23/10/2016

Crítica do filme: 'Capitão Fantástico'

Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. Escrito e dirigido pelo pouco conhecido ator e também cineasta Matt Ross, Capitão Fantástico é um daqueles filmes que deixam nosso coração na boca, faz nosso raciocínio brilhar e mexe intensamente com nosso modo de ver e viver tudo que aprendemos até hoje em nossas vidas. Exibido no Festival do Rio deste ano e com uma atuação brilhante do grande ator nova iorquino Viggo Mortensen, o longa metragem de objetivos 118 minutos é, sem dúvidas, o melhor filme do ano até agora.

Na trama, conhecemos Ben (Viggo Mortensen) e sua família para lá de diferente. Ben e sua esposa resolveram criar os seus seis filhos em um lugar muito bonito e longe da sociedade, deixando eles distantes de qualquer contato com as novidades e besteiras do mundo e sua globalização. Quando sua esposa, que precisou ser hospitalizada por conta de uma doença terrível, falece, Ben resolve ir até o encontro dela e leva junto seus filhos. Após o choque natural da criançada com o mundo da maioria das pessoas que os cercam mais que nunca tiveram contato, o capitão fantástico desta turma terá que fazer escolhas difíceis e confrontar pessoas que consideram seu modo de vida prejudicial aos seus filhos.

A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida. Pensador desse lema, o protagonista criou seus filhos com rigidez e muita disciplina. Livros complexos são passados como dever de casa para todas as crianças, não importa a idade. As verdades são uma só e vários tabus de outras casas, para Ben, são apenas verdades que precisam ser ditas da única maneira que existe. O ambiente é de total harmonia, músicas (a cena da família cantando ‘Sweet Child o’Mine’ é emocionante e arrepia), brincadeiras mas também alguns excessos como exercícios físicos que não respeitam idade e que podem machucar. O personagem principal é intenso em seus princípios, a ideia de ter uma família vivendo longe dos vícios e futilidades, além dos alimentos que só prejudicam, é vivida intensamente mas falta equilíbrio, no fundo, Ben sabe disso.


No terceiro arco em diante, a mudança começa a acontecer. Ben, personagem complicado, de bom coração, interpretado com maestria por Mortensen se vê cercado de situações que o fazem repensar alguns de seus conceitos. Seus filhos, sua única riqueza nesse mundo, percebem rapidamente e o ajudam nesse momento de transição, transformando uma linda história em uma história inesquecível.  Capitão Fantástico é algo assim, único, um presente para quem gosta de se emocionar com filmes que mexem com nosso coração. A grande lição que aprendemos com essa fita é que Capitão Fantástico é qualquer um que acredita que uma boa ideia pode mudar um pouquinho nosso mundo, ou mesmo que um filme inesquecível faz com que reflitamos sobre nossa própria existência. Seja o Capitão da sua vida, viva fantasticamente. Bravo! :) 
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Crítica do filme: 'Elle'

O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não. Baseado na obra do escritor Philippe Djian, o novo trabalho do ótimo cineasta holandês Paul Verhoeven  (RoboCop - O Policial do Futuro, Instinto Selvagem, Zwartboek) , Elle, que concorreu a Palma de Ouro em Cannes esse ano, é uma jornada, um tanto quanto psicológica, que coloca em discussão o medo e a frieza em lados apostos. Protagonizado pela sempre extraordinária atriz francesa Isabelle Huppert (que mais uma vez dá um espetáculo em cena) e um elenco pra lá de primeira, o longa metragem pode ser considerado um grande quebra cabeça onde vamos montando as peças pelas deixas do roteiro e pelos caminhos trilhados pela lente inteligente, totalmente presa aos detalhes, de Verhoeven.

Na trama, conhecemos a fria e solitária empresária do mundo dos games Michèle Leblanc (Isabelle Huppert), uma mulher de personalidade que possui um único filho, totalmente diferente dela. Certo dia, após deixar um gato entrar em sua casa, um homem mascarado aproveita a situação e a violenta. Tentando lidar com o ocorrido, Michèle se cala, não vai à polícia e conta para poucas pessoas o ocorrido mas começa a ligar o alerta e desconfiar de que o seu estuprador é alguém que ela conhece.

Ao longo dos intensos 130 minutos de projeção, Verhoeven joga o público em uma trama recheada de pequenos segredos que sempre circula em um tom de suspense. Nossos olhos é uma protagonista complexa, que poucas vezes se viu na posição de fragilidade que se encontra. Sua relação moderna, quase de irmã, com sua melhor amiga Anna (Anne Consigny) e sócia no negócio de games é regada a uma traição, já que Michele tem um caso de longa data com o marido de Anna. Sua relação quase de desespero com seu único filho Vicent (Jonas Bloquet), um jovem com problemas que se casou com uma mulher mais problemática que ele e Michele entra em conflito sempre com os dois. O ciúme adolescente que Michele possui de seu ex-marido Richard (interpretado pelo ótimo Charles Berling) que namora uma mulher mais jovem. Muito controladora de sua vida e dos que a cercam, a transição da personagem vai acontecendo ao longo da projeção.


Às vezes filmes de suspense, às vezes um drama, às vezes uma história de sedução. Elle pode ser visto por várias óticas. Verhoeven apresenta seu melhor, a todo tempo esperamos o desenrolar dos fatos na cena seguinte, são 130 minutos de projeção que nem vemos o tempo passar. Huppert desfila mais uma vez para o coração dos cinéfilos, uma atuação magistral em uma personagem cheia de complexidade e imperfeições. Elle estreia no dia 17 de novembro e é um dos grandes filmes do ano, não percam! Bravo! 
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22/10/2016

Crítica do filme: 'Não Olhe para Trás'

Não somos responsáveis pelas emoções, mas sim do que fazemos com elas. Em seu primeiro longa-metragem como diretor, o roteirista e produtor norte americano Dan Fogelman logo de cara tem a difícil missão de dirigir, talvez, o maior ator de cinema em atividade, Al Pacino. Contando a história, baseada em alguns trechos numa história real, de um decadente músico que vê sua vida mudar de rotina quando resolve acertar suas contas com o passado , Não Olhe para Trás mais uma vez mostra todo o talento e carisma de Pacino embasado em um roteiro bem sincero e que transpira verdade. Quem ganha somos nós cinéfilos, por termos a honra de sermos do mesmo tempo de um dos grandes artistas de toda a história da indústria cinematográfica mundial.

Na trama, conhecemos o famoso cantor Danny Collins (Al Pacino), um homem que vive de fama, whisky, shows e drogas faz 40 anos.  Sem lançar um novo sucesso por bastante tempo e sem ter muitas esperanças em seu futuro, após receber de presente uma carta que John Lennon escreveu para ele anos atrás e que ele não sabia, resolve embarcar em uma jornada comovente buscando resolver positivamente seu relacionamento com seu único filho Tom Donnelly (Bobby Cannavale). Nessa jornada, acaba reencontrando sentimentos que estavam perdidos em seu cotidiano, um deles, quem provoca é a gerente de hotel Mary Sinclair (Annette Bening), por quem Danny criará sentimentos fortes.

A honestidade com quem é executada essa bela história é um dos fatores mais preponderantes para o sucesso da trama. Fora o carisma de outro planeta de Pacino, Benning e Cia, a direção de Fogelman, extremamente cuidadosa e detalhista, também nos levam para dentro do que acontece nas cenas. Os diálogos são bastante emotivos durante boa parte do filme, o roteiro visa o amor como forma de perdão e como forma de auto descobertas. Questões são expostas e respostas ficam em aberto, trazendo cada vez mais o público para próximo de uma realidade totalmente possível.


Os arcos são muito bem definidos, vemos uma apresentação rápida e um exalar de carisma absurdo do protagonista em um primeiro momento, depois somos apresentados às mudanças que aconteceriam e logo em seguida uma conclusão cheia de pontos de interrogações que são preenchidas pelo veredito do público e sua interação com cada personagem. Não Olhe para Trás ficou pouco tempo em circuito nas salas de cinema brasileiras, merecia mais. Para você quem não assistiu, não perca. Tem até no Netflix. Vale a pena! J
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16/10/2016

Crítica do filme: 'Águas Rasas'



O risco de uma decisão errada é preferível ao terror da indecisão. Dirigido pelo cineasta espanhol Jaume Collet-Serra (diretor do conhecido A Orfã), o suspense/thriller/terror Águas Rasas é um trabalho muito interessante que explorar com eficácia e objetividade uma situação inusitada vivida por uma turista surfista em uma praia paradisíaca completamente longe de casa. O clima de tensão que o filme consegue passar é o grande fator X para que a produção abra um belo sorriso nos cinéfilos.

Na trama, conhecemos a carismática Nancy (Blake Lively), uma jovem estudante de medicina que resolve visitar uma praia paradisíaca que foi importante na trajetória de sua mãe já falecida. Chegando no lindo lugar resolve ir surfar e acaba sendo atacada por um terrível tubarão. Sua sorte é que conseguiu ficar presa em algumas pedras e usando muita criatividade e ativando toda sua essência corajosa, a jovem terá que ultrapassar todos os seus medos e bolar um plano para sair dessa difícil situação. 

Quando o tubarão não rouba a cena, sabemos que o filme tem boas possibilidades de dar certo. A história é muito simples e nada muito além do possível é explorado pelas inteligentes lentes de Collet-Serra. O roteiro brinca com nosso imaginário conseguindo com que pensemos como seria nossas atitudes se tivéssemos dentro de uma situação similar. Blake Lively cresce em sua atuação a cada minuto, explorando as emoções mais conflitantes que a situação acaba gerando.  O único pesar é que a fita é curta, não se consegue detalhar com mais precisão a relação da jovem com sua família, talvez um ponto importante que não deram muita importância mas nada também que atrapalhe o desenvolvimento da interação do público com o filme. 

Águas Rasas estreou no Brasil e fez sucesso entre os cinéfilos mundo a fora. Se ainda não viu, vale a pena conferir.
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Crítica do filme: 'Conexão Escobar'



Pelo dever do correto uma vida pode virar duas. Protagonizado pelo eterno protagonista de um dos maiores seriados de todos os tempos, Breaking Bad, Bryan Cranston, Conexão Escobar tinha tudo para ser um baita filme mas acaba se perdendo por absorver vícios cinematográficos hollywoodianos em uma história que deveria ter sido contada de maneira simples e objetiva. Dirigido pelo cineasta norte americano, Brad Furman (O Poder e a Lei), o filme estreou no circuito brasileiro e sumiu das salas de cinema rapidamente. 

Na trama, baseado em fatos reais, ambientado em meados da década de 80 na flórida, conhecemos o experiente policial , Robert Mazur, (Bryan Cranston), um especialista em trabalhos disfarçados que resolve não aceitar a aposentadoria e fechar seu currículo com o maior desafio de sua vida, prender uma rede de banqueiros e investidores ligados ao narcotráfico colombiano que age nos Estados Unidos. Mas a missão não será fácil e para tal, precisará da ajuda da novata agente Kathy Ertz (Diane Kruger) e do extravagante agente Emir Abreu (John Leguizano).

Filmes sobre policiais que marcaram época em seus departamentos por atuarem disfarçados contra o crime organizado não é algo raro no mundo do cinema, fazendo com que uma certa originalidade/personalidade em algo assim tão visado seja necessária para o título não se tornar apenas mais um filme do gênero. Conexão Escobar tem uma estrutura excelente que é muito mal aproveitada e impressionantemente mal aproveitada. A cereja do bolo (O protagonista não consegue passar aquela empatia necessária para o espectador comprar a história. 

Falta clímax, explorar os momentos de virada na trama, focar no núcleo familiar de Mazur e sua relação complicada com sua esposa Evelyn ( interpretada pela ótima Juliet Aubrey). O longa deixa muito a desejar. O roteiro é baseado no livro O Infiltrado, do agente federal Robert Mazur (protagonista da trama). Podemos apostar ‘All in’ que o livro é melhor que o filme.
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17/09/2016

Crítica do filme: 'Julieta'



Deus não pode estar em todos os lugares e por isso fez as mães. Dissecando uma intensa e comovente relação entre mãe e filha, o novo trabalho do genial diretor espanhol Pedro Almodóvar é uma abertura de portas secretas nas intensidades da amargura que pode nascer de traumas terríveis que mudam pra sempre trajetórias de vida. Com uma baita fotografia, ótimas atuações e a delicadeza minimalista de sempre na direção, Almodóvar brinda mais uma vez os cinéfilos com uma obra original e repleta de momentos emocionantes.

Na trama, conhecemos Julieta (vivida por Adriana Ugarte na fase jovem e por Emma Suárez na fase mais velha), uma mulher na fase final de sua vida que está prestes a se mudar da Espanha para Portugal com seu namorado, o escritor Lorenzo (Darío Grandinetti). Alguns dias antes da partida, porém, encontra casualmente em uma esquina uma jovem que foi amiga de sua filha na infância. Esse acontecimento muda radicalmente (e depois percebemos, novamente) a vida da protagonista que se tranca em casa e começa a escrever uma carta para sua filha. Assim, ao longo de fabulosos 99 minutos de projeção, vamos conhecendo o passado de Julieta e um grande segredo que guarda dentro de seu coração de mãe. 

Após três anos de hiato entre seu último filme e esse novo trabalho, Almodóvar mostra mais uma vez que por mais que tenhamos a experiência, sempre podemos renovar nosso olhar sobre a técnica de contar uma história numa tela de cinema. Usando e abusando das cores, principalmente da intensidade do vermelho, o ganhador do Oscar (com o fabuloso Fale com Ela) é minucioso em causar o impacto para falar sobre os sentimentos. O desenvolvimento da personagem, tanto na fase mais velha, quanto na fase mais jovem, é sublime. Não conseguimos desgrudar os olhos da tela, queremos a todo instante descobrir as peças que faltam desse quebra cabeça. Há um suspense, misturado com drama e com raríssimos momentos de sorrisos. 

Baseado em três contos da escritora Alice Munro (Chance, Silence e Soon), Julieta pode ser considerado como um dos melhores trabalhos de Almodóvar no cinema, um drama contundente de arrematar corações. Indicado recentemente para representar a Espanha no próximo Oscar (na categoria Melhor Filme Estrangeiro), o filme teve uma boa jornada aqui no Brasil, onde estreou faz poucos meses. Se ainda não viu, não perca! Bravo!
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07/09/2016

Crítica do filme: 'Sing Street'

O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente que há no mundo. Escrito e dirigido pelo ótimo roteirista e diretor irlandês John Carney (dos excelentes Apenas Uma Vez e Mesmo Se Nada Der Certo) essa maravilhosa ‘dramédia’ com pitadas generosas de musical é um grande achado europeu em meio a tantos lançamentos mensais que entram e saem no circuito e infelizmente, em muitos casos, não conseguem ser aproveitados pelo público. Com um elenco desconhecido e um poderoso roteiro, Sing Street conquista o coração de nós cinéfilos em poucos minutos e vamos torcendo para o filme nunca acabar.

Na trama, passado em uma Dublin em meados dos anos 80, conhecemos Conor (Ferdia Walsh-Peelo) um adolescente que se muda para uma nova escola onde começa a sofrer bullying. Em meio a uma tentativa de ser forte em relação a essa situação, se apaixona perdidamente por uma jovem mais velha e para conquistar seu coração, resolve criar uma banda com alguns amigos, que conhece na nova escola, e assim uma linda história de amor surge.  

Essa produção é muito mais profunda nos argumentos de seus assuntos do que se é imaginado quando feito a leitura da sinopse. Carney, com grande sabedoria, explora o universo adolescente na escola além de mostrar uma realidade impactante para a galera dessa idade que é a separação dos pais e como a rotina diária muito quando isso acontece. As questões sobre o primeiro amor são maravilhosamente navegadas, tudo com altas doses de originalidade. Percebemos em poucos instantes de projeção como o filme tenta se distanciar de outras produções que falaram sobre temas que ocorrem nessa pérola européia.

As canções, talvez o ápice do longa metragem são sensacionais. Dá vontade de levantar da cadeira do cinema e começar a dançar. Acredito que os próprios atores sentiram isso, a transformação do protagonista é genial, antes um jovem nerd solitário se torna mais pra frente um líder de uma banda super eclética que acredita no amor e nos sentimentos desde cedo. Um fato para abrilhantar mais ainda essa produção, Carney se inspirou na história de sua vida e ainda teve a colaboração mais que especial do vocalista Bono, da banda U2.


Sing Street teve sua première mundial no prestigiado Festival de Sundance desse ano e infelizmente não possui data para estrear no circuito cinematográfico brasileiro. Caro leitor, caso tenha a chance de conferir esse filme, não perca essa oportunidade é um filme que beira as inesquecíveis histórias de amor que já vimos em grandes telas por aí. Bravo!  
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Crítica do filme: 'Imperium'

A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo.  Mostrando bem a fundo os detalhes de grupos extremistas que se espalham pelos Estados Unidos a muito tempo, o primeiro trabalho com longas metragens do cineasta Daniel Ragussis é um thriller policial com muita ação e bem violento que busca discutir um dos temas mais polêmicos da sociedade norte americana. Com uma atuação bem interessante do esforçado ator britânico Daniel Radcliffe e um bom aproveitamento dos coadjuvantes no contexto do roteiro, Imperium é um filme que merece ser conferido.

Na trama, conhecemos o agente do FBI Nate Foster (Daniel Radcliffe), um jovem com muito comprometimento com sua profissão mas que não consegue se socializar direito com seus colegas de trabalho, vivendo muitas vezes sozinho seu cotidiano no escritório. Quando a agente Angela Zamparo (Toni Collette) começa a observá-lo, percebe que ele tem o perfil perfeito para um trabalho como agente disfarçado dentro de grupos extremistas neonazistas com o objetivo de investigar potenciais terroristas e atentados. Assim, Nate raspa a cabeça e começa a viver um cotidiano completamente diferente de tudo que já tinha visto.

O roteiro tem várias camadas que distanciam o clímax da trama de sua superfície. No arco introdutório, entendemos melhor quem é o Agente Nate Foster e como ele começa a trabalhar como policial disfarçado. No segundo arco vemos um curto e instantâneo período de transformação não só física mas psicológica do protagonista, nesse momento também cresce a atuação de Radcliffe. No terceiro ato em diante somos apresentados a várias camadas de grupos extremistas, suas rotinas e seus motivos para lutar pelo que lutam. O protagonista consegue ser o ponto de interseção que o roteiro precisa para que toda a trama ande de maneira que os fatos sejam detalhados e apresentados deixando o público pensar sobre cada situação que a história passa.


Imperium não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, talvez porque nenhuma distribuidora daqui ainda o tenha descoberto.  Daniel Radcliffe com esse trabalho, mais uma vez, prova que é um ator com grande potencial que merece ser reconhecido pelos seus êxitos e não só porque interpretou o famoso bruxinho de óculos durante grande parte de sua infância/adolescência. 
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Crítica do filme: 'Elvis & Nixon'

Não é sobre dinheiro, não é sobre prestígio, não é sobre classe, é sobre ter uma identidade. Depois de dirigir o interessante longa metragem Amores Inversos, a cineasta Liza Johnson volta as telonas para mostrar uma história inusitada, e baseada em fatos reais, de um encontro entre o ex-presidente norte americano Richard Nixon e o ícone da música, o rei, Elvis Presley. Usando de diálogos bem humorados e um arco melhor que o outro, Elvis & Nixon é uma daquelas pérolas sensacionais que são lançadas no cinema e às vezes nem percebemos por conta do grande número de filmes que entram e saem das salas de cinema brasileiras. No papel principal, o do mito Elvis, o excelente Michael Shannon dá mais um show.

Na trama, acompanhamos alguns dias na vida da estrela do rock Elvis Presley (Michael Shannon) que de repente nutre um desejo gigante de conversar com o presidente dos Estados Unidos Richard Nixon (Kevin Spacey) sobre um assunto bastante peculiar: Elvis quer ser um agente infiltrado em determinados grupos e ajudar a polícia em determinados casos. Com a popularidade em baixa do presidente com os jovens, os assessores da casa branca Krogh (Colin Hanks) e Chapin (Evan Peters) aproveitam a oportunidade para tentar elevar o prestígio do presidente.

Acompanhamos essa surpreendente história sob a ótica de Elvis, talvez o rosto mais conhecido no mundo naquela época, tentava levar uma vida simples, sabendo que era praticamente um Deus por conta de todo o sucesso e exposição que tinha sua vida na imprensa. Mas Elvis era um ser humano um pouco esquisito, tinha uma mania de conseguir distintivos da polícia, andava bem armado e viajava de um lado ao outro buscando realizar seus objetivos longe da música.  O filme detalha bem essa excentricidade e mescla pequenas pausas dramáticas com momentos hilários, o Elvis de Shannon fisicamente talvez longe do original mas o jeito cativante que o Rei tinha está presente na interpretação deste Senhor ator. O relacionamento de amizade com seus amigos também preenchem bem lacunas deixadas pelas ações de Presley, destaque para a excelente atuação de Alex Pettyfer como Jerry.

Já, na outra parte da história, a parte de Nixon, os assessores Krogh e Chapin comandam a festa se metendo em situações inusitadas e complexas para tentar aumentar a popularidade do também excêntrico presidente Nixon, brilhantemente interpretado por Kevin Spacey. O legal da atuação de Spacey é quando vemos a perfeição nos trejeitos, o modo de andar e a expressão facial do ex-presidente muito evidentes.


Elvis & Nixon é muito mais uma comédia do que qualquer outra coisa. Explica bem na superfície uma parte da situação política da época e mostra também como o Sr. Elvis Presley era um tremendo enigma cheio de reações peculiares. Não deixem de assistir a esse filme, é diversão na certa!
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05/09/2016

Crítica do filme: 'In the Deep'

Não é que eu tenha medo de morrer. É que eu não quero estar lá na hora que isso acontecer. Usando essa frase emblemática do querido cineasta Woody Allen, começamos o papo sobre um filme que foi direto para Dvd nos Estados Unidos e não tem a mínima chance de ganhar as telas do circuito brasileiro de cinema. Estamos falando do suspense In The Deep. Escrito e dirigido pelo cineasta britânico Johannes Roberts, o longa metragem é um show de cenas subaquáticas onde o medo não consegue ser bem enxergado nas fracas atuações do elenco. Pior que tinha potencial essa história.

Na trama, conhecemos duas irmãs Kate (Claire Holt) e Lisa (Mandy Moore) que estão curtindo as férias em algum lugar paradisíaco no México. Tentando buscar diversão em um lugar que pouco conhecem, orientada por novos amigos, resolvem se divertir indo visitar tubarões no fundo do mar dentro de uma espécie de jaula de proteção. Óbvio que a diversão não dá certo e após poucos minutos dentro da água, a jaula em que estão se perde do cabo de sustentação e elas vão parar no fundo do mar. Assim, com pouco oxigênio e temendo um ataque a qualquer momento dos tubarões famintos do fundo do oceano, as irmãs precisarão de muita força e coragem para escapar dessa tensa situação.

Sabe uma coisa que incomoda nesse filme? É a quase não presença de tubarões. Poxa, se você quer explorar o lado psicológico de estar dentro do fundo do mar, tudo bem, porém, você precisa estar cercado de razões e porquês e precisa aproveitar o que a própria história propõe. Tudo acaba sendo um pouco subjetivo nesse projeto, as personagens são mal definidas dentro da trama fora as atuações que deixam um pouco a desejar por mas até que Mandy Moore se esforce em alguns momentos. Tentando ir na linha do suspense psicológico, o filme se afunda por completo. A direção não segura o filme, tenta a todo tempo criar um clima de tensão através de imagens dentro d’água mas nem arrepios encontram o espectador.


Uma das coisas boas que podemos comentar é que o filme tem apenas 87 minutos. A ideia era boa, porém foi mega mal aproveitada. 
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04/09/2016

Crítica do filme: 'Herança de Sangue'

Mais vale um pecador arrependido, do que um anjo mal intencionado. Exibido no último Festival de Cannes, o novo trabalho do excelente cineasta francês Jean-François Richet (do excepcional Inimigo Público nº 1 Parte 1 e 2) é pura adrenalina, do início ao fim. Richet pegou uma trama simples, baseada na obra de Peter Craig (que também assina o roteiro), e conseguiu criar um universo de ação sem limites, com cenas fortes e uma carga dramática muito bem apresentada, principalmente pelo seu protagonista interpretado pelo vovô fortão, nosso eterno Martin Riggs (de Maquina Mortífera), Mel Gibson.

Na trama, acompanhamos o solitário tatuador sessentão Link (Mel Gibson), um homem com um passado bem complicado, durante anos ficou preso em uma penitenciária barra pesada por não querer entregar o líder de uma gangue de motoqueiros. Durante o período que estava preso, perdeu a mulher e a filha desapareceu. Certo dia, durante mais um dia comum na vida do experiente tatuador seu telefone toca e do outro lado da linha está Lydia (Erin Moriarty), sua filha sumida. A questão é que a jovem ligou para o pai, sua única alternativa, pois acabara de se meter em uma confusão envolvendo um parente de uma temida família do crime na fronteira. Resgatando o espírito de anos atrás e explorando uma violência hoje mais contida, Link vai atrás de sua filha e fará de tudo para protegê-la.

O filme correu um sério risco de ser mais um filme do gênero ‘mais do mesmo’. Porém, alguns fatores foram fundamentais para fugir das mesmices de outros filmes parecidos. Primeiro, o protagonista é apresentado de maneira rápida mas sua construção, em relação ao passado e a fúria que controla, é exposta de maneira inteligente e o personagem se torna cada vez mais interessante aos olhos da plateia. É um grande trabalho de Gibson, cirúrgico em alguns momentos. Segundo, por mais que a ação sobreponha o drama, o elo familiar estabelecido pela chegada de Lydia à trama é fundamental para que lacunas sejam preenchidas e objetivos sejam traçados. Há um carinho acumulado do pai em relação a sua única filha, talvez seja a última chance de ele aproveitar esse momento, isso explica o desespero e as saídas que encontra para proteger sua filha. Esse relação dos dois é muito bem encaixada dentro da trama e realmente sentimos uma grande dedicação dos atores nos diálogos e sequências.


Em relação ao roteiro propriamente dito, se define por alguns atos bem amarrados e uma leve viajada no seu arco do meio. Alguns personagens aparecem mais pra explicar como era o protagonista em seu passado do que qualquer outra coisa. Incomoda um pouco o personagem Kirby (William H. Macy) ser tão pouco aproveitado. Mas no final, o filme tem muito mais méritos do que qualquer outra coisa. Com estreia prevista para a próxima quinta-feira (08), Herança de Sangue deve agradar bastante o público que curte filmes de ação como eram feitos antigamente mas também o público que gosta de uma boa história. 
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