14/02/2025

Crítica do filme: 'Criaturas do Farol'


As dúvidas sobre o canto da sereia. Se perdendo em alguns momentos entre os achismos que surgem naturalmente numa relação desconfiada entre duas pessoas que nunca se viram, o longa-metragem Criaturas do Farol é um peculiar suspense psicológico com poucas perguntas e também poucas respostas. O roteiro se fortalece em diálogos que nos guiam para uma jornada emocional e paranoias que prendem a atenção na maior parte do tempo mas não chegam a empolgar.

Pensando em realizar um objetivo náutico, que remete lembranças ao pai e apoiada pelo avô, a jovem Emily (Julia Goldani Telles) parte com seu veleiro rumo às infinidades dos oceanos. Chegando no sul do pacífico, a embarcação é atingida por uma tempestade e acaba indo parar numa ilha onde é resgatada pelo faroleiro Ismael (Demián Bichir). Logo essa relação de gratidão passará por enormes desconfianças.

Como contar uma história que está em uma bolha no campo das suposições? A tensão por meio do chocalhar psicológico se torna um corpulento elemento que encontra camadas no sobrenatural, na loucura, no contato com o isolamento. A fórmula encontrada nesse filme é interessante, aplicada em cena pelo indicado ao Oscar Demián Bichir e a competente atriz californiana Julia Goldani Telles, uma dupla harmoniosa.

Se tornando o grande alicerce de um roteiro que busca surpreender, os diálogos sustentam as transformações morais e psicológicas que passam os personagens a partir do que sabem - e vão descobrindo - um do outro. Nesse jogo de xadrez instaurado - onde peças são movidas a partir de descobertas - nos deparamos com um problema quando pensamos em desenvolvimento dos personagens. O fato do objetivo de Ismael ser indecifrável - talvez para se manter dentro da proposta de possíveis reviravoltas - deixa conclusões em demasia no campo dos achismos.

Utilizando na maior parte do tempo apenas um cenário, algo que dá um ar teatral e intimista, Criaturas do Farol pode ser definido como um passeio pela mente humana quando se depara com o inexplicável, batendo de frente com a paranoia.