25/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #105 - Nane Lessa


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nossa convidada de hoje é cinéfila, do Rio de Janeiro. Leidiane Lessa, mais conhecida como Nane Lessa, é psicóloga e arte educadora. A arte sempre teve papel fundamental e afetivo na sua história. Possui vários momentos da infância marcados pelos filmes que assistia com sua mãe. Há algum tempo, assiste pelo menos 200 filmes por ano. Como seus amigos sempre a procuravam em busca de indicações, daí veio a ideia de criar um Instagram com dicas de filmes o @umtakeumfilme (instagram.com/umtakeumfilme).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu amo o Cinema Estação! Tem os filmes mais alternativos e com diretores menos conhecidos. Ainda conta com uma livraria! O ambiente e decoração são acolhedores. Torcendo para que sobreviva a pandemia!

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Réquiem para um sonho. Apesar de não ter assistido no cinema, foi um marco para mim.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Muito difícil responder essa pergunta. Um dos preferidos. Wes Anderson! O filme: Grande Hotel Budapeste! Ou Christopher Nolan! Interestelar.

 

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Bacurau, apesar de amar Cidade de Deus, também! Mas Bacurau é um acontecimento socioantropológico! É moderno, crítico, real, com um roteiro impecável!

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É ter a vida, pensamentos e ideias, transformados por meio de filmes! É aprender através deles!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não!

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não!

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Alabama Monroe.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Levando em consideração que quase tudo já abriu, acho que sim.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acredito que o cinema nacional vem evoluindo aos poucos! Os últimos anos foram importantes. O cinema do Kleber Mendonça Filho é importantíssimo e tem muita qualidade.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Admito que nenhum ator, apesar de admirar o trabalho do Selton Mello, Irandhir Santos e Jesuíta Barbosa. Não perco nenhum filme do Kleber Mendonça Filho.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Tudo pra mim!

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Uma mulher tendo crise de riso, em momentos aleatórios, na pré-estreia de Vingadores, umas 2h da manhã!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca vi, mas deve ser um espetáculo! Hahahaha.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não acho que precise, mas acredito que, para se fazer um bom filme, você precisa já ter assistido muitos filmes, ser cinéfilo. Claro que existem pessoas foram da curva, que conseguem ser bons diretores sem serem cinéfilos, mas no meu mundo ideal, todos seriam cinéfilos!

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

SPF-18.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Last Breath.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

SIM!

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

60 segundos.

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Crítica do filme: 'Travessia'


O olhar para o passado através das imagens que falam muito pelas entrelinhas. Uma das coisas mais legais nos diversos festivais de cinema online que nasceram a partir da fase reclusa de nós seres humanos (sem salas de cinema principalmente) na batalha diária contra a covid-19 é a possibilidade de chegar ao público diversos longas, curtas, médias-metragens que, entre outros fatores, por conta da dinâmica acelerada de nossas vidas, acabam não tendo a chance de exibição nas tantas janelas que existem. Em Travessia, curta-metragem, com cerca de cinco minutos de projeção, a diretora baiana Safira Moreira consegue um dinamismo e conteúdo louvável para mostrar as entrelinhas nas fotografias que garimpa de mulheres negras nas feiras de antiguidades espalhadas pelo Brasil. Um filme simples, rápido mas que nos faz refletir bastante.

Uma foto conseguida na feira da Glória no RJ, comprada por um real, se torna o pontapé inicial dessa jornada que não deixa de ser um retrato comovente e verdadeiro, um espetáculo intimista mas que fala de tantos para muitos. Com trechos do impactante poema Vozes Mulheres de Conceição Evaristo e uma pequena passagem da música Juana de Mayra Andrade o filme pode ser refletido com um pequeno recorte sociológico sobre, principalmente a estigmatização da representação do negro. O projeto foi exibido na abertura do Festival Internacional de Cinema de Rotterdam 2019. Tem link do filme completo no youtube, procurem, vale a pena conferir.

 

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24/09/2020

Crítica do filme: 'An American Pickle'


A comédia como forma de análise superficial sobre as dinâmicas mundanas. Não é de hoje que Seth Rogen procura trabalhos onde a comédia camufla críticas sociais que não são profundas mas que deixam lacunas interessantes quando enxergamos as analogias e ou entrelinhas daquilo que quer ser dito. Em An American Pickle, produzido por Seth e o tendo como protagonista, encontramos vários tipos de situações lógicas em relação a interpessoalidade, mídias sociais e trabalho na ótica inusitada de um homem que parou no tempo e retornou cem anos depois. Debutando em longas-metragens, Brandon Trost assina a direção.

Na trama, baseada numa história de Simon Rich (que assina o roteiro do filme) conhecemos Herschel Greenbaum (Seth Rogen) um imigrante que vai para os Estados Unidos em busca de oportunidades e acaba indo trabalhar em uma fábrica de picles até se envolver em um acidente que o deixa preso em um reservatório de picles durante cem anos. Quando acorda, de maneira bastante inusitada, acaba sendo levado aos cuidados de seu único parente vivo Ben Greenbaum (também Seth Rogen), seu bisneto. Juntos, tentarão se entender em um mundo cheio de oportunidades mas totalmente novo para Herschel.

O exercício quase estrambótico de An American Pickle tem bons momentos que nos levam a reflexões mesmo que a dose ácida da comédia de Rogen acabe desviando aos poucos o foco do pensar. Aborda temas como tecnologia, redes sociais, opinião pública, família, trabalho, política de imigração... há uma certa crítica em todo o percurso dos personagens. Os arcos são bem arrumados, de certo ponto até corridos, mas nada que atrapalhe o ritmo. Pode ser que alguns se incomodem com alguns diálogos repletos de palavras ao vento feitas para rir, mas esse riso do absurdo quase sempre é camuflado por uma entrelinha interessante de analisar.

Navegando nos gêneros, como comédia funciona na maior parte do tempo, como stand up de Rogen nem tanto, como drama é uma boa comédia.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #104 - Rodrigo Abreu Teixeira


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso entrevistado de hoje é um grande cinéfilo, carioca. Um dos melhores produtores da atualidade de todo o mundo. Rodrigo Abreu Teixeira em 2006 lançou a RT FEATURES e o primeiro filme lançado? O ótimo O Cheiro do Ralo, adaptação dirigida por Heitor Dhalia baseado no romance de Lourenço Mutarelli. Um outro exemplo de um de seus ótimos projetos, produziu em 2017 o filme aclamado pela crítica Me chame Pelo Seu Nome, dirigido por Luca Guadagnino e vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado. Com um olhar cirúrgico nas escolhas que faz, esse carioca quase paulista que viaja muito pelo mundo e até produz filme do Brad Pitt (Ad Astra dirigido pelo James Gray) é uma grande enciclopédia cinéfila.


Obs: Grande Rodrigão. Nunca nos vimos pessoalmente, sempre fui seu fã à distância. Uma pena você não poder ter ido mais ao Cine Joia Copacabana, onde eu fui programador por anos, para tomarmos um café e falarmos sem tempo no relógio sobre os filmes e esse mundo mágico da sétima arte. Para todos nós que amamos cinema, falar sobre essa arte é a ação mais legal que existe ainda mais com outro grande cinéfilo. Nós cinéfilos somos orgulhosos de ter alguém como você fazendo tanto sucesso no mundo audiovisual mundial. Um dia tomaremos um café aí pelo mundo!   

 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Tenho duas favoritas. Como viajo muito, vou citá-las: Quad e Meteograph em NY (especializadas em bom cinema) e o Reserva Cultural em São Paulo.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Amadeus de Milos Forman.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Vou citar 3:

John Ford - Vinhas da Ira,

CoppolaO Poderoso Chefão 1 e 2.

Scorsese - Rei da Comédia e Os Bons Companheiros.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Pixote - acho uma obra prima, um grande filme, mexeu muito comigo quando o vi jovem, e quando entendi o que era São Paulo.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É a minha vida.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não necessariamente.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito, de maneira nenhuma.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

The Setup de Robert Wise (vi recente) e Fat City (John Houston).

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Eu não reabriria.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Excelente fase.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Karim Ainouz, Walter Salles e Carolina Jabor.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Amor.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema

Assistindo a Romeo e Julieta de Baz Luhrmann no cinema antigo do Shopping Iguatemi uma turma de meninas começou a cantar durante toda a sessão pópópópópó até na hora que a julieta morre, nesse momento a sala Inteira do cinema se levanta e expulsa elas da sala. Tiveram que sair escoltadas.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Sem comentários.

 

15) Você é um dos maiores produtores brasileiros. Com que artistas gostaria de trabalhar nos futuros projetos que ainda não conseguiu?

Não tem um especifico. São tantos.

 

16) A pandemia destroçou o universo cinematográfico nesse ano. Daqui a quanto tempo você acha que o audiovisual brasileiro vai conseguir se reerguer?

Temos potencial para que seja muito em breve mas vai ser feito um esforço.

 

17) Qual pior filme que você viu na vida?

Essa é sacanagem, não tenho um, são vários.

 

18) Qual o cinema mais lindo do mundo que você teve a oportunidade de conhecer?

Eu amo Palais de Cannes.

 

19) Que dica você daria para a nova geração que se interessa por cinema e gostaria de trabalhar em algum ramo da sétima arte nacional?

Persistência.

 

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #103 - Miguel Vasconcellos


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.


Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo e formado em cinema e jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Miguel Vasconcellos foi assistente de som em diversos curtas-metragens da universidade, como Laura e Luís e O Metro Quadrado. Foi editor e redator do site Cinebook, especializado em livros de cinema.  Produziu e fez curadoria em diversos projetos da Secretaria de Educação de Niterói como Cine Escola e Cine EJA e também em cineclubes do Núcleo de Produção Digital de Niterói (NPD). Atualmente produz e faz curadoria em diversos cineclubes e mostras de cinema do Núcleo de Cineclubes de Niterói (NuCiNi).


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O Cine Arte UFF, que une uma ótima programação, sala confortável, ótima imagem e som, e ingresso barato.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Dersu Uzala, de Akira Kurosawa.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

David Cronenberg e A Mosca.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tem tantos filmes nacionais clássicos maravilhosos que amo como Limite, O Bandido da Luz Vermelha, Noite Vazia, O Pagador de Promessas, mas um que revi recentemente e que não envelheceu nada é Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues. Inclusive ele é certamente influência para diversos diretores da geração 2000.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É sempre procurar conhecer novos filmes e descobrir filmes antigos. Tem até uma denominação que gosto de usar: "arqueólogo cinematográfico".

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que os cinemas de arte têm pessoas que entendem e tem paixão pelo cinema, ao contrário dos que montam a programação em cinemas de shopping, programando filmes muito comerciais e que visam o lucro.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho e espero que não. 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Weekend, do diretor Andrew Haigh. É um filme LGBT, mas que deveria ser assistido por todos porque o tema é universal: fala de um relacionamento amoroso e o fim dele.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acredito que não é viável economicamente abrir agora pois grande parte da renda dos cinemas é com a bomboniére. E realmente não dá para tirar a máscara em um ambiente fechado para consumir pipoca. A solução temporária são os drive-ins.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Excepcionalmente boa. Essa nova geração de cineastas é muito talentosa e nunca se fez tantos filmes brasileiros com qualidade numa geração de cineastas.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Nenhum. Rs. Eu vou primeiramente pelo roteiro e história do filme, e/ou diretor.

 

12) Defina cinema com uma frase:

 

"Cinema é a fraude mais bonita do mundo" (Jean-Luc Godard)

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não dá pra contar aqui não. Rs

 

14) Defina Cinderela Baiana em poucas palavras...

Não tenho como definir porque nunca vi.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Era para ser a condição primordial, né? Mas realmente se esperar o quê? Vários estudantes de cinema nem assistem filmes regularmente.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Alguns em festivais de cinema.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Sim, poucas vezes, geralmente em festivais de cinema. O último que bati palmas foi Bacurau.  

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Coração Selvagem, de David Lynch.

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23/09/2020

Crítica do filme: 'A Vida Extraordinária de David Copperfield'


A vida e sua trajetória: o que para alguns pode parecer até um conto de fadas! Não se engane, não tem nada de ilusionismo nas próximas palavras. Baseado no livro de Charles Dickens chamado David Copperfield, publicado em meados de 1850, The Personal History Of David Copperfield, dirigido pelo cineasta escocês Armando Iannucci (A Morte de Stalin) é antes de mais nada uma metáfora muito inteligente por trás de toda a luta de classes diferentes, em um período antigo onde o mundo buscava seu desenvolvimento. Repleto de personagens excêntricos (lembra até certo ponto a obra-prima de Tim Burton, Peixe Grande e Suas Maravilhosas Histórias), com uma direção de arte impecável, a saga de David é muito dinâmica, não dá tempo para piscar. Há também um desfile de artistas competentes que formam um conjunto harmônico de grandes atuações.

Desde seu nascimento e dentro de uma narrativa/cronologia corrida, com um ar de filme épico, em The Personal History Of David Copperfield, conhecemos David Copperfield (Dev Patel), um jovem que após sua amorosa mãe Clara (Morfydd Clark) se casar novamente é expulso de casa pelo novo padrasto Murdstone (Darren Boyd) e enviado aos cuidados do malandro Mr Micawber (Peter Capaldi). A partir daí, sua vida muda radicalmente e ele cresce em busca de seu quase evidente sonho de contar suas inimagináveis histórias para os que querem ouvir, assim entende melhor o mundo em que vive, faz amizades, encontra a inveja mas também descobre o amor.


A vida é uma trajetória fantástica para quem assim a quiser e tiver coragem de se arriscar nela. Colocando todo um contexto sociológico importante (posso até dizer que algumas situações quase atemporal) como plano de fundo, a saga de David é daquelas que beiram ao mirabolante. Iannucci consegue dar algum sentido ao clichê do lema ‘desastre ao triunfo’ colocando uma lupa sobre as classes e suas linhas distantes, além de dar uma sutileza e sensibilidade aos ótimos e peculiares personagens que vão chegando aos montes durante todas as passagens da vida do personagem título. Um belo trabalho, pra você enxergar muita coisa pelas entrelinhas.

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Crônicas de um Cinéfilo Solitário #2 - Meses sem cinema, uma lacuna insubstituível


Quando começou essa fase louca de nossas vidas em 2020, acredito, que ninguém esperava um impacto tão grande em nosso cotidiano. Uns estão conseguindo se recriar como pessoas, outros piorando como ser humano...alguns nem aí. Nenhum cinéfilo pensou algum dia que todas as salas de cinema do planeta fechariam suas portas por conta de uma epidemia que só fora visto algo parecido naqueles filmes tensos de infecções generalizadas ou até mesmo nos filmes de zumbis que sempre aparecem ano após ano. Algumas pessoas enlouqueceram ao ponto de virarem corajosos guerreiros virtuais apontando dedos e não respeitando a opinião dos outros. A indústria cinematográfica em completo caos, somado, aqui no Brasil, a um governo que parece ter riscado cinema ou qualquer arte de suas prioridades. Ah! Mas tem os streamings, mas é a mesma coisa? Tudo muito confuso, tenso e cheio de discordâncias. Mas aqui vamos tentar falar um pouquinho daquele sentimento gostoso de sentar em uma sala de cinema e ver um filme e o que quanto isso faz falta em nossos dias tão nublados.

Qual o impacto para alguém que ama estar em uma sala de cinema muito por conta do seu impacto calmante? O que fazer sem sua dose certeira de um certo oásis em meio caos diário de nossas rotinas repletas de emoções? Não dá pra descrever! Anos 90 sem a banda Raça Negra, Nicolas Cage sem filmes ruins, a banda Roupa Nova sem fazer parte de trilha de novelas... estar sem cinema hoje é tão enlouquecedor quanto pensar nesses paralelos verdadeiros. Para os mais intensos cinéfilos, a falta das salas de cinema está fazendo muito mal. Bravuras políticas, invejosas, ou não, nunca vistas em suas realidades antes aparecem pelos meios perigosos e as vezes sombrios das redes sociais onde se tornou nessa pandemia em um imenso faroeste onde atiram frases soltas sem remetentes tentando mirar quem veste a carapuça para assim se começar brigas que poderiam nem se iniciar caso o respeito pela opinião do outro fosse respeitada. A verdade nesses casos, é que esses valentes da internet que transmitem gostar e entender mais de cinema do que os outros são na verdade pessoas tristes que sentem falta de sua forma de sonhar, a tela enorme de um cinema. Ali, numa sala de cinema, a cada interpretação que faz do que acontece na tela, vira um reflexo do pensar, acalma, isso acaba sendo um antídoto contra babaquices em uma zona virtual. Sem o antídoto, já viram né...vira loucura. Mas o cinema é democrático, até gente chata pode gostar dele.


Me solidarizo com os profissionais audiovisuais que estão sem trabalhar, ou que vivem de alguma forma dessa indústria que entrou em um quebra-cabeça complicado de resolver. Ver seu ganha pão acabar de uma hora para outra é angustiante. Mesmo sabendo que muitos da alta gerência, que tomarão decisões sobre reaberturas e tal, passam longe de gostar de assistir a um filme numa sala de cinema. Anos atrás, quando entrei nessa indústria cinematográfica com a força e vontade de um amante da sétima arte em mudar toda uma dinâmica, percebi logo que são poucos os que entendem e amam cinema a ponto de quererem mudanças profundas em uma indústria dominada por grandes empresas. Alguns dos que amam cinema realmente e trabalham nessa indústria, tem medo de represálias por expressarem opiniões ou quererem mudanças, isso ficou óbvio com o desespero, a meu ver precipitado, no movimento dos exibidores em abrirem as salas de cinema, com venda de comida, em um mundo ainda sem vacina.  


E os streamings? Netflix, Amazon, Mubi ou qualquer outra ótima ferramenta dos novos tempos NUNCA irão substituir assistir a um filme em uma sala de cinema. Seja ela qual for e do tamanho que for. A mágica existe dentro do cinema, os filmes são feitos pensando em serem exibidos naquela imensa tela (mesmo poucos conseguindo a façanha). Os streamings são complementos, janelas secundárias que uma corrente que vem crescendo rapidamente luta para torná-la muito competitiva com a sala de cinema o que de fato deve acontecer em breve, fator que vai reduzir demais as salas que temos.


Com toda essa loucura espalhada para qualquer pensamento que tenhamos, inclusive pra mim, escrevendo esse texto às quatro da manhã após acordar de um pesadelo que mais parecia um filme, uma coisa é certa: seja chato, valente das redes sociais, gente boa, coração bom, coração triste e outras combinações de emoções que você tenha ou possa futuramente ter, nós cinéfilos, estamos todos nos sentindo presos, olhando para uma ampola cheia de ajustes nas regras sociais, higiênicas e médicas, contando os minutos para nos encontrarmos com nosso refúgio mais próximo do sonhar. Mesmo cheios de propagandas insuportáveis, que inclusive cortam as possibilidades de serem exibidos curtas antes dos filmes (era lei isso não?), mesmo com algumas programações feitas por pessoas que não conseguem adequar cinema de qualidade com o capitalismo necessário e insistem na robótica de abocanhar o mercado sem qualidade e nenhum pingo de criatividade, uma sala de cinema sempre será o nosso lugar preferido. Seja ela qual for.    

 

 

 

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #102 - Cadu Moura


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.


Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, escritor, roteirista e crítico de cinema. Cadu Moura é autor de dois livros - Descobrir Filmes - Um Guia de Filmes Pouco Lembrados de Grandes Diretores (2018) e Guia dos Mochileiros do Cinema - os melhores filmes sobre qualquer assunto” (2020), além de colecionador de filmes em DVD e blu-ray, com acervo de mais de 2 mil filmes.

 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Estação Botafogo, pois foi lá que eu realmente comecei a abrir minha mente para cinemas para além do circuito hollywoodiano que ocupa a maioria de nossas salas.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Mesmo não sendo uma das minhas primeiras experiências no cinema, acho que ver Cabo do Medo com meu pai no saudoso Condor Copacabana foi a primeira vez que deu um estalo e entendi o papel da sala na minha experiência. Tinha dez anos e provavelmente aquele foi o primeiro “filme adulto” que vi no cinema (mas antes já tinha visto outros filmes do perfil sempre com meu pai, via VHS).

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

É a pergunta que o cinéfilo mais sofre para responder, e sou dos que acham que esse nome muda sempre. Então digo que, atualmente, meu cineasta predileto é o Robert Altman, e meu filme preferido dele seja Nashville.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Eles Não Usam Black-Tie, do Leon Hirszman. Pela temática política da conjuntura, e como isso se relaciona na relação de pai e filho, um tema recorrente para mim por motivos sentimentais.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Parece genérico, mas acredito que seja gostar de cinema. Mas gostar mesmo, de tudo, sem dividir, questionar gostos adversos ou colocar seu gosto intocável para opiniões alheias. Até porque o cinema cresce muito com os debates, como qualquer outro braço da cultura, e gostar de cinema para mim inclui aceitar essa diversidade e ter maleabilidade para acessar tudo.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Sim, porém acredito que as prioridades na programação não passam por curadoria e sim por retorno comercial, e o próprio mercado da forma que é regulado e organizado justifica isso.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não, mas com certeza será algo muito nichado. Por diversos motivos acho que as novas gerações cada vez menos associarão o cinema a uma experiência bacana de entretenimento ou cultura. Pelo que a tecnologia oferece a eles, e pelo nível de concentração que eles não possuem e não são estimulados a ter, formando uma geração meio disléxica, pouco interessada em conteúdo e mais em atrativos sensoriais mesmo que vazios.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Vou indicar o mais recente que vi, para me facilitar: Walker – Uma Aventura na Nicarágua (1987), de Alex Cox (mesmo diretor de Sid e Nancy e Repo Man). Uma verdadeira aula de comédia sobre o imperialismo norte-americano e como o discurso liberal serve de ponte para regimes autoritários.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

De jeito nenhum. A razão vem sempre antes da paixão.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Enquanto as políticas de sustentabilidade vigoraram, estava ótima. Dava gosto ver tanta diversidade de cinemas no nosso país, com o regionalismo bem presente e orgulhoso de si. O cinema nordestino contemporâneo nos lembrou que a origem do Cinema Novo veio de lá também, a população cinéfila é sem memória assim como o povo brasileiro em geral.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Já foi o Beto Brant, mas atualmente está sendo o Cláudio Assis.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Vamos de Welles: “O cinema é um fluxo constante de sonhos”

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Foi na cabine de imprensa do ótimo filme canadense Antologia da Cidade Fantasma, onde no início do último ato a tela começou a ser tomada por uma tela verde que ia ocupando a tela até não conseguirmos mais ver nada do filme, e aí do nada o nosso colega e amigo Mario Abbade levantou e se dirigiu à sala de projeção e literalmente pegou o problema nas mãos e resolveu, voltando o filme ao ponto que começamos a perder a imagem e ver da forma apropriada. Acho que foi minha única experiência de autogestão numa sala de cinema.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Cinema popular.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho uma importante qualidade para incrementar sua visão e criatividade através de boas referências, às vezes pouco conhecidas e que seu filme pode ser um veículo de aprofundamento ao espectador. Para mim não existe um bom contador de histórias que não conheça várias boas histórias, referencial é tudo na busca pela evolução.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Essa resposta é tão difícil quanto escolher o melhor, então vou citar um péssimo filme visto recentemente: Incendiário (2008).

 

17) Qual seu documentário preferido?

Cabra Marcado Para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Apenas mentalmente. 

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Coração Selvagem (1990), de David Lynch.

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22/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #101 - Renata Boldrini


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila e uma das grandes referências para nós cinéfilos quando pensamos em dicas e curiosidades sobre a sétima arte. Renata Boldrini transmite todo seu conhecimento com muito carisma por diversas plataformas: na rádio JB FM, nas suas redes sociais e no canal Telecine.  Uma grande defensora do cinema, entrevistou centenas de artistas consagrados trazendo para o público cinéfilo mais curiosidades sobre as produções. Uma grande honra ter a Renata aqui no nosso especial.


Obs: Desde de pequeno eu vejo as coberturas da Renata, lembro principalmente dela entrevistando os artistas no Oscar. Sempre com reportagens muito legais! Rê, continue sendo essa referência para todos nós que amamos a sétima arte. Obrigado por encontrar um tempo para responder nossas perguntas na sua agenda mega lotada.

 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

FREQUENTO SALAS POR MOTIVOS DIFERENTES. PELA PROGRAMAÇÃO, PELA QUALIDADE DE SOM E IMAGEM... SENDO ASSIM AS QUE ACABO FREQUENTANDO MAIS SÃO GRUPO ESTAÇÃO, UCI E CINEMARK.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

DESDE O PRIMEIRO QUE ASSISTI NO CINEMA, O PRIMEIRO SUPERMAN. FIQUEI MARAVILHADA.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

TARANTINO MAS NÃO SEI SE TENHO CONDIÇÕES DE ESCOLHER UM FILME DELE. AMO TODOS.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

IMPOSSÍVEL ESCOLHER UM NACIONAL FAVORITO. TEMOS MUITAS OBRAS PRIMAS QUE ESTÃO EM PÉ DE IGUALDADE. MAS PRA CITAR DOIS PREFERIDOS ENTÃO DO ANO PASSADO COLOCARIA BACURAU E A VIDA INVISÍVEL.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É SE EMOCIONAR COM A ARTE DO CINEMA EM SI, CONSEGUIR ENXERGAR ALÉM DAS IMAGENS QUE VEMOS NO CINEMA, É SENTIR A EXPERIÊNCIA E SAIR MAIS RICO COM ELA A CASA SESSÃO.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

 

ISSO TAMBÉM DEPENDE DO CINEMA E DO PERFIL DE CADA CINEMA. ACHO QUE CADA UM ATENDE BEM O TIPO DE PÚBLICO QUE QUER ATINGIR.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

ESPERO QUE NÃO! E ACREDITO SINCERAMENTE QUE NÃO MESMO. O CINEMA COMO FALEI, É UMA EXPERIÊNCIA. NADA SE COMPARA. AINDA QUE VOCÊ TENHA UMA TELA DE 200 POLEGADAS EM CASA NÃO VAI TRADUZIR A EXPERIÊNCIA COLETIVA DE ESTAR NUMA SESSÃO. IMAGINA NÃO VIVER AQUELA SENSAÇÃO DE VER O FINAL DA SAGA STAR WARS COM TANTOS FÃS EMOCIONADOS, VIBRANDO AO MESMO TEMPO? O MESMO COM TANTAS PRODUÇÕES.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

INDICO TRÊS VERÕES, DA SANDRA KOGUT QUE ACABOU DE ESTREAR NO STREAMING DO TELECINE! INÉDITO! FILME MARAVILHOSO.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

DEPENDE DA SITUAÇÃO DE CADA LUGAR. OS CINEMAS ESTÃO SE PREPARANDO MUITO BEM COM TODAS AS NORMAS E PROTOCOLOS DE SEGURANÇA PRA RECEBER O PÚBLICO. VISITEI SEMANAS ATRÁS O UCI PRA VER COMO VAI SER E ME SENTI MUITO SEGURA COM AS PROVIDÊNCIAS TODAS QUE ELES ESTÃO TOMANDO.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

JÁ NÃO É DE HOJE QUE O CINEMA BRASILEIRO VEM MOSTRANDO SUA FORÇA E COMPETÊNCIA. ESTAMOS BASICAMENTE TODOS OS ANOS NOS ÚLTIMOS ANOS COMPETINDO NOS MAIORES FESTIVAIS DE CINEMA DO MUNDO E NÃO RARO SAIMOS PREMIADOS. O NOSSO CINEMA É EXCELENTE, DIVERSO E MOSTRA O QUANTO TEMOS UMA CULTURA COMPETENTE QUE MERECE INCENTIVO E RESPEITO. DUAS COISAS QUE INFELIZMENTE ESTÃO EM FALTA NO MOMENTO. VIVEMOS UM PERÍODO MUITO SOMBRIO PRA CULTURA BRASILEIRA DE FORMA GERAL MAS O CINEMA VAI RESISTIR E SEGUIR FAZENDO HISTÓRIA.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

KLEBER MENDONÇA FILHO, SANDRA KOGUT, KARIM AINUZ, LAÍS BODANZKY, SÃO TANTOS...

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #101 - Renata Boldrini

21/09/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #100 - Mario Abbade


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.


Nosso entrevistado de número #100 precisava ser alguém especial, alguém admirável, e obviamente um grande mestre cinéfilo. Mario Abbade é cinéfilo, jornalista, crítico de cinema, escritor, professor, pesquisador e cineasta. Com quase dois metros de altura e muito mais de conhecimento sobre essa arte que amamos, iniciou sua carreira nos anos 90. Já teve coluna no Jovem Nerd, já foi entrevistado pelo Jô Soares e até fundou um portal de cultura pop e cinema, o Almanaque Virtual. Integrou o júri da FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema) nos festivais do Rio, e muitos outros. Inclusive, em um ano, presidiu o Júri da Crítica do Festival de Cannes e, em outro, o Júri da Crítica do Festival de Berlim. Em 2017 estreou como documentarista com Neville D’Almeida – Cronista da Beleza e do Caos, presente em diversos festivais, como o Festival Internacional de Cinema de Roterdã em 2018. Atualmente é crítico de cinema, um dos famosos bonequinhos do Jornal o Globo, e, é também apresentador da coluna semanal Pensando em Cinema na TV Bandeirantes e da rádio BandNews Rio FM.


Obs: querido irmão cinéfilo Marião. Uma das pessoas mais fantásticas e verdadeiras que conheço do meio audiovisual brasileiro. Uma enciclopédia cinéfila que quando o conheci me deu um baita medo pois ele fala com tanta intensidade que parece as vezes que tá brigando com você (rsrsrs). Mas no fundo, é um leão manso (rsrs), um eterno romântico e apaixonado por essa arte fascinante que é o cinema. Sempre o admirei e tenho a honra de hoje poder dizer que sou amigo desse ser iluminado, que só parece ser ranzinza (rsrs), e que ajuda demais a todos que ele vê que amam cinema que nem ele. Continue sendo esse cara nota mil mestre Marião! Sou teu fã!

 


1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

É difícil dizer qual minha sala preferida pois depende muito do tipo de filme que eu vou ver. Por exemplo, se quero ver um blockbuster, que vai ter efeitos especiais e que tenha tela imensa eu prefiro ver no Imax, no UCI Barra Shopping. Mas minha escolha da sala passa pelo tipo de filme que eu quero assistir.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Help! Vi no Metro Tijuca. Deveria ter uns 5 ou 6 anos. Me encantei na hora. Naquela época, tinha cortina vermelha, abria cortina, tinha todo um aparato, tinha um jornal. Era realmente um programa. Não era só ver um filme e sair correndo. Inclusive foi o primeiro filme que vi no cinema.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eu não consigo definir. Depende muito da semana. Tem semanas que eu fico louco com Alfred Hitchcock, aí passa um pouquinho é com Bergman, aí passa de novo é com Fellini. Eu não consigo escolher um diretor favorito e um filme favorito dele. Depende muito do meu estado de espírito, de como estou naquela época. Tem época que estou mais pra Woody Allen, outra pra Orson Welles, outra mais pra Truffaut, Scorsese... tem época que tô mais pra Glauber Rocha, Claudio Assis... Depende. Não consigo escolher um diretor e um filme favorito. Depende do meu estado de espírito.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

A mesma coisa que a pergunta anterior. Depende muito. Meus filmes favoritos mudam a cada estação, e depois voltam a ser favoritos de novo. Não tem como eu dizer uma escolha. Só posso dizer o motivo: depende do meu estado do espírito.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Olha, difícil explicar isso. Acho que para cada pessoa é uma coisa. Pra mim, ser cinéfilo desde pequeno quando foi me apresentado ao cinema e um prazer imenso estar em um cinema. É uma diversão mesmo. Conforme o tempo foi passando, foi entrando também o trabalho da análise, um trabalho de tema, de reflexão, você começa a ver naqueles personagens, naqueles filmes, (dependendo obviamente dos filmes que você está assistindo) sua própria vida, pessoas, amigos, coisas que você lê, história, geografia, ciências. Então, cinéfilo pra mim não tem uma definição única. A primeira coisa é gostar de cinema. Mas não há uma frase que defina.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Se você tem uma sala que é exclusivamente para o cinema comercial, de entretenimento, óbvio que alguns filmes entrarão ali independente se tiver uma pessoa escolhendo. Isso funciona muito mais para os pequenos cinemas. Para as grandes redes, não funciona muito. As grandes redes vão abocanhar o mercado, querem os filmes da Marvel, da DC, um blockbuster... Agora, nas salas menores você precisa ter um olhar diferente que fogem um pouco dessa maneira de pensar. Eu acho que tiveram boas pessoas nessas salas sim, as escolhas do MAM foram boas, do Joia, do Cine Casal, do Adailton. Tivemos pessoas que entendem nesses lugares.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

O cinema nunca vai acabar. É como falavam do vinil, que ia acabar e nunca acabou. Como dizem que o jornal impresso vai acabar, não vai acabar. Dizem que os livros iam acabar por causa da chegada do Kindle, não vai acabar. Podem diminuir mas acabar não vai acabar.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Fica complicado de indicar um filme. Obviamente que os meus colegas cinéfilos e os meus colegas de profissão, e até apaixonados por cinema devem ter visto as maiorias dos filmes que estão sendo indicados aqui, mas um filme que eu acho que pouca gente viu foi o Bad Boy Bubby. Acho um filme bem interessante. Mas posso indicar vários outros: os filmes da Troma, filmes do Vincent Gallo, a lista é enorme de filmes que são muito bons mas que poucos assistiram porque acabam não tendo chance nesse mercado, porque o circuito acaba privilegiando as grandes produções.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que as salas de cinema podem reabrir sim, com segurança não vejo problema. Mas tem que ser segurança mesmo. Diminuir a capacidade, não deixar ninguém comer pipoca, todo mundo de máscara, teremos que ter o lanterninha para tomar conta das pessoas.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Eu acho a qualidade do cinema brasileiro muito boa. Não acho só atualmente não. O Brasil tem várias épocas muito boas. Nos anos 50, 60, 70, 80, 90...enfim. Eu acho a qualidade muito boa sim. Temos muitos cineastas de qualidade agora e em outras épocas.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Tem dezenas de artistas brasileiros que eu não gosto de perder um filme. Mas se formos falar dos atuais, atuais, mesmo que estão fazendo cinema agora, seria pra mim o Claudio Assis.

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema é o ar que eu respiro.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Já tive dezenas. Já teve uma vez, que eu estava no Leblon 1 onde teve um assalto dentro do cinema, e eu estava lá dentro vendo um filme policial (rsrsrs). Parece até uma metalinguagem né?

Já tive também numa sala de cinema que eu senti algo na perna e percebi que era um cara enroscando a perna dele em mim. Um senhor de idade fazendo isso, querendo me apalpar (rsrsrs). Aí eu falei: “meu amigo, para com isso por favor!” Aí ele ficou cheio de vergonha e foi embora.

E também teve uma vez que eu fui assistir a um filme no Cinemark, logo quando o Cinemark abriu aqui no Brasil tinham sessões meio-dia e meia. Aí fui assistir a um filme dessas sessões lá, e começou o filme e só tinha eu e outra pessoa. Duas pessoas na sessão de meio-dia. Aí começou o filme a pessoa que também estava na sala, se aproximou e sentou do meu lado. Naquela sala de 200 lugares, tomei um susto! Aí a pessoa: “tô com muito medo de ficar nessa sala aqui sozinha. Será que eu posso ficar do seu lado?”. Era um filme de terror. Aí eu disse:  “tudo bem mas é pra assistir ao filme ein?!” Depois viramos até amigos.

 

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Eu não tenho esse problema com o Cinderela Baiana não. Cheio de problemas, cheio de defeitos mas torna o filme engraçado. Eu tenho mais problema com cineasta pretensioso. Em Cinderela Baiana não vejo pretensão nenhuma. A não ser realizar um filme comercial de diversão. Tem problemas? Tem. Tem muita coisa ruim? Tem. Mas acho muito pior aqueles caras metidos a intelectuais que fazem um filme completamente pretensioso e cheio de erros também. Isso que acho muito pior. Defino Cinderela Baiana como uma diversão. Não concordo com esse folclore que criaram com o filme. É o mesmo que criaram com o Ed Wood.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

A história já comprovou que diretores de cinema são pessoas que amam cinema. São dezenas e dezenas de exemplos. Eu não vejo ninguém querendo estar em uma profissão e fazer sucesso nela sem gostar. Imagina um médico que não gosta de medicar? Imagina um cara que vai ser jogador de futebol e não gostar de futebol? Impossível ser um diretor de cinema e não gostar de ver filmes. Isso não existe. É impossível. Quem fala algo assim obviamente está criando um folclore em cima do nome. Todo grande cineasta assiste a filmes e gosta de cinema e não para de ver cinema. Essa é a grande verdade! É uma incoerência dizer que um diretor de cinema não é cinéfilo. É óbvio que ele é cinéfilo! Agora, existem graus e graus de cinefilia. Isso que você pode questionar.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Como não consigo escolher o melhor, também não consigo escolher o pior. Essas listas vão mudando a todo tempo. Eu não tenho um filme assim que eu odeie tanto. Só de ter tido o prazer de entrar no cinema, assistido um filme, passar por aquele cerimonial todo, ou mesmo assistindo em casa, eu não consigo ver o melhor ou o pior filme. Essas listas mudam a cada momento da sua vida, conforme você vai vivendo, conforme o estado de espírito que você está.

 

17) Indique um documentário:

Documentários tem milhares. Mas para citar um: Hearts of Darkness: A Filmmaker's Apocalypse. Acho que é um documentário interessante, que mostra como foi o processo do filme Apocalipse Now. A gente aprendi muito, passa por todas as etapas, tem as entrevistas... acho um grande documentário para se falar de cinema, o que passa com um cineasta, o processo de criação.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Sim. Já bati palmas diversas vezes em sessões. Não vejo problema nenhum. Filmes que te emocionam, te tocam muito. Não é um hábito porque não é todo filme que te dá vontade de fazer isso. Não só no Brasil mas nos festivais pelo mundo.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Você faz essa brincadeira com o Nicolas Cage porque ele realmente tem feito muitas escolhas ruins. Mas ele tem ótimos filmes, grandes filmes. Se for procurar lá atrás: Asas da Liberdade (Birdy), Peggy Sue, Arizona Nunca Mais, Feitiço da Lua, poxa...é muito filme maneiro! Muito filme legal! Eu não tenho problema com o Nicolas Cage não. Só acho que realmente ele começou a fazer escolhas erradas como vários atores e atrizes que fazem. São escolhas para ganhar dinheiro rapidamente. Talvez se pegue um pouco no pé dele porque é um desperdício, porque já mostrou que tem talento. Mas eu não tenho problema com ele não, nem com nenhum artista. Cada um sabe da sua vida.

Se eu fosse escolher um filme do Nicolas Cage só, seria o Coração Selvagem, pois gosto muito do David Lynch. Acho o filme maravilhoso, ganhador da Palma de Ouro em Cannes. E tem uma grande atuação do Cage e de todo o elenco, uma direção maravilhosa do Lynch.

 

20) O que é mais difícil, ser crítico de cinema ou diretor de cinema?

Ambos são difíceis. Depende da maneira que você está, o que você está fazendo e pra onde você está fazendo. Diretor de cinema depende: tá fazendo filme para um estúdio? Uma produção independente? Então, depende. A mesma coisa a crítica de cinema: é um blog seu? Ou você está escrevendo para um grande veículo que você é funcionário? Eu vejo dificuldades e prazeres em ambas as funções. Não vejo uma coisa mais difícil que a outra não. Você tem que te rum dom, talento e muita força de vontade para aprender em ambos. Ser crítico de cinema, você tem que saber de tudo que está acontecendo, estudar a filmografia inteira daquele diretor que você vai assistir, não basta você assistir a um único filme dele. O crítico de cinema ele demora anos e anos vendo filmes, analisando, lendo livros estudando para isso. O diretor de cinema também, analisando planos, sequências, assistindo a outros trabalhos e ter a sua criatividade própria. Ter um bom texto é talento também, tem que ter criatividade. São duas coisas diferentes mas não vejo assim: um é mais difícil que o outro. Depende muito do seu estado de espírito e do que você está fazendo.  

 

 

21) Com que artista gostaria de bater um papo sobre cinema e porquê?

Ah, são dezenas. Dezenas de artistas que gostaria de bater um papo. Gostaria de bater papo com Alfred Hitchcock, adoraria conversar com Orson Welles...com o Bergman. A gente assiste a muitos documentários sobre essas pessoas. Só que o documentário acaba sendo o olho do documentarista e as pessoas que falam que tiveram relação pessoal ou profissional. Então não tenho um preferido. Eu queria falar com todos eles! (rsrsrsrs) Porque eu amo cinema!

 

22) Se você tivesse um cinema, qual seria o nome dele?

Olha, é complicado. Dependeria muito da cidade que você estaria morando. Se teria patrocinadores ou não, isso tudo influencia. Mas eu procuraria fazer um nome que expressasse liberdade e livre, que ali não teria nenhum tipo de preconceito, amarras, que seria uma coisa de liberdade total de expressão para todos e para todas, para todo mundo. Não seria Cine Livre (até seria legal), mas dependendo da cidade e do patrocinador, eu juntaria as palavras com essa ideia de liberdade, de independência, de autonomia, de que ali você não vai ter gente tentando censurar ou proibir. Que qualquer tipo de filme e formato fosse exibido ali.

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