12/01/2014

Crítica do filme: 'Pais e Filhos'



Depois do maravilhoso trabalho O Que Eu Mais Desejo, o diretor japonês Hirokazu Koreeda volta a falar sobre a relação da família no seu mais novo projeto, o cativante Pais e Filhos. Usando de uma simplicidade e uma delicadeza impressionante, o filme é uma grande jornada sentimental nas escolhas difíceis que pais e filhos se envolvem. O espectador é alvo fácil de cada palavra, cada sentimento, contidos em todas as linhas desse roteiro.

Na trama, acompanhamos Ryota Nonomiya (interpretado pelo ótimo ator Masaharu Fukuyama), um homem bem resolvido na vida que vive com sua mulher Midori Nonomiya (Machiko Ono) e seu único filho Keita. Muito disciplinador e sempre se decepcionando com seu filho, Ryota faz de tudo para que nada fuja mais do seu controle. Certo dia, o hospital onde Keita nasceu surpreende essa família com a notícia de que o menino não é o filho biológico deles. A partir disso, escolhas difíceis terão que ser tomadas se unindo num mar de razão e emoção complicado de navegar.

O que mais deixa o público envolvido com a história é a construção belíssima do personagem Ryota. Um Workaholic assumido, deixa sua família em segundo plano, assim como seu pai no passado fizera com ele. Perdido em meio ao caos emocional estabelecido pela trágica notícia, Ryoto, a cada passo que tenta dar pra frente se esquece dos pequenos detalhes afetivos e comete uma série de ignorâncias, fruto de sua frieza característica. Quando a mudança se torna eminente, o filme ganha contornos tão emocionantes que fica impossível os olhos não se encherem de água.

A cultura e a disciplina, própria dos orientais, são muito bem exploradas pelas lentes certeiras do diretor. As diferenças no modo em educar uma criança, o paradigma entre o rico e o pobre, as diferenças entre o ser feliz com pouco e o ser infeliz ganhando muito são também algumas das profundidades das ações dos personagens. Pais e Filhos é um filme que de superficial não tem nada. Todas as situações são bem desenvolvidas, o que justifica os deliciosos 120 minutos que o espectador fica refém.

Se você já teve uma relação difícil com seus pais, esse filme chegará como um cometa colorido que vai atingir a superfície de seu coração. O poder dessa história, juntamente com a mágica do cinema, é enorme e pode fazer você querer mudar certas situações, quem sabe até mesmo perdoar. As lições são inúmeras, esteja de coração aberto para receber esse lindo trabalho. Sábio, é o pai que conhece o seu próprio filho. E vice-versa. Não perca esse filme.
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11/01/2014

Crítica do filme: 'Gloria'



“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.” Não há frase melhor do que essa pérola do saudoso Chaplin para definir o indicado do Chile ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano, Gloria. Dirigido pelo talentoso Sebastián Lelio, o longa-metragem já conquistou plateias de todo o mundo, principalmente em Berlim onde recebeu o concorrido Urso de prata de Melhor atriz. As dancinhas desajustadas logo no início do filme já davam a dica de que estariam prestes a acompanhar uma mulher de personalidade cativante que nos transportaria para um filme emocionante e inspirador.

Como viver intensamente quando o destino não dava nenhum sinal de felicidade? Em Gloria, acompanhamos a protagonista, que dá nome ao filme, em suas aventuras em busca da alegria de viver. Gloria em muitos momentos é forte, madura e adora buscar novas alternativas para alegrar seu cotidiano monótono. Mora em um prédio de classe média na capital chilena e sofre com os transtornos de seu vizinho que não a deixam dormir. Tem dois filhos do primeiro e único casamento com os quais tem uma relação carinhosa, porém distante. Sua vida começa a ganhar ares de felicidade quando conhece o dono de um parque de diversão chamado Rodolfo, um divorciado que vive com fortes laços com sua família. Se fosse uma música, ele seria sua orelha. Se fosse uma água, ele seria seu copo. Se fosse a luz, ele seria o olho. O amor nasce entre os dois personagens é digno de cinema. Se divertem juntos, conversam sobre diversas coisas e criam planos para que vivam o resto de suas vidas. Mas será que isso basta?

O ritmo do filme é ditado pela espetacular atuação da atriz Paulina Garcia. Pulando de Bungee Jumping, brincando de Paintball, dançando loucamente nas pistas da vida, vamos conhecendo Gloria aos mínimos detalhes. Não há como não gostar dessa personagem. Por trás de seus óculos gigantes, se esconde uma mulher insegura, carente que possui um talento especial e inusitado para passar batom. Procurando todo e qualquer tipo de atividade para não se sentir sozinha, encontra nos bailes noturnos e dançantes um porto seguro. A composição da personagem é algo sublime, magnífico. O quebra-cabeça emocional em que vive Gloria é jogado na tela com veracidade à flor da pele, fruto do talento de Paulina.

Alguns pontos que o roteiro aborda sobre política e cultura são de uma delicadeza ímpar. Uma discussão sociológica sobre a atual situação do Chile perante o mundo é rica e aparece de surpresa como uma crítica social inteligente, uma mensagem direta ao espectador. A brasileiríssima canção As Águas de Março, executada em espanhol, surge lindamente em uma roda musical no momento em que Gloria sofre, entre um drink e outro. Uma belíssima cena impecavelmente dirigida.

Já no desfecho, em meio a um inusitado bombardeio de bolinhas de tinta, Gloria dá um ponto final em uma situação que a incomodava e isso marca novamente um novo recomeço. A brincadeira entre ficção e realidade chega nessas verdades implícitas em cada cena deste filme. Nos familiarizamos com os dramas que somos testemunhas e passamos a questionar nossa própria vida. Afinal, a vida não é a eterna arte de recomeçar?  
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09/01/2014

Crítica do filme: 'À Procura do Amor'



Escrito e dirigido pela cineasta norte-americana Nicole Holofcener, À Procura do Amor é um filme de romance maduro e bastante sensível. O excelente roteiro consegue captar todos os detalhes que o público precisa para se familiarizar com a trama. Além disso, há um entrosamento fabuloso entre os artistas em cena. Julia Louis-Dreyfus e James Gandolfini merecem todos os elogios do mundo. Esse último deixa para seus milhares de fãs uma linda interpretação nessa espécie de despedida do fantástico mundo do cinema.

Nesse drama sentimental, por vezes, bastante profundo, acompanhamos a massagista e mãe solteira Eva (Julia Louis-Dreyfus). Solitária e tendo uma rotina intensa de trabalho, nunca consegue um tempo para se dedicar a uma chance de um novo amor. Certo dia, em uma festa, conhece a poetisa Marianne (Catherine Keener) e logo vira amiga e massagista da mesma. O problema é que na mesma festa ela conhece Albert (James Gandolfini), ex-marido de Marianne e logo se apaixona por ele. Sem saber direito como lidar com essa situação, entra em um grande conflito existencial, muito porque a personagem passar a escutar as histórias do seu atual namorado na visão da ex-mulher dele.

Quando a idade chega, as chances de viver uma linda história de amor fica cada vez mais rara. A protagonista entre nesse furacão emocional e incrivelmente apresenta uma imaturidade incomum, tomando uma série de atitudes equivocadas. A personagem principal é muito bem construída por Julia Louis-Dreyfus. Insegura, infeliz, gosta de tricotar e possui uma amizade maternal com a melhor amiga da filha.  Seus altos e baixos são vistos com os olhos atentos do público que percebe as desconstruções de personalidade ao longo da fita.

Os personagens secundários são muito bem aproveitados na história. O núcleo da amiga da protagonista (interpretada pelo sempre excelente Toni Collette), a terapeuta Sarah e as discussões com seu marido são ótimas. O conflito que esses enfrentam com a empregada também merece destaque, engraçado e quase incompreensível.

Esse, é um daqueles trabalhos que de tão sensível, passamos a torcer pelos personagens. Mesmo com as dores do passado, o medo de seguir e confiar no outro novamente, aos poucos a sabedoria e a experiência vão virando antídotos para curar aos que se machucaram. Sentados nos degraus de uma simples casa no subúrbio, confidências, carinhos, risos e esperança deixam o espectador decidir qual será o final dessa história.
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08/01/2014

Crítica do filme: 'Ajuste de Contas'



Depois de dirigir alguns filmes populares aqui no Brasil (Como se Fosse a Primeira Vez e Tratamento de Choque), o cineasta Peter Segal volta ao gênero comédia e dessa vez compra o desafio de comandar nas telonas dois pesos pesados de Hollywood, Sylvester Stallone e Robert De Niro. Orçado em mais de US$ 40 milhões, Ajuste de Contas consegue cumprir seu objetivo utilizando uma fórmula que tinha tudo para dar errado, mostrando um drama bem desenvolvido camuflado de comédia.  Após um início de risos constantes da plateia, qualquer um fica refém dessa carismática história.

Na trama, acompanhamos a vida de dois ex-campeões mundiais de boxe que não vestem um par de luvas a mais de 30 anos. Henry 'Razor' Sharp (Stallone) leva uma vida simples na mesma cidade onde foi ídolo e guarda mágoas de um grande amor do passado. Billy 'The Kid' McDonnen (De Niro) é um empresário bem sucedido que não esquece sua última e única derrota na carreira. Quando um promotor de lutas excêntrico resolve marcar uma revanche entre os dois velhinhos, o espectador fica prestes a conferir a luta do século entre dois personagens desse e de outros filmes.

Ajuste de Contas é um drama disfarçado de comédia que mostra as seqüelas dos erros do passado. Os dramalhões dos personagens são bem explorados pelo roteiro dando sentido a muitas ações dos protagonistas. Mesmo em escala superficial, cada peça da trama é bem conduzida pelo diretor. Os coadjuvantes Alan Arkin e Kevin Hart estão brilhantes, cada um com uma piada melhor que a outra, adicionado muito para o filme. Falando um pouco mais sobre os secundários, bom rever a bela atriz norte-americana Kim Basinger, bastante sumida das telonas.

Essa produção, não deixa de ser uma homenagem aos personagens de outros filmes, Jake La Motta (Robert de Niro em Touro Indomável) e Rocky Balboa (Sylvester Stallone em todos os filmes do campeão dos campeões). Todo movimento que fazem para promover a luta viram piadas virais jogadas na internet aumentando ainda mais a expectativa sobre o duelo. Esse achado no roteiro vira o grande clímax da fita juntamente com os diálogos cômicos e as ofensas hilárias que compõem grande parte das falas dos personagens. 

Podemos classificar este trabalho como um filme pipoca de qualidade. Vale pela diversão. Impagável a última cena, após os créditos finais começarem a aparecer. Risos constantes serão ouvidos de toda a plateia. Não percam esse inusitado duelo que deve agradar até os mais cults.
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Palpites para o Globo de Ouro 2014



Estão chegando aquelas cerimônias que os cinéfilos de todo o planeta mais aguardam, onde se definem entre variados prêmios, os melhores trabalhos do ano ligados à cinema. Como não poderíamos deixar de comentar e palpitar, segue o que achamos que acontecerá na próxima festa do primeiro dos grandes prêmios, o Globo de Ouro que ocorre no próximo domingo (12):



Melhor Filme (drama)

12 Years a Slave
Capitão Phillips
Gravidade
Philomena
Rush - No Limite da Emoção

Essa é uma categoria praticamente já vencida por um dos melhores filmes do ano, 12 Years a Slave. Gravidade e Rush - No Limite da Emoção correm muito por fora, apesar de serem dois belíssimos trabalhos.

Vencedor: 12 Years a Slave


Melhor filme (musical / comédia)

Trapaça
Ela
Inside Llewyn Davis
Nebraska
O Lobo de Wall Street

São 5 interessantes e elogiados trabalhos. Mas pelo que dizem lá fora, é uma disputa entre Ela e Trapaça. O filme de Alexander Payne, Nebraska, corre por fora e também não seria nenhum absurdo se levasse o globo de ouro nesta categoria.

Vencedor: Trapaça


Melhor Ator (drama)

Chiwetel Ejiofor - 12 Years a Slave
Idris Elba - Mandela: Long Walk to Freedom
Tom Hanks - Capitão Phillips
Matthew McConaughey - Dallas Buyers Club
Robert Redford - All is Lost

São cinco ótimos trabalhos. Idris Elba consegue dar  a sua cara para o personagem Mandela, que já fora de Morgan Freeman em outro filme, mostrando personalidade e presença em cena. Tom Hanks emociona a todos naqueles 10 minutos finais de Capitão Phillips. Matthew McConaughey e Robert Redford vem sendo muito elogiados pelo mundo à fora. Mas não te como Chiwetel Ejiofor não levar esse merecido prêmio, atuação brilhante.

Vencedor: Chiwetel Ejiofor



Melhor Atriz (drama)

Cate Blanchett - Blue Jasmine
Sandra Bullock – Gravidade
Judy Dench – Philomena
Emma Thompson - Walt nos Bastidores de Mary Poppins
Kate Winslet - Refém da Paixão

Impossível a Cate Blanchett não ganhar, ela é o filme Blue Jasmine. Por mais que a Sandra Bullock tenha uma torcida gigante pela sua ótima atuação em Gravidade.

Vencedor: Cate Blanchett


Melhor Ator (musical / comédia)

Christian Bale – Trapaça
Bruce Dern – Nebraska
Leonardo Dicaprio - O Lobo de Wall Street
Oscar Isaac - Inside Llewyn Davis
Joaquin Phoenix – Ela


Com poderosas atuações desses cinco indicados, essa categoria se torna um grande ponto de interrogação. Mesmo quem vencer, terá pouquíssima chance de levar o Oscar mesmo que seja (e deve ser) indicado. O vencedor da Palma de Ouro de Cannes, Bruce Dern tem ligeira vantagem sobre os outros concorrentes.

Vencedor: Bruce Dern


Melhor Atriz (musical / comédia)

Amy Adams – Trapaça
Julie Delph - Antes da Meia-Noite
Greta Gerwig - Frances Ha
Julia Louis-Dreyfus - À Procura do Amor
Meryl Streep - Álbum de Família
Uma categoria que tem a Meryl Streep fica complicado para as outras concorrentes. Porém, neste ano ela não é a favorita. Como mero palpite, acredito que a disputa está entre Greta Gerwig e Julia Louis-Dreyfus, tendendo mais para a primeira.

Vencedora: Greta Gerwig

Melhor Ator Coadjuvante

Barkhad Abdi – Capitão Phillips
Daniel Bruhl – Rush - No Limite da Emoção
Bradley Cooper – Trapaça
Michael Fassbender – 12 Years a Slave
Jared Leto – Dallas Buyers Club

Mesmo com o excelente primeiro trabalho do agora ator Barkhad Abdi e com a atuação maravilhosa de Daniel Bruhl em Rush, fica muito difícil esse prêmio não cair nas mãos do Michael Fassbender que faz um trabalho excepcional em  12 Years a Slave.

Vencedor: Michael Fassbender


Melhor Atriz Coadjuvante

Sally Hawkins - Blue Jasmine
Jennifer Lawrence – Trapaça
Lupita Nyong'o - 12 Years a Slave
Julia Roberts - Álbum de Família
June Squibb – Nebraska

Talvez, a categoria mais equilibrada do Globo de Ouro deste ano. Lupita Nyong'o, Julia Roberts e a grande surpresa June Squibb disputam a estatueta. Por alguns mínimos detalhes, muitos destes hilários, vou chutar que June Squibb possa levar esse troféu pelo seu belo trabalho em Nebraska.

Vencedor: June Squibb


Melhor diretor

Alfonso Cuaron – Gravidade
Paul Greengrass - Capitão Phillips
Steve McQueen - 12 Years a Slave
Alexander Payne – Nebraska
David O. Russell – Trapaça

Ta aí uma categoria extremamente difícil de indicar um vencedor. Os cinco trabalhos são ótimos e qualquer um desses pode levar o prêmio. Talvez pela inovação Cuaron seja o favorito de muitos cinéfilos. Payne chega para agradar aos cults. Mas Steve McQueen consegue detalhar de maneira impressionante  história do seu maravilhoso filme.

Vencedor: Steve McQueen


Melhor Filme Estrangeiro

Azul é a Cor Mais Quente (França)
A Grande Beleza (Itália)
A Caça (Dinamarca)
O Passado (Irã)
Vidas ao Vento (Japão)

5 belos trabalhos. Mesmo Azul é a Cor Mais Quente sendo um dos maiores trabalhos deste ano, é impossível esse prêmio (assim como o Oscar) não ir para a Dinamarca. A Caça é o melhor filme do ano disparado. Nesse caso, não tem pra ninguém.

Vencedor: A Caça


Melhor Animação
Os Croods
Meu Malvado Favorito 2
Frozen - Uma Aventura Congelante

3 Ótimas aventuras usando a técnica de animação. Quem vencer o prêmio terá sido feito justiça. Talvez, pelo fato de de uma animação extremamente inteligente e muito divertida, Os Croods podem levar desta vez.

Vencedor: Os Croods
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