Na tarde da sexta-feira (16), no Rio de Janeiro, ocorreu uma coletiva de imprensa do filme “A Novela das Oito” que contou com a presença de dois atores que estão na trama produzida, escrita e dirigida por Odilon Rocha. Mateus Solano e Claudia Ohana, dois dos grandes destaques do filme, foram os encarregados de conversar com a imprensa sobre esse novo trabalho que chega no final do mês aos cinemas brasileiros. Falando sobre o universo da novela, a diferença entre televisão e cinema, participação da Claudia Ohana na trilha sonora e sobre os personagens, os artistas responderam à imprensa em pouco mais de meia hora de conversa.
Abaixo, confira o que de melhor aconteceu nessa coletiva, que não teve a presença da atriz Vanessa Giácomo [ela saiu da coletiva, antes do combinado], mas contou com os simpáticos Mateus Solano e Claudia Ohana.
- Qual a diferença entre fazer cinema e televisão ?
Mateus Solano: No cinema você tem mais tempo. Você tem tempo para aprofundar questões, aprofundar linguagem. Na televisão precisa produzir um capítulo por dia. No cinema você tem uma liberdade que é a liberdade do diretor, é completamente diferente. No caso da televisão, é uma empresa e como toda empresa quer ganhar dinheiro e dá ao espectador o que o espectador pede para a mesma. Tem gente que fala se eu não acho um absurdo que na Tv ainda não teve beijo gay, eu não acho absurdo nenhum, o povo não quer ver o beijo gay, se o povo quiser ver o beijo gay o povo vai ver, irá aparecer em seguida. Então, funciona assim, novelas inteiras e personagens inteiros são mudados no meio porque o público não está satisfeito com aquilo.
- Como foi interpretar um personagem homossexual, qual liberdade você teve para criar o personagem ?
Mateus Solano: É claro que eu sempre tenho essa vontade de fazer esses personagens que me desafiam que sejam diferentes um do outro e tal, na Tv a gente nem sempre consegue isso porque eu já disse: a televisão dá ao público o que ela quer. Aí você me pergunta se seria muito diferente esse personagem na televisão, eu diria que não seria muito diferente, claro que ele estaria mais preso à forma da televisão, é óbvio que não teria o beijo dele como foi esse do filme, mas eu como ator tento trazer a humanidade para todos os personagens seja na TV, no teatro, no cinema.
- Seu personagem, além de ser homossexual, é de uma elite que questiona a problemática daquela época em nosso país, como foi para você fazer esse personagem?
Mateus Solano: Foi muito bacana fazer esse personagem e por ter a referência do meu pai diplomata. Essa figura internacional (diplomata), ao mesmo tempo, que representa o seu país tem uma solidão. Meu pai tem grandes amigos que se perderam por aí, de 3 em 3 anos, mudam de país, tem um tristeza junto com isso, uma solidão que eu pude trazer. Me interessa também essa época e principalmente pelo papel da arte naquele tempo que tem muito mais haver com o que eu acredito que seja o papel da arte em qualquer época, uma arte que faz a gente pensar, discutir e ir além e não uma arte que faz a gente sentar, relaxar e esquecer que é muito mais o que a gente vive hoje.
- Claudia, seu personagem é o único que percorre toda a trama interagindo com muitos personagens, como foi para você interpretar essa personagem ?
Claudia Ohana: O personagem sofre uma transformação, começa um personagem muito sofrido, que ta longe da família, tem uma perda de personalidade. É um personagem difícil porque ela não é uma militante política, ela foi presa por conta de um artigo que escreveu por amor. Ela não é empregada e começa como empregada é um personagem muito humano, uma mulher comum que por azar da vida foi colocada naquela situação e teve que abandonar a família. Aí, através dessa história, vai se contando o resto das histórias, ela sofre a transformação também muito do personagem da Amanda que é o oposto dela. É um personagem muito sutil. As histórias vão se entrelaçando meio ‘Shortcuts’ meio Altman.
- Claudia, seu personagem no começo da trama não fala uma palavra e passa muito com o olhar. Como foi trabalhar sem fala apenas na expressão do personagem nesse início da trama?
Claudia Ohana: Eu gosto do olhar. Eu acho que o cinema é muito o olhar, que diz tudo, coisa que não tem nem na televisão, nem no teatro embora tenha a atitude do olhar que é importante mas o olhar no cinema diz tudo. Então, você dá o olhar antes e vai com o sentimento e a verdade, a gente tenta passar a verdade o máximo que pode.
- Como foi essa participação na trilha sonora do filme?
Claudia Ohana: Na verdade eu sempre cantei, eu faço musical a muito tempo, já fiz filme e já fiz uma novela musical. O Odilon (diretor do filme) me chamou e me mostrou essa musica que eu nunca tinha ouvido, que é linda, aprendi a melodia e gravei. Cantar é uma coisa que eu faço a muito tempo, faço aula de canto a muito tempo, volta e meia eu acabo cantando.
- Porque uma novela não paralisa mais a gente como antigamente ?
Mateus Solano: Acho que o tempo está muito rápido, instantâneo, presente, presente, presente. Ninguém prepara nada para o futuro. A gente está vivendo o ‘carpe diem’ de uma forma muito exagerada, penso eu. Acho que não é só as novelas, poucas coisas ficam e eu acho bacana é quando a arte fica, por mais que elas nem tenham essa pretensão, as vezes. É uma coisa do nosso tempo mesmo. Às vezes me pergunto, em relação a historias do gêmeos que eu fiz e tal , Ruth e Rachel é uma coisa que está no nosso imaginário para sempre e eu não sei se os gêmeos que eu fiz vão ficar guardados por essa geração como ficou Ruth e Rachel na nossa, não sei mesmo.
Claudia Ohana: Antigamente não tinha TV a cabo. Eu ainda peguei uma novela que foi a ‘Vamp’ que foi um marco. Naquela época não tinha TV a cabo, não tinha paparazzi, não existia nada disso. Então, assim, as pessoas viviam muito a novela, tinha 90 de audiência, era uma loucura isso. Nunca mais vai existir isso. Hoje em dia o Brasil não pára por causa de uma novela.
- Você começou fazendo figuração na novela ‘Dancyn Days’. Como foi voltar a esse universo ?
Claudia Ohana: Fazer esse filme foi voltar uma época da minha vida que é exatamente quando fiz 15 anos e minha vida mudou, comecei fazendo figuração. É impressionante como o mundo gira e a gente volta às coisas, foi incrível, foi uma volta ao passado.
- Alguma novela que marcou a sua história ?
Claudia Ohana: Me lembro muito de “Selva de Pedra” as historias eram sensacionais, essa novela era incrível. Também “Escrava Isaura”, “Gabriela”, “Saramandaia”.
Mateus Solano: Quando eu assistia novela mesmo, era noveleiro, eu não durava até as oito, eu assistia era das sete, então, fica muito mais na minha cabeça “Que Rei Sou Eu”, que pra mim era demais!
O longa “A Novela das Oito” estréia no dia 30 de março em algumas salas no Brasil.