Outubro de 2008, em Santo André, São Paulo, a jovem Eloá Pimentel recebia alguns amigos em casa para realizar um trabalho do colégio. Minutos depois, seu ex-namorado, Lindemberg Alves, invade o lugar e faz todos os presentes reféns. Ao longo de 100 horas de terror e incertezas – marcadas por um absurdo circo midiático presente e forças policiais cometendo erros inadmissíveis, como a inaceitável autorização para que uma refém retornasse ao cativeiro -, uma tragédia imperdoável aconteceu.
Em cerca de 90 minutos, Caso
Eloá: Refém ao Vivo busca, em uma ágil cronologia dos fatos nos dias de
cárcere privado, uma reconstituição detalhada de tudo o que aconteceu nas 100
horas de horror – de fora para dentro -, tendo como foco o entorno da situação,
especialmente o papel da mídia e nas ações policiais. Com imagens reais do
ocorrido, depoimentos de integrantes da força policial – incluindo o primeiro
negociador a falar com o criminoso -, alguns dos reféns sobreviventes, a
família da vítima e repórteres que estiveram nessa cobertura, além de textos
reais do diário da vítima, esse chocante documentário volta 17 anos atrás ainda
provocando reflexões sobre a nossa sociedade.
Nesse True Crime - um dos mais chocantes do século XXI, em
grande parte pela exposição promovida por coberturas jornalísticas
sensacionalistas (até entrevista com o criminoso fizeram) –, a banalização da
situação e a guerra por audiência ganham fortes olhares. Detalhe marcante de
tudo que envolveu esse sequestro é esse papel vergonhoso de parte da mídia, que,
ao romantizar o crime passional, transformou o caso em uma espécie de reality
show macabro. Essa postura nunca foi esquecida – e ainda causa indignação até
hoje.
Como um profissional pode considerar viável ligar para um
criminoso e realizar uma entrevista no meio de uma negociação policial? Como
algo assim foi permitido? Vale tudo pela audiência? Essa exploração emocional
da notícia - para atrair o público e, muitas vezes, transformar o criminoso em
protagonista -, é algo imperdoável e que, entre outras questões, fere profundamente
a ética da profissão.
As ações e procedimentos policiais também alcançam detalhes.
Uma série de equívocos cometidos por pessoas que deveriam zelar pela segurança
da vítima, mas se mostraram cada vez mais perdidas, tornando a situação
imprevisível – uma verdadeira mancha na segurança pública brasileira. Não é à
toa que essa situação acabou gerando mudanças em ações policiais futuras e em
atualizações nos protocolos de gestão de crise.
O que dilacera nessa história é o sofrimento vivido por Eloá
– retratado principalmente por meio dos relatos de quem a conhecia e esteve
próximo de tudo o que aconteceu -, além da dor de uma família marcada para
sempre por essa tragédia. Essa narrativa angustiante vai direto ao ponto a que
se propõe: não aponta o dedo pra ninguém, mas, como toda boa obra documental,
busca levantar questões que provoquem reflexões em todos nós.
