Os duelos que dizem muito sobre si mesmo. Buscando envolver o público com uma rivalidade acirrada entre um professor e seu aprendiz, profissionais de um jogo de tabuleiro abstrato e considerado o mais antigo jogado até o presente, o longa-metragem sul-coreano À Altura consegue criar um universo fascinante de reflexões captando paralelos das emoções que encontram interseções sobre a disciplina e lapsos morais. Escrito e dirigido por Kim Hyeong-ju esse projeto, que chegou na NETFLIX em 2025, é um grande achado em meio a tantas ofertas pelos streamings.
Cho Hun-hyun (Lee
Byung-hun) é um famoso jogador de GO, vencedor de títulos nacionais e
internacionais, se tornando o rosto da Coreia do Sul nesse jogo milenar. Um
dia, se depara com um jovem prodígio, Lee Chang-ho (Yoo Ah-in), e logo vira seu professor. Com o passar dos anos,
mestre e aluno estabelecem uma forte relação que é colocada à prova quando Lee
passa a conquistar muitas vitórias e vencer seu professor.
Inventado na China há mais de 2500 anos, o Go é um jogo
individual no estilo ‘um contra um’ onde o objetivo – tendo em mãos pedras
brancas e pretas - é cercar mais território do que o oponente. A partir desse
game pouco conhecido no Brasil, que usa da lógica e raciocínio rápido para
vantagens, À Altura se desenvolve em
um roteiro cheio de questões existenciais onde duas características saltam aos
olhos e caminham como uma porta de entrada para as emoções dos personagens.
Uma delas é a frustração. Uma variável pulsante e jogada
para reflexão, logo se colocando na vitrine dos acontecimentos. Por meio desse
sentimento cheio de ambiguidades vamos explorando conflitos profundos que dizem
muito sobre as personalidades dos dois protagonistas. A outra, é a relação
paternal que se estabelece com o forte vínculo entre as duas partes, algo que
se torna insustentável pelas derrapadas das emoções que deixam laços translúcidos
e à beira de um rompimento. As disputas no tabuleiro logo viram confrontos
pessoais e a narrativa se joga em cima dessa questão.
Diferente de muitas outras histórias onde há um embate entre professor e aprendiz, em À Altura o discurso se amplia repleto de questões sociais e com um contextualização que se movimenta rapidamente, apresentando através da dor e sentimentos conflitantes seu verdadeiro epicentro para debates. O roteiro, muito bem construído, nos leva até os quatro cantos dessa relação conturbada, que tem dois pontos de vistas bem diferentes, e parece se construir no campo das ilusões, nas fraquezas, no temido sopro do fracasso.