16/11/2024

,

Crítica do filme: 'Toquinho: Encontros e um Violão' [Festival de Cinema Italiano 2024]


O reconhecimento de um fabuloso artista. Trazendo para o público histórias cativantes da carreira de um dos maiores nomes da música popular brasileira, Toquinho: Encontros e um Violão, documentário de 90 minutos selecionado para a ótima seleção do Festival de Cinema italiano 2024, parte do vínculo do músico - grande parceiro de Vinícius de Moraes - com a Itália para nos apresentar detalhes de fatos marcantes que marcaram a história da música.

Com arquivos de shows e entrevista compondo a narrativa, além de depoimentos de pessoas próximas e do próprio Toquinho, ao longo de um delicioso bate-papo com o artista paulista de 78 anos vamos vendo a história cultural de dois países sendo contada. Sempre ao lado de seu violão, uma união que gerou canções eternizadas, vemos um depoimento emocionado de um alguém que nasceu pra brilhar.

Das lembranças das melodias do passado e da importância do início dos contatos com fabulosos professores, passamos pelo primeiro grande sucesso no início da década de 1970, uma parceria inesquecível com Jorge Ben JorQue Maravilha – até sua caminhada ao lado de Vinícius de Moraes e os sucessos que se seguiram na carreira solo, no Brasil e no exterior.

Conforme as histórias são sendo contadas, percebemos a importância de sua carreira que não deixa de percorrer gerações. Seus trabalhos inesquecíveis pela música infantil não são esquecidos e aqui faz-se um elo novamente com a Itália. Assim conhecemos seu ponto de vista na criação de algumas dessas canções, como a mais emblemática delas: Aquarela.

Em resumo, Toquinho: Encontros e um Violão se consolida como um registro importante sobre a obra de um gênio. Um documentário pra ter na coleção.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Toquinho: Encontros e um Violão' [Festival de Cinema Italiano 2024]

Crítica do filme: 'O Sucessor'


As verdades surpreendentes que colocam em evidência o desequilíbrio nada evidente. Selecionado para o Festival Varilux de Cinema Francês 2024, O Sucessor, é uma daquelas obras impactantes que causam muitas surpresas com suas reviravoltas. Intrigante do início ao fim, esse projeto nos leva até uma análise profunda sobre o comportamento humano e as escolhas que o destino coloca de maneira surpreendente pelo caminho. Dirigido por Xavier Legrand, um dos mais promissores cineastas contemporâneos, inclusive já indicado ao Oscar em 2014 pelo curta-metragem Avant que de tout perdre.

Na trama, conhecemos a história de Ellias (Marc-André Grondin), um homem que se vê em grande crescimento na carreira no mundo da moda em uma Paris atual. Após uma notícia surpreendente, ele precisa voltar pra casa, em Montreal, para ajeitar as questões referentes ao falecimento do pai com quem não tinha muito contato. Chegando lá, é surpreendido por uma série de descobertas macabras que mudam pra sempre sua trajetória.

A construção do personagem principal, nossos olhos nessa história, apresenta seus contrastes da euforia até os dilemas. Partindo dessas extremidades, essa construção estabelece os alicerces que situam o público sobre dois pontos importantes: a chegada até o sucesso e os problemas familiares. As dúvidas que se seguem, quando a surpresa chocante se coloca em sua frente, e as emoções a flor da pele sendo um desequilíbrio evidente, são componentes que alimentam a carga dramática – principalmente seu final aberto a interpretações.

Depois de surpreender o universo cinéfilo com seu primeiro e chocante filme (Custódia), o cineasta francês Xavier Legrand dessa vez volta a colocar o dedo nas feridas da sociedade costurando sua narrativa de forma inteligente que vai ganhando fôlego aos poucos, preparando os olhares para um clímax angustiante. Assim, com o leque de profundidade sendo apresentado aos poucos – guiado pelas personalidades dos personagens, caminhamos por um suspense arrepiante onde a culpa ganha dois lados da moeda.

Angustiante e fugindo de qualquer previsibilidade chegamos até um desfecho forte que vai gerar inúmeras interpretações! Sem dúvidas, um dos melhores filmes do Festival Varilux de Cinema Francês desse ano!


Continue lendo... Crítica do filme: 'O Sucessor'

Crítica do filme: 'O Rei Perdido'




O inusitado de uma descoberta. Dirigido pelo craque Stephen Frears, O Rei Perdido é um cativante filme que se esconde atrás de uma busca que parece absurda para florear um recorte intimista e honesto sobre as formas de reconquistar a felicidade. Sem deixar de nos deixar atentos para um olhar sobre relacionamentos, passando de forma inteligente pelas surpresas do inconsciente, o filme, baseado em fatos reais, emociona pelos caminhos dos paralelos que conversam com uma narrativa bem definida e que prende a atenção.

Na trama conhecemos Filipa (Sally Hawkins), uma mulher infeliz no trabalho, num recente término de relacionamento com o ex-marido John (Steve Coogan) que certo dia embarca em uma busca inusitada pelos restos mortais do Rei Ricardo III. Indo atrás desse enorme desafio vai descobrindo a solidariedade e novos conflitos que surgem quando pingos de sucesso começam a aparecer nessa jornada.

A força da premissa é simplificada com narrativa estruturada que abre-se em camadas que vão dos conflitos emocionais até as certezas de uma generosidade encontrando o despertar de uma vida. Partindo de uma solidão que nunca encontra a solitude, vemos o desabrochar das novas descobertas de um caminho, da importância das relações, através de uma personagem principal amargurada pelo término de uma união e o desequilíbrio no lado profissional. Tudo isso representado por artistas maravilhosos em cena.

Trazendo outros olhares para a história de um Rei visto como maquiavélico por Shakespeare, enxergamos duelos de contrapontos que jogam para debate as imperfeições humanas e as verdades predefinidas por achismos e conceitos que variam na forma de um entendimento. O uso da fantasia, o fato da protagonista encontrar a figura central da trama, é um elo interessante que fortalece o olhar para o inconsciente, uma voz interior que equilibra um momento de solidão.

Baseado na obra The King's Grave: The Search for Richard III, escrito por Philippa Langley e Michael Jones, O Rei Perdido é um ótimo achado no vasto catálogo do segundo maior streaming disponível no Brasil.  


Continue lendo... Crítica do filme: 'O Rei Perdido'

09/11/2024

Crítica do filme: 'Nascida para Você' [Festival de Cinema Italiano 2024]


Circulando com muita emoção a importância do amor para uma vida e preenchendo cada detalhe de uma história baseada em fatos reais, Nascida para Você joga para o centro das reflexões o sistema jurídico italiano e a caminhada da adoção que logo se estabelece como um importante debate para tudo que assistimos. A partir do desejo de ser pai e a luta persistente de uma advogada acompanhamos uma narrativa intimista que emociona do início ao fim. O projeto é dirigido pelo cineasta Fabio Mollo.   

Na trama conhecemos Luca (Pierluigi Gigante), um homem solteiro, homossexual, que trabalha fazendo um lindo trabalho em uma ONG para pessoas especiais. Ele tem o sonho de ser pai e quando é selecionado para tentar a adoção de uma recém-nascida com síndrome de Down, rejeitada por vinte famílias, enfrenta uma dolorosa batalha com o sistema judiciário de Nápoles.

A construção dos personagens é belíssima, Luca e seu desejo de ser pai nos leva até as camadas da expectativa por esse momento em um país que foi um dos últimos da Europa a aprovar a legalização de casais homossexuais. Assim, chegamos no seu entorno familiar, na relação com o namorado que logo estremece, nas vezes que desanima por conhecer os contextos frios do país que nasceu. A ponta de esperança chega com o auxílio de uma advogada querendo mostrar seu valor, uma mãe solteira.

Os holofotes se jogam para cima do sentimento mais profundo que existe: o amor. E aqui, a construção ganha dois alicerces: o lado da emoção gerada pela expectativa de um possível laço eterno e uma cansativa e por vezes angustiante batalha jurídica. A partir de um caso real ocorrido em 2017 na Itália conhecemos uma história que nos coloca de frente com as burocracias legislativas. Esse duelo com o tribunal é apresentado de forma objetiva - fugindo dos ‘juridiquês’ – onde logo se torna um dos méritos da obra: trazer reflexões e debates sobre um caso que se tornou emblemático na Itália.

Essa é uma história que nos faz refletir sobre a vida, sobre as relações mais profundas entre pais e filhos. Uma jornada de um homem que persiste em provar o que já era óbvio para um sistema de leis conservador e com o olhar obsoleto. Nascida para Você mostra a importância do cinema ao trazer assuntos importantes para debates e quem sabe gerar as mudanças necessárias para que o amor sempre vença.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Nascida para Você' [Festival de Cinema Italiano 2024]

08/11/2024

,

Pausa para uma série: 'The Traitors' (Reality Show)


Desde um dos mais primeiros reality shows produzidos, An American Family, exibido em formato televisivo no início da década de 70 nos Estados Unidos, que acompanhava a rotina de uma família na califórnia e todas as questões que se somavam com algumas revelações, até a chegada dos sucessos de audiência, como: Survivor e Big Brother, esse modelo audiovisual vem disparando na preferência da audiência, muitas vezes tornando anônimos em verdadeiras celebridades. Hoje, está estabelecida a certeza da popularidade que os reality shows tem na sociedade atual.

Baseado na vida real – algo que provou conseguir o interesse de quem assiste -  geralmente dentro de algum jogo com regras diversas, esse formato televisivo vem trazendo ano após ano diversas narrativas que vão desde indivíduos tendo que conviver em uma casa, ou largados e pelados em ambiente selvagem em busca da sobrevivência, até mesmo assassinatos de mentirinha que valem como eliminações de um game repleto de reviravoltas. Falando nesse último caso, ano passado chegou – sem muito ‘oba oba’ – um dos mais interessantes reality shows da atualidade.

Disponível no streaming Universal+ - um daqueles desconhecidos que tem dentro das parcerias do Prime Video – o intrigante The Traitors nos leva para uma instigante caça às mentiras, quase um jogo de tabuleiro, ao melhor estilo ‘Detetive’, da vida real. Tem de tudo! Traições, assassinatos de mentirinha, lavagem de roupa suja, reviravoltas inacreditáveis, discussões, dilemas, jogando numa linha tênue o espírito competitivo – de entender por completo que é um jogo - e as emoções ligadas as questões morais que pulsam em emoções intensas.

No primeiro dia, os chamados para esse desafio se reúnem em uma mesa com os olhos vendados, onde três desses participantes serão os ‘assassinos’, escolhidos com um leve toque no ombro pelo apresentador do reality, o ator britânico Alan Cumming. Em busca de um prêmio que somado pode chegar a mais de um milhão de reais, os participantes jogam separadamente mas com missões em grupo, e na calada de cada noite, os assassinos votam para ‘matar’ um dos outros integrantes da mansão onde todos são hóspedes. Resta aos que não são os assassinos descobrirem, também em uma votação, quem são eles.

Entre os participantes da primeira temporada, vemos metade de pessoas não famosas e a outra metade de rostos conhecidos. Tem participante do ex-Survivor (Cirie Fields), ex- The Real Housewives of Beverly Hills (Brandi Granville), ex- The Bachelor (Arie Luyendyk Jr) , ex-vencedora do Big Brother (Rachel Reilly). Mas o nome mais famoso para o público brasileiro é o do nadador Ryan Lochte – Sim, aquele esportista que aprontou aqui no Rio de Janeiro nas Olimpíadas de 2016.

Vencendo o Emmy 2024 de Melhor Reality Show de forma surpreendente, The Traitors já tem duas temporadas disponíveis no streaming Universal+ e já a garantia de uma terceira que chega ano que vem. Para quem está procurando uma diversão que te faz querer assistir um capítulo atrás do outro, não deixem de conferir! Vocês vão amar! Obs: o final da primeira temporada é algo INACREDITÁVEL! Vejam!


Continue lendo... Pausa para uma série: 'The Traitors' (Reality Show)

05/11/2024

Crítica do filme: 'Apocalipse Z - O Princípio do Fim'


Darwin já falava: para sobreviver é preciso se adaptar. Seguindo uma cronologia de fatos que se aproximam dessa verdade, o longa-metragem espanhol Apocalipse Z - O Princípio do Fim, baseado no livro de sucesso homônimo escrito por Manel Loureiro, segue a cartilha dos bons filmes de luta pelo sobreviver. Superando desafios para se tornar o clássico herói em sua jornada apocalíptica, o protagonista é o nosso guia em uma narrativa – com seus clichês batidos - que busca sugar até a última gota de angústia em meio ao caos dos dilemas e desespero onde o espírito de sobrevivência é ativado.

Na trama conhecemos Manel (Francisco Ortiz), um advogado e empreendedor no ramo de energia sustentável em luto desde a morte da namorada em um trágico acidente de carro. Vivendo seus dias solitários ao lado do seu gatinho Lúculo, certo dia se vê numa situação inusitada: uma epidemia desconhecida se espalha pelo mundo e ele resolve se isolar. Mas com a falta de comida, não lhe resta outra escolha a não ser tomar um rumo que o leva para uma viagem repleta de perigos em busca de algum abrigo.

Um pouco mais de uma década atrás, o escritor espanhol Manel Loureiro por meio de um blog começou a escrever a história, dividida em três fases, que hoje se tornou esse projeto cinematográfico e antes uma publicação com milhares de cópias vendidas em todo o mundo – inclusive no Brasil. Isso provavelmente acendeu a chama da oportunidade para que logo virasse uma produção cinematográfica se mostrando um acerto ao já sentirmos o sucesso com a chegada rápida do filme ao Top 1 da Prime Video.

Caminhando pelo já batido cenário apocalíptico pandêmico, pessoas se transformando em alguma espécie de Zumbis, com suas derrapadas nos pontos vagos dos contextos amplos que propõe, tem como maior mérito a colocação de uma questão existencial que é bem explorada também nas linhas do roteiro do filme: nunca sabemos como lidaremos em situações extremas até que essas cheguem.

Primeira parte dessa trilogia – que deve ganhar seus complementos em versões audiovisuais num futuro próximo -  Apocalipse Z - O Princípio do Fim pode ser visto por alguns ângulos mas com um ponto incomum: a construção de um herói incomum precisando se adaptar a uma nova rotina não se desgrudando da mira afiada de seu arpão. Em meio ao caos da natureza incontrolável a razão humana se torna um divisor de águas, um trampolim para a transformação do personagem.

A narrativa segue com seu clima de tensão bem instaurado, com bons personagens carentes de melhor desenvolvimento – talvez nos próximos capítulos - que rumam para um desfecho em aberto, com uma série de lacunas não preenchidas. Mas uma constatação se torna crucial: prende a atenção! Apocalipse Z - O Princípio do Fim mesmo com suas imprecisões não deixa de ser um bom entretenimento.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Apocalipse Z - O Princípio do Fim'

04/11/2024

Crítica do filme: 'Não se mexa'


O luto, a perda, o enfrentamento da culpa, as lambadas do destino são importantes vertentes para buscarmos entender os caminhos de Não se Mexa, filme que frequentou o Top 10 da Netflix nesse final de outubro, início de novembro. O clima de tensão se apresenta para um choque nas linhas da amargura dos personagens definindo de forma objetiva um duelo entre vítima e perseguidor. Mas será isso suficiente?

Na trama acompanhamos Iris (Kelsey Asbille) uma mulher entregue ao luto permanente após a perda do filho pequeno de maneira trágica e com fortes marcas no seu casamento. Certo dia resolve ir até o local onde ocorreu o acidente e acaba tendo seu destino cruzado com o de Richard (Finn Wittrock), que logo se apresenta como um alguém disposto a despejar sua sede de sangue. Lutando pela vida após ter sido injetada com uma substância paralisante, Iris correrá contra o tempo para sobreviver.

Esse é um clássico filme de luta pela sobrevivência com a psicopatia dominando o vilanismo. Do drama ao suspense, o filme dirigido pela dupla Brian Netto e Adam Schindler, dentro do recorte sinistro definido do 'nada a perder' busca soluções narrativas para circular o enfrentamento da culpa com algumas variáveis. Pena que a construção da mãe e a ruptura nesse laço após a perda caminham pelo superficial. Sem estender a corda para um passado construtivo, ficamos reféns do presente e das inconsequências que se tornam a base dos acontecimentos.

Mesmo com o foco na vítima, a narrativa abre espaço para as complexidades do assassino perturbado. As versões de si mesmo se tornam o escape para a construção desse vilão. Esse lado psicológico ambíguo, onde a mentira e frustrações reinam, busca uma modelagem também na perda, uma certeza quando chegamos ao entendimento de parte desse contexto.

Em resumo, buscando no que foi criado como base para seus dois personagens principais, Não se Mexa não foge do que se propõe, ser um filme que gera angústias e calafrios numa batalha pela vida.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Não se mexa'

Crítica do filme: 'Corte no Tempo'


Um superficial filme Nerd. Se soubesse que algo ruim iria acontecer, você tentaria impedir? Navegando em torno dessa pergunta, o longa-metragem Corte no Tempo, lançado recentemente na Netflix, desvia-se de qualquer profundidade para apresentar sua premissa, passando apenas na superfície – entre outros assuntos - no choque cultural indicado pela distância das épocas. Querendo abraçar muitos temas, e se abraçando na teoria de que várias linhas temporais podem existir ao mesmo tempo, se consolida como um pot-pourri genérico de tudo que é proposto.

Na trama, ambientada na fictícia cidade de Sweetley, conhecemos Lucy (Madison Bailey), uma aluna brilhante mas uma jovem amargurada. Refém do luto contínuo da família pela perda da irmã Summer (Antonia Gentry) de forma trágica décadas atrás, vítima de um Serial Killer que aterrorizou a cidade, certo dia descobre uma dispositivo tecnológico que a leva para o dia em que assassinatos aconteceram. Confusa, e sem saber em quem confiar, resolve encontrar as respostas que ninguém nunca soube.

Como deixar mais interessante um tema tão batido? Viagem no tempo é sempre um assunto que gera interesse, ou no mínimo uma alta curiosidade. Em Corte no Tempo, os dilemas adolescentes e caos familiar se amontoam em meio a um ambiente Nerd. Com menções ao clássico De Volta para o Futuro e a assumida direção para um conceito de linhas temporais, tem o mérito da coragem de entrar de forma simplória em conceitos complexos como: antimatéria, entrelaçamento quântico, buraco da minhoca, resultância dos paradoxos espaço-tempo, efeito borboleta, logo naufragando ao se desviar do discurso.

Vestindo a camisa de um dos mais amados subgêneros do terror - o Slasher -  o filme, de forma genérica, busca afiar o 'fisiquês' num contexto que alcança de forma tumultuada o – a princípio - interessante debate sobre responsabilidade moral de mudar ou não acontecimentos e os choques culturais com diferença de duas décadas. Esse aulão de ‘Introdução a física’, com muitas locações na cidade de Winnipeg, no Canadá,  é mais um filme para a galeria dos esquecíveis desse ano.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Corte no Tempo'

Crítica do filme: 'Madame Durocher' (Festival Varilux de Cinema Francês 2024)


Um olhar para uma precursora. Passando rapidamente em contextos sociais do século XIX, a partir de uma forte protagonista rodeada de traumas e tragédias ao longo de sua vida, o longa-metragem selecionado para o Festival Varilux de Cinema Francês desse ano, Madame Durocher, nos apresenta de forma emocionante e reflexiva recortes na vida da primeira mulher a obter o título de parteira no Brasil. Mesmo vago em alguns pontos, não indo a fundo em questões que se propõe debate, essas visitações históricas são importantes para conhecemos sobre trajetórias que mudaram vidas, sobre lutas e exemplos que se tornaram atemporais.

Na trama, ambientada no Rio de Janeiro do século XIX, conhecemos Marie Durocher (na primeira fase Jeanne Boudier, depois Sandra Corveloni), uma mulher que ao longo do tempo precisou vencer obstáculos para exercer sua profissão. Desde o início de sua trajetória sendo testemunha de absurdos com a mãe Anne (Marie-Josée Croze), quando se vê sozinha resolve ingressar na escola de medicina tornando o partejar como ofício. Aprendendo a viver com o insuportável e se blindando de um passado que a atinja, percorremos uma trajetória de dor e luta no choque com o machismo e o preconceito.

Uma das funções das obras audiovisuais é trazer ao público histórias importantes para considerações no traço entre o passado e o presente. Nesse trabalho consistente dos ótimos cineastas Dida Andrade e Andradina Azevedo, uma questão se mostra um sólido alicerce que logo se torna a ponta de interseção nas camadas que atinge: o nascer e o renascer. Sempre na porta do amor que irá chegar, Marie Durocher vive uma segunda vida sem saber lidar com o passado que cisma em a perseguir. A narrativa se agarra nesses embates, transformando o abstrato dos sentimentos em composições visuais que conversam com o discurso.

O auxílio nos cortiços, os problemas com o avanço da cólera, da febre amarela, recebe olhares através das ações da personagem. Primeira mulher a ser reconhecida como membro da Academia Nacional de Medicina, muitas vezes impedida de exercer a profissão com acusações incabíveis, a protagonista se mostra como uma precursora, um exemplo. Desconhecida por muitos, ganha um olhar intimista.

O vasto contexto na trajetória pessoal da protagonista, coloca o público de frente com o modo de pensar da sociedade através também de dilemas que se jogam aos montes dentro dessa estrada de sofrimento e luta, algo que faz crescer as reflexões sociais de uma época dominada pelo machismo e preconceito. Esse recorte temporal não deixa de criar paralelos com os dias atuais.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Madame Durocher' (Festival Varilux de Cinema Francês 2024)

Crítica do filme: 'A Substância'


Um dos filmes mais interessantes desse segundo semestre de 2024 é sem dúvidas: A Substância. Explorando de forma aterrorizante inconsequências rumo as derrapadas sombrias dos pensamentos que se chocam na realidade, acompanhamos em intensos e tensos 140 minutos de projeção uma série de reflexões sociais, críticas evidentes e pelas entrelinhas. Uma bomba relógio que mete o dedo nos deslizes da sociedade, nos padrões de beleza, na mídia e nas camadas incontroláveis do inconsciente.

Na trama, conhecemos Elisabeth (Demi Moore), uma artista que vive seu presente longe dos holofotes e fama de outros tempos. Em total declínio na carreira, um dia é convidada a participar de um experimento com uma substância que replica células criando assim uma nova versão, e mais jovem, de si mesma. Assim, surge Sue (Margaret Qualley). Embarcando nessa, Elisabeth perceberá que as consequências tomam um caminho sem volta.

Escrito e dirigido pela cineasta francesa Coralie Fargeat, A Substância é um filme que demora a sair de nossas memórias. Usa do chocar e do poder de assuntos que se mostram amplos para debates sobre a sociedade de consumo, dos equívocos da moral, entre outros. Tudo isso é feito numa narrativa imersiva que contorna a psicologia de uma mente em conflito que se apoia na necessidade de aceitação.

O ambiente claustrofóbico onde o clímax causa mais impacto vira um espelho de pensamentos, um reflexo das idas e vindas dos pensamentos enclausurados que tem a chance de nascer numa realidade através de uma oportunidade repleta de inconsequências. Seguindo nessa linha do ‘até as últimas consequências’ o público tem a chance de refletir através do sinistro, das personificações que levam esse drama a patamares da alta tensão.

Chocante e com atuações fantásticas – Demi Moore com altas chances de estar indicada as principais premiações do cinema - esse longa-metragem chegou na MUBI após uma rápida passagem pelo circuito exibidor.


Continue lendo... Crítica do filme: 'A Substância'