05/04/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #355 - Mateus Meireles


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Porto Alegre (Rio Grande do Sul). Mateus Meireles tem 28 anos, é historiador e cursa Produção Audiovisual na Uniritter em Porto Alegre (RS). Com seus colegas está formando um coletivo de produção independente. Interessado por assistência de direção e continuidade em sets de filmagem, também ensaia seus primeiros passos como roteirista e diretor.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Minha sala favorita em Porto Alegre é a Cinemateca Capitólio, porque desde as reformas e reinauguração é a que possui a melhor estrutura dentro do circuito de salas que passam filmes nacionais, filmes independentes, experimentais, etc. Eventos importantes do audiovisual são sediados lá, além de ser muito bonita.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Acho que o primeiro filme que abriu minha cabeça para o potencial do cinema de brincar com a linguagem e contar histórias de maneiras diferentes, não se prendendo a este ou àquele formato, foi Cidade dos Sonhos, de David Lynch. Foi um que vi e pensei: “Então dá para fazer isso também!”

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Se tiver que escolher só um, para levar para uma ilha deserta, tem que ser José Mojica Marins (o Zé do Caixão) e seu filme À Meia-Noite Levarei sua Alma, por mostrar que se você quer fazer um filme, você junta uma galera e faz, simplesmente.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Isso vive mudando para mim, mas ainda é Estômago, de Marcos Jorge.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É amar o cinema, em todos os gêneros, formas, origens e tamanhos.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que as grandes salas, aquelas que vendem muitos ingressos, passam filmes escolhidos por pessoas que sabem quais são os produtos que dão dinheiro. Isso não necessariamente quer dizer que conhecem profundamente outros tipos de cinema, ou que se importam com ele com a mesma sensibilidade de um curador de festival independente (que também precisa ganhar seu dinheiro). Existem mercados e mercados.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

A experiência de assistir a um filme em casa parece ter ganhado preferência, mas as salas de cinema mais sofisticadas ainda têm vantagens tecnológicas que fisgam as pessoas pelo sensorial, e porque cinema é um evento compartilhado. É gostoso ir ao cinema, pesquisas de consumo feitas com jovens mostram que será prioridade depois que passar a pandemia de Covid-19. No longo prazo? Talvez o cinema fique num lugar similar ao do livro impresso frente aos e-books: podemos contar com o acesso digital, mas por razões culturais sempre haverá pessoas que preferem a sala física. O tempo vai dizer.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Não sei se muitos não viram, mas acho que todos deveriam ver Últimas Conversas. Foi o último filme de Eduardo Coutinho.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Nosso cinema é um mundo, tem todo tipo de coisa inteligente, diferente sendo feita por aí. Não à toa Netflix, Amazon e outros grandes estão de olho no nosso mercado espectador, o brasileiro tem uma cabeça boa para cinema, para conteúdo audiovisual, o que essas empresas fazem com streaming não deixa de ser cinema sob outras formas. Mas o cinema brasileiro está sob ataque pelos mesmos que atacam a cultura brasileira. Ancine parada, fundos parados, incentivos estrangulados. O gargalo cada vez mais apertado para profissionais menores e estreantes. Então, fico preocupado. Não sei como vai ser. Não existe nação sem cinema. Dá para viver sem contar histórias?

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Rodrigo Aragão, mas também estou de olho no que Hilton Lacerda e Gabriela Amaral Almeida estão fazendo.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Os sonhos da gente num espelho.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Final do último Harry Potter. Sala grande. Acendem as luzes, um maluco grita “O HARRY NÃO MORREU!”. Se alguém ainda não tinha entendido, ele deixou explicado...

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Inesquecível. Mas sabe que outra pérola da Retomada merece ser lembrada? Zoando na TV.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho brabo um diretor não gostar de cinema. Mas todos têm seu repertório, suas referências. Cada diretor bebe de um cinema no qual ele se reconhece mais. Partir daquilo que se conhece e colocar a própria cara no seu filme parece ser o caminho para se expressar.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Dificilmente vi algo tão ruim desde o remake de Robocop pelo José Padilha.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Doméstica, do Gabriel Mascaro.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Sim, na estreia de Bacurau.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

A Outra Face. Você não sabe quando o Nicolas Cage é o John Travolta e quando o Nicolas Cage é só o Nicolas Cage.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Papo de Cinema.