O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Porto Alegre (Rio
Grande do Sul). Mateus Meireles tem 28
anos, é historiador e cursa Produção Audiovisual na Uniritter em Porto Alegre
(RS). Com seus colegas está formando um coletivo de produção independente.
Interessado por assistência de direção e continuidade em sets de filmagem,
também ensaia seus primeiros passos como roteirista e diretor.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Minha sala favorita em Porto Alegre é a Cinemateca Capitólio, porque desde as reformas e reinauguração é a
que possui a melhor estrutura dentro do circuito de salas que passam filmes
nacionais, filmes independentes, experimentais, etc. Eventos importantes do
audiovisual são sediados lá, além de ser muito bonita.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Acho que o primeiro filme que abriu minha cabeça para o
potencial do cinema de brincar com a linguagem e contar histórias de maneiras
diferentes, não se prendendo a este ou àquele formato, foi Cidade dos Sonhos, de David
Lynch. Foi um que vi e pensei: “Então dá para fazer isso também!”
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Se tiver que escolher só um, para levar para uma ilha
deserta, tem que ser José Mojica Marins
(o Zé do Caixão) e seu filme À Meia-Noite Levarei sua Alma, por
mostrar que se você quer fazer um filme, você junta uma galera e faz,
simplesmente.
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Isso vive mudando para mim, mas ainda é Estômago, de Marcos Jorge.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É amar o cinema, em todos os gêneros, formas, origens e
tamanhos.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Acredito que as grandes salas, aquelas que vendem muitos
ingressos, passam filmes escolhidos por pessoas que sabem quais são os produtos
que dão dinheiro. Isso não necessariamente quer dizer que conhecem
profundamente outros tipos de cinema, ou que se importam com ele com a mesma
sensibilidade de um curador de festival independente (que também precisa ganhar
seu dinheiro). Existem mercados e mercados.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
A experiência de assistir a um filme em casa parece ter
ganhado preferência, mas as salas de cinema mais sofisticadas ainda têm
vantagens tecnológicas que fisgam as pessoas pelo sensorial, e porque cinema é
um evento compartilhado. É gostoso ir ao cinema, pesquisas de consumo feitas
com jovens mostram que será prioridade depois que passar a pandemia de
Covid-19. No longo prazo? Talvez o cinema fique num lugar similar ao do livro
impresso frente aos e-books: podemos contar com o acesso digital, mas por
razões culturais sempre haverá pessoas que preferem a sala física. O tempo vai
dizer.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Não sei se muitos não viram, mas acho que todos deveriam ver
Últimas Conversas. Foi o último
filme de Eduardo Coutinho.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Nosso cinema é um mundo, tem todo tipo de coisa inteligente,
diferente sendo feita por aí. Não à toa Netflix,
Amazon e outros grandes estão de olho no nosso mercado espectador, o
brasileiro tem uma cabeça boa para cinema, para conteúdo audiovisual, o que
essas empresas fazem com streaming não deixa de ser cinema sob outras formas.
Mas o cinema brasileiro está sob ataque pelos mesmos que atacam a cultura
brasileira. Ancine parada, fundos parados, incentivos estrangulados. O gargalo
cada vez mais apertado para profissionais menores e estreantes. Então, fico
preocupado. Não sei como vai ser. Não existe nação sem cinema. Dá para viver
sem contar histórias?
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Rodrigo Aragão,
mas também estou de olho no que Hilton
Lacerda e Gabriela Amaral Almeida
estão fazendo.
12) Defina cinema com
uma frase:
Os sonhos da gente num espelho.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Final do último Harry
Potter. Sala grande. Acendem as luzes, um maluco grita “O HARRY NÃO
MORREU!”. Se alguém ainda não tinha entendido, ele deixou explicado...
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Inesquecível. Mas sabe que outra pérola da Retomada merece
ser lembrada? Zoando na TV.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Acho brabo um diretor não gostar de cinema. Mas todos têm
seu repertório, suas referências. Cada diretor bebe de um cinema no qual ele se
reconhece mais. Partir daquilo que se conhece e colocar a própria cara no seu
filme parece ser o caminho para se expressar.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Dificilmente vi algo tão ruim desde o remake de Robocop pelo José Padilha.
17) Qual seu
documentário preferido?
Doméstica, do Gabriel Mascaro.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim, na estreia de
Bacurau.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
A Outra Face. Você não sabe quando o Nicolas Cage é o John
Travolta e quando o Nicolas Cage é só o Nicolas Cage.
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Papo de Cinema.