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17/08/2025

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Crítica do filme: '152 AB' [Mostra de Cinema de Fama]


Modelando uma narrativa simples e eficiente sobre as inquietudes urbanas, o curta-metragem 152 AB é um retrato sociológico do cotidiano de muita gente. Por esse gancho, a identificação já fisga rapidamente o público, trazendo paralelos com a realidade. Dirigido pela dupla Daniel Jaber e Jelton Oliveira, esse é um singelo recorte existencial, onde na estrada de desilusões as luzes de esperanças piscam e precisam, de alguma forma, serem aproveitadas.

Dois personagens e suas dificuldades, morando lado a lado, em um lugar onde os sonhos parecem se despedaçar. Ela, com dívidas de aluguel, prestes a ser despejada. Ele, com notícias terríveis e uma saudade de doer o peito. Num rápido encontro, desabafos e espasmos de luz do fim no túnel se mostram presentes.

Um muro dividindo histórias que se complementam. Através dos protagonistas e suas angústias, além os sonhos perdidos – completamente na corda bamba das emoções – a pergunta que logo nos fazemos é: O que fazemos na loucura cotidiana das responsabilidades e dificuldades? Através dos diálogos desses conhecidos de curto tempo, vizinhos que pouco se falavam, as peças de encaixe entre as duas histórias chegam em reflexões profundas sobre a vida.

Através da liberdade criativa e infinidades de possibilidades do cinema, o projeto encontra seu norte com elementos simples. Esse não se arriscar deixa tudo mais ‘pé no chão’, focando em ótimos diálogos e mensagens diretas que modelam o desenvolvimento dos personagens. Mesmo com um excesso de trilha sonora - que acaba escapando da atmosfera de tom sóbrio lapidado por melancolia que conduz a narrativa – 152 AB deixa sua marca, explorando as muitas realidades da grande parcela da população dos centros urbanos.

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Crítica do filme: 'Um Amigo na Noite' [Mostra de Cinema de Fama]


Um transeunte perdido no seu pensamento que vaga pelas ruas em busca de alguma luz para seus problemas. Num primeiro momento, essa definição é a mais certeira quando pensamos no curta-metragem Um Amigo na Noite. Indo de encontro a um problema social bastante comum – as aflições do cotidiano – o projeto mineiro dirigido por Vinicius di Castro busca ir nas raízes de seu discurso com pontos interessantes, e outros nem tanto assim.

Um trabalhador brasileiro - aqui esgotado pela sua rotina num escritório de advocacia – resolve abandonar o comodismo de seu veículo e partir a pé rumo a qualquer lugar que não seja dentro da bolha que virou seus dias. Pelas ruas de uma grande cidade brasileira, vagando pela noite, em certo momento se depara com um cãozinho querendo sua atenção, um fato com consequências, que irá fazê-lo refletir sobre seu papel no mundo.

Uma batida nas teclas – de forma incessante - abre alas de um filme que busca o refletir de um estado de solidão, um paralelo com infelicidade que muitas vezes não se mostra, só se sente. Os tons carregados de amargura se projetam em uma fotografia com ambientes escuros, trazendo o clima para uma tensão. A fuga do concreto e as novas interpretações da observação do cotidiano viram alicerces de uma narrativa que tenta a todo instante alcançar camadas mais profundas através de um homem sem direção, caminhando despretensiosamente rumo ao inesperado.

Quando o projeto sugere e ataca o debate que propõe se mostra interessante, quando tenta definir ou mesmo encontrar sentido para a situação que se encontra o protagonista - pulando as entrelinhas - o filme força situações existenciais. Esse último ponto, grande calcanhar de aquiles da produção, nos coloca de frente com a pretensão de definições sobre estado de espírito, quase um precipício criativo de uma história com paralelos com muitas realidades. 

 


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Crítica do filme: 'Bijupirá' [Mostra de Cinema de Fama]


No primeiro dia de exibições das mostras competitivas da 8ª edição da Mostra de Cinema de Fama nos deparamos com um filme que navega pelo encontro de duas gerações e as formas de enxergar o mundo. Tendo a imensidade do mar e seus mistérios como plano de fundo, o curta-metragem carioca Bijupirá busca ampliar seus horizontes de reflexões ao duelar pelos contrastes das relações que vão da agonia à aflição, da curiosidade ao medo, tendo dois personagens num ping pong de emoções.

Um jovem navega pelas águas com seu companheiro de travessia, um experiente pescador. Ao se jogar em uma intensa curiosidade acerca de uma mutualidade ocorrida na vida de animais marítimos, o jovem acaba se desprendendo do barco - rumando às incertezas e inconsequências. Do outro lado, seu parceiro de jornada entra numa espiral de dúvidas.

No horizonte do oceano, as aflições correntes de duas pessoas de faixa etária diferentes são logo apresentados através de um intenso diálogo que valida o real entendimento sobre relações. Não sabemos qual o elo entre os dois personagens, algo que justifica toda a narrativa alegórica com paralelos que miram a mutualidade. Mesmo com as peças embaralhadas é possível encontrar um norte para compreensões e reflexões.

Muito bem filmado, com ritmo dosado e que prende a atenção, esse projeto dirigido por Eduardo Boccaletti também se apoia em uma fotografia que amplifica elementos que representam a natureza. Esse, que é mais um elo numa corrente que joga suas fichas num desenvolvimento nada evidente dos protagonistas, é um dos pontos altos de uma trama que na sua simplicidade cria caminhos interessantes para intrigantes raciocínios - mesmo dando a impressão que com mais peças a harmonia do discurso chegaria com mais força.

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Crítica do filme: 'Procissão' [Mostra de Cinema de Fama]


Um dos filmes mais interessantes da Mostra de Cinema de Fama 2025, o curta-metragem cearense Procissão, é uma viagem hipnotizante rumo à construção de identidades fazendo refletir através de jornadas atemporais de vidas que se entrelaçam pela fé. Contemplativo, deixando margens pra imaginação e caminhos para suas interpretações, atravessa a criatividade com seu discurso certeiro aplicado a uma narrativa que preza pela sincronia visual impressionante - que causa impacto.

A reunião de elementos, e suas inter-relações, juntamente com traços marcantes de técnicas de animação impecáveis em sua reprodução na tela se agrupam para contar um amplo contexto, dentro de um recorte plural. De marchas de caráter comemorativo, chegamos até formações de cidades, de bolhas que encontram seus pontos em comum. Tudo isso feito com um ritmo dosado que deixa nosso pensar borbulhando de opções para embarcar no que assistimos.  

Com figuras caracterizando personagens – e todos tendo função como um todo - andando em direção a contar uma história sobre devoção e formações sociais que moldam regiões, o projeto nos leva em 16 minutos a pensar sobre a religiosidade com uma lupa social acoplada. Impressiona também como o tempo se torna um trunfo da narrativa, que explora o começo, meio e fim de ciclos, esse último através das memórias.

O artista visual e animador Álisson Pereira Flor é o responsável por esse curta-metragem criativo, nada pretencioso, que se coloca num papel inteligente de observador dos laços criados através da religiosidade popular. A fé, os encontros, as memórias, são colocados num liquidificador sociológico se tornando um filme com ótimos pontos para debate.   

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