O perfeccionismo é um perigoso estado de espírito em um
mundo imperfeito. Baseado em uma história de Michael Kalesniko, Burnt (Pegando Fogo) é mais um daqueles
filmes onde se tem uma boa idéia, um roteiro até certo ponto interessante, com
um personagem forte mas uma certa demasia de clichês acabam ofuscando um pouco
o fulgor do arrevesado protagonista. Dirigido pelo experiente produtor John
Wells (Álbum de Família), o
longa-metragem que teve quase Keanu Reeves no papel principal, dá até água na
boca quando pensamos nos maravilhosos pratos que desfilam ao longo dos 101
minutos de projeção mas falta um pouco o aprofundamento dos coadjuvantes
personagens na trama para ser uma degustação cinéfila completa.
Na trama, conhecemos
o brilhante chef de cozinha Adam Jones (Bradley Cooper), um homem com um
passado conturbado regado à brilhantismo, babaquices com outros colegas de
profissão e vícios que o foram afundando ladeira à abaixo. Depois de passar
meses sumido, tentando uma espécie de reabilitação em forma de jornada pessoal,
volta a um grande centro culinário que é Londres e tenta cumprir um novo
objetivo: conseguir a sua terceira estrela Michelin (algo como o Oscar da
culinária mundial). Para isso, reúne uma competente equipe e conta com a ajuda
Tony (Daniel Brühl) um amigo do passado.
Burnt (Pegando Fogo) é
a prova que muitos clichês em um filme podem destruir totalmente uma receita de
sucesso. Mas antes de chegar aos exageros que a produção comete, começamos com
o lado forte da história com um protagonista que chama a atenção pelo
perfeccionismo e dedicação em uma profissão amada por todos. Bradley Cooper
incorpora com competência seu difícil personagem, explorando principalmente
suas emoções quando a ‘chapa esquenta’, no rigoroso cotidiano dos chefs das
melhores cozinhas mundo à fora. A falta de elementos de contorno ao personagem,
esclarecimentos de seu passado e interações com os coadjuvantes acabam deixando
a fita não rica para o público explorar com mais vontade a história.
Os clichês infelizmente comandam um pouco da receita do
filme. Fora da cozinha parece que o roteiro prefere navegar em águas chatas,
constantemente já vista em outras produções hollywoodianas. Um dos fatos que
chama a atenção foi praticamente anular o ótimo Daniel Brühl, não dando a
chance do mesmo explorar com mais força seu personagem que podia e devia ser
mais interessante para a história.
Mesmo se tornando uma historinha água com açúcar com os
passar dos minutos, Burnt (Pegando Fogo) pode se sustentar na magia que tem o ato simples de
cozinhar, e essa determinação na cozinha do chef Adam Jones faz pelo menos o
público ficar com certa atenção na telona. O que deixa triste os cinéfilos é
que a trama poderia ter uma melhor evolução.