As dúvidas sobre o canto da sereia. Se perdendo em alguns momentos entre os achismos que surgem naturalmente numa relação desconfiada entre duas pessoas que nunca se viram, o longa-metragem Criaturas do Farol é um peculiar suspense psicológico com poucas perguntas e também poucas respostas. O roteiro se fortalece em diálogos que nos guiam para uma jornada emocional e paranoias que prendem a atenção na maior parte do tempo mas não chegam a empolgar.
Pensando em realizar um objetivo náutico, que remete
lembranças ao pai e apoiada pelo avô, a jovem Emily (Julia Goldani Telles) parte com seu veleiro rumo às infinidades dos
oceanos. Chegando no sul do pacífico, a embarcação é atingida por uma
tempestade e acaba indo parar numa ilha onde é resgatada pelo faroleiro Ismael
(Demián Bichir). Logo essa relação
de gratidão passará por enormes desconfianças.
Como contar uma história que está em uma bolha no campo das
suposições? A tensão por meio do chocalhar psicológico se torna um corpulento
elemento que encontra camadas no sobrenatural, na loucura, no contato com o
isolamento. A fórmula encontrada nesse filme é interessante, aplicada em cena
pelo indicado ao Oscar Demián Bichir
e a competente atriz californiana Julia
Goldani Telles, uma dupla harmoniosa.
Se tornando o grande alicerce de um roteiro que busca
surpreender, os diálogos sustentam as transformações morais e psicológicas que
passam os personagens a partir do que sabem - e vão descobrindo - um do outro.
Nesse jogo de xadrez instaurado - onde peças são movidas a partir de
descobertas - nos deparamos com um problema quando pensamos em desenvolvimento
dos personagens. O fato do objetivo de Ismael ser indecifrável - talvez para se
manter dentro da proposta de possíveis reviravoltas - deixa conclusões em
demasia no campo dos achismos.
Utilizando na maior parte do tempo apenas um cenário, algo
que dá um ar teatral e intimista, Criaturas
do Farol pode ser definido como um passeio pela mente humana quando se
depara com o inexplicável, batendo de frente com a paranoia.