06/12/2020

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10 Filmes para você que gosta de Psicologia


Transtornos obsessivos, mudança de personalidade, a busca por dias melhores dentro de memórias dolorosas que nunca saem de nossas mentes, a dificuldade de enxergar o outro dentro de um longo casamento, o encontro de grandes mestres estudiosos da mente humana, a reversão de uma simples obsessão para um despertar pra vida, a questão da moralidade e seus desenrolares através do absurdo (ou pelo menos não comum). Muitos desses temas estão embutidos nessa humilde lista que resolvi escrever após observar tantos filmes interessantes para refletirmos sobre a mente humana. Para psicólogos, psiquiatras, estudantes dessas disciplinas muitos dessas produções abaixo podem ser um prato cheio. Segue então, 10 Filmes para você que gosta de Psicologia:

 

Jimmy P (EUA, França)

 

Em qual língua você sonha? Depois de uma série de filmes sem expressão pelo mundo do cinema, o cineasta francês Arnaud Desplechin consegue finalmente alcançar um certo brilho em sua estrela apagada. Com ótimas tomadas e movimentos intrigantes de sua nervosa câmera consegue que uma história densa se torne um delicioso passatempo para quem curte cinema de boa qualidade. Jimmy P. é o tipo de filme que vai te conquistando aos pouquinhos chegando ao seu clímax quando os seus personagens principais, maravilhosamente interpretados por Benicio De Toro e Mathieu Amalric, passam da necessária superficialidade dos diálogos ao embarque em uma linda jornada de amizade e profundidade dessa relação.

 

Na trama, conhecemos o introvertido Jimmy Picard (Benicio Del Toro), um índio católico, ex-soldado, que após um grave acidente na guerra teve seu pedido de dispensado aceitado pelos militares norte-americanos. Quando volta para casa de sua irmã começa a ter diversos casos de tonteira e cegueiras parciais. Assim, sua irmã resolve procurar ajuda e o leva a um centro de tratamento vinculado ao exército. Após séries intensas de análises e baterias de exames a todo instante, a alta cúpula do hospital fica perdida por não achar um diagnóstico lógico para o que Jimmy tem. Nessa hora, entra em cena o antropólogo Georges Devereux (Mathieu Amalric), um mulherengo, hiperativo e genial profissional que fará de tudo para tirar Jimmy dessa situação.

 

Os diálogos, carregados de sotaques, cada qual no seu qual, ganham certo destaque na trama. O público se surpreende quando aqueles papos muito loucos no começo da história se tornam ferramentas inteligentes para entendermos melhor os dois ótimos personagens. O quebra-cabeça de sonhos, analogias e esquisitas verdades são interpretadas brilhantemente pelo antropólogo interpretado por Amalric. Falando de maneira leiga e deveras audaciosa, é uma espécie de confronto amistoso entre a corrente de sonhos de Jung e as espertezas sobre a sexualidade, essa, de Freud.

 

Somos apresentados ao protagonista, a princípio, pelos olhos preocupados de sua irmã (interpretada de maneira muito competente pela atriz Michelle Thrush), a mais velha dos irmãos que estudou durante toda sua vida na escola dos missionários e acabou casando com um importante funcionário de uma tribo indígena. A relação antes conflituosa com seu irmão, ao longo dos anos se tornou maternal, em poucas cenas já percebemos isso. Um dos pesares do filme é essa rica personagem aparecer apenas no início da história.

 

O trabalho de Del Toro e seu personagem é meticuloso, espanta pela verdade que passa em cada palavra pronunciada. O ganhador do Oscar mostra mais uma vez como é um artista versátil. Mas quem comanda o show é o francês Mathieu Amalric, a alma da história passa pela sua intensidade e sagacidade em buscar uma solução para o paciente em questão. A dupla consegue manter a atenção do público nessa longa trama de quase duas horas.

 

Exibido para a exigente plateia e júri do Festival de Cannes, Jimmy P. é um daqueles filmes que acaba mas não termina, por conta das inúmeras discussões que vai gerar. Um prato cheio para qualquer estudante de antropologia, psicologia, psiquiatria e para todo mundo que gosta de filmes feitos para refletir. Não importa em qual língua você sonha, Jimmy P. mostrará a você que o importante é superar os traumas e ser feliz.

 

 

Um Método Perigoso (Inglaterra, EUA)

Sexo x Sonhos. Quando dois grandes nomes da psicologia se juntam. O mundo da psicanálise fica em evidência, no novo trabalho do experiente diretor David Cronenberg,Jung é o principal, Freud é um mero coadjuvante. Há um conflito interno dentro do pensador suíço, uma cessação da ética. Essa violação da regra elementar da profissão, leva-o à um mar de conflitos.

 

Cronenberg dá o tom (o maestro) dessa história. O risco de se fazer um filme muito específico era o grande desafio que o experiente diretor tinha que se desviar. O diretor de ‘Videodrome’ e ‘Spider ‘ teve tudo nas mãos para fazer um grande filme. A trama aborda a relação dos dois grandes nomes da Psicologia e o surgimento da corrente psicanalítica. Também é mostrado a polêmica relação de Sabina Spielrein (que depois viria ser uma das primeiras mulheres psicanalistas do mundo) com o seu mentor de dissertação e a posição de Freud nessa relação. A peça ‘Jung e Eu’, com o grande Sergio Britto nos palcos, já fazia um paralelo entre o encontro do teatro com a psicanálise.

 

Os atores estão muito bem. Michael Fassbender, um dos grandes rostos em ascensão no mundo de Hollywood, parece que não quis arriscar muito neste personagem. Diferente de Viggo Mortensen que tenta dar a sua cara ao renomado nome da psicologia que é coadjuvante nesse longa. Keira Knightley também tem uma atuação destacada. Seu laboratório foi deveras bem aplicado em cena. As reações de sua personagem, Sabina Spielrein, são intensas. Quem também dá o ar de sua graça, é o veterano ator francês, Vincent Cassel, que interpreta um dos personagens mais confusos do filme, Otto Gross.

 

 

Um Doce Refúgio (França)

 

Escrito, dirigido e interpretado pelo artista francês Bruno Podalydès, o filme mais doidinho do Festival Varilux de Cinema Francês 2016, Um Doce Refúgio, é uma prosa leve e suave sobre o despertar para a vida através de uma simples obsessão. Ao longo dos 105 minutos de projeção, vamos navegando com o protagonista em seu mundo secreto e explorando a cada sequência um inconsciente muito particular. É um daqueles filmes que você ama ou você odeia.

 

Na trama, conhecemos o tímido e contido Michel (Bruno Podalydès), um artista gráfico que vive uma pacata vida com sua mulher Rachelle (Sandrine Kiberlain). Andando com sua motinho de casa para o trabalho e do trabalho para casa, mostra não estar muito feliz com a vida que leva. Michel é fascinando pelo mundo aeronáutico e sem querer acaba descobrindo que um caíque tem uma engenharia parecida. Assim, resolve comprar esse enorme objeto, escondido de sua mulher e amigos, e acaba embarcando em uma peculiar história de autodescoberta.

 

Para comprar a ideia deste trabalho é preciso muita atenção à psicologia agregada ao personagem. Obviamente estamos vendo um obsessivo sonhador que de uma maneira totalmente inconsequente e silenciosa resolve descobrir outras opções e caminhos para sua vida sem graça. Explorando sonhos, uma relação um pouco distante com uma convivência social, e um certo erotismo dentro de sua acesa imaginação, Michel aos poucos vai mostrando-se para o público. O personagem ao longo da projeção vai se abrindo devagarinho e assim vamos descobrindo sua essência. 

 

Comme un avion, no original, possui ótimos coadjuvantes que ajudam a contar essa história. As ótimas Agnès Jaoui e Vimala Pons são as responsáveis para uma inversão interessante que acontece já perto do ato final. O que não dá para negar é que durante toda a projeção, há uma naturalidade e originalidade impactantes, fruto, provavelmente, do filme ser escrito, dirigido e protagonizado pela mesma pessoa. Atenção professores e estudantes de psicologia, Um Doce Refúgio é um projeto que pode interessar bastante vocês.

 

 

 

Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência (Suécia)

 

 

A moralidade é a melhor de todas as regras para orientar a humanidade. Ganhador do Leão de Ouro no Festival de Veneza, Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência é um dos filmes mais invulgares dos últimos anos, passando uma certa zoação em relação a situações do cotidiano da humanidade, o que acaba tendendo o roteiro ao tragicômico. Pode ser que a primeira vista o filme seja completamente incompreensível beirando à loucura mas quando se sossega o baque do inusitado vamos começando a perceber uma lógica interessante contidas em situações estranhas que se metem os personagens.

 

Exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP do ano passado, Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência conta a história de dois vendedores ambulantes, Sam e Jonathan (um deles obviamente beirando ao apocalipse mental), que estão cansados da sociedade em geral. Aos poucos vamos vendo essa linha de pensamento dessas duas almas que vão refletindo sobre os casos e situações da vida e como cada ser humano pode vir a  encarar todo tipo de sentimento, da alegria à tristeza, da emoção de felicidade à vergonha.

 

Nessa parte final de uma trilogia sobre o ser humano, o longa-metragem dirigido pelo inteligente Roy Anderson termina um conjunto de três filmes que contém também Vocês, Os Vivos e Canções do Segundo Andar. Todo modelado por esquetes intrigantes e algumas até meio sem sentido, vamos fazendo um tour pela natureza humana. Situações estranhas, pessoas comuns, atos de seres humanos. É um grito de loucura que vai chegando ao seu brilhantismo quando conseguimos aos poucos reunir as peças desse quebra-cabeça comportamental.

 

 

Sempre, em todas as esquetes, há uma câmera propositalmente colocada distante dos personagens. É como se precisássemos de toda a atenção do mundo para entender o filme. A história vai fisgando o público aos poucos e obviamente é uma daquelas obras que vista por uma segunda vez alguns pontos ficam mais escancarados que da primeira vez. Há uma grande linha tênue entre o comum e o estranho, Roy Anderson com muita habilidade e coragem consegue se manter firme e forte no meio termo, onde chamamos carinhosamente de genialidade. 

 

 

 

Cake – Uma Razão para Viver (EUA)

 

Só nos curamos de um sofrimento depois de o haver suportado até ao fim.  Falando sobre a dor da perda e uma incrível distância sobre a arte do despertar novamente à vida, o diretor Daniel Barnz (do maravilhoso Menina no País das Maravilhas) consegue realizar um trabalho bastante competente, cheias de sentenças verdadeiras que acontecem em nosso mundo mas as vezes não enxergamos. Cake – Uma Razão para Viver, é uma jornada rumo às profundezas de um mar sem fim, sem melodramas, com muita verdade e que conta com uma baita atuação de Jennifer Aniston.

 

Na trama, conhecemos a sofrida e mal humorada Claire (Jennifer Aniston), uma advogada de meia idade que passou por um enorme trauma em sua vida, não conseguindo se reerguer. Chata, ranzinza, vazia, vive pelos canteiros do mundo que criou, prefere se afogar nas tristezas e lembranças escondidas do que respirar a busca por uma nova felicidade.Certo dia, passa a ser atormentada pelo fantasma de uma mulher que conheceu em um grupo de apoio e sua vida começa a tomar outros rumos quando conhece a família dela.

 

Viciada em remédios contra a dor que sente em seu corpo e em seu coração, Claire, parece levar sua vida de maneira inconsequente, rumo a uma zona de dor e sofrimento. Sem amigos, sem marido, sem família, ela consegue se fechar uma concha sem ter a oportunidade do despertar. É impactante a atuação de Aniston. A atriz, bastante contestada por muitos de nós cinéfilos, dessa vez prende a atenção do público cada vez que aparece em cena.

 

Silvana (interpretada pela ótima Adriana Barraza), empregada de Claire, também é um belo personagem na trama. Braço direito para as loucuras da protagonista, tenta preservar a saúde mental de sua chefe a protegendo de inevitáveis exageros. Os melhores diálogos do filme são entre essas duas personagens fortes que conquistam o público a cada nova sequência.

 

 

Perder o dom de acreditar, desistir dos novos rumos em nossas vidas, viver as dores o máximo que podemos. Quantos de nós já não conhecemos histórias de pessoas que entraram nessa jornada? Cake – Uma Razão para Viver nada mais é que a verdade sobre a dor, escancarada em nossa cara, o que nos faz refletir e comove demais nossos corações. 

 

 

The One I Love (EUA)

 

O casamento deve combater incessantemente um monstro que devora tudo: o hábito! Chegou aos cinemas norte-americanos em agosto de 2014, um dos filmes mais diferentes dos últimos anos, The One I Love. Debutando na cadeira de diretor de cinema, o trabalho dirigido por Charlie McDowell possui um dos roteiros mais originais, assinado por Justin Lader. Ao longo dos curtos 91 minutos de fita, consegue com criatividade e um toque de absurdos apresentar argumentos sólidos sobre a teoria do matrimônio. É uma bela visão sobre variáveis constantes que vemos na vida real quando pensamos ou ouvimos sobre casamentos. 

 

Na trama, um casal em grave crise, resolve, após sugestão do seu misterioso psicólogo, embarcar em uma viagem para passar o tempo longe da cidade grande, em uma casa confortável, para ver se a relação deles engrena novamente. Chegando nesse agradável lugar, logo na primeira noite percebem que há algo muito estranho nesse lugar. Assim, descobrem o inusitado: Versões melhoradas deles vivem na casa de hóspedes! Assim, com vários diálogos interessantes, e situações peculiares, o casal tenta redescobrir o amor.

 

Uma das dezenas de peculiaridades da história é apresentar uma profunda abordagem, mesmo parecendo impossível na vida real, sobre as dificuldades de estar junto com alguém. Se desdobrando em dois papéis, os atores Mark Duplass e Elisabeth Moss conseguem deixar a trama com cara de suspense e aproximando o público de cada segundo do que vemos em cena. 

 

 

Até que você me Ame (Inglaterra)

 

Acreditar ou não? Com simples elementos, força na fotografia e uma objetividade perspicaz, o longa-metragem de estreia do cineasta e roteirista Edward A. PalmerHippopotamus no original, é um thriller, uma espécie de suspense cheio de camadas onde o espectador enxerga o jogo mental criado pelos olhos de uma frágil personagem com sérios problemas de memórias. Na fronteira entre média e longa, em pouco menos de 80 minutos de projeção, assistimos a essa ‘peça filmada’ com muita atenção aos detalhes que vão aparecendo a cada novo avanço da protagonista.

 

Na trama, conhecemos Ruby (Ingvild Deila), uma jovem que acorda em um cativeiro com poucos elementos dentro dele, somente uma cadeira, duas imagens desenhadas e sua bolsa com os pertences. Suas pernas estão imobilizadas e sem poderem se mexer. Quando tentamos entender o que acontece surge Tom (Stuart Mortimer) e um jogo psicológico é instaurado onde acreditar ou não será uma tarefa árdua para Ruby.

 

A construção dos simples arcos nos levam a um desfecho cheio de reviravoltas e com muita tensão. Os méritos do diretor vem exatamente nesse ponto: o do clima da tensão. Nos sentimos aflitos a todo instante buscando respostas sobre o que seria aquela inusitada situação vivida por uma perdida personagem que aos poucos começa a se desenvolver de maneira impactante na telona.

 

Exibido em alguns festivais online desse ano, como o Brasilia International Film Festival que ocorreu em abril, esse projeto britânico vai surpreender a muita gente que conseguir assistí-lo.

 

 

Run (EUA)

As descobertas que mudam para sempre nossa maneira de enxergar tudo que entendemos sobre o mundo. Com um clima de tensão lá nas alturas mas sem grandes momentos de clímax, o que para um filme de suspense pode ser muito distante da fórmula certeira, Run chegou ao streaming nesse final de 2020 e mostra as descobertas de uma jovem em relação a única pessoa que praticamente tem contato, sua mãe. O roteiro navega na superfície para explicações mais profundas sobre os porquês das lacunas que aparecem. Sarah Paulson e Kiera Allen são as protagonistas e interpretam com muita inteligência suas complexas personagens. O filme é escrito e dirigido pelo cineasta Aneesh Chaganty (o roteiro também teve a ajuda de Sev Ohanian).

 

Na trama, conhecemos a jovem Chloe (Kiera Allen), uma estudante do último ano do high school mas que tem aulas em casa já que possui uma vida limitada, repleta de doenças. Quem cuida dela faz 17 anos é a sua mãe, a enigmática Diane (Sarah Paulson). Certo dia, algumas situações levam Chloe a descobertas aterrorizantes sobre as verdades que acontecem na sua casa.

 

Não há muita originalidade na história, algo parecido já fora visto em outros filmes em outros anos. As atuações são o grande destaque e que realmente prendem a atenção por conta da dinâmica mudança emocional que mãe e filha passam ao longo dos 90 minutos de projeção. Há um destaque para um conflito interno repleto de dúvidas da jovem estudante mas com a certeza que de algo não está normal. Dentro dessa perspectiva é interessante para o público caminhar nas descobertas sobre os segredos da trama pela ótica dela. Run pode agradar parte do público mas nem de longe se destaca como o primeiro filme de ChagantyBuscando...

 

 

Goodnight Mommy (Áustria)

Onde acaba o amor têm início o poder, a violência e o terror. Escolhido para representar a Áustria na competição do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2016, Goodnight Mommy (Boa Noite, Mamãe) é um suspense, vestido de drama com pitadas impactantes de terror. Dirigido pela dupla de cineastas Severin Fiala e Veronika Franz, o longa-metragem possui uma benemerência simples, que é o de manter os olhos do público atentos aguardando ansiosamente os desfechos e algumas respostas desta curiosa história.

 

Na trama, conhecemos os gêmeos Lukas (Lukas Schwarz) e Elias (Elias Schwarz) que vivem em uma bela casa, isolada, no interior de uma cidade, ao lado de sua misteriosa mãe (Susanne Wuest). Essa última, é uma mulher cheia de amargura, rígida, que anda com uma faixa em volta do rosto. Dia após dia, os irmãos começam a desconfiar de que aquela mulher que vive com eles pode não ser a mãe deles. Assim, ao longo dos angustiantes 95 minutos de projeção, vamos sendo apresentados melhor a essa história que possui um desfecho para lá de apavorante.

 

A trama é bem trabalhada e os personagens vão ganhando força conforme as revelações são feitas. O primeiro e o segundo ato parece que são para encher um balão de festas e o terceiro ato chega com uma agulha para explodi-lo. Goodnight Mommy  é um projeto onde todos pensam que é um longa-metragem de terror mas na verdade é um suspense aterrorizante que vai ficando angustiante a cada nova cena. O roteiro tem muitos méritos em transformar a atmosfera do filme em algo meio enigmático, repleto de saídas para as resoluções da trama. O ato inicial é raso porém muito instigante, o segundo ato fortalece mais os personagens, e o ato final é o da transformação e virada da trama. Cada ponta é bem amarrada e por mais que algumas conclusões se cheguem antes do seu fim, não deixa de ter bastante criatividade essa história.


Para quem curte filmes de suspense e de terror, Goodnight Mommy (Boa Noite, Mamãe) é um prato cheio. Não percam!

 

 

4 Konige (Alemanha)

Quase sempre precisamos chorar para entender melhor a vida. Em seu primeiro longa-metragem, lançado no ano de 2015, a cineasta alemã Theresa von Eltz mostra uma parte da trajetória de quatro jovens com problemas em seu presente buscando respostas e ajuda para enfrentarem as dificuldades em uma clínica intensiva. Há vários contrapontos interessantes, como ignorar o assunto ou assumir a responsabilidade, o que acaba sendo um embate diário para alguns deles. Tentativa de suicídio, ataque de pânico, bullying, vemos de tudo um pouco através da ótica dos próprios jovens e de um psiquiatra próximos dos pacientes, com vontade de ajudar. É um projeto profundo, com intensas atuações.


Na trama, acompanhamos Alex (Paula Beer), Lara (Jella Haase), Timo (Jannis Niewöhner) e Fedja (Moritz Leu), quatro jovens que se internaram em uma clínica em busca de melhoras nos seus quadros emocionais. O psiquiatra Dr. Wolff (Clemens Schick) busca ajuda-los de todas as formas e inclusive propõe que eles passem o natal juntos. Assim, aos poucos, vamos descobrindo os motivos de cada um deles estar ali e a busca constante de todos por uma melhora.


Há questões sociais, familiares, envolvidas nos traumas que acompanhamos e tudo isso é abordado de maneira profunda pelas linhas do roteiro assinada por Von Eltz e Esther Bernstorff. Há cortes secos de câmera, deixando pequenas entrelinhas para uma melhor compreensão sobre as atitudes, ou melhor, reações de cada personagem dentro de seus traumas. Há um descontrole sobre a raiva, uma carência quase obsessiva, bullying que deixa marcas, cada caso é diferente um do outro mas juntos eles buscam encontrar uma mesma solução satisfatória para todos.


O papel do psiquiatra também é muito bem definido na trama, nos mostrando seus conflitos e dramas dentro da instituição, principalmente um em especial com uma enfermeira que não gosta de seus métodos.  4 Konige é um ótimo filme, cheio de momentos para refletirmos sobre o próximo.