Na tarde da última quarta-feira (15), em um hotel situado na
orla da zona sul carioca, o diretor Fernando
Meirelles e a atriz Maria Flor
receberam a imprensa para falar sobre o filme “360”. A produção parte da questão existencial, “pessoas e seus
problemas”, para contar uma história (baseada na obra de Arthur Schnitzler) com gente de todas as partes do mundo que traem,
se apaixonam e buscam um novo rumo para a tristeza do presente, em suas vidas. O
longa vem recebendo fortes críticas da
imprensa estrangeira, fato que fora citado nessa entrevista bem objetiva onde
Meireles e Maria Flor procuraram responder a todas as perguntas feitas pelos
jornalistas presentes.
1) Como foi gravar com atores de várias
nacionalidades diferentes? Quais as dificuldades?
Fernando
Meirelles: Na verdade inglês, francês e português eu falei com quase todo
mundo, só com o ator russo que falava um inglês muito pobre, ele até falava um
pouquinho, não dava pra se comunicar realmente, então, depois do segundo dia de
filmagem nós chamamos uma intérprete. Mas com os outros, ou falava francês ou
inglês. É impressionante como interpretação não é mesmo sobre o sentido das
palavras, você sente o tom, o olhar, como o cara se coloca, é possivelmente
dirigir em chinês. Eu depois dessa experiência me sentiria confortável em fazer
um filme inteirinho em chinês.
2) Como foram as cenas com o Ben Foster? Como
foi contracenar com esse ator?
Maria
Flor: O Fernando propôs um encontro, como eu não conhecia os atores, nós
íamos fazer uma leitura simples. O Ben
Foster não quis me encontrar porque ele achava que como as nossas
personagens não se conheciam a gente podia aproveitar isso pra cena e aí se
encontrar em cena mesmo. Ele é um ator que fica no personagem o tempo inteiro,
ele é muito intenso e no começo eu fiquei um pouco surpresa de ele não querer
nem ler o texto mas depois eu embarquei na onda e acho que ele trouxe uma ótima
proposta, a cena tem um pouco de nervosismo e eletricidade do momento. A gente
só se olhou, se falou no set, no ‘ação’, como personagem. A cena captou isso,
foi bom.
3) Como surgiu o interesse pelo projeto?
Fernando
Meirelles: Essa peça é uma obra do Schnitzler
(Arthur). Foi só um gatilho inicial para o projeto, o filme é muito
diferente da peça na verdade. Esse roteiro foi escrito pelo Peter Morgan que escreveu “A Rainha” e ele queria fazer um filme
que parecesse um pouco com a vida dele, ele mora em Vienna, está sempre em
Londres e nos EUA, está sempre voando. Então muitos aeroportos, muitas
conexões, muitos hotéis genéricos. Ele tem essa sensação que o mundo é muito
pequeno. Como eram 100 anos da morte do Schnitzler alguém propôs ele fazer a
adaptação de alguma peça, assim ele juntou uma coisa com a outra. O que tem da
peça é só o começo que começam com uma prostituta e acabam em Vienna, mas fora
isso, são histórias diferentes. Meu interesse no projeto foi primeiro que na
hora eu recebi o roteiro eu vi o nome do Peter
Morgan. Ele é muito bom diálogos, ele é muito bom de construir situação.
Outra coisa que gostei do filme é porque era muto arriscado e eu sabia que era,
o fato de não ser uma história clássica em três atos onde você segue os
personagens, uma estrutura diferente. Sou muito fã do Robert Altman que faz esses filmes corais. Outra coisa, o filme não
tem antagonista e não tem protagonista. O protagonista está dentro de cada um
dos personagens. É um filme maduro, é um conflito interno que ocorre.
4) Alguns personagens aparecem mais que
outros. Como foi essa construção dos personagens?
Fernando
Meirelles: O filme está muito parecido com o roteiro. A gente tirou uma ou
outra coisa. Tem um personagem que sumiu um pouco, eu achei uma pena mas é que
realmente não tinha tempo. É aquela psicóloga do Ben Foster, na cadeia, aquela atriz é incrível ela já
ganhou o Oscar de melhor atriz por “Segredos
e Mentiras” do Mike Leigh. Eu a
chamei porque o personagem dela era maior, ela tinha uma namorada tinha uma
historinha ali. Nessa personagem a gente deu uma enxugada, infelizmente. Os
outros não, eram como no roteiro. No filme, quem tinha mais diárias de
filmagens acho que foi a Flor mesmo, tem mais tempo.
5) O roteirista do filme, Peter Morgan, esteve
muito presente na criação do filme. Como foi essa relação com o famoso
roteirista?
Fernando
Meirelles: Foi uma maravilha. Como esse era um projeto muito dele, o Peter
não foi contratado para escrever essa história, ele escreveu e virou a história
mais pessoal que ele já fez na vida. Quando eu encontrei com ele, de cara
percebi a paixão dele, esse é um cara que merece crédito e pessoalmente é uma
pessoa bem humorada e tem uma energia boa pra caramba. Até falei que não ia
fazer o meu filme, ia fazer o nosso filme, cheguei até a propor aos produtores
de assinarmos um filme ‘by Peter e Fernando’ aí os produtores acharam que isso
não era muito usual e a gente não assinou assim. Quando a gente estava montando
o filme, fazíamos um ‘skype’ para mostrar a ele como foram as filmagens naquele
dia. Eu tenho certeza que vamos trabalhar juntos de novo. Ele terminou um filme
agora a pouco sobre o Nick Lauda (“Rush”) esse ele queria muito que eu
fizesse.
6) Como foi trabalhar com Anthony Hopkins?
Fernando
Meirelles: O Hopkins é uma maravilha. É um cara que está de bem com a vida.
Ele não precisa mais provar nada a ninguém, fez tudo o que tinha que fazer não
reclama de nada. É ótimo trabalhar com um cara tão positivo, tão generoso. No
nosso primeiro encontro eu já senti isso.
Esse novo trabalho do diretor paulista, famoso a partir do
clássico nacional “Cidade de Deus”,
estreia nesta sexta-feira (17) nas salas de cinema de todo o Brasil. Não perca
essa chance de assistir a mais um filme de Meirelles nos cinemas!