Toda ação gera reação. Girando em torno de um dos sentimentos sem volta que desestabiliza o comportamento humano, a vingança, o longa-metragem Éramos Crianças e sua narrativa que navega em um ping pong na linha temporal busca prolongar um suspense que envolve um forte trauma na infância acoplados em questões familiares. Dirigido por Marco Martani, o projeto é um dos selecionados para a ótima seleção do Festival de Cinema Italiano 2024.
Na trama conhecemos um homem encaminhado para um
interrogatório. Durante esse período vamos conhecendo sua história. Assim,
chegamos em Walter (Lorenzo Richelmy),
Gianluca (Alessio Lapice), Cacasotto
(Francesco Russo) e Marguerita (Lucrezia Guidone), quatro amigos que se
reencontram a pedido de um deles na cidade onde moraram quando crianças. Ao se
reunirem, lembranças terríveis daqueles tempos voltam e eles resolvem se vingar
da pessoa que marcou a vida de suas famílias.
Escondendo seu clímax de todas as formas possíveis – fato que
pode atravessar a paciência do público - a narrativa da seu pontapé através da
construção intimista de seus machucados personagens. Assim, conhecemos a raiva,
a culpa, a desdém, como se cada um personificasse um sentimento que juntos
seriam a pólvora da inconsequência que se segue. Dessa forma, o suspense se
prolonga com peças soltas, com o motivo de tamanha revolta escondido pelos 101
minutos de projeção.
O cenário paradisíaco da costa calabresa logo acha seu
contraponto com tons escuros e imagens que conversam com a notória transmissão
dos abalos emocionais que são um paralelo do presente dos personagens. O clima
de tensão é logo atingido. O inconsciente também se mostra presente através do
luto permanente, aqui cada uma das peças envolvidas reage ao vivido de uma
forma, isso fica mais nítido quando atravessam o caminho sem volta da vingança e
inconsequência.
Éramos Crianças busca
aos trancos e barrancos manter a atenção, tem seus méritos de conseguir chegar
na imersão dos seus conflitos mas se prolonga nas suas resoluções.