19/08/2022

Crítica do filme: 'Jantar entre Amigos'


Reflexões sobre relacionamentos. Produzido pelo HBO e jogando na tela conflitos dentro de relacionamentos, o cineasta canadense Norman Jewison nos faz embarcar em diálogos que vão desde futilidades do cotidiano, passando pelo relacionamento de um casal até as descobertas sobre as verdades do próprio casamento. Jantar entre Amigos, baseada na premiada peça teatral escrita por Donald Margulies é um daqueles filmes marcantes que ficam em nossa memória por muito.


Na trama, conhecemos os críticos gastronômicos Gabe (Dennis Quaid) e Karen (Andie MacDowell), um apaixonado casal que viaja bastante. Certo dia, ele chamam seus melhores amigos para jantarem em sua casa, o casal Beth (Toni Collette) e Tom (Greg Kinnear), mas só a primeira aparece e logo solta uma bomba: ela está se separando do marido. A notícia pega Gabe e Karen de surpresa e ao longo de intensas conversas vamos entendendo como esse fato acaba modificando a maneira de todos de enxergarem suas próprias relações.


Os conflitos são eminentes, os pontos de vista variados. Ao longo da projeção vamos entendendo os porquês, quase um desabrochar da relação entre quatro paredes. O choque da realidade chega mais forte em Gabe e Karen pois esses acabam ficando em uma posição de medo talvez por não querem parar para pensar como anda a relação deles. Uma crise de meia idade? Qual o posição de um amigo nessas horas? Há julgamentos constantes? É pra julgar sem ouvir as partes? Qual o sentido da solidão em um relacionamento? Muitas perguntas chegam ao espectador.


O roteiro utiliza um recurso interessante sobre a não linearidade, ele volta na década de 80 para mostrar o início dessa amizade, os primeiros encontros e desencontros dessa amizade que já tem mais de uma década. Assim, podemos entender as mudanças ou não sobre algumas questões que de alguma forma se tornam paralelos com seus presentes.



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17/08/2022

Crítica do filme: 'O Refúgio'


Não é bem o poder, não é bem a ganância, é o egoísmo. Nos colocando sobre os olhares dentro das quatro paredes do declínio de um relacionamento O Refúgio nos mostra as correntes do rompimento pelas fraquezas mais conhecidas pelo ser humano. Aqui não há dilemas, há certezas inconsequentes, algo que de alguma forma molda toda a trajetória de todos os integrantes dessa família. Em seu segundo longa-metragem como diretor (o primeiro foi o ótimo Martha Marcy May Marlene), o cineasta canadense Sean Durkin consegue refletir pelo tenso caminho abstrato das emoções perdidas.


Na trama, ambientada na década de 80, conhecemos Rory (Jude Law), um britânico que mora nos Estados Unidos junto da esposa Allison (Carrie Coon) e dos dois filhos do casal. Rory não está feliz e consegue um emprego na Inglaterra fazendo uma enorme mudança na vida de todos da família. Só que por lá, na terra da rainha, as coisas não saem conforme o planejado, o egoísmo e o ego do protagonista levam a abalos perceptíveis nos alicerces da família. Em meio a calorosas discussões e palavras fortes jogadas ao vento, a inconsequência toma as rédeas em ações descontroladas e distantes.


Há um grande análise sobre o casal, algo que acontece dentro de paralelos que nos mostram as ações e consequências que acabam influenciando a todos os personagens. De um lado Rory e sua ganância sem fim beirando à megalomania, que lida com um forte conflito do seu passado na recriação do seu presente deixando a busca por dinheiro e principalmente status social tomar conta de seus focos. Do outro lado, temos Allison, uma mulher que se encontra completamente sozinha, em um país que não se sente à vontade, sem amigos, com a família (principalmente seu marido) passando por mudanças bruscas. Tanto Jude Law quanto Carrie Coon dão um verdadeiro show em cena.


A infelicidade muitas vezes chega ao seu extremo nessa história, com a paranoia tomando conta quando o pensar em um oásis se torna algo distante e nada objetivo. Mas o lado emocional, muito bem explorado dá margem também para pensarmos sobre o mundo naquele instante, em uma Inglaterra vazia de ideias empreendedoras, dentro de um conservadorismo evidente, um país completamente diferente do subúrbio norte-americano em que estavam, onde as ideias inovadoras saltavam a cada esquina.


Há um exercício interessante para o espectador, definir o que seria o refúgio do título. De bate pronto podemos acoplar o sentido à trajetória dos dois personagens, nos desencontros da vida em outro país em dois momentos distintos de suas vidas juntos.



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Pausa para uma série: 'Black Bird'


A caminhada conflitante para a confiança nos próprios valores. Criado pelo escritor norte-americano Dennis Lehane, autor de romances policiais que viraram filmes de grande sucesso, como Sobre Meninos e Lobos e Ilha do Medo, Black Bird é mais uma série inquietante do ótimo streaming da Apple Tv+. Misturando uma intensa caçada policial à um estudo amplo e muito complexo sobre personalidades humanas (não é a toa que é possível fazer um paralelo com outro seriado, Mindhunter), ao longo de seis angustiantes episódios. Destaque para a atuação fantástica de Paul Walter Hauser


Inspirado em fatos reais, em Black Bird conhecemos Jimmy (Taron Egerton), um charmoso traficante de drogas que vê todo seu mundo ir à baixo quando a polícia invade a sua casa e o faz ser condenado a 10 anos de prisão. Alguns meses se passam e algo inusitado acontece: a polícia volta a conversar com ele lhe propondo um acordo que consiste em ele ser enviado a uma prisão de segurança máxima, conseguir a confissão de um suspeito de assassinatos chamado Larry (Paul Walter Hauser) e assim conseguir a liberdade. Mas nada será fácil e muitas perguntas se encontrarão pelo seu caminho.


Buscando entrar na mente de uma pessoa complicada, o protagonista acaba tendo que lidar com os próprios demônios, muitas vezes tendo que tomar decisões sozinho, em forma de todo o envolto que atravessa na sua frente, como os ambíguos guardas, perigosas gangue do lugar e as incontroláveis variáveis que se apresentam a todo instante. Tudo isso junto acaba levando Jimmy a uma trajetória de desconstrução bem longe de uma redenção convencional.


Há um clima de suspense no ar, não sabemos ao certo se Larry é o responsável pelos assassinatos, pistas entram e saem do rodares distanciando ou não as suspeitas, mas de alguma forma parece sempre estar envolvido. As questões sobre a investigação, não definidas de maneira lineares, nos levam a atravessar um longo período onde rastros são minuciosamente estudados dentro de premissas inquietantes definidas pelas afirmações do próprio suspeito. Jimmy aos olhos da lei é descartável? Por que usar um civil para conseguir essas informações? Algumas respostas passam pelas entrelinhas da suposição mas sem atrapalha todo o contexto, sobre o que realmente fala essa história.  


Nesse projeto impactante, que fora um dos últimos trabalhos do ator Ray Liotta (falecido recentemente), vamos descobrindo os mistérios junto aos personagens em uma caçada antes de tudo pela verdade. Você não pode perder Black Bird!



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16/08/2022

Crítica do filme: 'Between Two Dawns'


As soluções contraditórias que mudam uma trajetória. Disponível no ótimo catálogo da MUBI, o longa-metragem turco Between Two Dawns nos leva a uma jornada sobre questões trabalhistas, dilemas ligados ao assédio moral, e também sobre a relação entre trabalhadores e empregados em uma região do mundo onde há muitas empresas ligadas à família e com um índice de informalidade elevado. Escrito e dirigido pelo estreante em longas-metragens Selman Nacar, o projeto foi exibido no Festival de San Sebastian e na Mostra de Cinema de São Paulo.


Na trama, conhecemos Kadir (Mucahit Kocak), um jovem empresário que trabalha nos negócios da família desde que terminou seus estudos, uma fábrica inclusa na indústria têxtil. Tudo ia bem na vida do personagem, inclusive está mega apaixonado pela futura noiva, até que em um dia, durante uma rodada de negócios via Skype, algo acontece na fábrica. Um grave acidente com um dos funcionários leva a família a tomar atitudes que entram em conflito com o que Kadir pensa, principalmente sobre a questão humana e moral. Assim, vamos acompanhando as horas seguintes na nova trajetória de vida que o destino colocou na frente do protagonista.


Com quase uma hora e meia de duração, Between Two Dawns tem um roteiro cirúrgico onde acompanhamos os conflitos ligados a hierarquia de uma família empreendedora turca. Donos de uma enorme fábrica mas de perfis completamente diferentes estabelece-se aos poucos um embate entre irmãos, que ultrapassa as barreiras profissionais e parte para um conflito sobre a ética no trabalho, até mesmo sobre o assédio moral nesse ambiente se partirmos de algumas atitudes tomadas. Ao longo de toda a projeção podemos refletir sobre essa relação conflituosa entre empregadores e empregados.


O certo e o errado aqui são separados por uma linha tênue. O protagonista se vê em um dilema inquietante onde a moral está implícita a todos aqueles que querem enxergá-la. O final aberto nos leva a refletir sobre a vida, sobre as mudanças que aparecem em nossa frente e quais atitudes tomar quando o mundo nos surpreende com argumentos contrários aos que acreditamos.   



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15/08/2022

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Crítica do filme: 'Treze Vidas – O Resgate'


Quando o desafio é a sobrevivência. Buscando trazer ao público mais detalhes do famoso resgate de um jovem time de futebol e seu treinador que ficaram presos em condições complicadas em uma caverna no norte da Tailândia que faz parte de um sistema cárstico de relevo geológico chamado Tham Luang, o veterano cineasta Ron Howard apresenta sua versão aos fatos que mobilizaram o planeta. Aqui o foco é na equipe experientes mergulhadores que conseguiram ultrapassar barreiras em condições inóspitas em busca de praticamente um milagre e resgatar a todos com vida. Nessa emocionante jornada, enxergamos a história de maneira muito objetiva sem deixar de sentir todas as emoções dos envolvidos.


Na trama, voltamos ao ano de 2018 onde em meados de julho, durante a Copa do Mundo de Futebol Masculino, um grupo de jogadores de um time amador denominados Javalis Selvagens, após um treino e para iniciarem as comemorações de aniversário de um deles, resolvem junto ao seu treinador fazer um passeio por dentro de uma região repleta de cavernas que sempre foi ligado à questões folclóricas e fica perto da fronteira da Tailândia com um país chamado Mianmar. O tempo muda radicalmente quando eles estão dentro de uma das cavernas e um passeio que era pra ser rápido acaba durando muitos dias. Os familiares ao notarem o sumiço dos jovens, chamam as autoridades e constata-se que o grupo ficou preso em algum lugar dentro da caverna. Logo as autoridades são chamadas e uma ajuda internacional chega em seguida. Assim, conhecemos o experientes mergulhadores Rick Stanton (Viggo Mortensen) e John Volanthen (Colin Farrell) que terão papéis fundamentais nesse incrível salvamento.


Era um resgate extremamente complicado. Não só por conta das condições climáticas da região, da caverna cheia de obstáculos que o grupo estava mas também por conta da falta de informação que as autoridades tinham no primeiro dia de mobilização. A questão política também ganha contornos complicadores, com pressões do governo tailandês a um governador que sairia do cargo em breve e holofotes de todo o mundo com uma imprensa presente que aguardava informações 24 horas durante as duas semanas de operação. O filme busca os detalhes de toda a complicada operação, entrando mais ao fundo em algumas questões e em outras passando de forma superficial.


Essa produção britânica, com pegada hollywoodiana, busca seu foco nos protagonistas do resgate, Rick e John, dois amigos que estão acostumados a lidarem com situações extremas de resgate que acabam sendo a maior esperança de sucesso da operação. As decisões difíceis a serem tomadas, como a questão pouco noticiada que os garotos tiveram que tomar uma injeção com tranquilizantes pois precisariam mergulhar em condições adversas por horas são bem detalhadas além de um implícito conflito no campo emocional já que os amigos e mergulhadores são pessoas muito diferentes um do outro.


Pra quem curte filmes com simbolismo heróicos que mesmo sabendo o final a gente consegue refletir sobre muitos temas no campo da humanidade como a cooperação, Treze Vidas – O Resgate pode ser o projeto que você possa estar procurando.




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Crítica do filme: '45 do Segundo Tempo'


As estradas da vida e as maneiras como olhamos pelo retrovisor. Buscando o elo de interseção em um dos sentimentos de grande afeição de conhecimento das relações, a amizade, o longa-metragem brasileiro 45 do Segundo Tempo, de forma leve e descontraída nos leva para uma jornada de resgate de uma amizade entre três amigos palmeirenses que de certa forma passam por grandes conflitos no presente. A rivalidade Palmeiras x Corinthians, reflexões sobre as trajetórias até aquele ponto da vida, pensamentos sobre a fé, teorias sobre a morte, o luto, a paternidade, conflitos nos relacionamentos, o sexo no casamento, sexualidade, vamos caminhando pelo modo de pensar desses três interessantes personagens que deixam muitas lições nas suas trajetórias. O projeto é dirigido pelo cineasta paulista Luiz Villaça.


Na trama, conhecemos Pedro (Tony Ramos), um homem que chegou ao limite de suas emoções e do seu pessimismo em relação ao mundo. Aos poucos foi perdendo o prazer de viver, cheio de dívidas, sem conseguir um novo empréstimo no banco está prestes a perder o estabelecimento da família, a Cantina Baresi, um restaurante italiano que está aberto faz mais de 50 anos, fundado pelo seu avô que veio da Itália sozinho e montou o negócio com todo seu esforço. Certo dia, acaba reencontrando dois grandes amigos, Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França), para uma reportagem baseada em uma foto que ele e seus amigos tiraram no metrô na inauguração do mesmo, em 1974 (cerca de 40 anos atrás). O primeiro é um bem sucedido advogado, o segundo virou padre. Os três vão tentar reacender a chama dessa amizade entre longas conversas sobre suas visões e pensamentos sobre o mundo que vivem, a partir do desejo de morrer em breve de um deles.


O roteiro faz uma jornada interessante em relação a ótica sobre o protagonismo. Há uma tentativa de ser profundo para cada personagem e a partir disso buscar reflexões mundanas dentro de um belo encaixe no choque de gerações (aqui, no caso, os personagens em confronto com o tempo presente). Os embates de uma geração do passado, com seu modo conservador de pensar sobre alguns temas geram ótimos diálogos, nada diferente do que podemos ver em qualquer esquina, o que nos aproxima da realidade. As conversas sobre futebol, por mais que o título faça óbvia referência, aqui acaba sendo um background, um plano de fundo.


Qual o melhor momento de toda uma história? O olhar para a vida de modo mais triste é um dos pontos de partidas para um raio-x dessas personalidades. As crises existenciais, dentro do muito se perguntarem sobre sentidos e principalmente seus lugares no mundo, ganham arranjos melancólicos pelas ruas de São Paulo e em lugares que significaram muito para cada um deles. A amizade e o resgate da mesma, coloca em xeque os modos de pensar, pensamentos congelados sobre os valiosos valores da vida se apresentam como segundas chances em um mundo dinâmico onde errar faz parte de todas as histórias. 45 do Segundo Tempo busca reflexões sobre conexões humanas em um mundo atual conectado pelo digital mas distantes, muitas vezes, das mais simples formas de entenderem o real significado de felicidade.



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11/08/2022

Crítica do filme: 'Minhas Férias com Patrick'


As desilusões de amores não correspondidas. Inspirado no livro Travels with a Donkey in the Cévennes do escritor britânico Robert Louis Stevenson (lançado em 1879), o longa-metragem francês Minhas Férias com Patrick é uma viagem de auto descoberta de uma professora ingênua, com muitos relacionamentos fracassados pelo caminho, que luta pela atenção do seu amante. Dirigido pela cineasta Caroline Vignal, o projeto disponível lá na MUBI, é um road movie que explora os ensinamentos e desconstrução da protagonista.


Na trama, conhecemos Antoinette (Laure Calamy, vencedora do prêmio César ano passado por esse papel) uma professora solteira que tem um amante, Vladimir (Benjamin Lavernhe), esse, pai de uma de suas alunas. Quando chega a época das férias a protagonista acha que passará juntinha com o atual amor de sua vida mas é deixada de lado por ele. Mesmo assim, ela resolve embarcar em uma jornada de longas caminhadas com um burro chamado Patrick pelo Parque Nacional de Cévennes para ir de encontro aonde o amante passará as férias com a esposa e a filha.


Como o foco total na protagonista, uma lupa é colocada sobre as emoções da mesma. Refletimos sobre o modo como pensa a questão dos relacionamentos, os conflitos com as visões e críticas de outros sobre a sua atual situação amorosa, uma desconstrução é vista de maneira leve e até mesmo descontraída. Muitas vezes ingênuas dentro desse relacionamento secreto que vive com o amante atual, acaba sendo alvo fácil da decepção. Mas a questão é: ela reflete sobre isso? O filme busca esse elo, como essa ponte é feita, o cair da ficha sobre essa história. O simbolismo do burro acaba sendo uma metáfora sobre proteção, sobre o esconder o sofrimento nessa amizade inusitada.


O brinde à solitude chega já na obviedade do desfecho, o aprendizado em forma de lições para toda uma vida. Quem sabe um novo amor com novas atitudes? Minhas Férias com Patrick mesmo em seu ritmo lento pode encantar alguns pelo olhar detalhista dentro de emoções contidas.



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09/08/2022

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Crítica do filme: 'Gêmeo Maligno'


As barreiras do sonho e seu desesperante acordar por meio do reflexo das emoções e medos. Dirigido pelo cineasta Taneli Mustonen, Gêmeo Maligno nos leva a uma jornada cheia de saídas onde nos damos conta de um clima de mistério no ar que caminha entre a razão e a loucura. Essa produção finlandesa falada em inglês e com locações na Estônia busca surpreender com reviravoltas mirabolantes principalmente em seu desfecho. A direção é competente, nos deixa em um clima de tensão constante. As suposições abrem argumentações diferentes sobre qual o sentido em relação a tudo que vemos.

Na trama, conhecemos o casal Rachel (Teresa Palmer) e Anthony (Steven Cree) que após uma trágico acidente de carro, onde perdem um dos filhos gêmeos, resolvem se mudar para Finlândia, numa casa isolada que servia como uma espécie de paróquia do lugar. Anthony que é escritor finlandês, conhece mais a região do que a esposa. No início buscam se familiar com tradições locais em uma região que insiste em falar a língua local mesmo sabendo o inglês. Não conseguindo de adaptar, seu cotidiano é repleto de sonhos estranhos e a desconfiança em relação a tudo e a todos começa a ser algo presente.


O recomeço é algo que está na estrada de reestruturação emocional dessa família ainda muito abalada pelo acidente que culminou na partida de um dos gêmeos do casal. As primeiras linhas do roteiro nos levam para reflexões sobre o luto, o tempo de assimilar uma perda e seguir em frente. A culpa também está embutida nessa passagem, assim como as lembranças, as referências em muitos lugares e até mesmo as metáforas em forma de sonhos/pesadelos.


O misticismo toma conta da história em determinado momento, complicando lacunas não preenchidas. Mas seria um artifício para esconder as verdades da trama? Assim buscamos o entendimento das ações que se sucedem pelos olhos de Rachel. O enxergar ao seu redor a leva em uma jornada onde se juntam as reflexões sobre o papel da mãe, o lado materno. Os curiosos recortes, não associados a fé, voltam na questão da culpa, forma abstrata que precisamos percorrer para o entendimento dessa história.


Gêmeo Maligno caminha nas tensões do medo para desabrochar como um recorte tendendo ao psicológico que acaba fazendo sentido no momento em que entendemos as verdades.

 

 

 

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04/08/2022

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Pausa para uma série: 'Slow Horses'

 


As duras estradas para o restabelecimento da autoestima. Passando quase desapercebido no catálogo da Apple Tv+, o seriado britânico Slow Horses nos leva para o mundo da espionagem em seis episódios eletrizantes e com algumas reviravoltas. Protagonizado pelos ótimos Gary Oldman e Kristin Scott Thomas, a produção consegue um equilíbrio entre as profundezas emocionais de uma série de pessoas afetadas profissionalmente por um rebaixamento e um emaranhado de situações que envolvem os mistérios dessa primeira temporada. Surpreendente e empolgante, talvez essa seja a série que você está procurando.


Na trama, conhecemos os Slow Horses, um grupo de agentes da inteligência britânica que foram colocados para escanteio, indo para uma espécie de segunda divisão da espionagem local. Esse grupo é liderado pelo enigmático Jackson Lamb (Gary Oldman), um homem com um passado misterioso, deveras arrogante, que esconde segredos. Certo dia, o grupo descobre uma espinhosa trama que envolve mentiras no alto escalão da inteligência e um sequestro de um jovem. Assim, o destino deles se encontra com a poderosa Diana Taverner (Kristin Scott Thomas), uma das chefes de um setor do MI5.


Cheio de saídas para os conflitos de seus amargurados personagens, Slow Horses caminha em sua estrutura principal na modelagem emocional desse grupo de pessoas que foram punidas ou até mesmo rebaixadas da central de inteligência da Inglaterra. Assim, vamos conhecemos aos poucos e melhor esses personagens que precisam reunir as qualidades que possuem para trabalhar em equipe e assim chegar ao objetivo que chega quase ao acaso no colo deles. Tem uma mulher mais velha e misteriosa, tem um agente que está se separando da esposa e se apaixona por uma integrante do grupo, tem um agente qualificado que errou de forma chamativa em um treinamento. Tudo é muito misterioso mas com brechas para melhores desenvolvimento em próximas temporadas (inclusive já foi renovado para mais duas).


O foco acaba sendo a resolução do mistério que rege as ações da primeira temporada, uma embolada trama cheia de conflitos de interesse que jogam o grupo de um lado para o outro comandados por um líder cheio de duvidosas atitudes que parece a cada diálogo negociar situação de um passado escondido. Slow Horses deixa muita lacunas nessa primeira temporada e com possibilidades aos montes de desenvolvimento dos ótimos personagens.



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Crítica do filme: 'Trem-Bala'


Quando a comédia encaixa na ação. Chegou aos cinemas na primeira semana de agosto um filme divertido, empolgante que encaixa tons cômicos dentro de uma série de sequências de ação de tirar o fôlego. Trem-Bala, dirigido pelo cineasta David Leitch, tem um roteiro dinâmico, contando ao público histórias dentro de outras histórias de forma eletrizante. Se piscar perde uma parte do quebra-cabeça imposto que ainda possui grandes atuações com um elenco nota 10 encabeçado pelo astro mundial Brad Pitt. O roteiro, grande trunfo dessa produção, é escrito por Zak Olkewicz, baseado no romance homônimo do escritor japonês Kōtarō Isaka.


Na trama, conhecemos um assassino de aluguel, zen, que não usa armas, que diz ter falta de sorte que para uma nova missão recebe o codinome de Joaninha (Brad Pitt). Essa missão consiste em entrar em um trem bala no Japão, roubar uma maleta cheia de dinheiro e sair imperceptível. A questão é que outros personagens estão dentro dessa locomotiva urbana com objetivos parecidos. Assim conhecemos uma dupla de assassinos que estão levando o filho de um terrível assassino de volta ao lar, uma jovem enigmática mas que já se antecedeu a tudo que poderia acontecer nessa jornada e outros personagens que vão se somando a uma sequência eletrizante atrás da outra.  


Um filme de ação violento ou uma comédia de riso fácil (pastelão)? Rodado todo em Tóquio, no Japão, o projeto caminha por linhas tênues entre a ação e a comédia. Essa fórmula acaba se encaixando com o dinamismo e força do roteiro que introduz muitos personagens sem deixar de nos mostrar ações e consequências de cada um deles. A estrutura pode ser considerada parecida com um jogo de RPG, nessa criação de narrativas em torno de um enredo, dando a impressão sempre após as reviravoltas que estamos vendo uma história dentro de outra história.


O filme, produzido pelo cineasta e também produtor Antoine Fuqua, é bastante violento e ganhou uma alta classificação. Lembra Tarantino? Sim. Mas lembra muito mais filmes orientais sobre vingança onde os duelos mortais são o epicentro e dão maior sentido para a trajetória dos personagens. Os diálogos aqui, alguns simplesmente sensacionais, são as molas propulsoras de abre alas para ações constantes.


Trem-Bala é um filme para você que gosta de se divertir vendo um filme, sem se importar com os detalhes. Você ri, se surpreende e até mesmo conversa muito sobre ele quando a sessão acaba.



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03/08/2022

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Crítica do filme: 'Papai é Pop'


As desilusões e ajustes da vida à três. Chega aos cinemas na semana do dia dos pais um longa-metragem que fala muito sobre paternidade e maternidade além das aventuras vividas com a chegada de um novo habitante para uma família. Papai é Pop, dirigido pelo cineasta carioca Caito Ortiz, nos leva a uma rica jornada sobre o universo de papais e mamães que podemos enxergar várias realidades do lado de cá da telona. Os protagonistas, Lázaro Ramos e Paolla Oliveira, dão um show de carisma e emocionam o público em muitos momentos. Papai é Pop é um filme que todos que pretendem serem papais ou mamães um dia precisam conferir.


Na trama, conhecemos Tom (Lázaro Ramos), um homem esforçado, que trabalha como programador em uma empresa de informática e adora jogar futebol com o amigos nos tempos vagos. Ele é casado com Elisa (Paolla Oliveira), uma funcionária de uma empresa. Ambos moram, em um apartamento de classe média numa grande cidade brasileira. Como todo brasileiro, eles batalham por dias melhores, até Elisa descobrir que está grávida, fato que muda completamente a rotina do casal. Enfrentando uma enorme crise, muito pelo jeito de Tom em levar as situações desse novo cotidiano, vamos sendo testemunhas de uma nova jornada na vida desses dois corações apaixonados.


O filme é recheado de mensagens bonitas sobre a relação entre pais e filhos. De maneira até certo ponto profunda, vamos entendendo as novas maneiras de enxergar a relação do papai e mamãe em questão. A desconstrução do personagem Tom toma a dianteira, sendo praticamente um narrador em meio a passagem de tempo que somos propostos. Elisa também tem seu destaque, enxergamos muito bem a visão da mãe sobre todos os conflitos.


Papai é Pop se veste como comédia mas na verdade é um poderoso drama onde se aproxima muito da realidade de muitos de nós, classe média, a dureza para pagar todas as contas, as dificuldades, medos e conflitos com a chegada de um filho ao lar. Mas um ótimo filme brasileiro lançado nos cinemas esse ano. 



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Crítica do filme: 'Continência ao Amor'


Os opostos podem se atrair. Disponível no catálogo da Netflix, Continência ao Amor busca por meio de uma história na linha água com açúcar mostrar os conflitos entre dois jovens que resolvem se casar de mentirinha para conseguirem benefícios oriundo da profissão de um deles. Buscando se aprofundar no assunto do complicado seguro de saúde nos Estados Unidos, um programa bem diferente do visto aqui no Brasil, o longa-metragem também apresenta argumentos para retratar duas almas que pensam completamente diferentes e o amor que pode surgir mesmo assim.


Na trama conhecemos Cassie (Sofia Carson), uma musicista, batalhadora, que trabalha como garçonete em um bar de uma cidade e precisa lidar com vários obstáculos na sua vida, o principal deles é no campo da saúde. Cassie é diabética Tipo 1 (quando o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina) sendo assim necessário tomar diariamente um remédio bem caro. Também conhecemos Luke (Nicholas Galitzine), um jovem, ex-usuário de drogas, que é brigado com o pai que resolve se alistar ao Exército norte-americano e está de partida para uma missão no Iraque. Cassie e Luke se conhecem e o primeiro encontro é um grande desastre mas resolvem se casar de mentirinha para que Cassie tenha o auxílio de saúde pago pelos militares e Luke consiga um acréscimo no salário para pagar suas dívidas com o traficante que comprava drogas. Assim, essas duas almas vão precisar passar algum tempo junto e acaba surgindo uma verdadeira história de amor.


O projeto derrapa nos obstáculos pulsantes de uma narrativa amorosa, na linha água com açúcar, onde enxergamos e prevemos clichês a todo instante. Ao longo de mais de duas horas de projeção, um fato que surge como crítica, a questão do programa de saúde norte-americano, acaba sendo um relato profundo sobre a situação de muitos dentro de uma sistemática que varia de Estado para Estado com altos custos.


O modo de pensar completamente diferente dos protagonistas se mostra presente, Cassie é uma batalhadora, luta pelos direitos de muitas causas, não se esconde quando percebe absurdos ditos em uma mesa de conversa. Luke tem a cabeça mais moldada na linha dos militares, conservadores, muito pela educação dada pai que era extremamente rígido e ex-soldado do exército. A questão da ação e consequência aqui também é eficaz, mostrando todos os lados dessa história de amor inusitada onde os opostos mostram que podem se atrair.



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01/08/2022

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Crítica do filme: 'O Palestrante'


A motivação está na maneira de mudar o nosso mundo. A comédia brasileira O Palestrante busca seu trunfo na profundidade sobre questões existenciais sem deixar de ter o domínio de sua essência cômica. O projeto, dirigido por Marcelo Antunez, contorna a tristeza da mesmice explorando o absurdo, nas tentativas de ser feliz de um protagonista que encontra outras estradas para sua vida. O longa-metragem é protagonizado por Fábio Porchat e Dani Calabresa e chega aos cinemas brasileiros na primeira semana de agosto.


Na trama, conhecemos Guilherme (Fábio Porchat), um homem consumido por um trabalho maçante que no mesmo dia descobre que a esposa está saindo de casa e que será alvo de demissão do seu chefe. Só que algo inusitado acontece: em meio a uma viagem pela empresa, acaba vendo a chance de ter uma experiência nova quando (forçadamente) é confundido com um famoso palestrante que dará uma super palestra em um resort no Rio de Janeiro. A chefe da empresa contratante, Denise (Dani Calabresa) e o protagonista acabam gostando um do outro o que dará margens para mais problemas em meio a mentira contada.


O riso é a força de qualquer comédia, aqui não é diferente. Mesmo em alguns momentos buscando colocar uma lupa no caótico emocional de um homem e seu labirinto do cotidiano, O Palestrante envolve o público em situações (mesmo que muitas dessas deveras previsíveis) cômicas, que vão desde o nascimento de uma atração amorosa, até os conflitos entre funcionários e chefes. Chega até ser um paradoxo quando pensamos sobre essa busca do equilíbrio do roteiro em ser profundo ou não. Os coadjuvantes possuem subtramas que se somam a estrada de Guilherme dando ritmo ao projeto, mesmo que com algumas conclusões simplistas.


A trajetória do protagonista é repleto de erros e acertos que nem a de qualquer ser humano aqui do lado de cá da telona. Esse fator humano, do errar e seguir em frente buscando melhorar em ações futuras acaba sendo um dos pontos a se refletir sobre essa história que se afasta de polêmicas para entreter de forma reflexiva. A pretensão aqui é rir. Só por isso já tá valendo a ida ao cinema.



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Crítica do filme: 'As Verdades'


Os fatos e suas versões entre o drama, o amor e o policial. Chegou de maneira quase desapercebida no mercado exibidor brasileiro em meados de 2022, o longa-metragem As Verdades, dirigido por José Eduardo Belmonte. O filme nos leva para um labirinto emocional constante de um protagonista que precisa desvendar as verdades a partir de três versões sobre um mesmo crime. Assim, somos guiados pela via sem volta da inconsequência, da instabilidade de uma desilusão amorosa do passado, da corrupção política, tudo isso girando em torno de um homem e um passado preso ao lugar onde mantém memórias constantes. O projeto é protagonizado por Lázaro Ramos e Bianca Bin.


Na trama, conhecemos o policial Josué (Lázaro Ramos), um homem que volta para uma cidade onde viveu muitos anos para assumir um novo posto na delegacia da cidade. Logo no seu primeiro caso, se vê envolvido na tentativa de assassinato de Valmir (Zécarlos Machado), um candidato a prefeito. Assim, chega até ele três versões sobre os fatos ocorridos nessa situação, a versão de um matador chamado Cícero (Thomas Aquino), a versão do candidato a prefeito e a versão da noiva desse candidato, Francisca (Bianca Bin), essa, um antigo amor de Josué. Ao longo dos 103 minutos de projeção vamos buscando junto ao personagem entender o que de fato aconteceu nessa história.


Navegando em muitos momentos pelo gênero policial o projeto encontra seus outros paralelos no drama e romance. Isso tudo é possível por conta da profundidade do protagonista e suas emoções por uma das envolvidas. O roteiro não busca logo de cara solucionar a situação da tentativa de homicídio, na verdade tende a ter o foco no seu protagonista e seus conflitos, por meio de lembrança vamos conhecendo melhor o personagem e as origens do envolvimento dele com Francisca, ponto chave da história. Essa última, uma personagem indecifrável do início ao fim. Ótima atuação da Bianca Bin.


Filmado em Itacaré, na Bahia, As Verdades busca em seu roteiro retratar um homem e seus conflitos, percorrendo uma estrada por respostas sobre até aonde um envolvimento com uma das suspeitas do caso influencia suas atitudes e decisões. Acreditar nas suas verdades pode ser o mais correto mesmo quando existem outras verdades?



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23/07/2022

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Pausa para uma Série: 'Ruptura'


E se você pudesse dividir seu tempo de trabalho com seu tempo em casa não lembrando de nada em quanto estiver em um deles? Cheio de atalhos para instigar nossa curiosidade, o roteiro de Ruptura é algo sublime que nos faz refletir sobre a sociedade, o trabalho e a questão descontrolada do avanço da tecnologia. Esses são alguns dos ingredientes de uma das mais aclamadas séries dos últimos tempos que tem alguns episódios dirigidos por Ben Stiller. Indicado a muitas categorias no Emmy 2002, o projeto nos leva a pensar sobre quão profundo pode ser a natureza humana por meio de metáforas que traçam duas realidades que coexistem.


Na trama, criada por Dan Erickson, que é uma das mais difíceis de se definir por conta de seu campo amplo, conhecemos Mark (Adam Scott), um funcionário de uma misteriosa e poderosa empresa chamada Lumen. Ele acaba de ser colocado como líder de uma equipe de funcionários que aceitaram serem submetidos a uma situação onde suas memórias foram divididas entre o seu trabalho e sua vida fora dele. Basicamente: quando eles estão no trabalho não lembram de nada do mundo fora dali, e quando eles estão em suas respectivas casas não lembram de nada do trabalho. Até que um dia um ex-colega deles de trabalho, que conseguiu sair dessa situação, acaba fazendo contato com o Mark de fora do trabalho. A partir disso, o drama vira um misterioso labirinto de descobertas convergindo das duas realidades.


Totalmente fora da caixa, vamos acompanhando, em meio a muitas críticas à sociedade, uma série de explicações (algumas deixadas nas entrelinhas) sobre alguns porquês. Num primeiro momento tudo é muito estranho mas aos poucos somos guiados para as rotinas, trabalho e vida pessoal, de um homem, ex-professor de história, amargurado por uma grande perda que decide ter em sua vida algumas horas para não pensar na tragédia. Concluímos que os outros personagens (todos ótimos) também seguem a mesma linha de pensamento com seus porquês mas isso é um mistério mais para próximas temporadas. Dentre os coadjuvante, ótimos arcos complementares, Christopher Walken, John Turturro e Patricia Arquette são alguns dos ótimos nomes do elenco.


O suspense chega primeiro na forma de entendermos o que seria a Empresa Lumen a partir dos achados dos dois paralelos de Mark que de maneira muito inteligente parecem colidir no mesmo objetivo. E esse suspense se mantém constante quando observamos os outros misteriosos personagens, a manipulação feita fora da empresa, as descobertas de Mark e sua equipe sobre outras portas dentro do lugar onde trabalham. O perigoso recorte sobre o controle da mente abre brechas para milhões de teorias sobre o que seria aquele experimento, quais seriam os reais objetivos da empresa nessa divisão entre trabalho e vida pessoal.


Você acaba a primeira temporada e as perguntas ainda são muitas mas já dá para ter uma noção das ótimas surpresas que chegarão na continuação da série. Os longos episódios buscam mastigar os detalhes não dando de bandeja todas as explicações e ainda abrindo nossa curiosidade com reviravoltas constantes. Simplesmente fabuloso!



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