O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Porto Alegre. Matheus Pannebecker é jornalista e
crítico de cinema. Desde 2007, atualiza de forma ininterrupta o site Cinema e Argumento (www.cinemaeargumento.com), de autoria
própria. Também é membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do
Sul, pós-graduado em Influência Digital: Conteúdo e Estratégia e responsável
pela comunicação do Cinematógrafo Cineclube. Ao longo da carreira, já trabalhou
com assessoria de imprensa, produção de conteúdo e gestão de relacionamento,
atendendo clientes e projetos na área da cultura e da educação, como os cursos
de pós-graduação da PUCRS Online, onde foi responsável pela gestão de
relacionamento de professores brasileiros e internacionais. Em assessoria de
imprensa, acumula sete edições do Festival
de Cinema de Gramado, tendo participado da elaboração de conteúdos
oficiais, da cobertura como repórter, do atendimento à imprensa e da construção
de estratégia do evento. Também já produziu e apresentou um programa semanal
sobre cinema na Rádio Mínima,
comandada pelo premiado cineasta José
Pedro Goulart.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Considerando os cinemas de shoppings, meu favorito é, sem
dúvida, o Espaço Itaú de Cinema, do
Shopping Bourbon Country, pois tem uma boa quantidade de salas e alia desde
lançamentos mais comerciais até filmes menores, mais independentes e autorais.
Fora do circuito dos shoppings, Porto Alegre tem poucas, mas excelentes opções
de cinemas de calçada. Duas das minhas opções favoritas são a Cinemateca Capitólio e o Cine Bancários, ambas localizadas no
Centro Histórico e com curadorias que fogem da grande agenda de lançamentos,
apresentando trabalhos de diferentes gêneros e nacionalidades, além de diversos
clássicos e raridades.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Na época, eu não tinha essa dimensão, mas hoje sei que a
animação Tarzan, de 1999, tem um
lugarzinho muito especial na minha memória afetiva de iniciação cinéfila,
inclusive porque assisti ao filme no saudoso cinema Baltimore, um clássico do bairro Bom Fim, onde moro até hoje em
Porto Alegre.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Confesso que varia muito e não sei se consigo cravar um nome
só. Tem dias que sinto saudades imensas da humanidade de Mike Nichols e de Eduardo
Coutinho. Em outros lembro da identidade tão singular e marcante de Pedro Almodóvar. Mas, se for para
escolher um nesse momento, acho que não tem erro citar Paul Thomas Anderson, que sempre me impacta de maneiras diferentes,
da estética ao roteiro. É um verdadeiro mestre, e realmente não consigo
escolher entre, por exemplo, Magnólia,
Boogie Nights e O Mestre.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Central do Brasil,
que acredito também ser o filme brasileiro favorito de muitos. Para mim, é uma
história inesquecível sobre dois personagens extremamente humanos e que, ao
atravessarem o Brasil juntos, enxergam um país tão repleto de mazelas (e
eventuais belezas) quanto eles próprios.
Não só o longa de Walter Salles
sobreviveu ao tempo como se agigantou ainda mais com ele. Sigo sabendo de cor
toda a carta de Dora, que é de uma beleza fulminante, e logo já caio em
lágrimas toda vez que ouço as primeiras notas da trilha assinada por Antonio Pinto e Jaques Morelenbaum. É um clássico para a vida toda.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Entender melhor a vida e a mim mesmo ao embarcar em outras
histórias. Ser cinéfilo é um eterno aprendizado.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Não. Aqui em Porto Alegre, tenho a sensação de que apenas as
salas localizadas fora de shoppings contam com programação feita por pessoas
que não só entendem, mas gostam de cinema.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Acho que não. Nada substitui essa experiência coletiva.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Escolho um que muita gente já viu, mas que, ao meu ver, não
é lembrado nem reverenciado da maneira como merece: Koyaanisqatsi - Uma Vida Fora de Equilíbrio, um documentário
hipnotizante, fora dos padrões e incrivelmente atual, mesmo depois de quase 40
anos.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
É uma questão que se tornou bastante complexa nos últimos
tempos e que é ainda mais complicada aqui no Brasil, onde não enfrentamos e, ao
que tudo indica, nunca enfrentaremos a pandemia com unidade e disciplina. Sigo,
no entanto, com a mesma opinião de sempre: toda circunstância suscetível à
aglomeração deve ser inviabilizada, o que inclui a abertura das salas de
cinema, infelizmente.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Do que já acompanhei como espectador de cinema até agora,
estamos na nossa melhor fase.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Com O Animal Cordial
e A Sombra do Pai, além de curtas
como A Mão Que Afaga, Gabriela Amaral Almeida se apresentou,
para mim, como uma das mais surpreendentes, corajosas e instigantes surpresas
do nosso cinema nos últimos anos. Não vejo a hora de conferir seus próximos
trabalhos.
12) Defina cinema com
uma frase:
Tem uma citação de A
Invenção de Hugo Cabret que gosto muito e que fica ainda mais bonita na
versão original em inglês: "Movies are our special place. It's like seeing
dreams in the middle of the day".
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Não lembro exatamente de uma história, mas o que sempre acho
inusitado é ver pessoas saindo na metade de um filme porque claramente foram
assisti-lo sem pesquisar o mínimo sobre ele, no pior sentido dessa afirmação.
Afinal, seria mesmo A Casa Que Jack
Construiu o filme ideal para um programa romântico no sábado à noite, por
exemplo? Não custa dar uma lida pelo menos na sinopse, né?
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Quando foi homenageado em Gramado, Lázaro Ramos disse que, se pudesse voltar no tempo, faria tudo igual
em sua carreira, inclusive Cinderela
Baiana. Acho que isso diz tudo.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Pode, assim como você pode se aventurar em qualquer outra
profissão sem necessariamente ser apaixonado por ela. Já tive colegas
jornalistas que sequer gostavam de escrever! Vai entender. O problema é que, no
final das contas, a paixão por aquilo que se faz é o que diferencia um
profissional do outro.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
A última aquisição do meu arquivo de experiências mais traumáticas
é um forte candidato: Cats. Dispensa
comentários.
17) Qual seu
documentário preferido?
E tem como não citar Eduardo
Coutinho? Jogo de Cena é eterno.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Várias vezes, já que isso é uma tradição no Festival de Cinema de Gramado, evento
onde trabalhei durante quase dez anos. Mas, para respeitar o valor dessa
reverência, sempre bati palmas somente para aqueles filmes que realmente gostei
no Festival. Nunca por mera formalidade.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Cito dois dos meus pequenos favoritos: O Sol de Cada Manhã e Os
Vigaristas.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
Leio mais críticos do que site de críticas. Nesse sentido,
tenho uma dupla brasileira que considero indispensável: Luiz Carlos Merten e Isabela
Boscov.