07/07/2018

Crítica do filme: 'Mary Shelley'


A solidão e as emoções do homem/criatura. Cinco anos após seu último filme - e que belo filme - O Sonho de Wadjda, a cineasta Haifaa Al-Mansour, a primeira saudita a filmar em Hollywood, volta as telonas agora com o desafio de recriar o contexto histórico e um importante período da vida de uma das grandes escritora britânica da história, a criada do clássico Frankenstein, Mary Shelley. O longa, é um retrato histórico de um tempo distante, onde assistimos, cena pós cena, a trajetória de uma mulher à frente de seu tempo. No papel principal, a jovem Elle Fanning que consegue absorver e transmitir toda delicadeza e certezas da protagonista.

Na trama, conhecemos a jovem Mary Wollstonecraft Godwin (Elle Fanning), filha do reconhecido William Godwin (Stephen Dillane) que vive nos tempos passados, em uma sociedade conservadora, o que mexe muito com a personalidade de Mary, bastante evoluída para sua época. Sua vida entra em constante mudança quando conhece o também jovem poeta Percy Shelley (Douglas Booth) por quem se apaixona instantaneamente, e por isso acaba sendo expulsa de casa pelo pai e vai viver esse intenso amor. Durante o início dos anos com Percy, Mary vive situações que nunca vivera, além de conhecer personagens que influenciarão sua grande futura obra prima, Frankenstein.

Uma das histórias mais adaptadas para o cinema, Frankenstein é um conto de agonia e solidão. Exatamente o reflexo do período que conhecemos Mary Shelley. Um dos méritos do filme é encontrar um ponto de empatia entre toda a tristeza e incertezas que vive a protagonista com o contexto histórico que somos testemunhas. Completamente atemporal, infelizmente, os absurdos do preconceito e mandamentos machistas levam a jovem personagem a buscar sua própria identidade sofrimento pós sofrimento. O homem que escolheu para amar, Percy, por mais que tenha carinho por ela, quer ser livre, viver em uma boêmia diária enquanto as dívidas se acumulam. Sua ‘irmã’ e sua ambiguidade de carência, por vezes parece estar em um relacionamento com seu marido, pois os três não se desgrudam.

Todas essas variáveis, fora outros personagens que aparecem na vida de Mary, influenciam a escritora a explorar as emoções, escrevendo com bastante detalhe e sem medo sobre a solidão e os monstros que enfrenta. Seus medos viram personagens, sua defesa são suas palavras. Elle Fanning interpreta com muita delicadeza mas sem deixar de transparecer a coragem, marca maior dessa mulher bem a frente do seu tempo.

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Crítica do filme: 'Desobediência'


O luto e o amor. Depois de excelentes e elogiados trabalhos nos inesquecíveis, Gloria e Uma Mulher Fantástica, o cineasta chileno Sebastián Lelio enfim chegou ao epicentro das produções mundiais com delicado e interessante projeto Desobediência. Baseado no livro homônimo, de Naomi Alderman, o filme gira em torno de algumas situações que ligam a morte ao amor. Nos papéis principais, as duas melhores Rachels do cinema atualmente, McAdams e Weisz, essa última também assina a produção do longa.

Na trama, conhecemos a fotógrafa Ronit (Rachel Weisz), uma mulher de meia idade, bem sucedida que mora em nova Iorque. Ronit é de família judia, e brigou com sua comunidade tempos atrás. Quando retorna para casa, após um telefonema avisando sobre a morte do pai, acaba reencontrando a melhor amiga de adolescência, Esti (Rachel McAdams) que está casada com Dovid (Alessandro Nivola). A questão é que Esti e Ronit já viveram uma história de amor no passado e com a volta da fotógrafa, as memórias se acendem, gerando um grande conflito na comunidade onde foram criadas. 

Com muita delicadeza e atuações maravilhosas, o filme navega em um tom até certo ponto lento mas com um tipo de ritmo envolvente, utilizando a premissa de que ‘uma cena vale mais que mil palavras’. Falando sobre personagens fortes, a direção de Lelio, já acostumado com mulheres guerreiras em conflito, é uma pequena aula de como dirigir um filme sobre as tensões das emoções. Dividido em arcos bem definidos, com subtramas impactantes, o longa navega nas águas do luto e de uma paixão proibida.

Sobre o luto, vemos a dificuldade da protagonista em voltar para enterrar o pai, rabino, esse, totalmente protegido pela comunidade e crença que sempre acreditou. Mesmo como filha, parece não ter direitos, praticamente como se não existisse para aquele grupo de pessoas. Sobre a paixão proibida, envolve três personagens, o amor entre as duas amigas e um marido que segue lemas e crenças. Passando sobre as liberdades do amar, do ir e vir, do casamento, são muitas as questões que o roteiro traz a tona para pensarmos.

Muito se falou sobre cenas fortes, picantes, que o filme possa ter. Mas Desobediência é simplesmente um bonito filme sobre amor e respeito. Além de tudo, sua cena mais linda e emocionante é uma cena de um abraço simbólico que diz muito sobre a vida e as escolhas dos bem escritos personagens.

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01/07/2018

Crítica do filme: 'Canastra Suja'


Quando em momentos de conflito não existe nem um alma estranha para aconselhar. Escrito e dirigido por Caio Sóh, Canastra Suja é um drama, um retrato nu e cru de uma família recheada de problemas, onde muitos se blindam na dependência alcoólica do pai, Batista, interpretado pelo ótimo Marco Ricca. Impressiona a capacidade do roteiro em prender o espectador. Talvez pelos ‘plot twist’ existentes, talvez pela curiosidade do olhar do público em saber qual o final de cada personagem. É um filme sobre família, seus problemas, seu cotidiano. Cada personagem é uma peça nesse tabuleiro. A eminência da tragédia é algo que percorre todos os intensos 120 minutos de projeção.

Batista (Marco Ricca) e Maria (Adriana Esteves) são casados e são pais de três filhos: Emília (Bianca Bin), Ritinha (Cacá Ottoni) e Pedro (Pedro Nercessian). Eles levam uma vida de aparências, regados de problemas do cotidiano, muito por conta do fato de Batista ser um alcoólatra. Sem confiança de ninguém de sua família, o pai desconta toda sua raiva e frustrações da vida bebendo e no relacionamento repleto de dificuldades com o filho. Alguns acontecimentos surpreendentes vão contornar essa história.

As reviravoltas do roteiro são importantes para o ritmo da trama, vamos aos poucos vendo faces ocultas dos personagens que causam surpresa e mudam nossa ótica sobre eles. Cartas de baralho definem arcos. Extremamente complexos individualmente, completamente desalinhados como família, Canastra Suja apresenta um leque de portas se abrindo ao mesmo tempo que muitas outras se fecham. O olhar para o futuro com alegria vai virando um pequeno feixe de luz na porta mais distância que conseguimos enxergar.

As subtramas são muito bem elaboradas, exploram as características de cada personagem. Os dramas tomam camadas densas e profundas. Muitos personagens parecem estar no limite. Pedro usa os problemas do pai como justificativa para sua falta de rumo na vida, colocando-o sempre em evidência. Emília  é um epicentro importante da família. Parece que todas as variáveis passam por ela, possui um papel de equilíbrio, pelo cuidado que tem pela irmã Ritinha. Namora Tatu (David Junior), mas também gosta do seu chefe dentista. A partir do segundo arco,conhecemos um pouco mais a fundo a dama do baralho, que parece esconder segredos, sonhos e objetivos, Maria, a mãe. Quando a família volta do trabalho, seu papel permanece como outra vertente de equilíbrio, principalmente na relação conturbada entre o filho e o marido. A batalha entre pai e filho percorre todos os arcos. Um coloca no outro a culpa pelos seus problemas. Batista é um pai rígido mas não consegue se livrar de seus fantasmas com a bebida, o que coloca em xeque todo o respeito que os outros poderiam ter por ele.

A bela apresentação inicial, ao melhor estilo teatral, onde a câmera passa pelos personagens já indicava um certo tipo de ciclo que veríamos, talvez com uma redenção, talvez com esclarecimentos sobre os futuros dos personagens. Canastra Suja é um trabalho sólido, surpreendente e, desde já, podemos afirmar ser um dos grandes trabalhos do cinema nacional nesse ano. Imperdível.

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20/06/2018

Crítica do filme: 'Todo Dia' (Every Day)


O amor nasce e cresce a partir de quem somos. Baseado no livro homônimo, de David Levithan, Todo Dia é um projeto repleto de sutilezas que nos leva a lindas memórias quando paramos para pensar em como nossas relações do dia a dia se desenvolvem. Tinha tudo para ser mais uma história sobre amores água com açúcar mas consegue romper essa barreira de maneira inteligente, com personagens carismáticos e com uma mensagem que ficará na memória do espectador durante muito tempo. A direção, fica a cargo de Michael Sucsy que dirigiu o ótimo Grey Gardens e o longa metragem Para Sempre.

Na trama, conhecemos adolescente Rhiannon (Angourie Rice) que vive um relacionamento frio com Justin (Justice Smith), um atleta da escola onde estuda. Certo dia, seu namorado acorda como se fosse outra pessoa. E de fato é exatamente isso. A protagonista descobre que existe uma alma chamada ‘A’ que acorda todos os dias com um corpo diferente. Completamente fascinada e apaixonada por essa alma, Rhiannon precisará viver um romance com a mesma Alma mas em corpos diferentes.

Dividido em arcos bem definidos, um melhor que o outro, a trama tem um forte poder de prender a atenção do público. Nossos olhos seguem os passos da protagonista (Angourie Rice em uma bela atuação) e na sua luta constante em entender sobre o amor da maneira mais peculiar possível. O enredo é bem objetivo, a voz de ‘A’ em outros corpos formam uma sintonia impressionante. É preciso estar atento pois os argumentos levantados no filme são facilmente vistos no mundo real. O foco é no amor que acontece, não há muitos aprofundamentos da relação de Rhiannon com a família mas eles possuem um papel importante no contexto.  

Todo Dia desde seu início intenso, já provoca o espectador com uma proposta de unir a fantasia para a realidade, deixando argumentos interessantes para o espectador traçar seus paralelos. Original em muitos sentidos, o bom ritmo do filme se torna capaz através da figura carismática de sua protagonista e a maneira como ela embarca nessa história que beira ao absurdo mas que também beira ao conforto de todas as almas do mundo que já souberam o que é amar.  



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16/06/2018

Crítica do filme: 'Com amor, Simon'


Em busca de uma grande história de amor. Baseado no livro Simon vs. The Homo Sapiens Agenda, de Becky Albertalli, Com amor, Simon chegou aos cinemas brasileiros esse ano sem muito burburinho. Com um elenco com nomes conhecidos do público jovem, a trama fala sobre preconceitos, o alucinante mundo das redes sociais e sua influência no dia a dia dos jovens de todo mundo, além de falar sobre o primeiro amor de maneira emblemática com o protagonista na luta sobre suas escolhas. O filme, antes de mais nada, é uma grande crítica social ao universo digital dos jovens de hoje em dia, ensina lições profundas sobre a amizade e as liberdades de escolhas.  

Na trama, conhecemos o tímido Simon (Nick Robinson), um jovem que passa desapercebido em seu colégio, a não ser quando está com seu grupo de amigos. Ele é homossexual mas nunca contou a ninguém. Até que um dia, toma coragem de se expor, após descobrir em um blog um outro menino na mesma situação. Mesmo querendo esconder o bate papo com esse misterioso jovem, acaba sendo chantageado quando seu e-mail é lido por um outro jovem. A partir daí, Simon terá que tomar atitudes corajosas para ir em busca de sua felicidade.

Dirigido pelo nova iorquino Greg Berlanti e com as filmagens sendo realizada na cidade de Atlanta, o longa busca na delicadeza e excelente ritmo explorar toda a aventura do protagonista rumo a sua saída do armário. Os coadjuvantes são ótimos e preenchem lacunas sobre todo o aprendizado que Simon absorve através das situações que vive no seu cotidiano. Em camadas não muito profundas, como no arco com sua família e principalmente sua relação com o pai machão, o roteiro dita um ritmo agradável com ótimas tiradas e cenas que caem para a comédia.

O arco da escola é o mais explorado, nas dúvidas e incertezas sobre como reagirão ao saberem que ele é gay, Simon toma decisões equivocadas, não compreendidas pelos amigos mais de perto. Mas como todo filme, ou quase todo, tem uma redenção, a história caminha para um clímax logo em seu final ao sabermos quem é o misterioso jovem com quem o protagonista conversa todos os dias via e-mail. As entrelinhas do filme ensinam muito sobre muitos jovens ao redor do mundo, seus conflitos e segredos.

Com tantos pontos positivos, Com amor, Simon consegue provar que um livro pode virar um bom filme.

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Crítica do filme: 'Eu Só Posso Imaginar'


Até onde vai nossa força para perdoar e seguir em frente? Camuflado de filme religioso baseado em uma famosa canção gospel norte americana, Eu Só Posso Imaginar estreou no circuito brasileiro faz poucas semanas como uma aguardada estreia, até mesmo pela distribuidora do filme do Brasil que abriu pré-vendas para a semana um do filme. Até coachings – professores que criam exercícios para você enxergar algo que não consegue dentro de si, e onde, no mundo, Tony Robbins é o Pelé deles – procuraram cinemas para usar o filme como inspiração. Dirigido pelos irmãos Andrew e Jon Erwin, o longa conta com uma atuação muito competente do Dennis Quaid.

Na trama, conhecemos Bart Millard (J. Michael Finley) um jovem inteligente que namora faz anos a mesma namorada e tenta desenvolver sua vida já no fim dos estudos da high school norte americana. Porém, a cada passo que dá, um imenso obstáculo se monta, tudo por conta da relação conturbada com o pai, Arthur (Dennis Quaid), um alcoólatra que sempre o tratou da pior maneira possível, e, além de tudo, afastou a mãe de Bart. Assim, o protagonista resolve fugir em busca de uma vida melhor e aos poucos acaba descobrindo, quase sem querer, uma aptidão para a música. Mas para conseguir alcançar altos objetivos dentro da carreira musical, ele terá que voltar ao seu passado e reescrever sua história com seu pai.

O espectador que não está familiarizado com a história do Mercyme (a famosa banda de Bart), ou do próprio Bart, passa muitos minutos pensando qual é essa música que é mencionada durante todo o filme e que é um sucesso de público e crítica. Deixando o lado musical de lado, como filme, Eu Só Posso Imaginar possui um roteiro cheio de reviravoltas onde o tema principal sempre rodeia os arcos, gerando emoções às vezes forçadas (é verdade) mas não deixando de transmitir uma mensagem bonita para quem assiste.

Dennis Quaid adiciona bastante nas cenas emocionantes que participa, parece ditar o tom de todo um arco. Seu personagem é tão importante quanto o protagonista, é a página virada que precisa voltar para que o filme tenha sentido. A relação de pai e filho, em todas as suas etapas é bem detalhada, com cenas muito bonitas.



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15/06/2018

Crítica do filme: 'Em 97 era Assim'


Nostalgia com sotaque ‘gauchês’.  Uma coisa muito importante quando pensamos em cinema é a coragem/verdade que alguns cineastas impõem em suas obras, nunca tentando fugir do que suas tramas realmente propõem. Em 97 era Assim, é um pequeno filme vindo da região sul do nosso país que propõe o exercício de voltarmos no tempo, na época de nossa adolescência, e, assim, passar 90 minutos navegando em memórias afetivas. O bom desse tipo de filme é que se não estiver interessante o que acontece na telona, ativa-se automaticamente as nossas próprias memórias de outros tempos. O público sai ganhando sempre.

Na trama, acompanhamos um grupo de amigos que tem por volta de 15 anos e estão no ano de 1997, um período de descobertas na vida de cada um deles. Entre as diversas personalidades dos jovens, Renato, o mais tímido e romântico do grupo, o narrador de toda a história. Também somos apresentados aos seus amigos Moreira, Alemão e Pilha. Os quatro embarcarão em uma viagem rumo a perda da virgindade mas até lá entenderão melhor o que é o conceito da amizade.

Às vezes inocente demais, às vezes maduro como determinadas situações pedem, o roteiro tenta ser o mais divertido possível. Em 97 era Assim é o ‘Superbad’ brasileiro. Os arcos são bem definidos, entendemos os pensamentos dos jovens e as consequentes atitudes, em alguns pontos oriundas de uma educação mais rígida, outras mais largadas. O foco na amizade é o grande trunfo do filme, não há como também não lembrarmos dos nossos tempos de juventude, onde as perguntas geravam apreensão e medo a todo instante.

Escrito e dirigido por Zeca Brito, o projeto chega para preencher uma lacuna no circuito exibidor, a de filmes nacionais com público alvo entre 14 e 16 anos. Mas a questão também é quais os cinemas apostarão em um filme com pouca verba de divulgação? Talvez encontre um caminho mais fácil na televisão.



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Crítica do filme: 'Operação Red Sparrow'


O silêncio também é um espião. Baseado no livro Red Sparrow, de Jason Matthews, Operação Red Sparrow desembarcou no Brasil semanas atrás, trazendo mais uma vez para a luz uma trama de espionagem que envolve EUA e a União Soviética. Além de ter muito de mais do mesmo, o longa-metragem acaba caindo nas armadilhas dos velhos clichês, mesclando sensualidade com uma trama pouco envolvente. No papel da protagonista, Jennifer Lawrence, um rosto conhecido mundialmente mas que possui muitos altos e baixos em sua carreira.

Na trama, conhecemos a trágica vida de Dominika Egorova (Jennifer Lawrence), uma esforçada bailarina que no ápice da carreira sofre um grave acidente o que a impede de exercer sua profissão. Sem ter o que fazer, e com as contas vencendo, resolve aceitar o convite de seu tio Vanya Egorov (Matthias Schoenaerts), um homem misterioso e não bem visto pelo restante de sua família, para ingressar em uma espécie de escola para espiões. Após sofrer batsante no seu treinamento, Dominika tem uma missão nada fácil seduzir um agente da Cia chamado Nathaniel (Joel Edgerton), com quem acaba travando um jogo de gato e rato.

Muitos outros projetos se parecem com Operação Red Sparrow. Não há muita originalidade, o roteiro é como se fosse uma receita de arroz e feijão para filmes sobre espionagem. Os arcos se definem na apresentação da personagem principal, passando pelo seu treinamento (talvez o arco mais promissor) até as conclusões e sua conturbada missão. Lawrence não convence como agente russa, mais um trabalho morno da ganhadora do Oscar pelo filme O Lado Bom da Vida.




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Crítica do filme: 'Sol da Meia Noite'


Algumas vezes, um clichê é a melhor forma de se explicar um ponto de vista. Ou não. Parecendo fragmentos de um clipe musical muito mais do que um filme, a história de amor Sol da Meia Noite, protagonizado por Bella Thorne e Patrick Schwarzenegger (sim, o filho do Arnold), aborda o surgimento do primeiro amor tardio e as impossibilidades por conta de variáveis incontroláveis do destino. Refilmagem do longa japonês Taiyô no Uta (2006), a produção norte americana parece se perder do primeiro ao último minuto. Não há magia, não há carisma, não há originalidade. Um grande candidato para sessões da tarde dos próximos anos.

Na trama, conhecemos a jovem Katie (Bella Thorne), uma adolescente que sempre viveu confinada em casa por causa de uma rara doença ligada a sensibilidade severa a luz do sol. Seu convívio diário era apenas com seu pai, o carinhoso Jack (Rob Riggle) e sua única amiga Morgan (Quinn Shephard). Até que um dia, quando está tocando violão e cantando uma de suas canções em uma estação de trem, uma espécie de hobby que faz à noite e fora de casa, acaba sendo surpreendida por Charlie (Patrick Schwarzenegger), por quem sempre foi apaixonada.

Uma história de amor, que transborda clichês. O modelo norte-americano de diversão dos jovens do ensino médio mais uma vez vem à tona. Apressada, a trama se constrói de maneira atrapalhada, vazia, sem força alguma. Por mais que o tema principal, o fato da protagonista ter uma doença que a impede de sair à luz do sol, sempre esteja implícito, o que pode ser considerado um ponto positivo do roteiro, todo o resto do contexto parece sem direção, rumando para definições da trama previsíveis e sonolentas.


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Crítica do filme: 'As Boas Maneiras'


Olho grande, boca grande, mão grande. Uma das coisas que conquistam o público dentro de uma sala de cinema é quando na tela gigante a originalidade toma conta, produzindo uma corrente de emoções diferentes culminando em algo que beira ao inesquecível. Após o excelente Trabalhar Cansa, a dupla de cineastas Juliana Rojas e Marco Dutra retomam a parceria de sucesso, criando um enredo que vai se construindo aos poucos, como se lentamente subíssemos uma escada em direção ao surpreendente.

Ana (Marjorie Estiano) e Clara (Isabel Zuaa), dois universos que se encontram. Ana, cheia de dívidas, devendo o condomínio, cartões de créditos sem limites, brigada com a família, vive uma gravidez solitária, com noites difíceis de dormir, adepta do sertanejo dance como forma de ginástica, encontra em Clara uma amiga, uma companheira, para ajudá-la na fase final de sua gestação. Clara é uma trabalhadora brasileira que consegue um emprego na casa de Ana e aos poucos acaba se envolvendo de maneira intensa com ela, principalmente após descobrir segredos ligados ao sonambulismo e as noites de lua cheia. O mundo praticamente se fecha para as duas, e uma vai precisar da outra para combater qualquer tipo de obstáculo.

Com filmagens sendo realizadas nas cidades de São Paulo e Barueri além de ser dividido em arcos completamente opostos, As Boas Maneiras, com um orçamento beirando aos R$ 4 milhões, pode ser visto como dois filmes em um só. A competente atriz portuguesa Isabel Zuaa vira o centro das atenções nas duas partes, o grande elo de ligação, marcando uma das mais belas atuações em lançamentos no circuito desse ano. Tudo é muito detalhista, sempre em busca da originalidade. Segredos guiam a trama rumo ao misterioso. É o cinema de gênero fantástico brasileiro mostrando sua força e competência.

Não era pra você se apaixonar, era só pra gente ficar, eu te avisei, meu bem, eu te avisei. A fotografia, assinada pelo francês Antoine Héberlé é belíssima, traduz com bastante eficiência o sentimento da narrativa. E, falando nesse sentimento que envolve a trajetória dos personagens, o amor está exposto de diversas maneiras, também nas boas maneiras em que enxergamos ao próximo e nas singelas ações do dia a dia.



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