01/05/2016

Crítica do filme: 'Os Outros'



A personificação do sonho é também uma forma de carinho por alguém que a gente admira.  Falando sobre o curioso mundo dos covers aqui no Brasil, a experiente e competente cineasta Sandra Werneck buscando ser criativa nas interações narrativas liga a câmera e transforma três simples histórias em um belo e interessantíssimo documentário. Ao longo dos curtos minutos de projeção, conhecemos com detalhes partes importantes do cotidiano desses artistas que vivem em sua essência homenageando diariamente seus ídolos de coração.

Na trama, conhecemos três artistas covers aqui do Brasil. Um deles é Carlos Evanney, que há 14 anos é cover do rei Roberto Carlos, considerado um dos mais respeitados covers do Brasil. O outro artista que aparece no filme é Pepê Moraes, cover do inesquecível Cazuza e que mostra sua complicada rotina em busca de shows para continuar fazendo o que ama. O último é Scarlet Sangalo, um conhecido cover da Ivete Sangalo que precisou superar preconceitos de muitos para poder realizar o sonho de se transformar em Ivete e fazer disso um trabalho rentável. 

Ao longo de entrevistas e uma busca detalhada sobre a rotina dos personagens, vamos entrando a fundo nesse interessante mundo dos covers. A discussão se amplia quando pensamos na relação dos artistas com seus ídolos. Scarlet Sangalo é um observador, acompanha pelas redes sociais as tendências de moda da musa Ivete Sangalo e tenta copiar trejeitos e a alegria, característica marcante da maior cantora de axé que o Brasil já viu. O cover de Cazuza, Pepê, é um fanático por música que acabou por acaso virando o cover do inesquecível Agenor.  O cover de Roberto talvez seja o que possui até um certo tipo de monomania, pegando vícios de trejeitos, guardando um bolo de anos atrás em um pote e realmente tentando seguir os passos de seu grande ídolo. 

 Os Outros tem estreia marcada para o próximo dia 19 de maio e promete, sem dúvidas, agradar a todos que curtem um belo documentário.
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Crítica do filme: 'No Mundo da Lua'



Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado. E chega diretamente da Espanha uma das animações mais simpáticas do ano, No Mundo da Lua. Explorando o tema família misturando com iniciativas tecnológicas ligadas ao incrível mundo da astronomia, o longa-metragem, que teve um lançamento modesto no circuito brasileiro, último dia 21 de abril, é uma fábula divertida que em sua essência destrincha todos os caminhos do ato de sonhar aos olhos e ações de um grupo de amigos super inteligentes. 

Na trama, conhecemos um garoto de 12 anos chamado Mike Goldwing, um jovem aventureiro que vem de uma família de astronautas. Seu grande sonho sempre foi tentar a reconciliação entre seu pai e seu avô que não se falam já durante um bom tempo. Quando Richard Carson, um ambicioso milionário resolve plantar a ideia de que a ida à lua foi uma invenção do governo norte-americano, a Nasa resolve organizar uma nova viagem à lua, e assim, o pai de Mike é escolhido como comandante da missão. Mas após um acidente, o pai de Mike fica impossibilitado de ir na missão e por conta de uma ação do destino, Mike, sua amiga Amy e seu avô acabam embarcando em uma viagem inesquecível rumo à lua. 

Um dos pontos positivos do filme é a boa elaboração e execução do roteiro nos objetivos dos personagens dentro da história. São linhas de criatividade muito inteligentes e muito bem explicadas. Falar de uma energia futurística chamada Helio-3 e a ganância que vem em cima dessa informação (igualmente como ocorreu com Petróleo e outras riquezas naturais ao longo dos séculos), além de ir fundo nas explicações dos problemas familiares, a briga na relação pai e filho, são desenvolvimentos muito interessantes dentro da trama. Explorar esse lado da tecnologia aos olhos da criançada é sempre muito divertido e todas as linhas cômicas funcionam muito bem ao longo dos 94 minutos do filme. 

É claro que falta um pouco do desenvolvimento da amizade entre os amigos a serem mostradas, as ações ocorrem quase que instantaneamente o que pode gerar um pouco de confusão, o personagem Marty, um dos amigos de Mike, fica um pouco isolado em algumas ações. Mas como um todo, Atrapa la Bandera, no original, é uma aventura que usa técnicas de animação bem feitas e cumpre o que se propõe que é divertir o público com uma trama bem elaborada e que em alguns momentos emociona também.
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30/04/2016

Crítica do filme: 'Angry Birds – O Filme'



Por trás de um grande sucesso existe sempre uma grande equipe. Com a difícil missão de transformar um famoso jogo em um longa-metragem, os cineastas Clay Kaytis e Fergal Reilly optaram pela criatividade em forma de simplicidade e acertam em cheio no alvo. Angry Birds – O Filme tem um roteiro bem trivial mas bem eficaz que navega explorando as personalidades e gigantes empatias que saem dos diálogos dos amáveis pássaros. Outro fator interessante é que o filme nos ajuda a entender um pouco melhor a história dos ilustres passarinhos do jogo que virou mania nos aparelhos digitais e que com certeza vão conquistar, agora no cinema, de vez o coração de todos.

Na trama, conhecemos uma população de pássaros, com diversas personalidades distintas, que vivem alegremente em uma ilha paradisíaca longe do continente. Nesse lugar, vive o emburrado Red (no original Jason Sudeikis, no Brasil Marcelo Adnet), um pássaro vermelho de sobrancelhas chamativas que vive praticamente isolado do resto dos amigos em uma casinha perto do mar. Durante uma punição, Red conhece o tagarela Chuck (Josh God no original e Fabio Porchat no Brasil), um pássaro amarelo hiperativo que tem o dom do rapidez, e também conhece Bomba (Danny McBride no original), um tímido mas grande pássaro que explode (literalmente) sempre que fica com raiva. Os três amigos praticamente são desconhecidos na ilha, porém, quando um bando de porquinhos verdes invadem a ilha à procura de ovos, o trio irá fazer de tudo para defender o interesse de toda a população de onde moram.

O longa-metragem, que utiliza técnicas de animação, com estreia confirmada para o dia 12 de maio aqui no Brasil, é um filme feito para a criançada. Até há a tentativa de alguns diálogos mais profundos que serviriam para divertir os adultos também mas nessas partes as linhas do roteiro optam pela simplicidade. A aventura tem grandes méritos, valoriza o poder da amizade, explora o complicado caminho das personalidades tentando mostrar os porquês da raiva e outros sentimentos complicados de explicar. Nesse aspecto, é quase tão profundo quanto o espetacular Divertidamente.

Falando sobre a dublagem do filme aqui para o Brasil, vale o grande elogio para toda a equipe, que foi considerada pela produtora do filme como a melhor entre todos os países. Fabio Porchat e Marcelo Adnet, os grandes destaques, dão um show dublando as vozes de dois dos protagonistas. O público interage com as cenas a todo instante, ri praticamente o tempo todo de todas as trapalhadas que a turminha de pássaros apronta durante toda a projeção. Angry Birds – O Filme é uma fita que deverá ter um grande sucesso nos cinemas brasileiros não só porque são personagens fascinantes e já conhecidos, mas, porque a história criada ficou uma delícia de divertida. Não percam!
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Crítica do filme: 'Maravilhoso Boccaccio'



Dirigido e roteirizado pelos craques e experientes cineastas Vittorio Taviani e Paolo Taviani (dos excelentes Pai Patrão e Cesar deve Morrer), Maravilhoso Boccaccio não deixa de ser, a princípio, uma grande homenagem à cultura italiana onde navegam por algumas histórias que estão no famoso livro de Giovanni Boccaccio, Decamerão.  Os irmãos Taviani, com muita habilidade, aos poucos vão explorando as fragilidades dos personagens (que são muitos) de maneira muito objetiva e as sequências vão tomando forma de maneira elegante e muito simpática na tela. O público se sente a todo instante folheando páginas de um livro conhecido mas que dessa vez com imagens que personificam as emoções ligadas ao coração. 

Exibido no Festival de Tribeca 2015 e no Festival do Rio do mesmo ano, Maravilhoso Boccaccio se passa na Florença do século XIV, que foi duramente atingida pela terrível peste negra. Com medo das consequências dessa temível peste, alguns jovens, poucos rapazes e muitas moças, meio que resolvem fugir do caos da cidade e tentam achar abrigo em uma grande casa, distante do epicentro da doença, onde, sem muito o que fazer, resolvem contar histórias para passar o tempo. 

O longa-metragem, que estreia no Brasil na próxima quinta-feira (05), explora a simplicidade para provocar o imaginário, mais ou menos o poder que um poderoso e rico livro tem quando se conecta à nossa imaginação. Algumas cenas parecem um teatro aberto, onde olhamos para cada centímetro buscando absorver tudo que aquela sequência representa para a história. A dor e o medo são os primeiros a serem encontrados, exemplificado no instinto clássico de sobrevivência que nesse caso é valorado pela fuga. A amizade logo chega de maneira predominante e regras são impostas para fazer a ponte com outro sentimento: a dúvida, que se mostra presente do segundo ato em diante, às vezes camuflada de ansiedade.

Maravilhoso Boccaccio é um daqueles trabalhos que conquistam o público já nas primeiras cenas. Tudo é tão delicado que beira ao poético. Não percam este lindo filme.
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Crítica do filme: 'Ele está de Volta'



E se Adolf Hitler acordasse na Berlim de hoje? O que aconteceria? Qual seria sua reação e a do povo? Brincando com a imaginação, o cineasta David Wnendr comanda um filme assustador pela ideia e cômico como longa-metragem. Ele está de Volta brinca de maneira séria com uma das pessoas mais odiadas que já existiu neste planeta, como seria seu modo de pensar nos dias atuais, suas metas de governo, tudo isso em forma de sátira e diálogos impactantes além de pitadas equilibradas de humor. Interpretado pelo ator alemão Oliver Masucci, o personagem principal se torna praticamente uma espécie de Borat, deixando em algumas sequências a própria reação abismada dos que acompanhavam a filmagem tomarem conta das cenas.

Na trama, já no século XXI, um homem acorda em pleno gramado, onde perto estão fazendo uma gravação. Esse, não é um homem desconhecido, é o ditador Adolf Hitler que acorda fardado e meio sem entender onde está, consegue refúgio em uma banca de jornal onde começa a se atualizar sobre sua atual situação. Certo dia, um fracassado jornalista resolve procurá-lo e o leva ao poderoso mundo televisivo onde o Hitler dos dias atuais terá bem mais que 15 minutos de fama. 

Bem menos sério que o excelente A Onda, Ele está de volta explora com bom humor e pitadas de atos grosseiros como seria o modo de pensar de Hitler para a situação da Alemanha hoje, sem perder o seu poder de convencimento sobre suas ideias. O restante dos personagens viram meras marionetes nas mãos do Ex-Führer. O filme, que estreou na Alemanha no ano passado, e que chegou faz pouco tempo no netflix, se coloca mais ou menos como Sacha Baron Cohen e seu Borat, explorando o universo das cenas gravadas abertas, com a participação do público para as situações do filme. 

O longa-metragem ganha muita força quando embarca no universo poderoso do poder da mídia e a influência da mesma na vida das pessoas. Hitler aparece em diversos programas de televisão e toma conta da audiência, parece que relembramos os livros de história do segundo grau quando líamos sobre o poder das orações desse homem que quase dominou o mundo com seus ideais polêmicos e cruéis. O que deixa mais abismado é a reação de algumas pessoas quando acham que Hitler é apenas um ator (dentro do contexto do filme), vira celebridade instantânea e ganha a atenção de muitos. 

Ele está de volta não estreou na janela cinema. Se tiver oportunidade de assistir, assista. É um trabalho muito interessante e que nos faz refletir a todo instante.
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