09/04/2020

Crítica do filme: 'A Odisseia dos Tontos'


A revolta dos atingidos pela canalhice de alguns. Lançado no circuito brasileiro no final do segundo semestre do ano passado, A Odisseia dos Tontos, novo filme estrelado pelo grande ator argentino Ricardo Darín, é antes de mais nada uma crítica social importante que gira em torno da enorme crise financeira vivida pela Argentina no início do século. Baseado na obra La noche de la Usina escrito pelo escritor Eduardo Sacheri, o projeto aborda o caos de maneira inteligência, com ótima trilha e generosas pitadas cômicas. Mais um bom filme de um dos maiores recordistas de público no Brasil, Darín.

Na trama, voltamos ao ano de 2001 em uma cidadezinha no interior da Argentina, quase província de Buenos Aires, onde um grupo de conhecidos resolvem investir todo o dinheiro que pouco tem em um negócio no local onde moram. Mas, um tempo depois de conseguirem arrecadar o suado dinheiro, acabam entrando em um golpe e perdem tudo para trambiqueiros. O tempo passa e o grupo volta a se reunir, pois, agora sabem onde está o dinheiro que é deles por direito, assim, farão de tudo para conseguir reaver a quantia.

La odisea de los giles, no original, esquece as consequências, exatamente por mostrar um grupo de pessoas sem nada a perder. Passados para trás em um trambique de marca maior, entendem que a única solução é irem à luta, custe o que custar. Circulando como background da história, a grave crise argentina e seu desenrolar para a classe média baixa e pobre ganham força a todo instante sendo válvula propulsora para tudo que acontece na história dos curiosos personagens. Líder do grupo, Fermín (Ricardo Darín) dita o ritmo da trama e seus dramas logo se transformam em objetivos para ele e seu ‘equipe’ de desesperados.

Vencedor do Prêmio Goya (Oscar Espanhol) de Melhor Filme Ibero-Americano, A Odisseia dos Tontos é mais um filme rico de críticas que tem no elenco o maior artista latino americano de nossa geração e mais uma dezena de ótimos atores e atrizes de um país que passa por crises mas sempre encontra na arte uma maneira de redenção.

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31/03/2020

Crítica do filme: 'The Farewell'


O crescimento do nariz de toda uma família. Escrito e dirigido pela cineasta chinesa Lulu Wang (cineasta e esposa de Barry Jenkins, diretor dos excelentes Moonlight e Se a Rua Beale Falasse) em apenas seu segundo longa-metragem, The Farewell (alguns o titulam como A Despedida), grata surpresa na temporada de premiações norte-americanas passada, explora um tema familiar complicado de maneira leve e argumentativa. Há delicadeza por todos os lados. Preenche com elegância os contornos culturais tendo como pano de fundo uma família que possui um problema em comum. Lançado no Festival de Sundance do ano passado, essa linda história, infelizmente, não ganhou as telonas brasileiras.

O filme gira em torno da ótica de Billi (Awkwafina, em grande atuação que lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz em filme de Musical ou Comédia), uma jovem chinesa que vive desde os seis anos nos Estados Unidos e certo dia recebe uma notícia terrível: sua querida e próxima avó está com Câncer de Pulmão avançado. Assim, os pais de Billi e os demais integrantes da família resolvem simular um casamento de um dos primos da protagonista para conseguirem reunir toda a família para uma espécie de despedida da querida vovó, essa última que não sabe que está com a doença.

Nas semanas que antecedem ao casamento fake, as reuniões de família e os debates sobre a China, Estados Unidos, sonhos, profissões, futuro e desejos preenchem o roteiro de maneira profunda e que explica muito os personagens envolvidos. Os pontos de vistas entre Oriente e ocidente são colocadas em prova sobre a questão do fardo emocional imposto pelo epicentro da história. Nesses momentos de clímax, vale mencionar a trilha sonora também, é belíssima, contorna os altos e baixos de maneira brilhante.

Tudo acaba girando em torno dos absurdos da mentira que causam conflito em toda uma família. Durante os arcos, os principais integrantes da família ganham forte espaço como se fossem pequenas pílulas emocionais. Esses conflitos entre os familiares são repletos de argumentos e acontecem diariamente. Nesses fortes diálogos repleto de personalidades distintas, entendemos melhor a força desse momento que estão vivendo e a dificuldade em esconder a verdade da mais velha da família.

Pela cena da vida real que antecede aos créditos finais, percebemos que a história é muito próxima da vida de Wang e esse belo filme, repleto de emoções e ternura não deixa de ser uma homenagem cativante.

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Crítica do filme: 'O Poço'


Uma das coisas que mais escutamos como desculpas para filmes não terem boas bilheterias, ou visualização (no caso dos lançamentos diretos em streamings), é que não acertaram a data de lançamento e acabaram fracassando. Nada disso pode ser associado ao filme O Poço, El Hoyo no original, lançado nos últimos dias no Netflix, pelo contrário. Mais exata na data impossível. Assim falemos do projeto, uma utopia de ideias já vistas em outros filmes (como em O Expresso do Amanhã, filme do diretor de Parasita, atual vencedor do Oscar Bong Joon Ho), até mesmo de formas diferentes, o filme tem força suficiente no seu clima de tensão imposto e fala através das pesadas e inconsequentes ações de seus personagens. Debutando em longas-metragens, o cineasta Galder Gaztelu-Urrutia, indicado ao prêmio Goya de Melhor Diretor Revelação, mostra competência na direção e deixa margens para argumentos e teorias sobre o desfecho desse impactante roteiro.

Na trama, conhecemos de maneira quase instantânea um homem chamado Goreng (Ivan Massagué em atuação espetacular) se encontra em uma situação peculiar: dividindo uma espécie de quarto com outra pessoa, num lugar onde a refeição desce por andar em andar bem no centro de todos os quartos. Assim, a história vai seguindo e nós vamos descobrimento ou pensando sobre o que seria aquilo que estão vivendo. Quantos andares tem esse lugar? Porque a comida é farta para uns e nada vem para outros? O que fazer nas situações extremas? É um experimento social? As pessoas que estão ali estão forçadas a isso? Ao longo dos objetivos 94 minutos o lado de cá da tela responde muito mais perguntas do que o próprio filme.

Mesmo seguindo linhas de rebate às causas sociais da realidade e que já estiveram em contexto em outras produção como também em High Rise (2015) de Ben Wheatley, O Poço consegue construir uma narrativa eficiente caminhando na estreita margem da tensão que aflora de maneira impactante ao longo do filme. A cada arco, vamos nos movimentando para dentro desse tabuleiro psicológico como se fosse uma espécie de rpg onde buscamos soluções para nosso ‘herói’ e sempre em busca de uma solução que nada fácil se apresenta. Comparando com o mundo real, e a pandemia do coronavírus que vivemos, o impacto é mais forte ainda. Lembra do que foi falado na introdução lá no primeiro parágrafo? A data de lançamento dele para causar conscientização nas pessoas em quarentena social pelo mundo serve de força para pensarmos cada vez mais nessa sociedade que vivemos onde uns não dão quase nada para os outros, onde o egoísmo prevalece. Por colocar o dedo bem forte na ferida, O Poço já merece destaque, a mensagem chega bem mastigada a todos que querem ver e ouvir.

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30/03/2020

Crítica do filme: 'Cascavel'


Quando tudo não passa de uma história para dormirmos. Disponível na Netflix desde o ano passado, o suspense Cascavel busca em metáforas nada profundas explicar até aonde uma mãe iria para salvar sua filha. Dirigido pelo cineasta Zak Hilditch, o filme é naufrágio em forma de roteiro insano onde nada explica nada, deixando o público à mercê de lapsos de pensamentos da realidade para tentar não ficar mais perdido que cego em tiroteio. Talvez, o pior filme da carreira da competente atriz britânica Carmen Ejogo.

Na trama, conhecemos a história de Katrina (Carmen Ejogo), uma mulher que está de mudança para algum lugar e dirige durante quilômetros tendo a bordo de seu carro somente sua filha pequena. Quando fura o pneu em uma estrada isolada de população, sua filha acaba sendo picada por uma cobra cascavel que aparece no meio do deserto lugar onde estão. Desesperada e sem saber o que fazer, ela olha para o lado e enxerga um trailer onde lá dentro, uma senhora bastante esquisita, diz que salvará a menina mas que ela seria procurada para dar uma outra vida em troca. Assim, Katrina embarca em um universo do achismo e loucura e fará tudo que precisa para proteger sua família.

Tem dias que realmente não sabemos escolher um bom filme para assistir. Sonolento, chato e com um final para lá de louco, Cascavel não agrada no começo, no meio e nem no fim. Se não fosse as tentativas de levar o filme nas costas da ótima Carmen Ejogo, acredito que seria uma experiência insuportável. O roteiro não facilita. Os arcos são mal definidos, deixando a loucura inflar dentro do que assistimos, nada é explicado nem na superfície. O duelo entre ação e consequência é demodê, remete a filmes de outras décadas mas sem um pingo de respiro consciente que outras histórias impunham.

Sem mais delongas, pior para nos cinéfilos que teimamos em ir até o final de um filme mesmo percebendo que nada mais acontecerá para mudar nossa opinião. Terrível filme.

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10/03/2020

Crítica do filme: 'Por Lugares Incríveis'


Como fugir da depressão com a ajuda de um par perfeito? Conflitos adolescentes, traumas, amizade, amor e descobertas, Por Lugares Incríveis, novo drama lançado pela Netflix é um projeto com altas pitadas de drama profundo onde aos poucos vamos tentar decifrar os complexos protagonistas. Baseado na obra homônima de Jennifer Niven, com direção de Brett Haley o filme possui assuntos intensos mas perde ritmo em alguns momentos, fato que deve ser melhor explorado nas linhas do livro. Mas nada que atrapalhe o nosso refletir sobre as questões que aborda.


Na trama, logo de cara somos testemunhas do primeiro encontro inusitado entre os jovens Violet (Elle Fanning) e Theodore (Justice Smith), a primeira está a beira de se jogar de uma ponte por não conseguir se livrar de pensamentos de uma tragédia e o segundo passava pelo local durante suas diárias corridas. A partir desse ponto as duas almas se conectam, principalmente pelo esforço de Theodore em entender o porquê daquela situação que conheceu Violet. Aos poucos, a jovem vai se abrindo e nisso vai nascendo uma grande amizade que chega em seu clímax quando resolvem ser uma dupla para realizar um trabalho que consiste em visitar lugares incríveis de Indiana.


O caos emocional é um dos problemas de toda uma nova geração. Por Lugares Incríveis é um prato cheio para psicanalistas, psicólogos, psiquiatras e até mesmo sociólogos. O entender o ser humano é sempre uma ação extremamente complicada, ainda mais em jovens ainda em formação intelectual e emocional, o filme navega nessa corrente de maneira profunda a seu modo.  As lições chegam de todos os lados: há como viver em meio ao caos emocional e encontrar saídas para não deixar de ser feliz? Como lidar com os sentimentos do próximo? Como buscar ajuda para situações que não consegue entender? Há bastante reflexão, principalmente no ato final.

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09/03/2020

Critica do filme: 'Jurado 8' (Juror 8)



A grande dúvida entre a condenação e a absolvição pelos olhos de quem vive em uma sociedade. Lançado em novembro do ano passado no Japão e com remotíssimas chances de chegar até o circuito exibidor brasileiro (talvez pela falta de faro de pequenas e medias distribuidoras), Jurado 8, (Juror 8, no original), baseado em fatos reais, conta um pouco do início do júri popular na Coreia do Sul, abordando um julgamento complicado e mesclando drama profundo com pitadas cômicas. A fórmula dá certo e somos testemunhas de um apanhado de argumentos em volta de um grande júri. Interessante fita dirigida pelo cineasta Seung-wan Hong debutando na função.

Na trama, somos colocados no ano de 2008 onde acontecem os preparativos para o primeiro julgamento no país com a participação de um júri popular formado por oito pessoas completamente diferentes. Após essa seleção, o julgamento de um homem com problemas psicológicos acusado de matar sua mãe é o caso. Assim, argumentos de defesa e acusação se entrelaçam nas dúvidas simples desse corpo de jurados. Quase terminando em um resultado rápido e na visão deles óbvio, o jurado 8 levanta uma questão importante e o julgamento se prolonga com todos os recursos dessas oito pessoas em busca da verdade sobre o caso.

O filme possui várias óticas para analisarmos. A juíza do caso busca a todo instante ser paciente com os inusitados pedidos dos jurados e no fundo compreende que é necessário para o mais próximo do acerto do resultado do julgamento. A ótica dos jurados é liderada pelo jurado número 8, um jovem que acabara de tentar patentear um produto, maior pensador das dúvidas do processo que estão. O filme mostra também o enrolado início desse modelo jurídico com o júri popular, momentos que são transformados em sutis pitadas cômicas e até certo ponto bastante críticas representadas principalmente pelos que estão ao redor da juíza.

Jurado 8 deve agradar não só quem estuda direito mas também a todos que curtem bons filmes com inúmeros argumentos que nos fazem pensar muito sobre o que acontece nos jurídicos pelo mundo.

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08/03/2020

Crítica do filme: 'Luce'


Como prever um futuro perfeito já que a trajetória para se chegar até lá são repletas de surpresas e de individuais interpretações? Exibido no aclamado Festival de Sundance e deixando ótimas resenhas por onde tem sido exibido, Luce, baseado na peça teatral assinada pelo também roteirista do filme J.C. Lee e dirigido pelo cineasta nigeriano Julius Onah (O Paradoxo Cloverfield) é um poderoso drama com pitadas generosas de tensão onde somos recheados de argumentos para nos posicionarmos quanto as importantes questões que o filme aborda. Podemos afirmar que Luce é um dos filmes que mais trazem debates para o lado de cá da telona dos últimos anos, que absurdamente não foi exibido nos cinemas brasileiros.

Na trama, conhecemos Luce (Kelvin Harrison Jr. em ótima atuação), inteligente, atleta e aluno preferido de sua escola que fora adotado por seus pais, Peter (Tim Roth) e Amy (Naomi Watts), aos sete anos quando o país em que morava era caótico. Luce cresceu como americano, e se tornou brilhante. Mas tudo isso é colocado em xeque quando Harriet (Octavia Spencer) uma professora de história revela uma preocupação sobre uma redação feita por Luce, o que leva a família perfeita a conflitos onde vamos descobrindo aos poucos que nada acaba sendo perfeito.

Invasão de privacidade, trinca conflituosa entre professores, pais e alunos, o reconhecimento de que os problemas existem em um lar precisam ser resolvidos de alguma forma coerente. Luce preza pelo clima de tensão ao mais alto nível, tudo é desconfiança nesse filme. Um caminho legal para tentar entender tudo que é solto nas ações é enxergar pela ótica dos pais, ponto central da trama. Com a desconfiança da professora na mesa, Amy e Peter trocam nos papéis de defender ou buscar a verdade sobre seu perfeito filho. É um retrato bastante introspectivo de uma família, com atuações excelentes. A ótica da professora também é bastante impactante, a intimidação que é proposta de maneira nua e crua. Afinal, Luce é inocente? Ou longe disso? Belo filme!

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Crítica do filme: 'Você Não Estava Aqui'


A realidade nua, crua e bruta dando ar numa tela gigante para quem quiser ver e sentir. O novo trabalho do genial cineasta britânico Ken Louch é antes de mais nada um belo soco no estômago das hipocrisias trabalhistas em um mundo dominado por cães ferozes, muitas vezes, sem sensibilidade. Aos 83 anos, o veterano diretor parece que nunca perde a mão, não mede esforços e simplicidade para nos mostrar detalhes profundos de retratos que acontecem nesse lado daqui na tela, principalmente em um Europa em crise existencial talvez camuflada por notícias que não nos levam a fundo sobre o que pensar. Você não Estava Aqui é impactante até seu último suspiro.

Na trama, somos jogados para a realidade de uma família de classe média baixa britânica, onde o pai Ricky (Kris Hitchen), um torcedor entusiasmado do Manchester United, resolve investir em uma van de entregas para tentar mudar um pouco da realidade apertada financeira de sua família. A questão é que a partir desse ponto, acaba influenciando a todos em sua volta, sua esposa Abbie (Debbie Honeywood em uma atuação primorosa) é uma cuidadora que após vender seu carro para o investimento na van de Ricky vê sua agenda e rotina mudarem ocasionando em uma escassez maior ainda de uma coisa valorosa: o tempo. Assim, os dois filhos do casal também passam por transformações e a todo instante perguntamos, será que Ricky fez o certo em tentar dar um passo além do que já tinha? As certezas dessa resposta nos chegam forte quando entendemos melhor a empresa que fornece os conteúdos de entrega ao protagonista.

O universo próximo do trabalho, o sustento, com a falta de tempo para sua família. Os duelos que Ricky enfrenta são diversos e as coisas só pioram com a família desmoronando por falta de orientação dos que sustentam a casa. Atencioso e responsável, o protagonista retrata milhares de pessoas dia a dia que lutam bravamente para sobreviver em vez de viver. Com poucos prazeres e muita obrigação, Rickey é jogado em um universo onde as leis trabalhistas parecem que não existem aos que mais precisam. Ken Louch coloca o dedo na ferida, quase um filme denúncia sobre todo um retrato até bem amplo de uma sociedade que se importa pouco pelo próximo.

Uma observação importante também. Feliz em ver o circuito desse belo projeto ampliado até mesmo para cinemas de shopping. Importante filmes que nos fazem refletir estarem no máximo de lugares possíveis onde tem uma telona. Imperdível.

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06/03/2020

Crítica do filme: 'O Homem Invisível'


A obsessão no relacionamento e as medidas extremas que são necessárias. Dando uma repaginada na clássica obra homônima de H.G. Wells (que virou filme no início da década 30, lançado pelo própria universal), o cineasta australiano Leigh Whannell, produz, roteiriza e dirige uma das gratas surpresas desse primeiro semestre, o tenso suspense O Homem Invisível.  Orçado em 5 milhões de dólares, valores até baixos para filmes blockbusters, o projeto surpreende pelo impactante clima de tensão que consegue transmitir ao longo dos 110 minutos de projeção. No papel principal, a maravilhosa atriz Elisabeth Moss que consegue levar o filme nas costas nos quase nunca momentos de pouca inspiração.

Na trama, somos apresentados a arquiteta Cecília Kass (Elisabeth Moss), uma mulher que está em plena fuga de seu casamento obsessivo com Adrian (Oliver Jackson-Cohen) e busca refúgio em sua irmã Emily (Harriet Dyer) e na casa do amigo policial James (Aldis Hodge). Tudo ia indo bem até que após ser anunciado o suicídio de Adrian, Cecília passa a ser perturbada por situações inusitadas como se um homem invisível estivesse a perseguindo, fato que se mostra verdade quando descobrimos que seu ex-marido, um bilionário do ramo da tecnologia, vinha desenvolvendo um trajeto inovador que transformava a pessoa em um ser invisível. Lutando para provar seus argumentos, a protagonista embarca em uma perigosa jornada rumo novamente à liberdade.

A cartilha do bom suspense é seguida à risca nesse bom lançamento. Whannell tem em seus méritos as ótimas soluções de tensão adicionada à uma atuação para lá de competente de Moss. Tudo funciona bem, exceto uns clichês bobos entre arcos que logo são superados pela força expressiva da corajosa protagonista. Trazendo essa releitura de uma obra clássica, Whannell e companhia tem a chance de aproximar a história da nossa atualidade principalmente quando pensamos no assunto da violência contra mulher. Com ótimas atuações e um roteiro que chega a surpreender em alguns momentos, O Homem Invisível é um dos poucos bons filmes em cartaz.

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Crítica do filme: 'O Preço da Verdade'


Até aonde vai nossa força para lutar pelo que é o certo? Passando quase desapercebido no circuito brasileiro, nas quase apocalípticas semanas após a maratona dos filmes selecionados ao Oscar, O Preço da Verdade é um baita achado em semanas com tão pouca inspiração. Baseado no artigo do poderoso The New York Times The Lawyer Who Became DuPont's Worst Nightmare assinado por Nathaniel Rich, acompanhamos a saga jurídica de um homem e uma comunidade na busca por provas contra uma gigantesca empresa. No papel principal o ótimo Mark Ruffalo que passa grande força nesse introspectivo, trejeitoso e poderoso papel. A direção fica a função do excelente Todd Haynes (Carol, Não estou Lá...).

Orçado em cerca de 10 milhões de dólares, Dark Waters, no original, conta a saga de um promissor advogado de defesa corporativa chamado Rob Bilott (Mark Ruffalo) que após ser procurado por moradores de uma comunidade onde passou bons tempos quando criança próximo de sua avó, inicia uma batalha jurídica ambiental de anos para expor uma enorme empresa química que é acusada de destruir muitas vidas com grave poluição. Mas para essa batalha, contará com uma certa paciência de seu chefe mas diversas outras consequências.

A eterna batalha entre o gigante e o grão de arroz. O roteiro nos leva em algumas linhas temporais contínuas mostrando início, meio e quase fim de uma ação por danos que envolveu em um escândalo uma das maiores empresas situadas nos Estados Unidos décadas atrás. Nossos olhos, a todo instante, é o corajoso advogado Rob Bilott (o verdadeiro aparece nos créditos finais), um destemido homem, pai de família, que se vê em uma encruzilhada entre o que é o certo e a força que precisa ter para provar seus óbvios argumentos. Nada fica na superfície e os detalhes são fundamentais para que esse roteiro seja firme e impactante. Ao longo das pouco mais de duas horas de projeção somos apresentados a fatos escancarados que demonstram as sutilezas do jeitinho norte americano de fazer negócio em alto nível e o desleixo contra não só uma comunidade mas a toda humanidade. Importante filme, sempre bom olharmos na telona filmes denúncia sobre os terríveis impactos industriais na natureza.

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28/02/2020

Crítica do filme: 'Divino Amor'


A recuperação dos casamentos em crises em um futuro repleto de metáforas sobre a sociedade. Numa época onde o carnaval não é mais a maior festa do Brasil, se fossemos brincar na analogia poderíamos dizer que o enredo de Divino Amor perde décimos, falta ritmo e há excessos na explicação da intercessão do Corpo à fé, juntando argumentos repletos de simbolismos. Nada é objetivo nessa obra exibida no Festival de Berlim e em Sundance. As metáforas em formas de detalhes peculiares como Drive thru pastórico, maquina à laser de hormônios, esse e outros em buscas de sinais para justificar toda a entrega à fé da protagonista, interpretada pela atriz Dira Paes. Pode ser visto como uma grande crítica às hipocrisias do mundo mas faltam ingredientes para pensarmos nesse filme como um dos destaques do ano que passou.

Na trama, acompanhamos a amargurada Joana (Dira Paes) que trabalha em cartório todo digitalizado anos à frente do nosso. No seu dia a dia busca resolver questões entre casais tendenciando o resultado final. Joana e o marido, tentam buscar na fé a salvação para resolver o problema de não terem filhos, assim são devotos do Divino Amor, uma espécie de religião repleta de simbolismos. Intensas cenas de sexo envolvem a trama que busca no retrato do corpo e da fé os argumentos para suas questões chave.

Buscando ser detalhista para as argumentações colocadas, o projeto dirigido pelo competente Gabriel Mascaro peca nas variadas peças metafóricas e simbolismo que tenta encaixar para suprir a lacuna do peculiar contido em muitas ações e consequências que vemos ao longo dos 100 minutos de projeção. Quando busca um recorte mais próximo, dentro da relação entre o complicado casal protagonista, já no arco final, o filme cresce.


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27/02/2020

Crítica do filme: 'O Jovem Ahmed'


As entrelinhas do fanatismo religioso aos olhos da imaturidade. Exibido na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no Festival do RJ 2019, e vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes do ano que passou, O Jovem Ahmed é um recorte moderno sobre as influências que temos em nossa vida fazendo um grande ponto de interrogação sobre questões existenciais sobre origens e tradições. Extremamente moderno, importante e bem objetivo, os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne brindam os cinéfilos com mais um interessante retrato cultural na Europa.

Na trama, conhecemos o jovem e bastante recluso Ahmed (Idir Ben Addi) um jovem de menos de 15 anos que vive com sua família na Bélgica e respeita as tradições de sua religião muçulmana. A questão do filme chega na questão das interpretações da religião que escolheu, fruto de preenchimento conservadores de um primo extremista o que o faz entrar em conflito com sua mãe e principalmente sua professora.

As ações e reações através de uma verdade inexistente. A questão religiosa, fruto de todo o plano de fundo da trajetória de Ahmed é o epicentro da imaturidade e até que ponto a influência negativa leva um jovem a cometer atos e pensamentos terríveis em ‘defesa’ de uma ideia de conflitos. Podendo acontecer em qualquer lugar do mundo e a todo instante, enxergamos a dor da professora e da família de Ahmed e os conflitos que se seguem. Exemplificando muito bem as consequências do ato de Ahmed, dentro de um roteiro reto e objetivo, somos testemunhas dos argumentos de mudança na mente imatura de um jovem sem vivência.

Por fim, vale a pena comentar. Que bom que existem distribuidoras aqui no Brasil como a Imovision que sempre lança filmes europeus de qualidade. Que as salas de cinema brasileiras cada vez mais abram seus leques de escolhas para filmes que nos fazem pensar.



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26/02/2020

Crítica do filme: 'O Professor Substituto'


A falta de equilíbrio que faz quebrar sentidos básicos da nossa existência. Exibido no Festival de Cinema de Veneza em 2018, tendo boa passagem no circuito exibidor brasileiro com início no final de julho do ano passado, o curioso longa-metragem dirigido pelo francês Sébastien Marnier (do bom Irrepreensível, 2016) é um recorte instigante sobre a ótica de professores e alunos de uma tradicional escola francesa. Todo um envolto de modos de pensar e ações de um grupo de estudantes cdfs que utilizam razões com bases poéticas para justificar suas ações e consequências, são colocadas em tela de forma metafórica que vão desde citações de filósofos até uma fotografia e trilha que causam impacto. Não é um filme fácil de digerir, além de que seu enredo esconde seus pontos de clímax deixando o espectador no mínimo surpreendido pelo que ocorre ao longo dos 105 minutos de projeção.

Baseado no livro School's Out, publicado no início dos anos 2000 pelo autor Christophe Dufossé, O Professor Substituto conta a história de Pierre (Laurent Lafitte) um professor de literatura que precisa assumir uma turma especial de excelentes alunos de uma tradicional escola francesa quando o professor titular da cadeira comete o suicídio durante uma aula. Ainda buscando referências e sendo constantemente confrontado pelos novos alunos nos primeiros dias de aula, o protagonista percebe que há algo estranho e resolve investigar alguns deles em busca de informações.

L'heure de la sortie, no original, é um filme surpreendente. Você gostando ou não, não há como negar as surpresas que acontecem ao longo desse capítulo filosófico que fala entre outras coisas sobre a relação entre alunos e professores. Conforme vamos compreendendo melhor a saga do substituto percebemos que há algo de errado com alguns alunos e o filme coloca em cheque ação vs emoção principalmente na maneira intensa que o novo professor busca entender o que está havendo. Não é um filme fácil, há muita metáfora e o espectador precisa estar atento as entrelinhas para uma melhor compreensão do que acontece ao longo dessa curiosa fita.

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25/02/2020

Crítica do filme: 'Corpus Christi'


As marcas do passado em conflito com o inusitado sentido de ser e viver. Orçado em menos de um milhão e meio de dólares, o longa-metragem polonês Corpus Christi é um retrato de um jovem rebelde, em descoberta da liberdade, com a invocação de um chamado peculiar que coloca em cheque tudo que já viveu. Dirigido por Jan Komasa e com roteiro de Mateusz Pacewicz, esse bom filme é intenso e impactante na medida certa, conseguindo uma vaguinha na lista dos cinco indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na última edição da grande festa do cinema. Infelizmente, ainda sem previsão de estreia no circuito exibidor Brasileiro.

Na trama, conhecemos um jovem chamado Daniel (Bartosz Bielenia), que está em um centro de reabilitação para jovens encrenqueiros em uma cidade no interior da Polônia. De alguma forma, ao longo do tempo que está nesse lugar sofreu uma certa transformação sendo muito ligado às missas e as questões espirituais abordadas na instituição. Mas seu passado é complicado e nesse lugar é jurado por outro detento e assim, enviado para um trabalho num outro lugar, pega uma rota alternativa e vai parar em uma pequena cidadezinha católica onde vira o padre titular do lugar. Lutando contra seu passado e os erros que comete no seu presente, Daniel acaba encontrando uma forma de mudar aquele lugar e porque não dizer a ele mesmo.

Corpus Christi é um filme com emoções à flor da pele a todo instante, a fotografia do longa dita o ritmo de tudo que vemos como consequências as atos praticados pelo protagonista nas quase duas horas de projeção. Buscando uma liberdade que fazia tempos não sentia, acaba encaixando com pensamentos e sentimentos de todo um lugar paralisado no tempo por conta de um desastre de automóvel que vitimou jovens de várias famílias. A direção é detalhista usufruindo de uma trivial busca pela redenção, é um belo trabalho de Komasa e equipe. Vale a pena conferir.

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