O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Salvador (Bahia). Alisson Gutemberg é jornalista, Mestre
em Comunicação e Doutor em Ciências Sociais. É professor universitário. É autor
da Dissertação de Mestrado O Nordeste no
cinema brasileiro: o espaço contemporâneo em novas e velhas abordagens;
autor da Tese de Doutorado uma
cinecidade latino-americana: um olhar distópico sobre o espaço urbano; e do
livro Imagens do Nordeste no cinema
brasileiro contemporâneo. É também o idealizador do projeto cinema com
teoria (@cinema.com.teoria), página
no Instagram voltada para pensar o cinema enquanto arte, meio e saber.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Gosto muito do Espaço
Itaú de cinema Galuber Rocha e do cineMAM.
Os dois apresentam uma programação que abarca um cinema de autor/ arte.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Frenesi de Hitchcock. Vi na faculdade de
jornalismo. Ali eu percebi que existia um cinema diferente. Um cinema em que os
movimentos de câmera, a trilha etc. atuam como componentes riquíssimos na
produção de sentido. Há uma cena de assassinato mesmo, em que a câmera se distancia
do ato por meio de um travelling, descendo as escadas, que é um primor. O crime
é revelado pelo som, por meio de um grito, não o vemos. Aquilo nunca saiu de
minha cabeça.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Godard. Acossado.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Fico entre O Pagador
de Promessas e Deus e o Diabo na
Terra do Sol. O primeiro pela maneira com que constrói uma narrativa que
diz muito sobre a relação que uma parcela do país tem com a religião. Como tudo
isso mistura interesses políticos, econômicos etc. Um discurso extremamente
atual. O segundo principalmente por sua
linguagem, pela inovação técnica.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Compreender o mundo pelas lentes do cinema.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Não sei te dizer. A maioria deles exibe filmes que não me
interessam muito, isso é um fato para mim. Se entendem ou não de cinema eu não sei.
O que é muito claro é que há interesses comerciais.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Acho que não. As salas exercem um importante papel para o
público cinéfilo. A experiência do streaming nunca acabará com a necessidade de
interação social, por exemplo.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
M, o Vampiro de
Dusseldorf (Fritz Lang).
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Definitivamente não.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
O Brasil tem um dos melhores cinemas do mundo. Febre
do Rato, Estômago, O Som ao Redor, Tatuagem, A História da Eternidade, O Céu de
Suely etc. são todos filmes de qualidade absurda.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Karim Ainouz, Kleber
Mendonça Filho, Claudio Assis. Todos são diretores de qualidade extrema.
12) Defina cinema com
uma frase:
Uma janela para o mundo.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Apesar de reconhecer a importância das salas de cinema, já
que nós, seres humanos, somos animais sociais, eu não costumo muito ir a salas
de cinema. Quando assisto um filme eu gosto de pausar, pensar sobre o seu
contexto, sobre outras obras do mesmo diretor etc. Gosto de entender os
movimentos de câmera, os enquadramentos etc. e a experiência do cinema não me
permite isso. Prefiro assistir filmes em casa, onde posso ter um tipo de
atitude mais ativa diante de um filme. Em 2010 comecei a montar meu próprio
acervo cinematográfico. E tenho trabalhado nele há anos. Isso me permite ter
uma experiência mais pessoal com os filmes.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Nunca vi.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Acho que é um diferencial. Grandes diretores foram ou são: Godard, Truffaut, Glauber Rocha, Ettore
Scola etc. Todos eles aprenderam com as grandes obras. Acho que a cinefilia
se relaciona muito com o cinema de autor. Eu, particularmente, prefiro esse
tipo de cinema. Ah, esqueci de citar: Kleber
Mendonça Filho é um outro exemplo.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Quando criança vi muitos filmes de Steven Seagal, com certeza algum desses.
17) Qual seu
documentário preferido?
Edifício Master.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Com certeza sim. Ainda que mentalmente.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Adaptação.
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
Não costumo ler muitos sites, leio mais revistas
científicas. Muito por conta de minha atuação como pesquisador. Desde o
Mestrado tenho pesquisado o cinema. Leio muito a Revista Significação, e, também, a Aniki, por exemplo.