Nem todo mundo nessa vida pode dizer que tem um irmão ou uma irmã. Dentro desse universo, dos que estão contidos nele, uma série de situações e memórias buscamos rapidamente quando lembramos neles. Nem sempre os relacionamentos são fáceis, as vezes complicados, com hiatos, brigas, desentendimentos mas sempre com uma pontinha de esperança de que no final tudo fique bem novamente. O universo cinematográfico todos os anos aborda recortes as vezes superficiais, as vezes profundos que tem essa temática ‘relacionamento entre irmãos’ envolvida no roteiro. Pensando nisso, resolvemos criar uma lista sobre o tema e reunimos aqui 10 filmes que nos mostram um pouquinho de recortes dessas relações tão diferentes de família para família.
Irmã (China)
As
memórias que não existiram mas que também nunca se foram. Usando a técnica de
stop-motion, a animação chinesa dirigida pela cineasta Siqi Song, transforma uma frustração em uma grande
carta poética em forma de animação. Irmã, em seus curtos
minutos, fala muito sobre o sentimento das famílias chinesas que viveram dentro
dos 30 anos da política de apenas um filho. Selecionado pelo Festival de
Sundance ano passado e um dos 5 indicados ao Oscar na categoria melhor curta de
animação desse ano, o filme é um relato importante sobre um fato que afetou
milhares de pessoas no país mais populoso do planeta.
Em 08
minutinhos, ambientado na década de 90, somos envolvidos em um pequeno retrato
que vai do imaginário a realidade. Conhecemos um jovem que relata sua
convivência com sua irmãzinha, muitas situações que acontecem com a chegada da
nova integrante da família, só que descobrimos que essa irmã nunca existiu pois
a família do protagonista não poderia ter mais de um filho por conta de uma
política de 30 anos das autoridades chinesas.
Lançada
pelo governo chinês no fim da década de 1970, essa lei que é pano de fundo
dessa história, consistia numa lei segundo a qual ficava proibido, a qualquer
casal, ter mais de um filho (em outubro de 2013, o governo chinês aboliu essa
lei). Fato esse que deixou vários filhos únicos sem a possibilidade de dividir
sua vida com um irmão ou irmã. O curta navega nessa vertente e usa a imaginação
do pensar como forma de homenagem a todos que não puderam ter um irmãozinho
durante todo esse período na China. O cinema é isso, uma maneira de refletir
sobre nossas épocas: passado, presente ou futuro.
Warrior (EUA)
O universo
do MMA mais uma vez vira pauta de um longa.
Para nos guiar por essa história foram escalados dois atores que tiveram, com
certeza, que passar por uma série de treinamento específico para compor seus
personagens. Tom Hardy e Joel Edgerton interpretam os irmãos que lutam
(literalmente falando) por objetivos diferentes. Os bastidores do evento, os
estilos de luta... parece que estamos ligados naquele famoso canal de Tv a
Cabo, ao vivo, vendo uma transmissão desse esporte que virou febre no mundo
todo. Warrior é eletrizante do
primeiro ao último minuto.
Na trama, conhecemos
a história de uma família que tem na sua essência a alma da luta. Aos poucos
vamos vendo o presente de cada um dos membros: um dos filhos é professor de
física (do ensino médio americano) com sérias dificuldades financeiras, o outro
filho é um ex-fuzileiro naval que sofrera um trauma com sua unidade durante uma
de suas missões no Iraque. Ambos, ao decorrer da fita, vão sendo jogados de
volta ao octagon (cenário onde ocorrem as lutas dessa
modalidade esportiva). Um deles guiado pelos conselhos profissionais do pai,
que antes fora um grande treinador de luta olímpica, o outro busca forças na
sua esposa que o apoia mesmo não gostando que ele lute.
O grande
destaque do longa, dirigido por Gavin O'Connor,
é o veteraníssimo ator americano Nick Nolte. Com
seu personagem, Paddy Conlon, um ex-dependente
alcoólico que tem muitos problemas na relação com sua família no passado,
consegue explorar todos os aspectos que rondam esse intenso papel. Sempre bom
ver experientes artistas representando bem seus personagens.
Blood Ties (EUA)
A
verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família.
Depois de dar uma pausa nas atuações e se dedicar às direções, o francês Guillaume Canet no ano de 2014 assinou
a direção desse filme de ação que possui uma excelente construção, fruto do bom
trabalho do roteiro de James Gray,
onde os ótimos Clive Owen e Billy Crudup se revezam como
protagonistas da história. Blood Ties
possui subtramas envolventes mas que só funcionam de fato por conta das ótimas
atuações do elenco. Cada qual com sua personagem, ajudam a contar essa
explosiva e envolvente história.
Na trama,
acompanhamos a história de dois irmãos que estão em lados opostos da lei. Após
a saída da prisão, Chris (Clive Owen)
insiste em ser feliz longe do crime, procurando ser um cara mais correto. Já
Frank (Billy Crudup), é um policial
esquentado que abandonou um grande amor no passado e não tem um bom
relacionamento com seu irmão mais velho. A vida de ambos muda radicalmente
quando, no mesmo período, um dos irmãos volta a ser um bandido perigoso e o
outro é caçado por um outro ex-prisioneiro.
O roteiro
não é nada muito diferente do que já vimos em outros filmes do gênero. Um fato
que se diferencia das outras fitas é a direção detalhista de Canet. O cineasta,
marido da atriz Marion Cotillard (que
também está no filme), é inteligente, principalmente sob o ponto de vista das
relações familiares que contornam as histórias. Assim, consegue captar toda a
essência e sentimentos fervorosos da trama sob as ações dos personagens.
O filme
entra em um ritmo acelerado do meio para frente. Essa, é uma daquelas fitas que
o cinéfilo precisa ter certa paciência pois a apresentação lenta dos
personagens se torna extremamente necessária para entendermos certas ações dos
mesmos ao longo do longa-metragem. Os personagens principais chegam ao mesmo
tempo no clímax das conseqüências das ações cometidas. Nesse momento, fica mais
evidente que a história na verdade é sobre o relacionamento de toda uma família
marcada por traumas violentos e terríveis.
Lembram
dos tiroteios e cenas tensas de violência à sangue frio do filme francês Inimigo Público Nº 1 – Instinto de Morte
(protagonizado pelo sempre excelente Vincent
Cassell)? A construção da maioria das cenas de ação de Blood Ties são nesses moldes. É uma junção de Os Donos da Noite com pitadas pequenas
de Fogo contra Fogo. Claro, guardadas suas devidas
comparações. Pra quem curte filmes de ação, é um prato cheio!
Xingu (Brasil)
Livremente
baseado em histórias reais e com uma beleza impressionante nas imagens (muito
bem aproveitadas pela ótima condução do diretor), “Xingu, trabalho do
diretor Cao Hamburger, transforma a saga dos irmãos
Villas-Bôas em uma grande aventura.
O filme
conta a trajetória corajosa de Claudio, Orlando e Leonardo. O irmãos, que
estudaram em bons colégios, tinham bons empregos e resolveram largar tudo pela
vida na mata. Desde os primeiros passos e os começos de contato com as tribos
indígenas, “Xingu”, detalha esse encontro que mudou a vida deles para sempre.
Descansando em redes improvisadas, fazendo fogueira, caçando animais, eles
lutaram pela primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Fato que
ocorreu, em 1961, e que completa 50 anos em 2011. Até hoje, irmãos Villas-Bôas
são considerados os grandes defensores dos índios no Brasil.
Para dar
vida aos protagonistas, foram escolhidos três bons nomes do nosso cinema.
Claudio Villas Bôas é interpretado por João Miguel,
personagem intenso que muitas vezes age mais pelo coração do que pela razão,
mais uma ótima atuação desse ótimo ator. Orlando Villas Bôas é o mais político
dos três irmãos, volta e meia frequentando as salas arrumadas do governo
(tentando sempre algum tipo de benefício para os índios) tem papel importante
para o desfecho positivo da história. Felipe Camargo faz
muito bem esse papel. Leonardo Villas Bôas é o personagem de Caio Blat, o mais jovem do trio, um dos mais
inconsequentes também, deixou a história cedo, sendo expulso pelos irmãos por
engravidar uma índia durante a trajetória. Blat, sempre que em cena com seu
personagem, ajuda muito bem a guiar a história.
A relação
com os índios, desde o primeiro momento é uma mescla de surpresa e descoberta,
na maioria das vezes bastante amistosa. Entre um cigarro e outro, os carismáticos
irmãos entram mata à dentro tentando se aproximar de muitas tribos indígenas
nunca antes contactadas. Enfrentam muitas dificuldades e orquestram uma batalha
nas terras e foras delas para consolidar a reserva indígena prometida. Os
índios nunca tiveram fronteiras, mas naquele momento era o melhor que podiam
ter. Com o governo de olho na Amazônia, os irmãos Villas-Bôas tinham que correr
contra o tempo para consolidar o plano de proteger as tribos indígenas.
Com boas
atuações, uma direção muito segura e imagens maravilhosas, Xingu, é uma ótima
pedida! Vá acompanhar essa aventura dos irmãos que foram indicados ao prêmio
Nobel e fizeram um trabalho excepcional que muitas vezes fora esquecido pela
memória brasileira.
White
Irish Drinkers (EUA)
Um filme muito
interessante que surpreende pela carga emocional envolvida nessa história de
dois irmãos que moram no mesmo lugar mas vivem uma realidade completamente
diferente uma da outra. Escrito e dirigido por John Gray
(que já dirigiu alguns episódios do
seriado Ghost Whisperer), é uma grata surpresa.
Na trama,
que acontece no Brooklyn em meados da década de 70, dois irmãos buscam uma
maneira de sair do bairro em que vivem e ser alguém na vida. Danny (Geoffrey Wigdor) é um impulsivo marginal que vive de
pequenos delitos, já Brian (Nick Thurston) é um
sonhador que tem na arte do desenho sua válvula de escape para a violência que
enfrenta em casa nas mãos do pai. Quando ficam sabendo de uma apresentação
dos Rolling Stones num teatro local resolvem fazer um
pacto para roubar o local na noite de um concerto.
O longa
analisa a situação de uma complexa família no Brooklyn em algumas décadas
atrás. O sofrimento dos filhos, a incapacidade de ação da mãe (muito bem
interpretada pela atriz Karen Allen), o
genioso e nada amoroso pai, as dificuldades de morar em um lugar sem grandes
oportunidades, a luta pelo primeiro amor, a busca de chances em outro lugar.
Cada personagem contribui bastante para que o filme ganhe contornos dramáticos
já em seu final.
As menções
à uma época passada (quando os irmãos eram menores) ajuda a entender todo
aquele sentimento que às vezes parece se perder nas atitudes de uma dessas
partes. É uma daquelas fitas ideais para que gosta do gênero drama. Não há
muitas surpresas ao longo da trajetória dos protagonistas, fica um pouco
eminente o desfecho por conta do caminho seguido pelos personagens ao longo da
história. Gosta de emoção e personagens envolventes? Dê uma chance a esse
filme!
Tirez la
langue, mademoiselle (França)
As
lições do coração. Escrito e dirigido por Axelle
Ropert, Tirez la langue, mademoiselle tem
uma pegada meio ‘sessão da tarde’ mas ao longo dos 102 minutos de projeção
vamos vendo desabrochar de maneira delicada e objetiva a mesmice na vida de
dois irmãos que trabalham em um mesmo consultório em uma Paris nos dias atuais.
A personagem da talentosa artista francesa Louise
Bourgoin é a terceira ponta no triângulo amoroso instaurado. O projeto,
entre outras coisas, fala sobre as linhas de interpretações do que é o amor em
nossas vidas.
Na
trama, conhecemos os irmãos, quase inseparáveis, Boris (Cédric Kahn) e Dimitri (Laurent
Stocker) que vivem uma rotina de mesmice, dividindo um mesmo consultório em
uma clínica geral onde também atendem em domicílio. Certo dia, após uma
ligação, conhecem a mãe solteira Judith (Louise
Bourgoin) por quem rapidamente se apaixonam, provocando uma grande quebra
na rotina e relação dos dois irmãos.
É
difícil tratar o sentimento de amor como uma coisa nova na vida de quarentões
mas é exatamente em cima dessa ideia que a trama desse belo trabalho francês se
solidifica. Os irmãos doutores são de diferentes maneiras de pensar, Dimitri
até certo ponto bastante carente e luta constantemente contra o alcoolismo, já
Boris é o que podemos dizer de solitário, rígido e um pouco carrancudo. A vida
dos dois muda radicalmente com a descoberta do amor, pela mesma mulher. A
partir disso, cada um busca sua felicidade à sua maneira, definindo novos rumos
não só na maneira de pensar a vida mas no ganho de uma liberdade que eles nunca
tinham observado.
Já
Judith, mãe de uma pré adolescente, solteira que trabalha como barwoman pelas
noites e Paris abre sua personalidade aos poucos. Conforme vamos conhecendo
melhor essa intrigante personagem, percebemos os conflitos que se desenvolvem
no futuro, principalmente as questões mal resolvidas com o ex-marido, pai de
sua filha.
Tirez
la langue, mademoiselle é
uma fita delicada, com o ritmo certo para apresentações dos personagens. Também
muito realista, mostrando os conflitos emocionais que podem ser provocados
quando o coração bate mais forte por alguém.
A Gloria e a
Graça (Brasil)
Melhor
do que todos os presentes por baixo da árvore de natal é a presença de uma
família feliz. Dirigido pelo experiente Flávio
Ramos Tambellini, que volta a direção de um longa após seis anos, seu
último trabalho foi o delicado Malu de Bicicleta (2010), A Glória e a Graça, entre muitas coisas, é um resgate na relação de dois irmãos que por
circunstâncias do destino acabaram se separando durante boa parte de suas
vidas. O entrosamento em cena de Carolina
Ferraz e Sandra Corveloni,
protagonistas do filme, é fundamental para que os diálogos ganhem contornos
emocionantes e de aproximação com o público. Grande atuação das duas atrizes.
Na
trama, acompanhamos a trajetória de Graça (Sandra
Corveloni) uma mãe solteira que tem dois filhos e acaba descobrindo em uma
eventual visita ao médico que possui um aneurisma inoperável na cabeça. Sem ter
muito para onde fugir, nem com quem contar, Graça resolve entrar em contato com
seu irmão que não vê a muitos anos. Chegando no encontro, Graça descobre que
seu irmão agora virou travesti, e agora chama-se Gloria (Carolina Ferraz), dona
de restaurante, poliglota, bem resolvida e bem sucedida. Após o surpreendente
encontro com o irmão, Graça embarcará em uma viagem de reaproximação com seu
único parente vivo.
O filme tinha tudo para cair num senso melo dramático mas se veste com uma maturidade impressionante para falar com seriedade de subtramas complicadas que vão do campo jurídico até o campo emocional. A relação da tia com os filhos de Graça é adorável, aprendizagem e muito experiência em uma troca para lá de emocionante, em quebra de tabus que ficam como lições para toda a vida. As surpresas que vemos pelo caminho, principalmente a causa da separação das duas irmãs, preenchem lacunas importantes para entendermos ao longo dos quase 90 minutos de projeção a formação da personalidade dos personagens. Os embates, em diálogos recheados de emoção, entre as duas protagonistas é intenso e conseguem ir além de muito mais que uma superfície, há uma profundidade aliada com humanidade.
A Glória e a Graça é um drama comovente com atuações que são a cereja do bolo. Prestigie o cinema brasileiro.
Neve Negra (Argentina)
O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente. Depois de dez
anos de seu último longa-metragem (O Sinal, 2007), o
cineasta argentino Martin Hodara
volta a tela grande em um ótimo suspense com atmosfera tensa. O roteiro é
sublime, nos faz ficar atento até o último segundo. O elenco é de primeira,
tendo como cereja do bolo o maior ator da atualidade, o argentino Ricardo Darin. Neve Negra é um, sem dúvidas, um dos bons
suspenses argentinos dos últimos anos.
Na trama, conhecemos o casal Laura (Laia
Costa) e Marcos (Leonardo Sbaraglia)
que viajam da Espanha, onde moram, para uma cidade gelada na Argentina para
resolver questões burocráticas e a herança do pai de Marcos que falecera
recentemente. Chegando no lugar, Marcos confrontará uma tragédia no passado de
sua família principalmente quando precisa convencer o irmão Salvador (Ricardo Darin) a vender a casa onde
vive. Laura aos poucos vai entendendo o jogo quase que psicológico que os dois
irmãos mantém reunindo peças de uma quebra cabeça cheio de amargura, solidão e
tristeza.
Os segredos pertencentes a família começam a cair por terra quando um
iminente confronto dos irmãos é imposto por uma futura, possível e rentável
venda do terreno onde viveram toda uma vida. As revelações chegam aos poucos, o
que deixa o clima cheio de tensão. A esposa de Marcos tem papel importante
nesse quebra cabeça, ela segue como os olhos do público a cada peça encontrada
para esclarecimento do que realmente aconteceu ali no passado que essa família
jamais esqueceu. A reunião de todas as peças culmina em um final chocante,
arrebatador.
Um dos focos da trama, a amargura de Salvador é nítida, tido como o
vilão de sempre por um pai pouco piedoso que descarregou toda sua frustração
com o ocorrido no colo do irmão mais velho. A composição de Darin para sua
personagem é algo estrondoso, consegue preencher as cenas com poucas falas mas
uma expressão que fala muito deixando o público atento para qualquer revelação
que chegue em algum instante.
Neve Negra foi um estrondoso
sucesso na Argentina logo na semana de estreia. Realmente é um filme que mexe
com nossas emoções, angustiante até a última gota de sofrimento que chegam em
forma de revelações bombásticas de um passado inesquecível de uma família que
guardava segredos polêmicos. Fora o excelente roteiro, a brilhante direção e
atuações acima da média, um filme com Ricardo
Darín no elenco sempre precisa ser visto.
Os
Infratores (EUA)
Na época
de Al Capone e de muitos outros nomes famosos do crime conhecemos uma história
de irmandade e muito sangue de uma família, estamos falando do excelente “Os Infratores”. Dirigido pelo australiano John Hillcoat (que comandou o ótimo “A Estrada”) somos guiados até o início da década de 30,
entre uma dose e outra, há muita ação e aventura, baseada na obra de Matt Bondurant.
Na trama,
conhecemos a história dos irmãos Bondurant (Jack, Forrest e Howard) que vivem
do contrabando de bebidas, nos primórdios da década de 30. Os negócios iam bem
até que um novo chefe local coloca um assistente nos pés dessa corajosa
família. Na terra dos valentões e à bordo de um carro que bebe muito álcool
essa família irá enfrentar um grande desafio para manter os negócios. Em meio a
tiros e muito sangue jorrando na tela temos algumas histórias de amor, uma
bastante carnal, outra romântica (com ar jovial). A animada trilha sonora
preenche com louvor todas as lacunas que precisam ser completadas. A
contextualização é fácil e direta, levando o público facilmente para dentro
daquele universo, méritos do roteiro (adaptado) de Nick Cave.
Cada um
dos ótimos atores efetivamente dá sua contribuição à fita. Guy Pearce consegue ser um ótimo vilão com
seu personagem sem sobrancelha, o trejeito estranho e a ironia são muito bem
evidenciados pelo ator inglês. Gary Oldman e
suas aparições relâmpagos ajudam a dar certa continuidade à trama. Tom Hardy está espetacular na pele do homem que
acreditava na própria lenda, acertou em cheio na composição de seu personagem,
nome certo no próximo Oscar. No papel do irmão mais novo (aquele que faz muitas
besteiras durante toda a fita) poderiam ter sido escolhidos muitos atores, o
selecionado foi o Shia LeBeouf, que faz o famoso
feijão com arroz e não compromete no papel.
Dá pra
rir, se emocionar e torcer muito para os personagens que exalam simpatia. Com
todos esses ingredientes é uma grande infração cinéfila você não conferir esse
filme.
Shame (EUA)
O que
fazer para se curar de um vício que está deteriorando gradativamente a sua
vida? O novo trabalho do diretor inglês Steve McQueen (Hunger) nos
conta o drama de um homem e sua compulsão. A ótima trilha sonora assinada
por Harry Escott (que fez também a trilha de Meninama.com) ajuda a narrar esse que é um dos grandes
filmes do ano de 2012.
Na trama,
um compulsivo sexual ao extremo (com uma promissora carreira profissional) vive
dias de desespero após a chegada de sua irmã ao apartamento onde mora. Seus
dias eram preenchidos com visitas a sites pornográficos, coleção de revistas
com tema adulto, masturbações nas pausas do trabalho (no banheiro da empresa) e
vários encontros com desconhecidas, sempre terminando em sexo ou ações desse
tipo. Quando sua irmã entra na história, sua rotina é abruptamente afetada
e isso gera um descontrole intenso.
Na
apresentação do personagem principal já temos uma ideia do vício que ele
possui, com cenas muito verdadeiras (nua e crua em alguns momentos), vamos
conhecendo melhor o protagonista.
Impressiona
a atuação de Michael Fassbender, passa
muita tristeza nos olhos por conta desse vício que sofre. Seu personagem
Brandon Sullivan é um ninfomaníaco bastante consumido por seus impulsos. O ator
alemão comove e se entrega em cenas bem complexas. Infelizmente foi esquecido
pela Academia (Oscar). Carey Mulligan está fabulosa
no papel de Sissy Sullivan, tem um carisma único e contagia o espectador.
Quando aparece cantando um clássico do Sinatra e com uma roupa bem ao estilo Marylin Monroe, vira um dos melhores momentos, simplesmente
espetacular.
Os irmãos
possuem ao longo da trama diálogos intensos (às vezes violento). Um tenta
ajudar ao outro mas as barreiras colocadas por cada um deles são muito difíceis
de serem superadas. Há muito carinho nessa relação, muitas cenas mostram isso,
porém, por conta da tentativa de ajuda de ambos os lados não serem feitas com
êxito a eminência de uma tragédia para uma das partes se torna concreto. O
final é bem aberto, deixando o público tirar suas próprias conclusões.
Os
Meninos Que Enganavam Nazistas (França, Canadá, República Tcheca)
Nas
grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer.
Dirigido pelo experiente cineasta canadense Christian Duguay, Os Meninos Que Enganavam Nazistas é mais um
recorte da grande guerra. Mostra um lado do conflito que dizimou populações de
vários países. Aos olhos de dois carismáticos irmãos somos testemunhas dos
absurdos que os nazistas faziam, uma perseguição em massa contra os judeus em
uma França dividida na década de 40. O roteiro é baseado em fatos reais e na
obra Un Sac de Billes – também o nome original desse
longa – escrito por Joseph Joffo, um dos protagonistas da história.
Na
trama, conhecemos a família Joffo, judeus que vivem na França em uma época onde
os nazistas ocuparam algumas regiões desse país, tornando a vida de esforçados
trabalhadores em um inferno doloroso. Assim, Joseph (Dorian Le Clech) e Maurice
(Batyste Fleurial) precisam fugir, seguindo um plano mirabolante feito por seu
pai, o barbeiro Roman (Patrick Bruel) para uma região neutra e assim a família
poder ser reunida novamente. Passando várias situações de risco e contando com
a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os
dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que
vão ter pela frente.
Um
dos focos da trama é o valor da amizade entre os irmãos. Ambos enfrentam
situações extremas na luta pela sobrevivência, em uma França repleta de
soldados nazistas. Mostra-se também todo o sofrimento da família e as escolhas
difíceis que precisam tomar para proteger a todos. A figura do pai é
emblemática aos olhos dos irmãos, barbeiro e trabalhador, vê seu mundo desabar
com as ameaças que recebe mas jamais perde a ternura e o carinho pelos seus
filhos. Uma bela atuação do ótimo ator argelino Patrick Bruel.
O
longa mostra o amadurecimento precoce dos jovens e uma vivência que levaram
para o resto da vida. Como filme, Os Meninos Que Enganavam
Nazistas, não acrescenta muito sobre fatos e relatos já vistos,
lidos sobre os conflitos históricos da década de 40 na Europa. Há uma
delicadeza na direção em algumas sequências, tenta mostrar todo um sofrimento
de maneira até certo ponto superficial.