O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte
tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para
emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo
através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que
ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações
engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através
da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de
que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo
cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São Paulo. Bia Amorim tem 22 anos, está no último
semestre do curso de cinema da FAAP, SP. Trabalha com edição de vídeos, mas seu
coração é da direção de arte. Se você a encontrar de bobeira por aí, grandes
chances dela estar falando sobre o Glauber
Rocha ou o Ari Aster.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Gosto bastante das salas do Itaú Cultural, tanto Pompeia e Frei Caneca que oferecem uma
programação mista de filmes independentes e blockbusters quanto o da Augusta
que tem como foco principal o cinema independente. Por conta da proximidade da
minha casa acabo frequentando mais o Cinemark
do Pátio Higienópolis, que também oferece uma programação interessante com filmes
legendados e não tantas salas com blockbusters.
2) Qual o primeiro filme
que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Acredito que tenha sido Kill
Bill, esse foi um filme que mudou completamente minha relação com cinema e
naquele dia eu sabia que eu queria conhecer mais desse universo que oferece
tantas possibilidades de expressão. Foi depois de assistir a esse filme que
tomei a decisão de cursar a faculdade de cinema e até hoje ainda é um dos meus
filmes favoritos.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Atualmente eu diria Ari
Aster. Sempre gostei muito de filmes de terror e estou sempre em busca de
bons filmes e diretores de terror, já que os blockbusters de terror insistem em
uma fórmula que não funciona mais, roteiros previsíveis e técnicas muito
gastas. Entretanto, Ari Aster mostrou que é possível inovar o terror, fazer
terror contemporâneo e quebrar os moldes tradicionais de jumpscares, monstros,
possessões e afins. Meu filme favorito dele, que é também o meu filme favorito
no geral, é Midsommar, considero um
dos melhores filmes já feitos.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Essa é sempre uma pergunta difícil, eu gosto muito de Vidas Secas de Nelson Pereira dos Santos e de Terra
em Transe de Glauber Rocha, sou
apaixonada em estudar o período do Cinema Novo. Mas eu diria que meu filme
nacional favorito é a versão de 2011 de A
Hora e a Vez de Augusto Matraga, que foi, junto com Kill Bill, um dos filmes que me deram o brilho nos olhos para fazer
cinema. Guimarães Rosa era meu escritor favorito no período da escola e em
especial o conto de Augusto Matraga, e quando vi aquela adaptação tão linda e
que conseguiu trazer com tanta força a emoção do texto de Guimarães Rosa eu fiquei absolutamente encantada e queria poder
fazer algo como aquilo.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Acho que ser cinéfilo é ter um interesse em cinema no geral.
Acho que muitas vezes definimos o cinéfilo como aquele que assiste 3 filmes por
dia todos os dias da semana, mas não acho que se limite a esse caso,
principalmente nos dias de hoje em que muitas vezes é difícil encontrar um
momento do dia, um tempo livre para sentar e assistir a um filme sem interrupções.
Mas acredito que o cinéfilo seja essa pessoa que tem com o cinema uma relação
especial, tanto num sentido afetivo mesmo, de usar o cinema como um momento de
lazer, de descanso, de diversão enfim, como também uma relação de estudos, que
é um pouco mais o meu caso. Querer pensar o cinema, escrever sobre cinema, ensinar
sobre cinema, tudo isso faz parte de ser cinéfilo que vai além do somente
assistir.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Bom, no caso do Itaú Cultural eu posso dizer com certeza que
é programado por alguém que entende bastante de cinema, pois o programador Humberto Neiva é meu professor e
coordenador. Agora, nos casos de redes maiores como a Cinemark e a Cinépolis,
eu diria que eles entendem sim de cinema, mas o foco deles está mais em um
estudo de público que vai lhes gerar maior renda do que de fato trazer filmes
que estejam circulando em festivais, que sejam destaque em outros países. O
objetivo é o lucro, é ter as salas cheias e para isso é necessário apostar em
blockbusters.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Eu acredito, ou pelo menos gosto de acreditar, que não. É
evidente que a pandemia e os streamings trazem uma onda de mudanças para todos
os segmentos do audiovisual que é irreversível, essas plataformas oferecem uma comodidade
que tem muitas vantagens em relação à sala de cinema, mas eu acredito que as
salas de cinema conseguem competir com os streamings justamente por serem duas
formas muito diferentes de se consumir o audiovisual. Os streamings têm uma
significativa importância, mas acredito que as pessoas que tinham o costume de
ir regularmente ao cinema não abandonarão esse hábito, principalmente em uma
grande cidade como São Paulo, em que o cinema sempre foi uma das maiores formas
de entretenimento.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
O filme Blanco de
Verano (2020), filme mexicano dirigido por Rodrigo Ruiz Patterson que esteve na última mostra internacional de
cinema.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não. Apesar do fechamento das salas impactarem em todo o
cinema, mas principalmente nos setores de distribuição e exibição, acredito que
as salas de cinema, fechadas, com ar-condicionado, onde ficamos sentados junto
de outras pessoas geralmente por duas horas ou mais, pode ser um ambiente de
contágio que não se enquadra nos serviços essenciais e que não deve ser visto
como uma prioridade para reabrir. A situação da pandemia no Brasil é
especialmente delicada e é preciso evitar ao máximo o contágio em ambientes não
essenciais.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
O cinema brasileiro atual conta com muitos bons
profissionais em todas as áreas e estão surgindo muitos cursos de formação,
temos bons festivais também, mas infelizmente temos um governo que vai contra
tudo isso. Acredito que com um governo que incentive a produção cultural o Brasil
tem muito potencial para ter um dos melhores cinemas do mundo.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Apesar de ser uma resposta clichê, vou de Kleber Mendonça Filho, gosto muito de
todos os seus filmes, principalmente Aquarius
e Recife Frio e gosto muito do cinema
nordestino como um todo, gosto muito de ver a forma como Kleber traz a representação
do nordeste. O trabalho do som em seus filmes é sempre muito interessante.
12) Defina cinema com
uma frase:
Cinema é muito mais do que imagem em movimento.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Para ser bem sincera acho que nunca presenciei algo de muito
extraordinário, mas vou comentar de quando fui assistir Jovens Titãs em ação. Eu gosto muito de animações e principalmente
as animações atuais do Cartoon Network.
Fui assistir Jovens Titãs em Ação em meus dois primos mais novos pois gostamos de
desenhos parecidos, evidentemente que a sala estava lotada de crianças, o que
me irrita um pouco, mas faz parte nesses casos. Fato é que ao longo de todo o
filme eu era a única pessoa que estava dando risada naquela sala e eu fiquei
muito decepcionada com o senso de humor das crianças atuais.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Não faço ideia do que seja, desculpa kkk
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa
ser cinéfilo?
Eu acho importante sim, acho que um bom diretor deve
conhecer tanto o passado quanto o presente do cinema pois acredito que ajuda no
processo criativo, na inovação ao definir a linguagem de um filme, como também
para imitar, tentar recriar, afinal criar muitas vezes é imitar.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Tem muito filme ruim nesse mundo, é até difícil escolher só
um, mas o filme Deadly Illusions da Netflix que assisti recentemente foi um
dos piores. Péssimo roteiro, cheio de lacunas e pontas soltas, tinha potencial
para ser um bom filme, mas acaba se perdendo por completo e ainda aborda o
transtorno de identidade dissociativa de maneira bastante problemática.
Gostaria de pontuar uma menção honrosa aqui, que para mim é o pior filme que já
vi, mas foi um curta-metragem universitário chamado Guarda Provisória.
17) Qual seu
documentário preferido?
Santo Forte, Eduardo
Coutinho.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Não que eu me lembre, mas talvez em Bacurau ou Parasita.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Sem dúvida alguma o filme Presságio (2009), coincidentemente, ou não, o ano em que a maioria
dos melhores filmes foram feitos. Eu realmente acho esse filme genial e adoro o
rumo esquisito que ele toma.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Mnemocine, do
qual faço parte.
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Netflix.