19/12/2014

Crítica do filme: 'Livre'



O auto respeito é a raiz da disciplina, a noção de dignidade cresce com a habilidade de dizer não a si mesmo. Após conseguir alguns Oscars no ano passado com o excelente Clube de Compras Dallas, o cineasta canadense Jean-Marc Vallée volta ao mundo do cinema para contar uma história real de dramas e superação. Livre, que estreia no Brasil na primeira parte de janeiro do ano que vem (2015), é uma espécie de “Na Natureza Selvagem” light, onde, por meio de flashbacks vamos conhecendo os traumas, as escolhas e os dramas da protagonista , interpretado de maneira competente pela ex-legalmente loira Reese Witherspoon.

Na trama, conhecemos Cheryl, uma mulher que se vê em uma fase da vida cheia de mágoas, decepções, e resolve percorrer quase 2.000 quilômetros de trilha, enfrentando calor, frio e os perigos de andar sozinha por lugares pouco frequentados.  Ao longo dessa gigantesca caminhada, vamos entendendo melhor a vida dela por meio de flashbacks e memórias, principalmente, a intensa relação de carinho com sua mãe (interpretada de maneira fabulosa por Laura Dern) e seu ex-marido Paul (Thomas Sadoski). 

Se perguntando sempre se deve seguir em frente ou se deve cancelar a aventura, pensando em desistir a cada 2 minutos, Cheryl é apresentada ao público já no início da jornada de maneira nua e crua, comendo Gororoba com nozes, gororoba com atum e aprendendo na marra como se vive solitária em um lugar desconhecido. O roteiro, assinado pelo craque Nick Hornby (Alta Fidelidade), é baseado nas memórias da verdadeira Cheryl, na obra Wild: From Lost to Found on the Pacific Crest Trail. O grande mérito desse script é conseguir detalhar ao máximo todas as ações que levaram a personagem principal a fazer essa caminhada. O espectador percebe logo que a personagem exala carisma e vai nos mostrar uma poderosa história de vida.

Os coadjuvantes, que preenchem o passado e o presente da incrível personagem, ajudam e muito a contar essa história. O grande destaque, sem dúvidas, é a figura da mãe na vida de Cheryl, interpretada pela atriz Laura Dern. Com uma atuação simplesmente fenomenal e uma forcinha do roteiro que volta e meia preenche a tela com informações da intensa relação entre as duas personagens, Dern contribui para que possamos sentir ao máximo toda a verdade que há na relação de uma mãe e uma filha. Pena que as grandes premiações só estão lembrando de Witherspoon  e esquecendo da eterna musa de David Lynch. 

Não deixem de conferir essa profunda história que fala sobre amor e a tentativa do renascimento de uma corajosa mulher.
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18/12/2014

Crítica do filme: 'A Teoria de Tudo'



O universo tem o tamanho do nosso mundo. Que tamanho tem o nosso mundo? Tem o tamanho dos nossos sonhos. Depois de dirigir alguns trabalhos pouco vistos aqui no Brasil, como o excelente documentário O Equilibrista, o diretor made in “terra da Rainha” James Marsh topou o maior desafio de sua carreira, contar uma parte da vida do mundialmente famoso cosmólogo e físico britânico Stephen Hawking. Totalmente baseado no livro escrito pela primeira esposa de Stephen , Jane Hawking, Travelling to Infinity: My Life with Stephen, o roteiro do filme tem a assinatura de Anthony McCarten e deve emocionar a muitos cinéfilos mundo à fora, principalmente pelas espetaculares atuações de Eddie Redmayne e Felicity Jones, ambos, cotadíssimos para o próximo Oscar.

Na trama, conhecemos já na fase do doutorado o brilhante estudante Stephen Hawking (Eddie Redmayne), um homem pacato, com um senso de humor afiado, que adora leitura sobre xadrez e ouvir música clássica. Certo dia, em uma comemoração na faculdade que estudava, conhece a bela Jane (Felicity Jones), uma estudante por quem se apaixona intensamente. Tudo ia bem na vida do jovem casal até que Hawking é diagnosticado com uma rara doença do Neurônio Motor que o faz ao longo de um curto período perder todos os movimentos do corpo, até a fala. Assim, combatendo todo tipo de limitação, a brilhante mente irá provar que o viver é um dos grandes mistérios do universo.

Que tamanho tem o universo? Hawking se dedicou durante anos em sua famosa teoria sobre os buracos negros, sua família, seus amigos e todos que estiveram por perto tiveram influência nessa grande descoberta. O longa-metragem mostra bem toda essa relação, que começa em casa , com os grandes cuidados que Jane tinha com ele, depois acompanhamos melhor sua relação com seus pais que sempre estavam com um pé atrás parecendo estar preparados sempre para o pior, as inúmeras idas a sua faculdade para debates, teses e aulas com outros renomados cientistas. A Teoria de Tudo consegue, ao longo dos 123 minutos de fita, apresentar ao público um leque de argumentos que preencheram a personalidade desse notório ser humano.

Quando o filme entra a fundo nos contornos e dramas familiares, além das dificuldades que, principalmente,  Jane passa com 3 filhos e um marido com problemas motores, a qualidade da fita eleva-se de uma maneira que comove. Os responsáveis por isso são Eddie Redmayne e Felicity Jones. O primeiro mostra uma dedicação de Pacino para um papel extremamente difícil que requer muito esforço do ator, merece ser indicado ao Oscar por esse papel, absurdamente detalhista para que tudo saísse o mais perfeito possível, uma impressionante atuação. Já a segunda, consegue transmitir uma força emocional gigantesca com sua personagem, na expressão, na fala mansa, nos gestos, no olhar. Faz com que o público julgue sua personagem, apresenta Jane Hawking com uma transparência tão verdadeira que sofremos junto com ela em cada cena difícil. Felicity Jones tem um real chance de ser a ganhadora do próxima Oscar de melhor atriz. 

A Teoria de Tudo estreia dia 22 de janeiro de 2015 e vai se tornar um filme inesquecível para muita gente, tem o poder da física e da emoção em uma equação que você não pode deixar de tentar decifrar! Bravo!
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15/12/2014

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Crítica do filme: 'De Volta ao Jogo'



Só há um tempo em que é fundamental despertar. Esse tempo é agora! Seguindo os mandamentos de Buda e marcando a estreia dos cineastas Chad Stahelski e David Leitch como diretores principais de um longa-metragem, De Volta ao Jogo é um filme honesto no que se propõe: ser um filme de ação com ótimas sequências tendo uma cobertura considerável de clichês. Para assumir o papel do protagonista intransponível, foi chamado o antigo Neo, Keanu Reeves, que por incrível que pareça, encaixou como uma luva no papel. 

Na trama, após a morte precoce da esposa, o pacato John Wick (Keanu Reeves) vive dias dolorosos em uma grande mansão longe dos agitados de uma Nova York dominada pelos bandidos. Aposentado da profissão de assassino a bastante tempo, resolve voltar à ativa quando sofre uma violência gratuita de um novo bando de bandidos que acabam despertando sua fúria.

O protagonista da história é um homem sem expressão que transpira violência de acordo com sua frieza cotidiana. O fato do personagem não possuir traços, nem expressões, apenas executar as habilidades que possui tornam o papel perfeito para Reeves. John Wick lida com as emoções de maneira desleixada, talvez fruto de sua ex-profissão, conseguimos identificar isso na sequência em que fica abalado quando seu cachorrinho sofre uma violência desnecessária de bandidos. É um personagem um pouco atípico em filmes de ação, é um invencível triste, seu carisma chega ao público de formas diferenciadas.

Para quem curte filmes de ação, De Volta ao Jogo deve agradar logo de cara. As ótimas conduções de câmera feitas pela dupla de diretores tornam cada sequência especial. Os clichês, que sempre incomodam, aplicados nessa história acabam gerando diversas reações do público. Mesmo tendo uns ajustes diferenciados, é o famoso cinema pipoca entrando em ação. Mal ou bem, a fórmula é a mesma. Até o desfecho da história você já deve saber antes mesmo do filme começar. De qualquer forma, o filme possui seus méritos e uma boa atuação de Reeves.
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Crítica do filme: 'The One I Love'



O casamento deve combater incessantemente um monstro que devora tudo: o hábito! Chegou aos cinemas norte-americanos em agosto deste ano, um dos filmes mais diferentes de 2014, The One I Love. Debutando na cadeira de diretor de cinema, o trabalho dirigido por Charlie McDowell possui um dos roteiros mais loucos do ano, assinado por Justin Lader. Mas isso não é uma coisa ruim. Ao longo dos curtos 91 minutos de fita, consegue com criatividade e um toque de absurdos apresentar argumentos sólidos sobre a teoria do matrimônio. É uma bela visão sobre variáveis constantes que vemos na vida real quando pensamos ou ouvimos sobre casamentos. 

Na trama, um casal em grave crise, resolve, após sugestão do seu misterioso psicólogo, embarcar em uma viagem para passar o tempo longe da cidade grande, em uma casa confortável, para ver se a relação deles engrena novamente. Chegando nesse agradável lugar, logo na primeira noite percebem que há algo muito estranho nesse lugar. Assim, descobrem o inusitado: Versões melhoradas deles vivem na casa de hóspedes! Assim, com vários diálogos interessantes, e situações peculiares, o casal tenta redescobrir o amor.

Uma das dezenas de peculiaridades da história é a presentar uma profunda abordagem, mesmo parecendo impossível na vida real, sobre as dificuldades de estar junto com alguém. Se desdobrando em dois papéis, os atores Mark Duplass e Elisabeth Moss conseguem deixar a trama com cara de suspense e aproximando o público de cada segundo do que vemos em cena. 

Infelizmente, mesmo tendo feito sucesso em alguns festivais que participou neste ano mundo à fora, The One I Love, não deve chegar aos cinemas brasileiros. Muitos distribuidores, lamentavelmente, se agarram ano após ano em determinados estereótipos de filmes e raramente dão oportunidades a histórias originais protagonizados por artistas desconhecidos aqui no Brasil. Esse curioso trabalho, foge muito dessa proposta do mercado de distribuição brasileiro. A esperança para nós cinéfilos, que merecemos a oportunidade de conferir sempre um bom filme numa telona, é que o filme chegue nas locadoras que ainda restam.
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10/12/2014

Crítica do filme: 'O Abutre'




Debutando como diretor, e já podemos dizer de cara: com o pé direito, o californiano Dan Gilroy consegue criar uma história excepcional, peculiar, diferente de quase tudo que já foi visto nos cinemas, sobre um psicopata, obsessivo por manchetes calorosas e sangrentas. O Abutre é um soco no estômago, possui uma frieza absurda para mostrar os fatos que levam o público à perplexidade instantânea. Jake Gyllenhaal tem uma de suas melhores atuações na carreira e deve ser bastante lembrado nas temporadas de premiações da sétima arte que começam no início do ano.

Na trama, conhecemos o debochado e confiante Louis Bloom (Gyllenhaal), um homem solitário que adora ver televisão. Certo dia, é quase testemunha de um acidente rodoviário e percebe um homem filmando toda aquela tragédia na cena do crime. Depois disso, Bloom tem uma ideia, resolve vender sua bicicleta, comprar uma câmera, um rádio da polícia e vai atrás de conseguir fazer notícia com as tragédias dos outros. O problema é que o protagonista desta história é um psicopata, totalmente maluco da cabeça e fará de tudo para conseguir que suas matérias ocupem os principais jornais televisivos e sensacionalistas da cidade onde reside.

O Abutre, que estreia dia 18 de dezembro nos cinemas brasileiros, possui um dos mais fortes protagonistas entre todos os filmes lançados aqui no Brasil neste ano de 2014. Louis Bloom é caricato, enigmático, bruto, frio, obsessivo, caluniador, manipulador. Esse liquidificador de emoções aplicado ao roteiro é uma junção que beira ao genial. Claro que nada disso poderia ser possível se não fosse a brilhante atuação de Jake Gyllenhaal que consegue entender a força de seu personagem do início ao fim dessa impactante jornada. 

O roteiro é feito de maneira detalhista, todas as peças de encaixam. Foi fundamental ter a direção da mesma pessoa que escreveu essa trama. Dan Gilroy não deve ser lembrado pelos grandes prêmios do cinema mas certamente será lembrado por nós cinéfilos. Que trabalho espetacular atrás das câmeras. Nos sentimos como grandes testemunhas dessa história que não deixa de ser uma grande crítica a um certo tipo de jornalismo que ocupa nossas televisões constantemente todos os dias. Bravo!
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