno. Fiquei impressionado com o roteiro e com o resgate técnico de uma fase inquietante do cinema brasileiro - O Cinema Novo. Uma direção com vitalidade e inteligência de um cineasta com mais de 80 anos. Isso é uma benção e desejo que todos alcancem essa maturidade profissional que tem a maturidade pessoal como base.  

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinéfilo é ir ao cinema e ver a vida na tela e quando sai à rua ver a vida de forma cinematográfica.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Temos muitas salas que prezam somente o lucro fácil. O funcionário está lá com a intenção de administrar a bilheteria, para várias empresas não precisa ter funcionário que entenda de cinema - a programação vem de cima. Claro que nem todo mundo (público) entende de cinema e não acho que devemos ter filmes somente para intelectuais e afins. Gosto da liberdade de expressão, gosto da diversidade e gosto do respeito ao gosto do outro. Não temos que ter somente filmes "comerciais" ou filmes "cabeça". O problema é que vejo salas tão limitadas na programação que emburrece o público. Muita gente não sabe que existe cinema latino, asiático, europeu, independente, curtametragem, animação ou documentário. 

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acabar não, mas já diminuíram muito e todos sabem disso. A questão do homevideo deu uma queda nas salas nas décadas passadas, agora com a pandemia e o sistema de streaming tivemos um jeito mais amplo de conseguir assistir a filmes e isso também põe em cheque as salas, mas acredito que o público voltará a frequentar cinema, eu com certeza vou fazer isso.  Não troco a telona por uma tela de TV, por maior que seja ela. As salas precisam ser repensadas nas programações, no acolhimento do público, na oferta de promoções, na oferta de diversão agregada, na divulgação de eventos paralelos e ligados aos filmes. Acho que muita coisa nova deve surgir para socializar. Ninguém aguenta mais ficar só em casa. 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Retablo, do cineasta peruano Álvaro Delga-Aparicio.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. Local fechado é arriscado para qualquer tipo de doença contagiosa. Deve esperar um bom tempo para tudo ficar comprovadamente seguro. Ainda tem a questão do ar condicionado, mesmo distanciados ficamos respirando o mesmo ar. O Cinema Virtual é uma boa saída para não afundar as salas físicas de cinema. Vejo muito através dessa plataforma paga com ingresso normal.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Vejo o cinema brasileiro muito frágil no momento. Assisti a filmes excelentes como Sertânia, A Vida Invisível e Bacurau, mas acho pouca quantidade, devíamos ter muitas produções incentivadas e valorizadas. Sinto falta de movimentação no cinema brasileiro, de novos diretores surgindo, de novas ideias e de diversidade. Gosto de ver, de opinar, de discutir. Viva as produções. Não à censura!!!

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Não tenho somente um. Os atores Wagner Moura e Rodrigo Santoro e gosto do Selton Mello como diretor.

 

12) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.     

Foi engraçada e um pouco preocupante. Um grupo de adolescentes fazia uma zona em um filme que não era comédia. Eles foram ao cinema para isso, para zoar a projeção. O cara que estava sentado atrás se irritou e bateu nas costas das poltronas e aos gritos mandou calarem a boca. Todos ficaram em silêncio. Eu gostei e ao mesmo tempo fiquei com medo. Vai que esse cara é um psicopata e resolve atirar em todo mundo lá dentro??!! KKKKKKK 

 

13) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Não gosto.

 

14) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não. Precisa de sensibilidade e saber contar uma história.

 

15) Qual o pior filme que você viu na vida?

Mais uma vez vou dizer o último horroroso que vi, antes dele não me lembro de nada. Que bom que esqueci!!. Rs. Assisti pelo streaming Perseguidos e fiquei chocado e com vergonha pelo urso do filme e pelo contra-regra que a gente vê escondido na cena. Tudo horrível!!!!  

 

16) Qual seu documentário preferido?

Janela da Alma.

 

17) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Não. 

 

18) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu? 

Arizona Nunca Mais.

 

19) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Vejo muito o IMBD por causa das informações técnicas que preciso. 

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16/03/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #318 - Juliana Varella


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São Paulo. Juliana Varella tem 33 anos, é jornalista especializada em jornalismo cultural e pesquisadora na área de ficção científica. Escreve sobre filmes desde 2009, somando experiências nos portais Guia da Semana, Cineclick e Veja online, no canal de Youtube Fala, Cinéfilo!, além de algumas divertidas participações no podcast Tem um Tigre no Cinema. Atualmente, escreve no site Caderno Jota e participa do podcast Cinefilia & Companhia.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Gosto muito do Reserva Cultural, que é um cinema pequenininho, mas sempre muito preocupado em trazer aqueles “achados”, que não estão passando em nenhum outro lugar. O Espaço Itaú do shopping Frei Caneca também tem uma programação ótima, e é um dos cinemas que mais recebem as sessões da Mostra (Internacional de Cinema de SP), uma verdadeira tradição de todo cinéfilo paulistano!

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Estava pensando nisso esses dias: lembro do impacto que foi assistir a Matrix nos cinemas, quando eu tinha meus 11, 12 anos. Eu sei, é um filme mainstream, mas foi a primeira vez em que me senti verdadeiramente impactada, que saí do cinema questionando tudo à minha volta – minhas escolhas, minhas ideias, minha realidade. É claro que, na época, eu tinha uma visão muito mais literal das questões colocadas pelas Wachowski, mas lembro que foi como um despertar: para o poder do cinema em influenciar a moda, o comportamento, os assuntos discutidos em mesas de bar; e para o poder da ficção científica em colocar em diálogo ficção e filosofia. Hoje, o gênero virou meu tema de pesquisa no mestrado.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Nunca tive um filme nem diretor favorito, mas atualmente gosto muito do Damien Chazelle (La La Land é só amor) e do Denis Villeneuve (A Chegada é uma das melhores coisas que vi nos últimos anos). Também tenho um carinho especial pela obra mais inicial do Tim Burton.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Gostei demais de As Boas Maneiras. É um filme com um quê de fábula de horror que toca em questões sociais de um jeito muito delicado. Adoro essa tendência contemporânea de filmes e séries explorando o lado fantástico das crenças brasileiras com uma ambientação urbana e atual.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinema sempre foi uma coisa muito rotineira para mim: meus pais sempre tiveram o hábito de ir comigo e com meu irmão ao cinema, ou assistir a filmes em casa, todo mundo junto na sala na sexta-feira à noite, sabe? Então levei muito tempo para perceber o quanto aquilo era importante. E por muito tempo vi as pessoas à minha volta considerando “cinéfilo” só aquele que vê absolutamente TUDO, e que conhece todos os clássicos, diretores e movimentos  – em outras palavras, o cinéfilo acadêmico. Mas para mim não é isso: cinéfilo é alguém que enxerga no cinema (seja na tela grande, seja na televisão de casa) algo tão essencial quanto comer, dormir ou trabalhar. Alguém que vê um filme e sente a necessidade de digeri-lo: pensar sobre ele, escrever ou conversar, entender onde ele se encaixa na sua vida e no mundo; ou apenas sentir, e levar esse sentimento para o restante da vida.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

“Entender” de cinema é uma armadilha, né? Pois cinema pode ser arte, mas também é parte de uma indústria de entretenimento. Sempre foi. E acredito que a maior parte dos cinemas que existem hoje, que são grandes redes em shoppings, têm a programação feita por pessoas que entendem de números nessa indústria de entretenimento. Elas não veem os filmes por sua qualidade técnica, inovação ou relevância, mas pelo potencial comercial, e sua programação agrada a quem busca justamente esse lado do cinema – o espetáculo, as grandes estrelas, as franquias, o riso fácil, o alívio no fim do dia. Faz parte, né? O importante é ter espaço para todos os tipos.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Algum dia, tudo vai acabar… Rs brincadeira. Mas acho que pode acabar sim. Não porque o público não vai querer mais, mas porque o mercado vai decidir que isso não é tão lucrativo, como aconteceu com as locadoras e talvez aconteça com as livrarias. Espero que não? Espero que não! Mas vai ser preciso uma parceria inteligente – e não a briga que está acontecendo – entre os streamings e os cinemas para que um deles não morra.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Olha, eu adorei Poderia me perdoar?, da Marielle Heller. É um drama bem sarcástico inspirado na história real de uma escritora que, sem conseguir emplacar seus livros, começa a falsificar cartas de escritores famosos e vendê-las no mercado de luxo. Faz pensar muito no quanto valorizamos certas coisas mais pelo nome do que pelo conteúdo.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Eu pessoalmente não tive coragem de voltar às salas quando elas reabriram durante a pandemia, e estou arrasada por não poder ver Nomadland ou Bela Vingança, porque só estarão nos cinemas, mas entendo o perigo que não abrir representa para as salas neste momento. Talvez pudéssemos pensar em sessões ao ar livre, ou em parcerias entre as redes e algumas plataformas digitais para que a rotina de estreias não ficasse tão prejudicada. 

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Não posso falar tanto pelos lançamentos de 2020 para cá, porque fiquei um pouco por fora em razão da pandemia e do mestrado, mas acho que o cinema brasileiro anda numa fase muito boa, criativamente. Temos um novo horror muito interessante, um retorno às nossas raízes mais místicas misturadas a um suspense aprendido com o cinema internacional, e temos um humor mais ácido também… É como se a nossa veia política e documental estivesse se misturando a novas linguagens e gêneros, ampliando as possibilidades. Infelizmente, falta financiamento e incentivo, então são poucos títulos que conseguem o destaque de um Bacurau, por exemplo. Mas acho que teremos muita coisa boa chegando na forma de séries e minisséries. Não é bem cinema, mas vai ser importante para o nosso audiovisual.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Não sou das espectadoras mais fiéis, nunca acompanho a “filmografia inteira” de ninguém... Mas adoro os filmes do Marco Dutra, por exemplo.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Aí complicou, hein? rs  Vamos tentar:

 

Um mergulho num universo que não existe, mas que ganha vida dentro de uma tela iluminada no meio de uma sala escura.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Durante uma exibição para a imprensa de um filme da franquia Anjos da Noite, alguém fez um comentário bem alto sobre o cabelo de uma personagem, e isso quebrou totalmente o gelo. Daí em diante, essa virou uma sessão comentada, com risadas e reações coletivas como se estivéssemos numa sala de estar.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras…

Nunca vi, mas na minha cabeça ele é um meme em forma de filme.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Bom... É sempre melhor quando você tem amor pelo que faz, né? No cinema, às vezes o diretor é “apenas” o diretor, alguém que executa tecnicamente a visão do roteirista ou até do produtor, mas que não coloca muito de si no trabalho, nem questiona nada. O que é OK, para um filme sem grandes pretensões. Mas, quando o diretor é cinéfilo, ele vai trazer uma bagagem de referências que vão transformar o filme, e vão dar muito mais sustentação ao que está sendo dito e mostrado ali.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

A briga é feia. Só saí do cinema no meio de um filme em duas ocasiões: vendo Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola e Uma Ladra sem Limites. Mas, em casa, não consegui completar 5 minutos de Cats.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Sou fã de Ilha das Flores, do Jorge Furtado, mas, recentemente, adorei Espero Tua (Re)Volta, da Eliza Capai.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Já, em Star Wars: O Despertar da Força. Estava empolgada, fazia tempo que não via um Star Wars no cinema, sabe como é.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Adaptação, sem sombra de dúvida!

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Mais uma vez, não sou nada fiel, então vou listar um monte de coisas legais. Tem um quadro da Variety, por exemplo, que eu adoro, em que atores entrevistam atores! Chama Actors on Actors. Também dou sempre uma olhada no The Guardian, Indiewire, Entertainment Weekly, Collider, CinemaBlend, pra ter uma ideia das notícias mais hollywoodianas. Recentemente, tenho gostado do Filmmelier, ótimo pra descobrir onde está passando algum filme, e tenho acompanhado bastante no Instagram os perfis OQVer Cinema & Streaming, O Cara da Locadora e o Cinevitor, que me atualiza como ninguém sobre os festivais. Também adoro os vídeos da Barbara Demerov e da Flavia Guerra. No Facebook, o perfil do SuperCinema traz vídeos de bastidores mostrando como são feitas algumas filmagens bem complicadas, e é viciante. Também recomendo o Feito Por Elas, que é um podcast só sobre mulheres que fazem cinema. Ufa!

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #318 - Juliana Varella

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #317 - Donny Correia


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Donny Correia tem 40 anos, é mestre e doutor em Estética e História da Arte pela USP e crítico de arte e de cinema, membro da ABRACCINE e ABCA. Publica ensaios e resenhas em periódicos como O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e Cult. Também atua como professor de História e Linguagem do Cinema em instituições diversas. Publicou seis livros, entre eles Cinematographos de Guilherme de Almeida - antologia da crítica cinematográfica (Editora Unesp, 2016) e Cinefilia crônica - comentários sobre o filme de invenção (Editora Desconcertos, 2018).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Sempre gostei muito do Espaço Itaú Unibanco, desde quando ainda Espaço Banco Nacional, pela programação diversificada e fora do circuito estritamente comercial. Vi muitos filmes europeus, asiáticos etc. O Reserva Cultural também é uma boa pedida.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O gabinete do Dr. Caligari (1920).

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Walter Hugo Khouri; Noite vazia (1964).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

A idade da Terra, de Glauber Rocha. É um filme-tese, um anti-filme e um filme-síntese, tudo ao mesmo tempo, do cinema revolucionário e experimental. Uma ópera esquizofrênica que tenta dar conta da origem e do destino da humanidade por meio da religião e da política. O som do filme é um destaque à parte.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Cinefilia é uma diversão e uma responsabilidade. O cinéfilo não é aquele que gosta de ver filmes por lazer, apenas. Um cinéfilo mergulha na espinha dorsal do cinema para desvendar aquilo que está por trás de uma obra fílmica. O cinéfilo também é um privilegiado, que nasceu com a curiosidade aumentada e a sensibilidade aflorada no máximo grau, para a fruição estética.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feita por pessoas que entendem de cinema?

Os cinemas atendem as demandas do mercado exibidor. Não se trata de programar coisas boas ou ruins, ou de entender o cinema. Os distribuidores têm suas prerrogativas e o cinema é apenas a última parte da esteira da produção de um filme.

 

Agora, se formos falar de mostras específicas ou cineclubes, aí sim, o papel do curador é crucial. Não é possível programar algo construtivo sem o mínimo conhecimento do assunto. Normalmente, pelo que vejo, nesses casos a curadoria parece conhecer bem o assunto.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Creio que não, mas se tornarão, cada vez mais, espaços dedicados aos cinéfilos e entusiastas de um tempo em que as salas de cinema e as videolocadoras eram os únicos meios de se ter acesso a obras mais específicas.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A Serbian Film.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Há ótimos filmes produzidos nos últimos 10 anos, de maneira muitas vezes independentes e feitos com muita paixão, em primeiro lugar. O problema é o interesse do distribuidor em colocar um filme brasileiro em cartaz, quando há uma chuva de produções megalomaníacas americanas, que arrestam todo o circuito.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Kléber Mendonça Filho.

 

12) Defina cinema com uma frase:

A Vida (com V maiúsculo mesmo) dentro da vida (com v minúsculo mesmo).

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Fui assistir ao A idade da Terra numa Mostra, em 2007. Ao final, dois desconhecidos, na fileira atrás de mim, começaram a bater boca por causa do Glauber Rocha! Pasmem!! Até que um deles se levantou e berrou “RESPEITA O GLAUBER!” e pulou em cima do outro já distribuindo socos. Jamais imaginei ver uma discussão sobre um cineasta terminar em pancadaria e dentro do cinema!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Uma pérola! É o "Plan 9 from outer space" ou o "The Room" do Brasil. Tão ruim, que se torna delicioso de se ver.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Vocês acham possível que um psicanalista possa atender clientes sem gostar de Freud, Jung e Lacan? Ou, poderia um arquiteto fazer um trabalho original e inteligente sem conhecer Niemeyer ou Le Corbusier, por exemplo?

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Qualquer coisa do Godard, menos Alphaville. Também tem o Robocop, do Padilha, que destruiu um herói da minha infância.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Arquitetura da destruição, de Peter Cohen.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim! Muitas vezes. Desde que vi Batman, do Tim Burton, aos 9 anos.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

O que ele ainda não fez. Mas, vá lá, O senhor das armas é bacana!

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Cinemascope, até porque sou da equipe. Papo de cinema é também um ótimo site.

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15/03/2021

Podcast #3 - Guia do Cinéfilo - 15.03.2021


Olá! Nesse terceiro episódio do podcast Guia do Cinéfilo, falamos sobre:

- Filmes que vi na semana (Banklady, Loucura de Amor, Açucena, Palm Springs)


- O que achei das indicações ao Oscar 2021


- Programa Guia do Cinéfilo da Semana


- Programa 8 e 1/2 em 20 da Semana


Até 2a que vem!


Viva o cinema!


 

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #316 - Ana Johann


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Curitiba (Paraná). Ana Johann tem 41 anos, é roteirista e diretora, tem especialização em documentário pela Universidade de Barcelona e é Mestra em Comunicação e Linguagem. Um Filme para Dirceu (2012), seu primeiro longa-metragem documental foi prêmio especial de júri no 45° Festival de Brasília de Cinema Brasileiro.  Notícias da Rainha (2013) ganhou o prêmio de melhor filme no FENcine, festival de diretoras mulheres do Chile. A mesma parte de um Homem (2021), seu primeiro longa de ficção estreou na Mostra Aurora do 24° Festival de Tiradentes e ela recebeu o prêmio destaque feminino Helena Ignez.  Com o roteiro do longa Terrestre foi selecionada para o Laboratório internacional da Fundacion Carolina. É professora de roteiro desde 2013 em diversas instituições. Para saber mais consulte www.anajohann.com.br

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Meu cinema preferido é o Cine Passeio que foi inaugurado há poucos anos na Rua Riachuelo. Ele tem salas menores e fica na rua, tem café e espaço para conversar, encontrar amigos, além de uma excelente programação de filmes.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu nasci e vivi na vila rural até meus quinze anos e fui pela primeira vez ver um filme no cinema aos dezessete. Me lembro muito bem porque me marcou. Vi Guerra dos Canudos de Sérgio Rezende e como tinha apenas visto filmes pela televisão, comecei a observar aonde terminava uma cena e começava outra, o corte. Depois um filme que me marcou na sequência foi Paris Texas, de Win Wenders.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não é uma pergunta fácil porque tem vários, mas vamos lá. A minha diretora preferida é a Andrea Arnold com o filme Fish Tank.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Durval Discos, de Anna Mulayert. Esse filme pra mim é uma potência de história, de estudo de seres e das relações assim como a poética que ela desenvolve em torno do cavalo.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é se encantar pelo modo como o cinema pode ser um extrato de mundo e das relações.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Eu imagino que sim, seja uma programação mais voltada para o entretenimento ou para o cinema autoral, os programadores sabem o que estão fazendo.

 

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Eu acredito que as coisas não acabam, elas se transformam, passam por revisão. Acredito que vai ficar cada vez mais restrito, mas o cinema sempre será um lugar especial de experiência muito diferente de ver um filme no computador, no celular ou na televisão.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Lazzaro Felice, de Alice Rohwacher, inclusive disponível no Netflix.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Nos vínhamos em uma ascendência com políticas de desenvolvimento tanto para roteiro quanto para outros setores no cinema autoral e de entretenimento. Mas no momento muitas ações em andamento foram interrompidas de forma deliberada pelo governo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Ana Mulayert, Jorge Furtado, Karim Ainouz, Renata Pinheiro.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é um lugar de síntese e experiência do humano.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Infelizmente não me aconteceu nenhuma história inusitada dentro do cinema.

 

14) Defina ‘Cinderela Baiana’ em poucas palavras...

Passo essa pergunta.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo? 

Precisa gostar de ver filmes, de sentir o mundo desta forma.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida? 

Muitos.

 

17) Qual seu documentário preferido? 

Camelos também choram.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?   

Já. Em festival de cinema isso acontece muito.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu? 

Adaptação de Charlie Kaufman.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Não tenho um em específico.

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Crítica do filme: 'Banklady'


Quando a adrenalina e o prazer acionam um gatilho em forma de transtorno de personalidade. Dirigido pelo cineasta alemão Christian Alvart, em Banklady voltamos para meados da década de 60, em Hamburgo na Alemanha onde uma mulher trabalhadora dentro de uma rotina monótona vira a primeira mulher assaltante de banco da Alemanha. O filme tem vários caminhos interessantes, desde a conturbada linha do bandido carismático, o foco da mídia, até uma psicologia complicada, desiludida no amor. A protagonista, interpretada pela ótima atriz Nadeshda Brennicke, parece viver em outro compasso do que a realidade que a cerca. Interessantíssimo filme alemão.


Na trama, conhecemos Gisela Werler (Nadeshda Brennicke), uma batalhadora que trabalha em uma fábrica de impressão e vive, além de sustentar, os pais já bem idosos. Sem propósitos na vida, vivendo uma solidão evidente desencontrada com seus sonhos de ser popular, ou mesmo, ter a mesma vida das modelos de revistas que sempre observa, a protagonista conhece Hermann (Charly Hübner), um ladrão de bancos que após algumas situações resolve desafiar Gisela para um assalto a banco. A partir desse ponto, a vida de Gisela muda e ela se torna impulsiva e imprevisível. Dentro de um universo machista, acaba sendo elemento surpresa durante um bom tempo.


Quando se impor as inconsequências que chegam em nossos caminhos? A transformação da personagem principal é algo bem notório. Quando vira uma assumida ladra de bancos, divide seu tempo em manter um emprego que já não precisa mais, entrar em conflito com os sentimentos que nutre quase obsessivamente por Hermann e planos cada vez mais audaciosos no seu rentável trabalho criminoso. Além disso, muda a atitude, ganha ares de preocupação com a vaidade principalmente quando percebemos que seus troféus são capas das revistas, quando vira quase uma figura carismática na mídia fervorosa da época.


O filme é dividido em arcos explosivos, tensos com um quê de insensatez psicológica. A chegada da investigação policial quando os crimes se tornam assuntos nacionais fazem o confuso e inexperiente Kommissar Fischer (Ken Duken), responsável pela investigação dos bancos roubados, um grande achado para o roteiro.


Quais os limites da razão e da emoção? Passando por cima dessa pergunta, a protagonista tem sonhos simples com obsessões sendo nutridas dentro dos seus diários choques com o perigoso jogo que sustenta seu ego.

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