O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila de Juiz de Fora (MG). Thaís Mariquito tem 26 anos, é formada
em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal
de Juiz de Fora (UFJF) e pós-graduanda em Marketing Digital: Negócios e
Estratégias pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).
Trabalha há 4 anos com produção de conteúdo para sites e redes sociais de
marcas e, há 2 anos, comanda o canal Troca
a Fita no YouTube e no Instagram, onde fala sobre cinema, cultura pop e
entretenimento de forma leve e divertida, focando principalmente em filmes e
séries considerados por muitos como "guilty pleasures". Assiste mais
filmes comerciais do que cult, é fã e estudiosa da comunicação de massa,
reconhece sua importância na sociedade e não compreende quem diminui
determinados estilos e gêneros cinematográficos porque não entende que cada
produção tem um público e um propósito diferentes.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Na minha cidade, a programação dos cinemas não é tão diversa
e nem temos tantas salas de exibição. Mas se busco uma programação mais
variada, com filmes mais comerciais e também independentes, o Cinemais do
Shopping Alameda é o melhor lugar por aqui. E quando acontece o Primeiro Plano,
festival de cinema da cidade, a maioria dos filmes é exibido por lá também.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Eu não lembro muito bem, mas acredito que foi Harry Potter e a Pedra Filosofal. Eu
era bem pequena, tinha 7 anos quando estreou nos cinemas, e não tinha lido os
livros. Então foi realmente mágico ver tudo aquilo acontecendo em uma tela e
pensar que eram apenas efeitos especiais, que alguém fez com tecnologia e não
magia de verdade. Fiquei muito impressionada!
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Não acho que eu tenha um diretor favorito, até porque meu
gosto para filmes é meio peculiar. Sou o tipo de cinéfila que já viu todos os
filmes do Disney Channel, mas quase
nenhum do Tarantino hahaha Mas
também gosto muito de filmes Reflitões
e meio psicológicos e o diretor que mais me lembro de ver os filmes e toda vez
sair falando "meu deus do céu! o que foi isso?" (em um bom sentido) é
o Darren Aronofsky. Meu favorito é Cisne Negro, mas também gosto muito de Réquiem para um Sonho.
Quero fazer uma menção honrosa à Greta Gerwig, que é nova no posto de diretora, mas eu sou
apaixonada por Lady Bird e a versão dela de Little Women. Ela tem um olhar muito sensível em relação às coisas
simples do cotidiano e eu gosto bastante disso.
A título de
curiosidade, meu diretor de comédias românticas favorito é o Gary Marshall :D
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Olha, eu realmente sou péssima em definir favoritos. Mas
pensei em três títulos que realmente me marcaram muito e eu lembro de cada
coisa que senti enquanto assistia. Primeiro Cidade de Deus, que é um clássico e merece ser aclamadíssimo
sempre. Bacurau, que foi mais um desses filmes que eu saí tipo "o que
acabou de acontecer aqui?" haha Levou alguns dias para eu conseguir
digerir tudo e entender toda a mensagem (e até hoje eu me pego pensando em
algumas coisas). E A Vida Invisível,
que também é recente, e me marcou muito pela sutileza no discurso e por mostrar
de uma forma tão real, sensível e humana as várias formas de machismo
estrutural na nossa sociedade ao longo dos anos.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Para mim, ser cinéfilo é gostar de filmes e ser capaz de
enxergar no cinema uma forma de escapar da realidade e, ao mesmo tempo,
mergulhar ainda mais nela. É entender os filmes como algo além de técnicas
perfeitas, movimentos de câmera e diretores renomados. É entender que cinema é
discurso e até mesmo o filme mais "simples" ou o mais comercial tem
algo a dizer. Seja uma mensagem explícita ao fim da história, ou uma implícita
nas entrelinhas dos diálogos e da ausência deles, ou um retrato do momento
histórico em que ele está sendo feito ou ainda da forma que um grupo de pessoas
pensa sobre determinados temas. Para mim, ser cinéfilo é não julgar pela capa,
elenco, gênero, diretor... é estar disposto a sentar e ver um filme com o
coração aberto para tudo que ele diz e te faz sentir.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feita por
pessoas que entendem de cinema?
Não sei, mas acredito que não. De maneira geral, pelo menos
aqui na minha cidade, percebo mais um perfil de escolhas mercadológicas dos
títulos que mais vão fazer sucesso, gerar mais bilheteria e, consequentemente,
verba. Até mesmo o cinema que eu citei ter uma programação mais variada assumiu
esse posicionamento com uma visão estratégica, considerando que aqui existe um
certo público para isso, especialmente de universitários, já que tem um
festival de cinema local com apoio da Universidade Federal de Juiz de Fora.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Acredito que não. O cinema propõe uma experiência de imersão
que streaming nenhum seria capaz de oferecer e que faz muita diferença na hora
de assistir um filme. Além disso, imagino que não exista muito interesse da
indústria cinematográfica em acabar com as salas de cinema, porque bilheterias
dão muito mais dinheiro que assinaturas mensais. Sempre existiram filmes feitos
para o cinema e filmes feitos para a TV. E agora há os filmes feitos para os
streamings. Eu penso que o surgimento de novas formas de se produzir e consumir
conteúdo não significa o fim das formas que já existiam, mas sim uma possível
reinvenção. É o que vem acontecendo constantemente com os jornais e os livros
impressos, o rádio e agora também com a TV e o cinema.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
A Vida Invisível!
Eu lembro de ter assistido pouco antes de começar o isolamento social aqui no
Brasil, acredito que não ficou muito tempo em cartaz e vi pouca repercussão do
filme (até porque estreou perto de Bacurau
e aí fica difícil competir rs). Mas é um filme lindo e ao mesmo tempo
triste e sensível. E a Carol Duarte
e a Júlia Stockler estão ótimas! E Fernanda Montenegro, né? Só digo isso.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Infelizmente, penso que não. Eu sinto muita falta de ir aos
cinemas, mas não acho seguro nesse momento tão delicado. Entendo os problemas
que o mercado está enfrentando com isso, assim como diversos outros estão
também, e penso que o governo deveria oferecer um suporte maior a esses
empresários e trabalhadores. Essa é a função deles e não é a população quem
deve pagar por isso. Enquanto não atingirmos a chamada imunidade coletiva, todo
serviço presencial que puder ser evitado, melhor para toda a população.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Eu acredito que a gente tem aqui no Brasil duas realidades
de cinema diferentes, né? Existe o cinema independente, que sempre foi aclamado
em inúmeros festivais locais e internacionais, mas que não é valorizado no seu
próprio país e sofre com a falta de recursos; E existe o cinema comercial, que
recebe investimentos (um pouco) maiores, mas passou por uma fase muito difícil
em termos de qualidade, bilheteria e valorização, que levou a um estigma de que
"filme nacional é ruim". Mas, na última década, a gente pode perceber
que esses dois cinemas vem crescendo substancialmente (talvez nem tanto em
recursos, até mesmo por questões políticas), mas em qualidade e reconhecimento
por parte da população.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Paulo Gustavo.
12) Defina cinema com
uma frase:
Experiência e imersão.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema
Poxa, acho que nenhuma... Que triste, queria ter uma
história legal pra contar haha.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Apenas uma: clássico!
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Eu penso que é importante em qualquer profissão ter
repertório e conhecimento sobre o que se está fazendo. Entender a história, os
movimentos e as técnicas, mesmo que o objetivo final seja romper com elas. Ser
cinéfilo ajuda muito nesse processo de estudo e torna tudo mais prazeroso. Mas,
se esses diretores que não são cinéfilos ainda assim têm repertório e fazem um
trabalho legal, quem sou eu para julgar? hahaha
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Primeira vez. Eu
amo muito filmes adolescentes, mas essa foi a primeira vez que eu parei um
filme na metade. A segunda foi em O Irlandês, que eu dormi três
vezes enquanto assistia. Espero não perder minha carteirinha de cinéfila por
isso kkkkk.
17) Qual seu
documentário preferido?
Democracia em
Vertigem. Arrepiei do começo ao fim.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim, em Bacurau.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
kkkkkkkk Um homem de
família, talvez. Mas quero assistir o documentário da Netflix que ele narra a história dos palavrões, parece divertido.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Quase não acompanho sites, sou mais do Instagram e do Youtube.
Mas gosto bastante do Coxinha Nerd e
acesso muito o catálogo do AdoroCinema.