05/02/2015

Crítica do filme: ' '71 '

Em seu primeiro longa-metragem na carreira, o diretor Yann Demange não podia ter começado de maneira mais certeira. Seu trabalho em ’71, filme ganhador de uma menção honrosa no último Festival de Berlim, é elogiado por crítica e público, mostrando a realidade nua e crua por trás de uma guerra.  Estrelado pelo bom ator Jack O'Connell (que estrelou o último e terrível trabalho de Angelina Jolie como diretora, O Invencível), ’71 promete deixar o publico impactado com essa história cheia de dor e sofrimento.

Na trama, durante o início da década de 70, o soldado Gary Hook (Jack O'Connell), do exército britânico, é abandonado pelo pelotão que pertence em meio a uma zona de conflito. Totalmente perdido e sem saber como voltar para casa ou ao menos se proteger, percorre as tensas ruas de uma Belfast em plena guerra civil. Inúmeros personagens cruzam seu caminho, alguns tentando ajudar, outros querendo eliminá-lo.

Uma eterna briga entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, conflito que é oriundo desde a idade média, é o estopim dessa grande história. O roteiro, assinado pelo desconhecido Gregory Burke, leva ao público um retrato marcante de um conflito que já dura décadas. Consigamos entender melhor todo esse contexto por meio dos ótimos personagens coadjuvantes que circulam pela trama. Belfast é apresentada como uma cidade destruída pela guerra, carros incendiados usados como barricadas, ruas destruídas e famílias vivendo com medo e sob tensão absoluta 24 horas por dia.

Um clima de tensão e suspense percorre os 98 minutos de fita. O cineasta Yann Demange realiza um trabalho primoroso, apresenta ao público as sofridas e dolorosas verdades por trás dessa inacabável guerra.  ’71 é um filme extremamente forte, com cenas impactantes, que se juntam a outros ótimos filmes que já mencionaram situações em Belfast.


Traições, espionagem e um final eletrizante. Pena que esse filmaço tem pouquíssimas chances de chegar nos nossos cinemas. Quem sabe algum dia, com novas distribuidoras no mercado brasileiro, esse cenário mude e consigam trazer mais e melhores filmes de todas as partes do mundo. O público quer ver filme bom, e merece. Se tiverem a oportunidade, nãod eixem de conferir esse espetacular filme. 
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04/02/2015

Crítica do filme: 'Força Maior'

O inimigo é a imagem que temos do herói. O cineasta sueco Ruben Östlund resolve voltar as telonas de todo mundo para contar uma história tensa sobre medos, constrangimentos e uma relação deteriorada por uma ação inconsequente. Com uma trilha sonora moldada a partir de solos intensos de violinos, Força Maior é um daqueles filmes que causam um grande impacto em todos nós durante as duas horas de fita. O diretor, que também assina o roteiro, dá um show atrás das câmeras, a cena da avalanche, epicentro da trama, é simplesmente eletrizante.


Na trama, conhecemos uma família sueca que vai para uma estação de esqui para passar um período de férias. Tudo ia bem até que um dia, almoçando em um restaurante ao ar livre, uma avalanche inesperada surge, dando um grande susto. Na hora em que estava se aproximando o fenômeno natural, o pai pega suas luvas e celular e sai correndo, deixando o restante da família para trás. Agora, a partir desse ato, terá que viver as consequências que impulsionarão brigas e desconfianças com sua mulher.


O sofrimento causado pela inusitada situação é enorme,  atinge todos os membros da família com a mesma intensidade. A mulher, Ebba (Lisa Loven Kongsli), não se conforma que o marido não admita que saiu correndo por medo da avalanche. O homem, Tomas (Johannes Kuhnke), fica constrangido toda vez que o assunto volta a tona em conversas, parece lutar para não admitir sua ação no trauma em que passaram, é uma vítima de seus próprios instintos. Outros casais (e seus outros problemas) vão passeando pela história e os protagonistas precisam segurar seus pensamentos e tentam blindar a família a todo instante. Porém, o assunto da atitude durante a avalanche nunca perde espaço e propaga uma série de reações inesperadas.   


O diretor realiza um trabalho muito competente atrás das câmeras. Ajuda a compor várias cenas emblemáticas como: a forçada não troca de olhares no espelho do banheiro, a tentativa de sexo entre o casal de protagonistas visto pelo reflexo de uma janela, entre outras. A capacidade de gerar ao público um raio-x completo sobre os problemas que um relacionamento pode enfrentar é feito com louvor.


O longa-metragem, que figurou entre os melhores filmes do cinema europeu ano passado, chega ao Brasil em março e promete deixar a plateia satisfeita pelo belo trabalho de Östlund e todo o elenco. É um grande filme, sem dúvidas.
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03/02/2015

Crítica do filme: 'Song One'

A letra da canção é o que pensamos entender, mas o que faz com que acreditemos, ou não, é a melodia, do dia a dia. Após uma série de curtas, a jovem cineasta Kate Barker-Froyland dirige e assina o roteiro de uma história protagonizada por uma das grandes revelações do cinema da última década, que fala sobre amor, música e a intensa vontade de buscar fazer o bem a alguém. Song One, ainda sem tradução para o português, tenta fugir dos clichês de forma admirável, principalmente com seu desfecho aberto que deixará o público imaginando mil e uma opções de final.

Na trama, conhecemos a doutoranda em Antropologia, Franny (Anne Hathaway), uma jovem solitária que roda o mundo fazendo suas pesquisas. Certo dia, recebe um telefonema de sua mãe dizendo que seu único irmão sofrera um grave acidente e está em coma. Assim, pega o primeiro avião para casa e passar a tentar conhecer melhor a vida desse irmão que se tornara distante. Após andar de um lugar a outro que o irmão frequentava, o destino coloca em sua frente James Forester (interpretado pelo artista sul-africano Johnny Flynn), um famoso cantor indie, ídolo de seu irmão.

A indomável e valente irmã tenta recriar todos os passos e gostos do irmão, lutando contra a dor que sente no momento. Seus lugares preferidos, suas músicas inesquecíveis, é uma grande busca e descoberta para nunca deixar de esquecer o irmão. Anne Hathaway parace que assumiu de vez o posto de sorriso mais impactante do cinema desses tempos, posto que era de Julia Roberts nos anos 90. Impressiona a profundidade que leva sua sofrida personagem. O público é refém da atuação dessa ótima atriz, não conseguimos tirar os olhos de sua personagem.

Um outro destaque deste ótimo filme é a trilha sonora invejável, navega pelas sequências em impressionante harmonia com o que vemos em cena. Entre grandes composições ao som de guitarras, violões, acordeões e violinos, vale a lembrança da passagem, muito bonita por sinal, onde ouvimos ‘leãozinho’ do Caetano Veloso sendo interpretado por um músico local.


Sem previsão de estreia ainda no Brasil, Song One é um daqueles trabalhos simples mas que tocam demais nossos corações. 
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Crítica do filme: 'Pássaro Branco na Nevasca'

Os únicos limites das nossas realizações de amanhã são as nossas dúvidas e hesitações de hoje. Baseado na obra homônima de Laura Kasischke, Pássaro Branco na Nevasca é um drama com uma narrativa lenta que possui leves pitadas de suspense. O diretor Gregg Araki, que também assina o roteiro adaptado, tem méritos por reunir um bom elenco mas o roteiro deixa a desejar, tornando o filme em algumas partes bem maçante.

Na trama, conhecemos um pouco melhor a história de Katrina (Shailene Woodley), uma jovem que vive no final dos anos 80 com os pais em um bairro de classe média no interior dos Estados Unidos. Kat tem inúmeras barreiras provocadas pela difícil relação com os pais. Quando sua mãe desaparece sua vida e a de todos ao seu redor, anos se passam e Kat ainda se vê envolvida por esse misterioso sumiço. É uma atuação forte e corajosa de Shailene Woodley. Muitas cenas envolvendo sexo são vistas, onde o diretor Gregg Araki faz um excelente trabalho nessas sequências, mostrando a sensualidade sem ser ofensivo em nenhum momento.

O filme se molda como uma confissão de uma adolescente provocada pelos estragos emocionais de sua família problemática e nada convencional. Kat expõe o que pensa e vive, principalmente suas aventuras sexuais com o namorado e um homem mais velho. Muitas dessas confissões são feitas durante sessões de terapia e nos inúmeros e longos bate papos com seus amigos mais próximos.

A relação de Kat com sua mãe era desgastante. A insanidade da figura materna levava a protagonista pra dentro de diálogos fervorosos. Eve, mãe de Kat (interpretada pela bela Eva Green), parece ter inveja da filha que vira seu principal alvo nos surtos depressivos que passa ao longo do tempo. Já a relação entre Kat e seu pai Brock (interpretado pelo ótimo Christopher Meloni) é muito carinhosa mas vai se tornando muito esquisita por conta de uma mistério que ronda a família.


Apesar das boas atuações que vemos ao longo dos 95 minutos de fita, a fórmula de misturar a lentidão das cenas dramáticas com um ritmo mais acelerado quando há um mistério a ser resolvido, deixa o trabalho sem identidade, não chegando a envolver o público como deveria, apesar do arco final surpreendente. Pássaro Branco na Nevasca é o tipo de filme mais ou menos que logo sairá da memória dos cinéfilos.
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Crítica do filme: 'Dois Dias, uma Noite'

E pensar que nesta noite na Terra, milhares de pessoas se sentem sozinhas, assim como eu. Estimado em cerca de 7 Milhões de Euros, o novo trabalho dos geniais cineastas belgas Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, é uma história angustiante de luta e constrangimentos em busca da manutenção de um emprego. Estrelado pela magnífica Marion Cotillard (o filme não seria o mesmo sem ela), Dois Dias, Uma Noite é uma fábula urbana que deve gerar todos os tipos de reações do público já que torcemos pela personagem principal a todo instante. Mais um trabalho impecável da nossa eterna Piaf.

Na trama, somos apresentados a Sandra (Marion Cotillard), uma mulher com grave crise de depressão que tem uma única chance de convencer seus colegas de trabalho a abdicar um bônus de 1000 Euros para ela ser mantida no trabalho. Assim, percorrendo os seus dramas e a de todos os outros colegas de trabalho, parte em busca de uma redenção que pode não ser necessariamente a manutenção de seu emprego.

Sandra navega nas dores dos outros personagens. Indo de porta em porta na busca de um final feliz para sua saga. Pagamento do colégio, recomeço com novo noivo, pagamentos de despesas básicas como luz e gás, os motivos são inúmeros. Cada personagem possui seu drama mas nenhum deles é maior que o de Sandra que topa uma luta desesperada para manter seu emprego. Uma humilhação, o resgate de uma força além dos seus próprios limites físicos e mentais para chegar em uma certa coragem necessária.

Seu marido a ajuda viver essas intermináveis horas antes da nova votação. A partir disso, problemas e dúvidas sobre o casamento acabam sendo atraídos e verdades tiradas de debaixo do tapete. É uma situação incômoda e um caminho extremamente solitário. Ter seu destino nas mãos dos outros é algo que ninguém gostaria de pensar.

Uma das melhores atrizes do mundo, a musa francesa Marion Cotillard, enche a tela de emoção. Impressiona tamanha verdade que ela passa com o seu desnorteado olhar. Somos reféns da dor e do sofrimento de sua personagem. Cotillard merecidamente foi indicada a mais um Oscar, por essa baita atuação.


Com uma Europa em crise nos tempos atuais, o grande mérito dos irmãos Dardenne é trazer à tona essa história que beira ao absurdo mas que pode realmente acontecer a todos nós e de diversas formas algum dia.
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Crítica do filme: 'Cake - Uma Razão para Viver'

Só nos curamos de um sofrimento depois de o haver suportado até ao fim.  Falando sobre a dor da perda e uma incrível distância sobre a arte do despertar novamente à vida, o diretor Daniel Barnz (do maravilhoso Menina no País das Maravilhas) consegue realizar um trabalho bastante competente, cheias de sentenças verdadeiras que acontecem em nosso mundo mas as vezes não enxergamos. Cake – Uma Razão para Viver, é uma jornada rumo às profundezas de um mar sem fim, sem melodramas, com muita verdade e que conta com uma baita atuação de Jennifer Aniston.

Na trama, conhecemos a sofrida e mal humorada Claire (Jennifer Aniston), uma advogada de meia idade que passou por um enorme trauma em sua vida, não conseguindo se reerguer. Chata, ranzinza, vazia, vive pelos canteiros do mundo que criou, prefere se afogar nas tristezas e lembranças escondidas do que respirar a busca por uma nova felicidade.Certo dia, passa a ser atormentada pelo fantasma de uma mulher que conheceu em um grupo de apoio e sua vida começa a tomar outros rumos quando conhece a família dela.

Viciada em remédios contra a dor que sente em seu corpo e em seu coração, Claire, parece levar sua vida de maneira inconsequente, rumo a uma zona de dor e sofrimento. Sem amigos, sem marido, sem família, ela consegue se fechar uma concha sem ter a oportunidade do despertar. É impactante a atuação de Aniston. A atriz, bastante contestada por muitos de nós cinéfilos, dessa vez prende a atenção do público cada vez que aparece em cena.

Silvana (interpretada pela ótima Adriana Barraza), empregada de Claire, também é um belo personagem na trama. Braço direito para as loucuras da protagonista, tenta preservar a saúde mental de sua chefe a protegendo de inevitáveis exageros. Os melhores diálogos do filme são entre essas duas personagens fortes que conquistam o público a cada nova sequência.


Perder o dom de acreditar, desistir dos novos rumos em nossas vidas, viver as dores o máximo que podemos. Quantos de nós já não conhecemos histórias de pessoas que entraram nessa jornada? Cake – Uma Razão para Viver nada mais é que a verdade sobre a dor, escancarada em nossa cara, o que nos faz refletir e comove demais nossos corações. 
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01/02/2015

Crítica do filme: 'James Brown'

Produzido pelo astro do Rock, Mick Jagger, que tem sua famosa banda mencionada em um contexto deste trabalho, Get on up, ou na tradução James Brown, é uma quase emocionante homenagem a um ícone artista norte-americano mas um filme apenas mediano. O roteiro assinado por Jez Butterworth e John-Henry Butterworth tem diversas falhas principalmente quando começam a brincar com a linha temporal, mostrando flashbacks da ascensão do protagonista e deixando de lado uma construção mais profunda da personalidade forte que tinha um dos grandes reis dos palcos americanos das últimas décadas. De ponto positivo, a intensa interpretação/doação do bom ator Chadwick Boseman que dá vida ao protagonista. Como um todo, o filme termina deixando um gostinho de que poderia oferecer mais ao público.

Na trama, acompanhamos a trajetória de vida do futuro músico de sucesso James Joseph Brown Jr, o James Brown, um dos únicos artistas do planeta a vender mais de 100 milhões de cópias em toda sua carreira. Nesse trabalho, dirigido por Tate Taylor (Histórias Cruzadas), acompanhamos muitas fases da conturbada vida do protagonista, desde sua infância extremamente pobre na Carolina do Sul, passando pelo estrondoso sucesso nas décadas de 50, 60 e 70, até a decadência de sua carreira.

O rei do Soul, como era conhecido Brown, teve uma infância complicada. Filho de uma mãe que abandonou a família e um pai que não queria cuidar dele, acabou tendo que viver na casa de uma tia. Esteve preso durante um período e lá conseguiu encontrar outros músicos e assim montar uma primeira banda chamada The Famous Flames. Porém, sua voz e seu carisma eram preponderantes e James Brown acabou tendo que ficar mais em evidência o que gerou mal estar com os outros integrantes da banda. Essa parte no filme é mostrada de maneira rápida mas objetiva.


Os conflitos pessoais que levaram James Brown a ter uma vida até certo ponto mais difícil se dão ao fato de ter uma personalidade extremamente forte, o que o deixava em evidência e em conflito a todo instante. A sua genialidade era posta em prática durante as gravações, as ideias magníficas para os shows e com seu gingado que até hoje recebe adeptos mundo à fora. A atuação de Chadwick Boseman é louvável se doa ao máximo para mostrar cada detalhe desse furacão que era James Brown por mais que o roteiro não o ajude o tempo todo. Talvez falte um pouco mais de profundidade ao roteiro para entendermos melhor o homenageado, em certos pontos do filme não conseguimos interagir com a história, deixando o público até certo ponto decepcionado.
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30/01/2015

Crítica do filme: 'Cássia Eller'

Os discos jogados num quarto repleto de quadros e violões, ah... e aquele allstar azul ao lado do de cano alto. Como um furacão de emoções, dramas e muita verdade, que promete emocionar a todos, chega aos cinemas brasileiros nesta semana o espetacular documentário Cássia Eller. Dirigido pelo excelente diretor Paulo Henrique Fontenelle, que a cada novo projeto vem brindando os cinéfilos com trabalhos fabulosos (como foi em Dossiê Jango), tentamos decifrar os segredos e a timidez de uma artista que marcou seu nome na história não só pela música mas nas conquistas importantes que conquistou, também quando se foi. O filme é pura emoção e bate aquela vontade de bater palmas de pé quando já emocionados vemos as letrinhas dos créditos subirem.

Nesse projeto 100% nacional, acompanhamos em pouco mais de 110 minutos de fita, toda a história que cercou o nascimento de uma lenda da música popular brasileira. Filha de um paraquedista e uma dona de casa, Cássia usava a música como uma intensa fuga para sua timidez. Com um alcance vocal único e com uma força enorme quando estava no palco, a protagonista deste documentário, que não deixa de ser uma linda homenagem a essa baita mulher, aos poucos foi se tornando uma bomba relógio de emoções.

Como todo bom documentário, todas as verdades são ditas e apresentadas, deixando o próprio público tirar suas conclusões sobre os fatos. Os vícios de drogas também não são escondidos, acompanhamos todos os dramas por conta de tratamentos, problemas amorosos, estresses e abstinências. Cássia teve uma vida intensa, não temos dúvida. Com o sucesso batendo na porta a todo instante, seu jeito simples e a falta de estrutura emoção para lidar com a fama aos poucos vão incomodando a cantora que sempre contava com todos os amigos nessa hora.

A amizade entre Cassia e Nando Reis gera os mais emocionantes depoimentos que vemos na tela. É como se a menina tímida ainda estivesse aqui entre nós, tamanha a força que marcou sua presença durante suas décadas neste país. Percebemos o carinho que todos que conheciam Cássia tinham por ela. Sua relação com a eterna Maria Eugênia e com o filho Chicão mostram um lado doce que transformam o furacão Cássia em uma ventania poética de felicidade. E sobre sua família, falamos da conquista que conseguiu quando seu filho teve a guarda dada a mulher que sempre amou. Uma vitória inédita para o amor.

De Nirvana à Piaf. De Buarque ao blues. Um alcance vocal único. Um ícone da música brasileira. Música é uma coisa bela que toca lá dentro. E não temos dúvidas de que Cássia cumpriu seu objetivo, tocou profundamente e se tornou inesquecível em nossos corações. 
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29/01/2015

Crítica do filme 'Respire (Respira)'

A paixão é um caminho ou um obstáculo à liberdade? Depois de adentrar Hollywood sendo musa do grande filme de Tarantino, Bastardos Inglórios, Mélanie Laurent se joga de vez no mundo da direção cinematográfica e continua mostrando seu talento, dessa vez, atrás das câmeras. Respire (Respira), baseado no romance da autora francesa Anne-Sophie Brasme, é um soco no estômago para quem ainda acha que a adolescência é uma fase qualquer de nossas vidas. Percorrendo Nietzsche e as razões do excesso, esse longa-metragem francês possui um clima tenso desde o primeiro minuto e um arrebatador desfecho.

Na trama, somos rapidamente apresentados a inteligente Charlie (Joséphine Japy), uma jovem de 17 anos que possui uma vida tranquila na escola ao lado dos amigos mas vive atormentada pela relação de amor e ódio entre seus pais. Certo dia, uma jovem chamada Sarah (Lou de Laâge) chega a escola de Charlie e logo as duas viram amigas.  Sarah é animada, cheia de histórias pra contar, sua vida parece um filme da qual é a única roteirista e sabedora de todos os mistérios e mentiras que a cercam. É uma personagem intrigante, iluminada a todo instante pela lente inteligente e sensibilidade de Laurent. Só que essa chegada de Sarah, mexe muito com Charlie, principalmente quando a protagonista começa a descobrir alguns segredos impactantes da vida dela.

O filme foca para seus ‘clímaxs’ na amizade que é formada. Charlie e Sarah viram super amigas em pouco tempo, vão adentrando perigosamente em uma relação íntima de amizade e dependência. Sarah é provocante, induz a pensamentos dúbios na delicada Charlie. Incrível como a diretora Melanie Laurent consegue captar tamanha profundidade em modestos 90 minutos de projeção. Conseguimos entender melhor as personagens a cada nova sequência angustiante que nos espera.

A transformação da protagonista Charlie ao longo do filme é arrepiante. Suas atitudes inconsequentes vistas já no desfecho da história, mostram que no fundo ela reprime seus pensamentos mais sombrios e isso gera uma catástrofe sem fim dentro de sua vida. Perde amigos, suas notas caem vergonhosamente. Seus pais, em uma eterna zona de conflito, nada fazem para tentar dar uma certa luz ao caminho de sua aterrorizada filha. Somos testemunhas de um caminho nebuloso eminente para a protagonista.


Respire (Respira) ainda não tem previsão de estreia no Brasil. Talvez nunca chegue, infelizmente. Com atuações impactantes, uma direção maravilhosa e uma história muito envolvente, esse filme é um dos grandes filmes de drama do cinema francês nos últimos anos. Se tiver a oportunidade, não deixe de conferir. Filmaço.
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Crítica do filme: 'O Amor é Estranho'

Aceitar um momento difícil é o começo para superá-lo. Após emocionar os cinéfilos com o maravilhoso Deixe a Luz Acesa (2012), o diretor norte-americano Ira Sachs volta a falar sobre relacionamentos conturbados, na sensível e muito honesta fita O Amor é Estranho. Com uma dupla de protagonista pra lá de competentes e uma Marisa Tomei inspirada, como coadjuvante, o filme vai se moldando nos belos diálogos e difíceis decisões que os personagens principais vão enfrentando ao longo dos singelos 94 minutos de projeção.

Na trama, assinada pelo próprio diretor e Mauricio Zacharias, acompanhamos o casal Ben (John Lithgow) e George (Alfred Molina) que após décadas juntos, decidem oficializar sua união, fato que gera muitos problemas no trabalho de George e assim ambos acabam entrando em uma crise financeira. Após terem que vender a casa onde sempre moraram, contam com a ajuda de familiares, vizinhos e amigos para voltarem a ficar juntos.

Pedras no caminho? Obstáculos da vida? Preconceito de uma hipócrita igreja nos tempos atuais? O filme aborda muitas situações que vão dos problemas familiares até as dificuldades sociais por conta de preconceito. Porque o amor de Ben e George não foi aceito pela escola religiosa onde George lecionava a anos? As dificuldades dos protagonistas partem desse ponto, quando ficam sem dinheiro, e assim precisam, forçadamente, conhecer a fundo os problemas dos amigos que os ajudam, piorando ainda mais a dor e virando um cotidiano constrangedor. Os mais profundos diálogos do filme, acontecem entre Ben e a personagem de Marisa Tomei, há tanta profundidade e emoção que se torna uma grande aula de cinema a todos os artistas que estão começando nessa profissão.

Ira Sachs consegue com muita delicadeza abordar todos esses assuntos polêmicos. O espectador se sente amigo dos personagens, tamanha força e determinação que a relação dos protagonistas possuem. A arte do percorrer caminhos já vistos é extremamente complicada para qualquer ser humano, somos testemunhas do medo e quase desespero que paira sobre os personagens a cada novo dia lutando para voltarem a ficar juntos. Recomeçar é mais difícil que começar, pois requer a coragem do início e a superação do fracasso.


O Amor é Estranho estreia em breve aqui no Brasil após fazer um grande sucesso em alguns festivais pelo mundo, inclusive na última edição do Festival do Rio de cinema. Não deixem de conferir esse belo trabalho que deve mexer demais com seu coração. 
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28/01/2015

Crítica do filme: 'Hector and the Search for Happiness (Hector e a Busca pela Felicidade)'

Evitar a tristeza não é a forma certa de encontrar a felicidade. Baseado no livro Le voyage d'Hector ou la recherche de bonheur do autor francês François Lelord, Hector and the Search for Happiness (Hector e a Busca pela Felicidade) é um filme muito honesto que mexe com a emoção do público com suas inúmeras lições na prática sobre a arte da felicidade. O longa metragem é dirigido pelo britânico Peter Chelsom, que em seu último trabalho dirigiu o filme Hannah Montana: O Filme.  Mas não se assustem! (Rs) Chelsom conduz com trivialidade e maestria essa história que vai emocionar a muitas pessoas.  Podemos considerar esse trabalho como uma espécie de Walter Mitty Britânico.

Na trama, somos apresentados a Hector (Simon Pegg), um psiquiatra que vive uma vida monótona ao lado de sua namorada Clara (Rosemund Pike). Após uma sessão com uma paciente pra lá de esquisita, o protagonista desperta para seus sentimentos e emoções, embarcando em uma jornada de auto descoberta, à procura da felicidade. Imagens lindas vão desfilando pelo filme, nos sentimos muito próximo dos personagens tamanha verdade que sentimentos em cada gesto, cada palavra que vemos sair das atitudes e pensamentos dos personagens.

Hector é um homem que tem a vida toda certinha, controlada. Mimado por sua namorada, em todos os minutos de seu cotidiano sem emoções, o protagonista explode para vida de uma hora pra outra. O espectador é premiado com diálogos deliciosos, pensamentos inteligentes sobre a sociologia e a exploração que chega a todos nós sobre o que fizemos da nossa vida até agora. Hector representa toda uma parcela da população que de repente desperta para a vida e acaba indo de encontro, da antes tão distante, felicidade.

Da Inglaterra à China, da África à Los Angeles, da morosidade do dia a dia à liberdade. Os personagens que vão aparecendo na vida do protagonista são maravilhosos, contribuem demais para que o filme tenha uma dinâmica que faz o cinéfilo sorrir de orelha a orelha. Jean Reno, Toni Collette, Stellan Skarsgård, o espetacular Christopher Plummer e a recém indicada ao Oscar pelo filme Garota Exemplar, Rosamund Pike. Mas as luzes estão todas no brilhante Simon Pegg, que consegue, como um camaleão, pular de filme em filme, de diferentes gêneros, sem perder sua essência de grande ator.


Hector and the Search for Happiness (Hector e a Busca pela Felicidade) ainda não tem data para estrear no Brasil. Esperamos que chegue em breve. O nosso público merece tentar decifrar todos os mistérios que cercam essa tal de felicidade. 
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