Como fazer o papel dos outros se você não ouve ninguém? Em
seu décimo primeiro trabalho como diretor, o cineasta francês Jean-Paul Salomé apresenta
a inusitada história de decadência da profissão de ator mostrados ao público
pelos olhos de um teimoso, chato, metido mas bastante empático protagonista. O
sempre ótimo François Damiens segura muito bem todas as ‘nuâncias’ de seu
complexo personagem.
Em uma região fria da França, um ator que ganhou o Cesar
(uma espécie de Oscar do cinema francês) de revelação na década de 80, chamado Jean
Renault (François Damiens) que todos não gostam de trabalhar e que está
atualmente desempregado, consegue um trabalho inusitado: atuar como ator em
reconstituições de crimes. Assim, logo em seu primeiro dia de trabalho enfrenta
uma metódica juíza e uma cidade cheia de mistérios, ajudando a polícia a
desvendar o assassinato.
A história é bem construída envolta do protagonista. Possui
tons de comédia pastelão, o personagem principal vai ao extremo em diversas
características. As sequências de brincadeiras com o nome do personagem
principal, Jean Renault com o astro francês Jean Reno são hilárias. O filme
possui uma engraçada sintonia com os filmes do Pantera Cor de Rosa,
imortalizados pelo Peter Sellers e as levemente intrigantes histórias de Georges
Simenon.
Se Fazendo de Morto tem
uma cara de série para televisão. Esse filme pode ser interpretado como um
piloto. O personagem tem carisma suficiente para se envolver em muitas
histórias parecidas por conta desse novo nicho em sua arte escolhida. Como
longa-metragem é um projeto que possui aquele toque mágico francês de
transformar bobeirinhas dentro dos diálogos em um filme competente.