12/10/2014

Crítica do filme: 'Homens, Mulheres e Filhos'



Somos feitos de milhões de moléculas que nos guiam em nossa formação física mas também racional, essa última, em relação a toda uma sociedade deveras enlatada numa caixinha de atum. O novo projeto do ótimo diretor Jason Reitman (Amor sem Escalas), mostra diversos conflitos familiares provocados pela era da comunicação virtual, além de vestir a camisa como crítica escancarada aos valores conservadores de uma América doente, perdida em um medieval comodismo exagerado.

Na trama, acompanhamos alguns personagens, homens, mulheres e jovens, que possuem características distantes mas que passam por grandes conflitos existenciais. A mãe que controla a vida da filha, a outra mãe que deseja que sua única filha seja famosa, um casal com problemas de sexo no casamento, um estudante e destaque no futebol americano que se isola do mundo quando a mãe abandona a família. Toda a angústia e aflições desses personagens são escancarados pela câmera de Reitman.

Somos ou não somos importantes aos olhos da velha hipocrisia de uma sociedade falida em seu modo de pensar? Homens, Mulheres e Filhos funciona quando buscamos a complexidade/profundidade em cada uma das histórias apresentadas. Os personagens procuram fazer com que o público enxergue problemas de uma comunidade sem créditos de novos modos de pensar. As relações familiares, o clímax de tudo que acontece na fita, são a interseção de todos os acontecimentos que somos testemunhas. O roteiro possui inflexões que deixam maçante alguns desdobramentos mas no geral é um trabalho interessante que assistimos.

Ao melhor estilo Beleza Americana, Homens, Mulheres e Filhos deve agradar parte do público, principalmente aquele espectador que goste de grandes debates sobre o modo de pensar da sociedade. Esse é um filme indicado para professores de diversas cadeiras passarem em suas aulas. Há muitos debates interessantes e temas que devem ser explorados. 

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04/10/2014

Crítica do filme: 'O Cordeiro'



A coragem em atos simples justifica as escolhas daqueles que possuem esse mérito. E chega diretamente da Turquia uma das grandes surpresas deste ótimo Festival do RJ 2014, O Cordeiro. Dirigido pelo cineasta Kutlug Ataman, o filme é quase uma fábula dramática com personagens cativantes, principalmente o protagonista Mert, interpretado brilhantemente pelo ator mirim Mert Tastan. Esse é um daqueles filmes que quando acaba, abrimos um lindo sorriso e pensamos: vimos uma pequena obra prima!

Na trama, conhecemos Mert e sua humilde família que vivem em uma aldeia no interior da Turquia. De acordo com as tradições da tribo, há um evento de comemoração para a Circuncisão das crianças jovens onde o pai deve dar uma festa e fazer o sacrifício de um cordeiro. Só que o pai de Mert não tem dinheiro e a irmã dele começa a criar ilusões macabras na mente do menino, dizendo que se não conseguirem um cordeiro, quem vai ser sacrificado é ele. Assim Mert embarca em uma busca bastante peculiar atrás de um cordeiro para a festa.

Em 87 minutos, o público presencia uma história muito bem contada e com ótimas atuações. Conseguimos enxergar o filme sob a ótica de todos os personagens. A visão do protagonista é de longe a mais carismática e mostra, pela lente inteligente do diretor como a simplicidade nas ações consegue criar momentos divertidos para o espectador.

O Cordeiro é mais um desses filmes de Festivais que só por um milagre cinéfilo conseguirá chegar ao circuito comercial brasileiro. Os filmes de arte, ou considerados cinemas de arte, enfrentam um engessado funil para serem distribuídos na terra do carnaval. Se as distribuidoras, de todos os tamanhos, acreditassem mais na qualidade dos filmes que compram, O Cordeiro seria bastante disputado.
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30/09/2014

Crítica do filme: Los Hongos



O se encontrar na vida pode começar com um caminhar artístico sem esperança. O novo trabalho do cineasta Oscar Ruiz Navia, Los Hongos, é um filme que transpira pluralidades culturais e possui uma trilha sonora muito bem encaixada com a trama. Mas nem tudo são flores, a boa intenção em reunir muitos elementos artísticos na história dos personagens acaba deixando o roteiro mais descontrolado que as últimas interpretações de Nicolas Cage no mundo do cinema.

Na trama, somos jogados para dentro de uma grande cidade da Colômbia, onde conhecemos dois jovens amigos que possuem em comum o amor pelo grafite. Um deles, Calvin, cuida de sua carinhosa vovó em uma humilde casa, já Jovan possui muitos problemas familiares e se encontra desempregado, sem rumo. Ambos precisarão unir forças e sonhos para encontrar suas vocações e entender melhor o que os espera no futuro.

Los Hongos é recheado de boas intenções. Explora de maneira exarcebada gostos e costumes da cultura local, sempre sob a ótica dos jovens protagonistas. O exagero nesse preenchimento das características dos personagens, acaba deixando o filme sem ritmo e direção. Alguns arcos dramáticos são bem conduzidos, como a relação de Calvin com sua avó (melhor personagem disparada da trama). A trilha sonora é um show à parte e ajuda muito na condução de algumas cenas. Mesmo assim, muito pouco para o real potencial do filme.

Essa produção colombiana, infelizmente, não deve chegar ao circuito brasileiro. Talvez não tenha a força de outros bons filmes deste país, com pouca tradição no cinema, como La Playa e Crônicas do Fim do mundo que são dois filmes infinitamente superiores. Conhecer a cultura local de um país desconhecido em detalhes por muitos de nós é super legal mas quando falamos de cinema, esse trabalho deixa a desejar.
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Crítica do filme: 'Garota Exemplar'



Na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem. Depois de conseguir o milagre de realizar um remake tão bom quanto o original no filme Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, um dos melhores diretores em atividade no mundo do cinema, David Fincher (Clube da Luta, Seven), volta aos cinemas para mais uma adaptação de um livro, Garota Exemplar. Baseado nessa publicação de grande sucesso de Gillian Flynn (que também assina o roteiro desta produção), esse novo blockbuster de enormes 149 minutos é uma história cheia de guinadas, explosiva, bem trabalhada, com boas atuações e uma direção lúcida e detalhista do mestre Fincher. De longe, podemos cravar que esse é um dos melhores filmes do ano, não tenham dúvidas disso!

Na trama, conhecemos o boa praça Nick Dunne (Ben Affleck), um homem que possui um casamento de aparências com sua linda mulher Amy (Rosamund Pike). Certo dia, após acordar cedo e ir visitar a irmã no bar que possuem, Nick volta pra casa, vê objetos quebrados, sangue e não encontra Amy. Assim, resolve ligar para polícia. Depois disso, sua vida não vai ser a mesma, pois, conforme novas pistas e segredos vão aparecendo, muitos indícios vão ligando lentamente Nick ao sumiço de sua esposa.

Na ótica do protagonista ficam dúvidas a todo instante, o dinamismo do roteiro adaptado entra de acordo com os intensos momentos de flashbacks, elucidando a trama para o público. Mas o que surpreende é a ótica da esposa em relação a tudo que acontece desde seu sumiço. É fascinante, surpreendente, o que acontece daí em diante. Garota Exemplar é um filme que você não pode ir ao banheiro senão perde o entendimento e pistas para descobrir o mistério que é imposto de maneira brilhante. 

Ben Affleck encaixou como uma luva no papel de Nick Dunne. Ingênuo, explosivo e em determinado momento enigmático, brinda os cinéfilos com uma atuação bem acima da média comparando com outros trabalhos de sua vasta carreira no cinema. Já Rosamund Pike, pode ter comprado sua passagem para a cerimônia do Oscar ao ter aceitado esse poderoso papel. Linda, deslumbrante e mostrando uma baita competência escondendo seu personagem como um jogador de pôquer blefando em uma mão ruim, deixa o público perplexo em alguns momentos.

Lembram que os sul-coreanos conseguiram criar certo dia um grande filme chamado Oldboy? Até hoje, nenhum outro filme tinha conseguido definir tão bem o que é uma vingança numa telona. Bem, Fincher conseguiu. Se superando mais uma vez, brinda os cinéfilos com uma aula audiovisual, macabra e aterrorizante que atinge seu clímax quando percebemos todas as verdades por trás dos fatos. Se surpreenda, não deixem de conferir essa obra-prima. Bravo!
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29/09/2014

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Crítica do filme: 'Coração Mudo'



Depois de belíssimos trabalhos comandando filmes europeus de qualidade, o diretor Bille August volta às telonas, dessa vez, para dirigir um drama contundente, cheio de reviravoltas e emoção. Coração Mudo é uma espécie de Festa em Família com uma roupagem diferente mas com as mesmas surpresas e personagens intrigantemente fascinantes.

Na trama, conhecemos Esther (Ghita Nørby), uma senhora de idade avançada que em certo momento resolveu dar um fim à sua vida, antes porém, resolve passar um último final de semana com sua família (que está por completa ciente do eminente suicídio). Quando chega o fatídico dia, ações e emoções descontroladas começam a tomar conta da história, com muitos personagens mudando de opinião a todo instante sobre a situação.

Conflitos, dor e sofrimento estão contidos em cada um dos numerosos e árduos diálogos que contém a fita. Entendemos a situação inusitada do suicídio/eutanásia pela ótica de cada um dos personagens. Cada momento dramático é construído de maneira inteligente e nunca o filme se torna maçante. É fácil se envolver por essa história, o epicentro da trama é uma atitude corajosa e bastante polêmica. Coração Mudo é o clássico filme onde as atuações precisam ser muito convincentes para a fórmula do roteiro dar certo. Felizmente, isso acontece do primeiro ao último minuto.
Paprika Steen esbanja competência mais uma vez com sua recatada, descontrolada e emotiva Heidi. 

Os detalhados momentos cômicos ficam à cargo do ótimo ator Pilou Asbæk que dá vida ao confuso mais carismático Dennis. Mas quem rouba a cena é a protagonista Esther, interpretada pela maravilhosa Ghita Nørby (A Diane Keaton da Dinamarca). Em simples diálogos ou em momentos de total força emotiva em cena, a experiente artista dá um verdadeiro show. Não seria um absurdo dizer que essa atuação é uma das melhores entre atrizes dos filmes deste Festival do RJ. Grande filme, grandes atuações! Bravo!
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