28/10/2017

Crítica do filme: 'Spielberg'

Um dos gênios do cinema, aclamado em todo mundo. É difícil definir Steven Spielberg com outras palavras. Dono de direções que cortaram rupturas em diversas eras do cinema, esse perfeccionista norte americano tem alguns de seus segredos revelados e sua intimidade aberta nesse belo documentário da cinegrafista e cineasta Susan Lacy. Buscando decifrar a mente de Spielberg, ao longo de cerca de duas horas de projeção, esse belo trabalho relata na visão dele e de muitos ao seu redor, detalhes de toda sua trajetória para se tornar um dos diretores de cinema mais conhecidos em todo o mundo. Desde de seu início muito jovem dirigindo grandes nomes do cinema daqueles tempos, até as inovações digitais junto com uma criatividade absurda em criar atmosferas perfeitas para suas obras, vamos aos poucos entendendo melhor o grande Steven Spielberg.

O mais interessante, e aí onde os fãs do diretor vão de deliciar, é que ao longo do documentário, quase feito em atos, filme por filme, entendemos melhor o processo de criação de cada uma de suas obras e também os contextos pessoais ou políticos que as mesmas aconteceram. Para contar parte da trajetória, amigos de Spielberg, como Brian de Palma, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Geroge Lucas, e muitos outros se reúne em séries de depoimentos surpreendentes sobre a visão deles a cada processo de criação do emblemático diretor.

Sua vida pessoal também ganha luz nas lentes de Lacy. O relacionamento conturbado com seu pai, as idas e vindas dos problemas pessoais que de certa forma atrapalharam alguns dos projetos de Spielberg. Os depoimentos sobre como foi filmar A Lista de Schindler são os mais comoventes, e, de certa forma, foram uma homenagem a relação de pai e filho. Seus casamentos também são passados a limpo e todo o processo de renascimento da genialidade do diretor que fez o mundo se encantar com muitas de suas obras.


Esse projeto, produzido pela grande HBO, é um filme que todo cinéfilo deve assistir. Mesmo gostando pouco ou aclamando, não pode-se negar o fato de que Steven Spielberg é um dos nomes mais importantes da indústria da sétima arte mundial.
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Crítica do filme: 'Her Love Boils Bathwater'

A mãe compreende até o que os filhos não dizem. Chega do Japão um dos filmes mais sensíveis e emocionantes da temporada, uma mescla de comédia delicada com drama intenso que entra em nossos corações como uma flecha recheada de sentimentos bons. Her Love Boils Bathwater, ou no original, Yu wo wakasuhodo no atsui ai, é o indicado ao Oscar do Japão para a próxima cerimônia do Oscar e possui boas chances de conseguir uma vaguinha na lista final. Escrito e dirigido pelo cineasta Ryôta Nakano o filme apresenta a jornada de uma inesquecível personagem em busca do preenchimento de lacunas esquecidas em seu passado depois que descobre uma terrível doença. A sensibilidade que o filme preenche suas emoções é algo raro e transforma esse trabalho em um dos mais bonitos desses últimos meses.

Na trama, conhecemos a super querida Futaba (Rie Miyazawa, em uma atuação absolutamente fantástica) que mora sozinha com sua filha Azumi em uma casa humilde no delicioso Japão. Certo dia, Futaba descobre que tem uma doença terminal e quase paralelamente descobre onde seu ex-marido, que a abandonara, está morando. Vendo que precisa ter o ex-marido por perto, deixa ele voltar para a sua vida, sendo que o mesmo traz junto uma outra criança fruto de um caso que ele teve. Assim, os quatro embarcarão em uma jornada repleta de segredos para ajudar Futuba a realizar seus últimos desejos em vida.

O roteiro possui uma sensibilidade gigante. O primeiro arco, meio morno, na verdade é a construção inicial com inserções de detalhes que serão descobertos apenas com o passar do pouco mais de duas horas de projeção. Após a descoberta da terrível doença, Futaba começa a abrir seus segredos mais escondidos e o filme ganha contornos emocionantes (preparem desde já os lenços). Impressiona a qualidade dessa história que além de emocionar, tem um poder de surpreender o espectador.


O papel da mãe é algo abordado no filme nas óticas dos coadjuvantes em relação a protagonista. Mãe de muitos, mesmo sendo de poucos, Futaba é o reflexo de todo o amor que pode ter uma família quando tem uma figura carinhosa, forte, corajosa, para combater e proteger todos ao seu redor. A relação que a personagem principal tem com todos que a preenchem com amor é algo grandioso, sublime. Transborda na tela as razões de todo seu amor e o público se sente próximo a personagem em todo momento. A inesquecível atuação de Rie Miyazawa ajuda a deixar essa personagem na prateleira do imaginário cinéfilo como sendo um dos mais belos do cinema oriental contemporâneo.

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21/10/2017

Crítica do filme: 'Feito na América'

Repetindo a parceria do redundante No Limite do Amanhã, o astro Tom Cruise e o diretor Doug Liman (Na Mira do Atirador) chegaram aos cinemas poucas semanas atrás com Feito na América, filme repleto de ação que mostra uma operação ilegal que vai dos anos 70 ao 80, envolvendo decisões de alguns presidentes norte americanos, Pablo Escobar e agentes de grandes agências americanas. O roteiro navega na ótica e narrativa do protagonista, que realmente existiu, de maneira profunda em um grande esquema ilegal, ligados a guerra e drogas, além de explorar com bastante detalhes a rotina familiar do personagem principal mas não consegue a fuga de determinados clichês e um esteriótipo de bom moço que Cruise usa ao longo de sua carreira e em muitos filmes.

Na trama, acompanhamos a trajetória do experiente piloto norte americano Barry Seal (Tom Cruise), pai de família e casado com Lucy (Sarah Wright) que vendo oportunidades onde ninguém viu, vira contrabandista de armas para a tão temida CIA e ao mesmo tempo que faz trabalhos de logística e entregas para o alto escalão do cartel de Medellín (Escobar e companhia). Ao longo de quase duas décadas, acompanhamos Seal e seu negócio extremamente rentável, consequentemente perigoso.

Livremente baseado em fatos reais, a história de Barry Seal já foi retratada no projeto feito para televisão A Vida Por um Fio – Entre a Lei e o Crime no início da década de 90, o filme joga aberto com o público detalhes políticos que vão de Ronald Reagan até George Bush, alto comando das principais agências de proteção Norte americana, principalmente em relação a problemática confusa e de guerra envolvendo alguns países da América Central. Um das figuras emblemáticas nessas confusões políticas que o protagonista se mete é Schafer (Domhnall Gleeson) que trabalha na CIA e camufla vários movimentos de Seal, ajudando-o em muitos momentos a ir pra frente com seus planos mirabolantes quando ligado aos interesses de sua agência.

Longe de ser um dos melhores filmes do ano, Feito na América cumpre parte de seu papel de maneira eficiente e até certo ponto bem explicativa. Se conseguires fugir de algumas caras e bocas de Cruise, vista em quase todos seus trabalhos hollywoodianos, deve agradar aos que gostam de filmes políticos misturados com boas doses de cenas de ação.


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20/10/2017

Crítica do filme: 'Mulheres Divinas'

A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras. Representante da Suíça na disputa do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2018, Mulheres Divinas é, antes de mais nada, um grito de independência feminino em uma época repleta de limitações. Escrito e dirigido pela cineasta suíça Petra Biondina Volpe o filme aborda a luta pelos direitos iguais entre homens e mulheres de maneira inteligente e esclarecedora.

Na trama, ambientada na Suíça, no início da década de 70,  conhecemos Nora (Marie Leuenberger), uma mulher de meia idade que morou durante toda sua vida em um pequeno vilarejo com poucas atividades culturais ou sociais. Quando começa a não concordar com limitações impostas as mulheres durante décadas, e ,assim, vira a líder de um movimento importante pelo direito de voto das mulheres nas eleições. Mas o caminho não será fácil, nem para ela, nem para seu marido Hans (Maximilian Simonischek).

Os arcos iniciais são detalhistas ao apresentar a rotina da personagem principal. Seu relacionamento conturbado com o sogro, sua defesa em torno da situação da filha de uma parente, os primeiros passos rumo a amizade com outras mulheres que pensavam da mesma maneira que ela e assim instigaram em Nora uma chance de lutar por tudo aquilo que ela (e muitos que nunca se manifestavam) sonhavam.

O papel da mulher na sociedade é discutido de várias formas nesse belo projeto. A construção da protagonista chega pelo estopim, de uma luz que se acende, quando percebe que não consegue fugir daquela rotina imposta por práticas e costumes machistas em um pequeno vilareja com clima frio no alto da Suíça. Os sonhos que ficam longe de serem realizados, ou o simples fato de querer trabalhar na cidade em uma nova profissão também ajudam a moldar as atitudes corajosas e de grande brilho de Nora (Marie Leuenberger).

Vencedor do prêmio de Melhor Atriz, para Marie Leuenberger, e do prêmio de Melhor Filme, para o público, no Festival de Tribeca 2017, Mulheres Divinas é um belo retrato sobre um certo início da luta feminina para ter seus direitos justos e iguais, luta que dura até hoje em um mundo ainda machista.



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17/10/2017

4a Mostra Joias do Cinema Dinamarquês - de 19.10 a 01.11 no Cine Joia

Mostra chega a sua quarta edição e destaca presença feminina na direção, roteiro e como protagonistas do cinema norte europeu.
Serão exibidos cinco filmes dinamarqueses e “Sumé” o primeiro longa-metragem produzido na Groelândia.

O Instituto Cultural da Dinamarca em parceria com o Cine Joia do Rio de Janeiro apresenta de 19 de outubro a 1 de novembro a 4o mostra Jóias do Cinema Dinamarquês com a exibição de cinco filmes de diretores do país nórdico e um da Groelândia. Com curadoria da equipe de programação do Cine Joia, a seleção oferece oportunidade para se assistir filmes que tiveram poucas ou nenhuma exibição nacional e de conhecer um pouco mais sobre os costumes, aspectos sociais, políticos, lugares emblemáticos e tradições das pessoas que vivem no país nórdico.

No total, serão dois documentários e quatro ficções e nessa quarta edição tem três filmes com mulheres na direção e também como protagonistas. Entre os destaques da programação o filme de abertura Sumé foi o primeiro documentário de longa- metragem realizado na Groelândia e relata a história da primeira banda de rock a gravar um filme em groelandês e com forte impacto político.


SOBRE O CINEMA DINAMARQUÊS


O Cinema dinamarquês é um dos mais antigos do mundo e se destaca por sua vanguarda. O diretor Carl Theodor Dreyer é um ícone do cinema clássico nórdico internacional e entre outra geração as produções do movimento Dogma 95, que lançaram diretores como Lars Von Trier e Thomas Vinterberg. Ainda mais recentemente seus filmes são frequentemente selecionados, inclusive para o Oscar na categoria “filme estrangeiro”, e premiados em grandes festivais pelo mundo.

CINEKLAP

Devido ao grande destaque internacional que o cinema da Dinamarca vem obtendo nos últimos anos o Instituto Cultural da Dinamarca, no Rio de Janeiro, criou o CineKlap.O Cine Klap foi criado com o objetivo de divulgar o cinema dinamarquês e promover mostras, palestras e workshops que possibilitem um intercâmbio cultural entre os dois países.

DEPOIMENTOS

‘’É muito importante para o Instituto Cultural e para a Dinamarca, que tenha uma mostra de cinema como esta. Acredito que projetos aonde o público encontra a arte de outro país com curadoria brasileira é um verdadeiro intercâmbio cultural”, ressalta Maibrit Thonsen diretora da instituição.

“A busca por sua essência ajudou a tornar o cinema produzido na Dinamarca um dos mais respeitados e impactantes do mundo, premiado em festivais e com presença constante no Oscar – só nos últimos cinco anos, foram três indicações à estatueta de melhor filme estrangeiro. Observa Raphael Aguinaga do Cine Joia.



FILMES:


LONG STORY SHORT (2015)
Diretor: May el-Toukhy
Gêneros: Comédia / Drama / Romance Duração: 1h30
Classificação 16 anos
Sinopse - Durante três anos e vários eventos específicos, como a comemoração do Ano Novo, um casamento, uma festa surpresa e uma grande comemoração de aniversário, um grupo de grandes amigas precisa descobrir, em conjunto, como superar as dificuldades e complicações de suas vidas amorosas enquanto esperam por uma romântica redenção no amor.
Datas: Dia 19 às 15h | Dia 21 às 15h15 | Dia 23 às 16h30 | Dia 24 às 19h | Dia 26 às 15h30 | Dia 28 às 15h30 | Dia 30 às 16h | Dia 31 às 18h




SUMÉ– O SOM DE UMA REVOLUÇÃO (2014) Diretor: Inuk Silis Høegh
Género: Documentário
Duração: 76 min
Classificação: 16 anos
Sinopse - Este é o primeiro documentário em longa-metragem produzido na Groenlândia. O filme conta a história da primeira banda de rock a gravar em groenlandês. Entre 1973 e 1976, a banda Sumé lançou três álbuns com letras políticas que mexeram com os corações e mentes de toda uma geração e mudaram para sempre a história de seu país ao introduzir palavras como “revolução” e “opressão” no seu idioma, em canções de protesto contra a colonização dinamarquesa.
Datas:Dia19às17h| Dia23às20h30| Dia25às19h|Dia28às13h30|Dia30 às 18h | Dia 1 às 16h



MAN FALLING (2015) Diretor: Anne Regitze Wivel Género: Documentário Duração: 107 min Classificação: 16 anos
Sinopse - Após um trágico acidente, o artista Per Kirkeby perde a capacidade de ver cores e ele não consegue mais reconhecer sua esposa. A perde da visão colorida o impede de trabalhar com arte, ele não está mais capacitado a produzir suas telas. Isso abala completamente o universo de Per Kirkeby. O filme é sobre uma profunda melancolia, mas com uma beleza surpreendente. A história de um homem lutando para superar seus obstáculos e voltar para sua vida e seu trabalho.
Datas: Dia 21 às 13h15 | Dia 23 às 18h30 | Dia 24 às 15h | Dia 30 às 14h



GOING TO SCHOOL (2015) Diretor: Frederik Meldal Norgaard Gênero: Comédia
Duração: 85 min
Classificação: Livre
Sinopse - O filme segue a vida de Villads de 6 anos na escola e em casa. Villads constantemente se depara com problemas porque a maioria das vezes as regras do jogo de Villads estão em conflito com as regras dos adultos.
Datas:Dia20às17h| Dia26às13h30|Dia31às16h



LITTLE SOLDIER (2008) Diretor: Anette K. Olesen Género: Drama
Duração: 102 min
Classificação: 16 anos
Láureas: Prêmio Ecumênico do Júri Independente do Festival de Berlim 2009 e “Melhor Filme” e “Melhor atriz” no Festival Valladolid na Espanha em 2009.
Sinopse - Após abandonar o exército, a soldado Lotte volta para sua cidade na Dinamarca e se entrega à bebida. Sem conseguir emprego, aceita a oferta de seu pai de trabalhar como motorista para uma das prostitutas que ele agencia, Lilly, que é também sua amante. Embora, a princípio, desconfiadas uma em relação à outra, as duas mulheres embarcam numa estranha rotina e logo passam a se conhecer melhor.
Datas: Dia 20 às 15h | Dia 22 às 15h15 | Dia 23 às 14h30 | Dia 25 às 15h | Dia 27 às 15h30 | Dia 29 às 13h30 | Dia 31 às 14h | Dia 1 às 18h



DESIGNS FOR LIFE (2015)
Diretor: Casper Høyberg, Malene Vilstrup, Thomas Mogensen Género: Documentário
Duração: 60 min
Classificação: 16 anos
Sinopse - O Documentário, Designs for Life, não é somente um documentário sobre móveis e decoração. Børge Mogensen não faz somente móveis, cada criação faz parte de uma arte sempre atemporal. Todas as casas na Dinamarca possuem um
objeto desenvolvido por ele e o tornou conhecido internacionalmente. O filme conta não sobre o processo criativo mas também toda sua trajetória pessoal e profissional. A história da reconstrução econômica da Dinamarca encontra-se com a história de Børge Mogensen, pois ele começou sua carreira, criando seus objetos pós-Segunda Guerra Mundial num período em que a Dinamarca se estruturava economicamente. Toda a história é narrada por seu filho, Thomas Mogensen, com riquezas de detalhes e novas facetas sobre a vida de Børge Mogensen.
Datas: Dia 22 às 13h15 | Dia 27 às 13h30 | Dia 1 às 14h



SERVIÇO
Evento: Mostra Jóias do Cinema Dinamarquês
Local: Cine Jóia
Data: 19 de outubro a 1 de novembro
Endereço: Avenida Nossa Senhora de Copacabana 680 - Subsolo Horários: No release
Informações: 2236 5624
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16/10/2017

Crítica do filme: 'Kollektor'

Não há maior vingança do que o esquecimento. Em seu primeiro trabalho como diretor de longas metragens, o cineasta russo Aleksey Krasovskiy, que também escreve o roteiro, apresenta uma história envolvente, de curtos 74 minutos, onde assistimos atentamente um plano mirabolante de vingança. Com apenas um personagem dando as caras, o protagonista interpretado pelo excelente ator Konstantin Khabenskiy, reunimos aos poucos as pontas soltas desse quebra cabeça cheio de opções para seu desfecho.

Na trama, ambientada nos dias atuais, conhecemos Arthur (Konstantin Khabenskiy), um funcionário misterioso de uma empresa de cobranças que possui um alto salário e consegue superar muitos desafios dessa profissão que escolheu ganhando fortunas para que o paga. Em uma noite, no alto de um edifício comercial, onde fica localizado o escritório da empresa, Arthur recebe um telefonema repleto de suspense onde uma mulher diz que postou um vídeo comprometedor dele na internet. Sem ligar muito para a ligação, acaba sendo avisado por outras ligações sobre a existência da gravação e assim precisa correr contra o tempo para provar que o vídeo é uma armação e acaba sabendo mais sobre a voz do outro lado da linha.

Uma noite cheia de reviravoltas e uma crise existencial profunda são o plano de fundo de uma situação incomum que vive o protagonista, que passa horas trancado em um escritório localizado em uma grande cidade russa buscando uma solução para uma exposição de um vídeo seu polêmico postado na internet. Podia ser maçante, sonolento ou desinteressante, mas não é o que acontece.Os méritos são todos de Konstantin Khabenskiy, em grande atuação, prende a atenção do espectador com as multifacetas que transforma seu personagem. É incrível a habilidade na caracterização de chegarmos a um ponto de não sabermos se torcemos por ele ou se ele merece punição pelo que fez ou não.

O roteiro, assinado pelo próprio diretor, consegue sua força por conta da atuação de Khabenskiy. A cada nova ligação que o protagonista recebe mas uma peça se junta ao tabuleiro e assim vamos passando um raio-x na vida e personalidade desse grande personagem. Kollektor é dinâmico, intrigante e surpreendente, um dos ótimos desconhecidos filmes que a Rússia apresentou ao mundo nesses últimos meses.

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15/10/2017

Crítica do filme: 'A Babá'

O que fazer quando sua paixão se torna um pesadelo? Estreou nesses últimos dias no Netflix, o surpreendente A Babá, filme com ar de trash recheado de piadas muito engraçadas e situações inusitadas que deixam o espectador com um leque de emoções instantâneas, em cinco segundos você ta tenso, mais cinco pra frente você ta rindo de doer a barriga. Dirigido pelo experiente cineasta norte americano McG (Guerra é Guerra! e O Exterminador do Futuro: A Salvação), o projeto já ganhou inúmeros elogios nessas poucas horas que já está no famoso canal de streaming.

Na trama, conhecemos o jovem Cole (Judah Lewis), um estudante de 11 anos que está passando por uma fase difícil, sendo vítima de bullying por outros jovens de sua idade. Sua única distração é quando está com Bee (Samara Weaving), sua linda babá, pessoa que o entende e juntos se divertem bastante. Certo dia, após conversar com sua amiga de colégio Melanie (Emily Alyn Lind), resolve ficar acordado na madrugada quando Bee está sozinho em sua casa tomando conta dele. A partir daí, os piores pesadelos de Cole começam quando descobre que Bee, na verdade, é a líder de um grupo que usa sua casa para sacrifícios sangrentos.

O filme não tem compromisso com a normalidade, nem com as regras da física. Usa e abusa de situações peculiares usando o absurdo a seu favor para fazer rir. As críticas sociais não deixam de fazer parte, como por exemplo, uma das personagens que está preocupada com o corpo em meio ao caos de uma determinada situação, o bullying é o assunto mais explorado onde o personagem principal embarca em situações constrangedoras. O que fica na superfície é a relação de Cole com seus pais, mesmo eles sendo meros coadjuvantes, ajudam apenas a montar futuros arcos como a ótima cena do explosivo embaixo da casa.

A Babá é um ótimo divertimento, em seus curtos 85 minutos transformam a experiência em assistir a ele em um liquidificador de emoções. O projeto cumpre seu objetivo: o de ser um bom entretenimento.


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14/10/2017

Crítica do filme: 'Fé de Etarras'

Quando não há fé, não há nada. Produzido pela sensação da tecnologia via streaming Netflix, Fé de Etarras é uma comédia sobre um grupo de militantes, suas dúvidas e desejos por uma nova missão ao mesmo tempo que a Espanha joga a Copa do mundo de futebol da África do Sul. Dirigido pelo cineasta espanhol Borja Cobeaga o filme tem cenas hilárias e várias analogias com diversas situações que a Espanha viveu ao longo de seu tempo na história. Na pele do protagonista, o grande Javier Camara (Truman, Viver é Fácil com os Olhos Fechados, Fale com ela, etc...) que mais uma vez se torna peça fundamental de um filme despretencioso mas que cumpre seu objetivo.

Na trama, conhecemos Martin (Javier Cámara), um militante de um grupo de terroristas bascos que anos após ser o único a fugir pela janela de um dos esconderijos que estava cercado pela polícia, precisa se preparar para uma nova missão com um novo grupo de pessoas mais jovens que pensam muito diferente dele. Ao longo do tempo juntos, aguardam uma sinalização do chefe do grupo terrorista que fazem parte e precisam se virar passar o tempo e acreditar nas suas próprias verdades sobre o que são.

Um roteiro, voltado para a comédia, apresenta personagens completamente desajustados e com pensamentos distintos sobre o que fazem e o porquê fazem. O conflito gerado chega por conta da ansiedade de um telefonema e em determinadas situações que acabam se metendo para esconder o disfarce, como serem pedreiros em uma obra de um dos apartamentos do prédio onde estão e acabarem ganhando dinheiro com isso. É um dos filmes espanhóis mais Woody Allen dos últimos tempos.

Os atores em cena desempenham bem seus papéis, quase um grande teatro onde o improviso toma conta do set. Não há uma mensagem específica que o filme mostra, mesmo falando sobre terrorismo (o que sempre é uma polêmica), o objetivo principal é detalhar situações engraçadas em meio ao caos dos pensamentos trágicos imersos em um passado que já se foi.


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Crítica do filme: 'Long Story Short'

A felicidade, suas portas e barreiras. Escrito e dirigido pela cineasta May el-Toukhy, Long Story Short explora o universo da amizade e das desilusões do ser humano através de personagens carismáticos e repletos de problemas em seus cotidianos. Dividido em arcos, ou como preferir, capítulos, que nos situam nos reencontros desse grupo de amigos, vemos as evoluções e felicidades, tristezas e alegrias desses desbravadores do viver. O roteiro é detalhista, explora o emocional dos personagens através de como esses agem em relação aos seus obstáculos.

 Na trama, conhecemos um grupo de amigos formado, entre outros, por Ellen (Mille Lehfeldt), Rolf (Peter Gantzler), Anette (Trine Dyrholm), Maya (Danica Curcic) e Max (Jens Albinus) que se conhecem faz tempo, seja alguns sendo familiares outros amigos de longa data. A cada reunião da turma, seja no ano novo, em um casamento, em uma festa surpresa sem aniversariante, no verão, em um jubileu, cada um dos personagens está passando por fases diferentes, um deles o primeiro casamento com ao que parece a mulher de sua vida, um casal pretende adotar o primeiro filho, um marido que é praticamente rejeitado por sua esposa, uma das amigas é amante de um dos amigos. Ao longo do tempo vamos percebendo relativas mudanças nessas vidas, sempre com o desejo de dias melhores.

O roteiro é uma delícia, alterna comédia e drama em altas doses de emoção. O entrosamento do elenco também é algo a se destacar, nos sentimos próximos de cada um dos personagens. A cada novo reencontro, muita coisa muda na vida dos personagens e vamos descobrindo as atualizações através de ótimos diálogos e algumas situações constrangedoras de reencontros após alguma situação ter acontecido. Como são amigos, os personagens meio que se revezam em confissão e confessionário e assim vão tentar encontrar as peças do quebra cabeça emocional perdido no tabuleiro da vida real.

Long Story Short é a representação do ótimo cinema dinamarquês, que gosta de brincar com situações familiares, navega nas relações de amizade e deixa os personagens cheios de alternativas no processo as vezes complicado do sentir a emoção.


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Crítica do filme: 'Duas de Mim'

Marcando a estreia de Cininha de Paula na direção de um longa metragem, Duas de Mim tenta explorar as jornadas dos sonhos e desejos impossíveis passando um raio-x na vida de uma mulher batalhadora que sustenta sua casa praticamente sozinha. A história é puxada para a comédia, onde somos testemunhas de situações exageradas e diálogos pouco inspirados. No papel da protagonista, a conhecida de programas de humor de televisão Thalita Carauta que tem a difícil tarefa de criar o sorriso no rosto do espectador em um duplo papel de si mesma mas com personalidades diferentes. O projeto falha em um roteiro limitado, deixando o esforço de Carauta ser a única luz desse filme sem pé nem cabeça.

Na trama, conhecemos a batalhadora Suryellen (Thalita Carauta), uma mulher com personalidade que acorda cedo para preparar quentinhas que vende em bairros residenciais e depois ainda vai para o outro trabalho em um restaurante chique comandado pela chef e arrogante Valentina (Alessandra Maestrini). A vida d aprotagonista muda radicalmente quando após sofrer dias complicados, encontra em uma rua deserta uma vendedora de bolos misteriosa que a faz provar um bolo que tem o poder de realizar desejos. Assim, quase sem querer, Suryellen ganha uma cópia/clone/si mesmo com outra personalidade, que no começo serve como uma ajuda a cumprir todos os objetivos de seu dia mas que após um tempo vira um grande problema na vida dela.

A fábula não encaixa. Tudo é muito repleto de clichês, usando uma fórmula de riso fácil mas sem um pingo de carisma dos personagens. O desenvolvimento da protagonista não passa da superfície, tudo é muito fácil, coadjuvantes sem qualquer ligação com a trama, diálogos pra lá de tediantes. A dupla jornada da personagem principal, com duas personalidades é uma das coisas mais chatas vistas no cinema brasileiro nos últimos anos. Para completar, subtramas rasteiras, esteriotipadas, como a do ex-marido, representado por Marcio Garcia, e a de seu amigo/namoradinho Chicão, esse último interpretado pelo cantor Latino.


Mesmo com todo o esforço de Carauta para tentar divertir o público, um filme pouco inspirado em seu roteiro não consegue segurar a atenção nem por vinte minutos. Se tivesse o Framboesa de Ouro aqui no Brasil, esse filme seria um dos campeões de indicações.
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Crítica do filme: 'O Motorista de Táxi (A Taxi Driver)'

Bastará nunca sermos injustos para estarmos sempre inocentes? Dirigido pelo sul coreano Hun Jang, A Taxi Driver é antes de tudo uma grande aula de história em forma de cinema, onde descobrimos mais detalhes de um grande massacre ocorrido na Coreia do Sul, o papel da imprensa, e a relação de uma população corajosa que lutava por melhores condições dentro de um regime ditatorial que escondia do mundo as verdades que só as pessoas daquela região sabiam. Mesclando cenas intensas de violência com uma delicadeza e um certo sarcasmo, A Taxi Driver nos leva em uma jornada fabulosa sobre a força do ser humano e o autoconhecimento de seu papel como cidadão.

Indicado da Coreia do Sul para concorrer a uma das cinco vagas de Melhor filme Estrangeiro no próximo Oscar, A Taxi Driver conta a história de um pão duro mas carismático motorista chamado Kim (Kang-ho Song) que enfrenta as dificuldades do dia a dia como taxista na maior cidade da Coreia do Sul, Seul. Certo dia, após um almoço com seu amigo vizinho e também taxista, escuta um papo que um jornalista estrangeiro está pagando uma bela quantia em dinheiro para que alguém o leve de Seul até a cidade de Gwangju. Assim, Kim usa de suas habilidades para conseguir ser o motorista dessa corrida, conhecendo o jornalista alemão Peter (Thomas Kretschmann). Juntos vão viver dias intensos e mostrarão ao mundo um dos maiores massacres que o mundo oriental já viu em toda sua história.

Os primeiros arcos escondem um pouco a intensidade dos atos futuros. O roteiro foca na visão do taxista, detalha muito bem suas principais características, sua relação de carinho com a filha e explora a superfície da perda da esposa. De origem humilde, não tem ideia dos horrores sobre um conflito entre a população e o exército está acontecendo em uma cidade relativamente próxima de Seul. Tudo muda em sua vida quando conhece o jornalista Peter, uma relação de amizade vai sendo criada aos poucos unida pela força que precisam ter para sobreviver a caçada que é imposta por autoridades a todos que queiram divulgar as verdades que acontecem nas ruas de Gwangju. Kim vai descobrindo seu papel na história aos poucos, quando é confrontado com as verdades cruéis em sua frente, toma partido da informação se tornando um coadjuvante de grande valia para a cobertura de Peter.


O papel da imprensa, os limites e suas facetas são explorados de maneira objetiva, mostrando a censura do governo coreano da época ao que de fato ocorria pelas ruas sangrentas de  Gwangju, levando as televisões locais mentiras após mentiras sobre as origens do conflito. A câmera de Peter é uma das poucas chances daquela população que praticamente foi trancafiada em sua região, cercada pelo exército que não deixavam ninguém entrar ou sair da cidade. Já no desfecho, vemos relatos do Peter da vida real, já que essa obra é baseada em fatos reais. A emoção toma conta quando ouvimos Peter falar sobre seu amigo Kim, um homem simples e corajoso que ajudou o mundo a conhecer as verdades de uma ditadura.


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