Não era algo fácil trazer para a ficção uma série de histórias marcantes em nossa sociedade, que tem como elo um presídio que ficou bastante conhecido do público. Das polêmicas aos curiosos fatos expostos, que buscam construir através de escolhas narrativas um complicado quebra-cabeça moral passando pela maldade de crimes bárbaros que chocaram a todos nós, chegou ao Prime Video, nesse final de ano, uma das séries mais aguardadas de 2025: Tremembé.
Com um total de cinco episódios – todos lançados no mesmo
dia - que se iniciam mostrando alguns dos mais famosos crimes dos últimos
tempos, oferecendo uma parte introdutória para contextualizar o foco de
determinado capítulo, acompanhamos transtornos de personalidades e de
comportamento, violência e manipulação, além de outras perspectivas sobre fatos
de forte impacto emocional, que logo ganharam o sensacionalismo através de
parte da mídia.
Suzane von Richthofen, Daniel Cravinhos, Christian Cravinhos,
Anna Jatobá, Alexandre Nardoni, Elize Matsunaga são nomes que estamparam páginas
dos jornais, envolvidos em crimes chocantes. Poucas pessoas não sabem quem eles
são. Esses são alguns dos personagens que tem seu tempo de prisão em Tremembé
expostos, seja em disputas de poder ou relações amorosas, passando por questões
políticas, a repercussão pública e pelos calcanhares de aquiles do sistema
penitenciário. Isso tudo, tendo o presídio dos famosos funcionando como outro
importante personagem, pelo peso igual a qualquer personagens mencionado,
fugindo de meramente um pano de fundo.
O projeto, baseado nas obras Elize Matsunaga: A mulher que esquartejou o marido e Suzane: assassina e manipuladora, ambas
escritas pelo ótimo jornalista Ulisses
Campbell, busca tornar-se atraente para o público explorando elementos de
fluidez narrativa. Ao longo dos episódios, as surpreendentes histórias daquele
lugar proporcionam uma espécie de desafogo, mas acabam fazendo o roteiro se
embolar no propósito do discurso.
A quebra de tensão é um dos grandes problemas dessa
narrativa, um tiro que sai pela culatra. Ao tentar criar os contrates das
inquietações que se seguem, acaba dando margens interpretativa ligadas à romantização
de situações. Um exemplo disso é a trilha sonora, mirando na linguagem pop, um
fator que acaba tendo um certo peso na narrativa, com músicas que marcam a
chegada de determinados personagens, fugindo das tensões implícitas de todo um
contexto.
Com direção geral de Vera
Egito, vale uma menção ao ótimo elenco –
com destaque para Letícia Rodrigues,
Kelner Macêdo, Carol Garcia e Marina Ruy Barbosa, simplesmente sensacionais
- que realiza um excelente trabalho nessa grande produção, muito aguardada
pelos fãs de True Crime. A questão em torno dessa obra sempre será as
interpretações do seu discurso e a forma como apresenta sua narrativa: algumas
pessoas vão gostar, outra nem tanto. Mas uma coisa é certa: você não pode
deixar de assistir e tirar suas próprias conclusões.
