27/02/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #292 - Alisson Gutemberg


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Salvador (Bahia). Alisson Gutemberg é jornalista, Mestre em Comunicação e Doutor em Ciências Sociais. É professor universitário. É autor da Dissertação de Mestrado O Nordeste no cinema brasileiro: o espaço contemporâneo em novas e velhas abordagens; autor da Tese de Doutorado uma cinecidade latino-americana: um olhar distópico sobre o espaço urbano; e do livro Imagens do Nordeste no cinema brasileiro contemporâneo. É também o idealizador do projeto cinema com teoria (@cinema.com.teoria), página no Instagram voltada para pensar o cinema enquanto arte, meio e saber.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Gosto muito do Espaço Itaú de cinema Galuber Rocha e do cineMAM. Os dois apresentam uma programação que abarca um cinema de autor/ arte.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Frenesi de Hitchcock. Vi na faculdade de jornalismo. Ali eu percebi que existia um cinema diferente. Um cinema em que os movimentos de câmera, a trilha etc. atuam como componentes riquíssimos na produção de sentido. Há uma cena de assassinato mesmo, em que a câmera se distancia do ato por meio de um travelling, descendo as escadas, que é um primor. O crime é revelado pelo som, por meio de um grito, não o vemos. Aquilo nunca saiu de minha cabeça. 

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Godard. Acossado.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Fico entre O Pagador de Promessas e Deus e o Diabo na Terra do Sol. O primeiro pela maneira com que constrói uma narrativa que diz muito sobre a relação que uma parcela do país tem com a religião. Como tudo isso mistura interesses políticos, econômicos etc. Um discurso extremamente atual.  O segundo principalmente por sua linguagem, pela inovação técnica.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Compreender o mundo pelas lentes do cinema.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não sei te dizer. A maioria deles exibe filmes que não me interessam muito, isso é um fato para mim. Se entendem ou não de cinema eu não sei. O que é muito claro é que há interesses comerciais. 

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho que não. As salas exercem um importante papel para o público cinéfilo. A experiência do streaming nunca acabará com a necessidade de interação social, por exemplo.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

M, o Vampiro de Dusseldorf (Fritz Lang).

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Definitivamente não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O Brasil tem um dos melhores cinemas do mundo.  Febre do Rato, Estômago, O Som ao Redor, Tatuagem, A História da Eternidade, O Céu de Suely etc. são todos filmes de qualidade absurda.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Karim Ainouz, Kleber Mendonça Filho, Claudio Assis. Todos são diretores de qualidade extrema.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Uma janela para o mundo.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Apesar de reconhecer a importância das salas de cinema, já que nós, seres humanos, somos animais sociais, eu não costumo muito ir a salas de cinema. Quando assisto um filme eu gosto de pausar, pensar sobre o seu contexto, sobre outras obras do mesmo diretor etc. Gosto de entender os movimentos de câmera, os enquadramentos etc. e a experiência do cinema não me permite isso. Prefiro assistir filmes em casa, onde posso ter um tipo de atitude mais ativa diante de um filme. Em 2010 comecei a montar meu próprio acervo cinematográfico. E tenho trabalhado nele há anos. Isso me permite ter uma experiência mais pessoal com os filmes.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca vi.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho que é um diferencial. Grandes diretores foram ou são: Godard, Truffaut, Glauber Rocha, Ettore Scola etc. Todos eles aprenderam com as grandes obras. Acho que a cinefilia se relaciona muito com o cinema de autor. Eu, particularmente, prefiro esse tipo de cinema. Ah, esqueci de citar: Kleber Mendonça Filho é um outro exemplo. 

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Quando criança vi muitos filmes de Steven Seagal, com certeza algum desses.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Edifício Master.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Com certeza sim. Ainda que mentalmente.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Adaptação.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Não costumo ler muitos sites, leio mais revistas científicas. Muito por conta de minha atuação como pesquisador. Desde o Mestrado tenho pesquisado o cinema. Leio muito a Revista Significação, e, também, a Aniki, por exemplo.